sexta-feira, 31 de julho de 2009

não se preocupe com a escala

quem lembra da década de 1980 sabe bem de bobby mcferrin. tô falando de "don't worry, be happy", sucessão do disco simple pleasures (emi, 1988) que acabou sendo usado em tudo quanto é canto como canção bonitinha-motivadora (ela é mais que isso, claro). mas nunca passei da superfície desse americano de nova york (de 1950, idade do meu pai) que sempre foi pra mim uma espécie de naná vasconcelos da voz.até baixando the voice (elektra, 1984) e spontaneous inventions (blue note, 1985), seus dois melhores discos segundo o all music guide. mas ele me veio a lembrança após ver esse video sensacional com um trecho de sua participação, agora no início de junho, em uma "conferência" no world science festival. ele demonstra, com o auxílio da platéia, a universalidade e o poder de comunicação da escala pentatônica.

World Science Festival 2009: Bobby McFerrin Demonstrates the Power of the Pentatonic Scale from World Science Festival on Vimeo.

dica de @noizyman (via @thiagodottori e @penas e etc.)

quarta-feira, 29 de julho de 2009

othello is in da house

sem palavras.



dica de @lailabou, no blog não me culpem pelo aspecto sinistro do jornalista almir de freitas (bravo!) e video criado por BBsman22.

duas fotos

área de serviço, são paulo, 2008

churrascaria búfalo grill, vila leopoldina, são paulo, 2008

é suco de cevadis!

um dos quadros mais geniais de mussum & os trapalhões no dia em que se lembra dos 15 anos da morte do eterno, do lendário, do inescapável mumu da mangueira.



no mais, pra comemorar o #mussumday vale muito ler o texto do fábio bianchini ("coisas que mussum não viu em 15 anos") ou então ouvir um de seus ótimos e raros discos solo. após sair do grupo originais do samba e entrar nos trapalhões, mussum ainda chegou a gravar quatro discos entre 1978 e 1987. o primeiro, água benta (independente, 1978), está logo ali no blog música da minha gente e traz clássicos como "chiclete de hortelã" e "artigo esgotado".

domingo, 26 de julho de 2009

domingueira

não sou do eletrônico e já disse isso em algum lugar. mas é que esse video é muito bom, assim como a música, a edição e a menininha. vi ontem lá no impagável blog suceço e depois dei um pulo no youtube pra ver se tinha alguma informação sobre quem fez. o que estava escrito, pelo usuário krabko, era isso: "amazing little idm kid. maybe someone want make remix? autor maybe is pascal bideau. on mayspace his id is hell0jed. but possibly this information is incorrectly". pra quem não sabe, "idm" é sigla de intelligent dance music (four tet, matmos, amon tobin, telefon tel aviv, matthew herbert, ellen alien, caribou, apparat, the books, etc, tudo netinho do kraftwerk). ah, e não ouvi os myspaces acima linkados pra checar similaridades e afins...



coincidências cósmicas são aquela coisa... agora que vi que o tal krabko é de kiev, ucrânia, e que durante essa madrugada rolou uma visita aqui no blog vinda de simferopol, que é a capital da crimeia, uma república autônoma da ucrânia. sei lá, achei bem loco. e falando em além mar, quero mandar aquele salve prum visitante que aporta por aqui quase todo santo dia e que é da cidadezinha belga dion-le-mont. no mais, aquele abraço grande em todo mundo que aparece aqui.
ótimo domingo.

sábado, 25 de julho de 2009

campanha do momento

"pão de bicicleta, nem de brincadeira. recuse pirataria! pão saudável só na padaria".
cartaz em uma padaria perto de você (pelo menos em são paulo)

jacko no cordel

recebi ontem da minha irmã ariadne dois exemplares de literatura de cordel, sendo que um novinho em folha, atualíssimo: a chegada de michael jackson no portão celestial (tupynanquim editora, 2009), escrito por joão gomes de sá e com capa assinada por klévisson viana (que também é co-autor dos versos). mais uma prova que o cordel continua vivo no ceará, e acredito que também em pernambuco, os dois principais pólos produtores dessa literatura. separei alguns trechos que, entre os deboches próprios da mídia, dizem muito da percepção popular sobre o popstar. ah, o outro livrinho se chama o homem que foi preso porque peidou na igreja e é de sávio pinheiro. depois coloco aqui.

(...)

Eu sonhei que o rei do pop,
Logo após bater as botas,
Foi direto para o céu,
Fazendo muitas marmotas,
Cantando muito agitado
Feliz, tinha se livrado
De dívida, banco e agiotas.

(...)

Michael Jackson lá no céu
Chegou bastante apressado,
Dizendo para São Pedro:
- Estou demais atrasado
Eu quero até me esconder
Porque não pude fazer
O que tinha programado!

(...)

Eu queria dançar mais
Sabe o senhor, não empaco,
Gostava de requebrar,
Pois eu sou bom nesse taco
Dançando eu faço munganga,
Às vezes visto uma tanga
Para prender o meu saco!

São Pedro disse: Rapaz,
Não é como você pensa!
Primeiro você procura
O assessor de imprensa
E faça um requerimento,
Protocole no convento,
Com o avô do Alceu Valença.

(...)

Disse Jackson: Eu sou um astro
Famoso no mundo inteiro!
Não tem um ato secreto
Para me atender primeiro?
Pedro disse: Eu não tropeço,
O céu não é o congresso
Lá do povo brasileiro!

(...)

O sucesso foi crescendo,
Sobretudo a vaidade,
Tudo aquilo que sonhava
Virava realidade.
O meu corpo mutilei,
Mesmo assim nunca encontrei
Minha própria identidade.

(...)

Jackson que ao longo da vida
Foi branco por opção,
Nasceu negro, mas fez de tudo
Pra perder coloração...
Sentiu-se fútil e pequeno,
Ao mirar um Deus moreno
Como o Autor da Criação.

Quando relembrei o sonho,
Achei um pouco sem nexo,
Mas pensei: Agora Michael
Vai se livrar do complexo.
Pode brincar à vontade
Com os anjos, sem maldade,
Pois anjinhos não tem sexo.

(...)

frase da noite

"todos querem subir no pódio, mas nem todos querem correr a maratona".
mônica pimentel, diretora artística da rede tv, no programa amaury jr.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

transversão #17

desculpem o linguajar, mas porra! genial! tava uns dias procurando "rap guerra no iraque" (mc gil do andaraí) que o wado regravou no recente e totalmente excelente atlântico negro (independente, 2009), um bom pretexto pra falar do quarto disco do catarinense-alagoano que, aliás, tá pra download gratuito em seu site oficial. tinha uma outra possível (e na mão) transversão, "boa tarde, povo" (maria do carmem barbosa, das baianas de santa luzia do norte), mas essa virou questão de honra. e nada, nada. então fui lá no twitter... vai que, de repente, alguém... tcharam! em questã de minutos, o inacreditavelmente eficaz

"os não-humanos não são computáveis"

dia de folga tem dessas coisas... pelo twitter do ritchie vi essa entrevista ótima d'os mulheres negras pro jô soares em 1988, um pouco antes do lançamento do primeiro disco (música e ciência) da dupla formado por mauricio pereira e andré abujamra. imagine só, penteados malucos, roupas idem, luma de oliveira na platéia, fita k-7, um jô quase simpático e os mulheres anarquizando daquele jeito deles (impagável o momento em que o pereira diz que o fanzine oficial do grupo, o 20908, pode ser pirateado a vontade, muito antes do creative commons). segue a entrevista em três partes.

parte 1


parte 2


parte 3

duas fotos

cemitério da consolação, setembro, 1999

cemitério da consolação, setembro, 1999

quinta-feira, 23 de julho de 2009

transversão #16

cada coisa a seu tempo. por exemplo, ainda não resolvi algumas pendências com figurões da música brasileira. tenho dificuldades com gonzaguinha, milton nascimento, cazuza e raul seixas, só pra citar alguns. pode ser que eles nunca cheguem a entrar no meu canône pessoal, mas preciso pelo menos ouví-los com atenção e respeito (afinal, merecem). e ontem max e tacioli, do gafieiras, mostraram uma música linda de raulzito, e tacioli jurou que existia uma versão cantanda por uma mulher. batata. então, vamos agora de "planos de papel", parceria de raul com paulo coelho lançada originalmente na lendária trilha da novela o rebu (som livre, 1974) e cantada por ninguém menos que alcione.



só alguns anos depois raul seixas fez sua própria gravação, igualmente sofisticada nos arranjos de miguel cidras, no LP mata virgem (wea, 1978).

quarta-feira, 22 de julho de 2009

dois recados (e mais um)

uma das melhores faixas do disco sem nostalgia (diginois, 2009), do lucas santtana, é a instrumental "recado pra pio lobato", parceria de lucas com o cearense regis damasceno (mr. spaceman e cidadão instigado). escuta só.



a música é uma espécie de resposta-conversa para a igualmente instrumental "recado pra lúcio maia" que o paraense pio lobato (cravo carbono) gravou em seu disco de estréia, café (ná records, 2007), e que está aqui. agora só falta o maquinado lúcio maia (nação zumbi) fechar o ciclo de recados ou expandí-lo.



atualização em 16 de março de 2010: e não é que lúcio maia respondeu? no seu segundo disco solo (sob o pseudônimo de maquinado), mundialmente anônimo (o magnético sangramento da existência) (independente, 2010) ele manda "recado ao pio, extensivo ao lucas". será que esse triálogo tomará outras formas? na torcida...

que nostalgia que nada

desde 3 sessions in a greenhouse (diginóis, 2006), o lucas santtana virou um dos artistas que tenho mais prazer em acompanhar. o curioso é que não me interessei pelos seus dois primeiros discos, eletro ben dodô (natasha, 2000) e parada de lucas (diginóis, 2003). na época ele me parecia um cruzamento de lenine com moska, era mais do mesmo. acho que ele mudou nos últimos anos e começou a ser ainda mais autoral e seguro. acho que mudei também. agora ele vem com o mavioso sem nostalgia (yb music/diginóis, 2009), disco de clima bom e tradição (voz e violão) turbinada. ele já vinha mostrando algumas músicas no site de seu selo, o diginóis, e foi nele que ouvi a linda "amor em jacumã" (protagonista do transversão #3). enfim, escrevi uma nota gorda lá no gafieiras. um trecho aqui.

O violão reprocessado vai do pop das autorais “Who can say which way” e “I can’t live far from my music” (com Arto Lindsay) até as delícias hippies setentistas de “Cira, Regina e Nana” e “Amor em Jacumã” (Dom Um Romão e Luiz Ramalho), esta a única não-inédita do disco (foi gravada originalmente no LP Hotmosphere, de 1976, do saudoso percussionista Dom Um). Tem espaço também para doces melancolias como as de “Night time in the backyard” e “Hold me in”, ambas compostas com Arto Lindsay, a sutil bossa baiana de “Cá pra nós” (com Ronei Jorge) ou o climão mata adentro de “Ripples of the water”, gravada numa noite em pleno Jardim Botânico carioca.

o resto tá lá no gafieiras. bem, o disco se espalhou pela rede com aquela rapidez habitual e pode ser encontrado em blogs como URBe (o bruno natal, aliás, escreveu o release do disco), um que tenha, original pinheiros style e eu ovo. disco indispensável em mais um ano ótimo pra música brasileira. duvida? ouça "cira, regina e nana".



e pra quem ainda não conhece o baiano-carioca aí vai uma breve e imagética retrospectiva. do disco 3 sessions in a greenhouse, de 2006, "tijolo a tijolo, dinheiro a dinheiro".



do disco parada de lucas, de 2003, a divertida "samba cubano" (plínio profeta e lucas santtana).



não achei absolutamente nada de eletro ben dodô, mas em compensação tem lucas se divertindo com noel rosa e "com que roupa" em um som brasil de 2007.

terça-feira, 21 de julho de 2009

recordar é viver

vi este video sensacional numa caixa de comentários do ótimo blog de leandro fortes. o ocorrido, em 1986, é usado como paralelo para o jornalista comentar a atual situação de caos no governo gaúcho sob o comando de yeda crusius; aqui o post. o que será que o acm falou no ouvido do repórter antônio fraga?

segunda-feira, 20 de julho de 2009

nº 3091

esse é o número que está carimbado em uma folha de papel craft que envolve uma cópia da primeira mixtape do rapper paulistano emicida. comprei sábado passado no show do sujeito lá no espaço + soma. escrevi uma nota sobre lá no gafieiras e começa assim...

Quem está mais próximo da cena rapper paulistana já ouve falar de Emicida desde 2006, mas poucos meses atrás, após o lançamento da mixtape
Pra quem já mordeu em cachorro por comida, até que eu cheguei longe (independente, 2009), seu nome se espalhou feito rastilho de pólvora. Com 23 anos, Emicida é mais um nome a engrossar a nova e promissora geração que vem injetando ânimo no gênero, com variedade de bases e assuntos nas rimas, além de – coisa rara – humor e romantismo.

leia o resto lá no gafieiras. mas pra você aí já ter uma ideia do que o mano é capaz segue abaixo "ainda ontem", uma das melhores da mixtape e que traz a participação de rashid.



e pra encerrar um videozinho que fiz com meu celular tosquinho durante o show (emicida está de camiseta branca). a música é a mesma, "ainda ontem", mas o som (e a imagem)... quanta diferença...

domingo, 19 de julho de 2009

domingueira

sinead o'connor. lembram dela? da carequinha? da treta com a igreja católica? do ostracismo (lembrar do ostracismo é bom, hehehe)? lembram de "nothing compares 2 u"? aliás, seu segundo disco, i do not want what i haven't got (ensign/chrysalis, 1990), que trouxe essa música e a lançou mundialmente acabou de ganhar uma edição de luxe e... o disco continua bom, viu? mas estou falando aqui de sinead por outro motivo. é que o corjaman e manadaman oga chegou um dia desses e perguntou: "e cê conhece aquele disco que a sinead canta reggae?". cuma? não sabia de throw down your arms (rocket science, 2005) e muito menos que era tão bom. produzido pelos mestres sly & robbie, o disco tem versões de peter tosh ("downpressor man"), lee perry ("vampire" e "curly locks") e muito winston "burning spear" rodney ("marcus garvey", "jah nuh dead", "door peep", etc.), que também é autor, em parceria com phillip e george fullwood, da faixa que dá título ao disco. não consegui achar nenhum clipe feito a partir desse disco, mas encontrei uma participação de sinead e banda (com sly & robbie) no programa tonight show em 2006.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

transversão #15

a quantidade de músicas lindas que saíram da cachola de paulinho da viola é absurda e por essas e outras sempre foi muito regravado. mas, invariavelmente, de uma forma respeitosa e coisa e tal. agora, uma de suas maiores qualidades, ou pelo menos a que mais me chama atenção, é que ele é um tradicionalista não-tradicional. prova disso é uma de minhas preferidas pessoais, a experimental "roendo as unhas", que paulinho lançou no disco nervos de aço (odeon, 1973). escuta.



aí, muitos anos depois, jards macalé deu mais uma entortadinha na música no disco amor, ordem & progresso (lua music, 2003). não custa lembrar que jards também regravou paulinho (e lupicínio rodrigues, geraldo pereira e nelson cavaquinho) no clássico 4 batutas & 1 coringa (continental, 1987).



um dos filhos de paulinho, o violonista joão rabello, estreou solo em um disco todo instrumental e já no título - roendo as unhas (rob digital, 2006) - lembrou essa canção do pai, que também participou da gravação.



pra encerrar, a maravilhosa & doidivanas maria alcina abriu seu disco mais recente, o ótimo confete e serpentina (outros disco, 2009), com uma regravação atualíssima da música.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

ah, bill withers

nem lembro como conheci bill withers - já deve ter uns dois anos -, mas foi amor à primeira ouvida. sentimento e sofisticação, soul e um tanto de funk, e tudo o mais que se pode esperar da excelente música negra dos anos 1970. relembrei o sujeito depois que o corjaman edson franco contar que viu soul power (2008), de jeffrey levy-hinte, em nova york neste final de semana. o documentário trata daquele woodstock negro que rolou no zaire/congo em 1974 próximo a histórica luta de muhammad ali vs. george foreman (retratada no clássico quando éramos reis, filme de leon gast de 1996 - fast é produtor de soul power, ou o poder do soul como saiu em dvd aqui). estiveram presentes figuras como james brown, miriam makeba, the spinners, the crusaders, celia cruz, b.b. king e bill withers, que canta "hope she'll be hapier" de seu primeiro disco, just as i am (sussex, 1971). edson chapou, não fala de outra coisa, e a obsessão se aprofundou depois que passei o link do video desta música, a fuderosa "use me", que é do disco still bill (sussex, 1972). sente o drama.



mas tem outra coisa sobre bill withers que muito me surpreendeu quando o conheci (vi que também não foi fácil pro edson assimilar a informação). ele é o autor de um dos maiores clássicos da música americana-mundial, "ain't no sunshine", que é a segunda faixa do disco just as i am. vai lá, bill, arrepia.



e agora, pra encerrar, o trailer de soul power. o bruno natal fala um pouco mais sobre o documentário lá no URBe.



atualização: taí o video de "hope she'll be hapier", direto do filme.


Bill Withers from Jesse Thorn on Vimeo.

frase da noite passada

"olha... médico, se sabe falar, pode ser interessante."
daniela, tradutora inglês-português/português-inglês

terça-feira, 14 de julho de 2009

canta e chora, minha gente

e na mesma toada do amor viril, do "eu te amo, porra" (mas dessa vez com violinos em fúria), joe dassin (1938-1980), filho do cineasta jules dassin, e a épica "et si tu n'existais pas" (1975). porque homem que é homem chora pra caralho!




atualização em 28 de maio de 2012: iggy pop gravou, no disco après (2012), uma versão bem próxima e igualmente ótima de "et si tu n'existais pas" (não, não tem jeito, a de joe dassin, esses violinos, é imbatível). 


as mulheres segundo paulo césar pereio

estive com paulo césar pereio em fevereiro de 2008 pra fazer uma reportagem na monet. pauta? a nova temporada de seu programa sem frescura. e pra dar uma apimentada a boa coincidência da estreia ser em março, o mês da mulher. pereio X mulheres, nitroglicerina pura. figuraça das mais instigantes, pereio mora na bela vista (bixiga), perto do centro paulistano, na cobertura de um prédio que tem seu próprio boteco-restaurante no térreo. a cobertura, na verdade, é um apartamento pequeno com uma grande e bagunçada área livre. tirei uns retratros também...


EU TE AMO, PORRA!

Um cafajeste elevado à última potência. Esta é a imagem clássica de Paulo César Pereio. Mas bastam alguns poucos minutos para o ator, um dos ícones do cinema brasileiro, revelar-se um admirador profundo do sexo oposto. Prestes a dar o pontapé inicial na quinta temporada do programa Sem Frescura, no Canal Brasil, Pereio recebeu a reportagem da MONET em seu apartamento paulistano com uma combinação curiosa de bermuda estampada típica de surfista, camisa de manga comprida e óculos iguais ao de James Dean, um de seus ídolos. Além de muito amor para dar. “Ultimamente radicalizei. Tenho muito mais amizade com mulheres que homens. Mulheres de ambos os sexos, inclusive. Antigamente tinha medo de mulher. Aquele medo do tesão, sabe? Mas aos poucos fui ficando mais sociável.”

Gaúcho de Alegrete, Pereio já passou por poucas e boas em seus 67 anos de vida e pouco mais de 50 de carreira. Bateu, apanhou, teve problemas com drogas, sobreviveu e hoje ama intensamente e ao seu modo a profissão de ator, suas mulheres e os quatro filhos de três relações diferentes. “Sempre fui tímido e exatamente por isso inverti a timidez com um comportamento performático.” Onde se lê performático podem ser colocados, dependendo do gosto do freguês, termos como cafajeste, maldito, grosseiro, iconoclasta ou louco. E assim um tanto do enigma Pereio, intempestivo personagem de si mesmo, é solucionado.

Sem saber mais onde termina o personagem e começa a pessoa física Paulo César de Campos Velho, o ator e apresentador discorre sobre o mês desses personagens que tanto ama. “Mas o ano inteiro é das mulheres! A gente é delas! Na verdade, estou me sentindo injustiçado porque [nós homens] não temos um dia.” Enquanto isso pede um cigarro após engolir rapidamente uma torrada de pão integral com queijo branco. Este é o homem que nas décadas de 1970 e 80 dividiu cenas picantes com símbolos sexuais da estatura de Sônia Braga, Vera Fisher, Kate Lyra, Adele Fátima e Monique Lafond, e não dormiu com nenhuma delas apesar de todo o folclore que sempre o cercou. É que estava apaixonado, simples assim. Primeiro pela atriz e jornalista Neila Tavares, mãe de sua única filha, Lara, 35, produtora e diretora do programa Sem Frescura. Depois pela atriz Cissa Guimarães, mãe de Thomaz, 29, e João, 24. Pereio ainda é pai do adolescente Gabriel, 16.

Para estas duas mulheres, Pereio escreveu cartas e bilhetes rebuscados de amor e devidamente compilados no livro Por que se mete, porra? Delicadezas de Paulo César Pereio (Editora Bispo, 2006). “Sou pouco hábil com palavras, do outro lado desta carta, de cabeça pra baixo, ou de cabeça pra cima, eu te amo, te odeio ou tudo é o mesmo”, disse para Neila. Enquanto isso, para Cissa, dise que “Amor, estas flores custaram uma nota preta. Que estejas linda, vibrante e feliz apenas por tua causa. Te amo”. O tempo passou e agora Pereio diz que “atualmente sou um solteiro radical, mas acho que ainda vou cair em alguma armadilha. Já caí na primeira, segunda, terceira, quarta e espero ainda cair na sétima”. Então solta uma gargalhada com sua voz inconfundível que invariavelmente cresce para enfatizar uma palavra ou um palavrão.




“Com homem sempre tive uma espécie de síndrome de desobediência automática, o que é um sintoma de loucura. Isso deve ter me prejudicado na vida porque qualquer ordem que surgisse imediatamente era desobedecida. Isso é um absurdo, não tem lógica nenhuma. Então, recentemente, comecei a sentir certa volúpia pela obediência. Obedecer é bom, mas prefiro obedecer às mulheres.” É bom que se diga que uma conversa com Pereio sempre toma rumos inesperados. Um assunto dá brecha para outros quatro que vão se desdobrando até o início se perder em alguma esquina do passado. Nestas digressões o ator confessa um de seus maiores prazeres. “Leio muito dicionário porque quero saber o que as palavras querem dizer. Sou cheio de complicação com palavras. Por exemplo, sempre impliquei com a palavra ‘respeito’. Desde criança. Respeitar a bandeira nacional! Que merda é essa? Respeitar os mais velhos! Aí fui olhar no dicionário e a primeira explicação para a palavra ‘respeitar’ é olhar muitas vezes para trás.” E foi assim que Pereio fez as pazes com o respeito.

A equação mulher e obediência acabou por lembrá-lo das eleições norte-americanas e o inescapável assunto de mulheres no poder. “Desde antes da Hillary Clinton se eleger senadora eu já dizia que ela seria presidente. Apesar de que o Barack Obama tá na cola dela. Agora essa história da mulher humanizar o poder... isso é anti-feminismo. É como se diminuísse a mulher. É como se ela fosse uma dona de casa do país e nunca uma estadista. E outra, o poder não tem gênero e pode corromper tanto homens quanto mulheres. Mas dou preferência às mulheres porque sou arbitrário mesmo”.

O telefone toca e é o filho Thomaz. O que se segue é uma conversa rápida com alguns “tudo bem” e “a gente se vê na sexta”, e termina com um alegre “axé babá!”. Enquanto o ator espera a definição para o começo de deus seus próximos filmes, Pereio tem passado os fins de semana no Rio de Janeiro, onde moram os filhos, em temporada com a peça Você Está Aqui. “Onde a gente estava mesmo? Essencialmente, a mulher não mudou em nada após a liberação. Se tolerou tantos séculos de rejeição e isolamento precisou aprender sozinha a buscar compensações. O que mudou foi, digamos assim, o cenário exterior”.

Essencialmente, Pereio também continua o mesmo. Ama de paixão o cinema brasileiro, desde as chanchadas até os documentários, e ainda a literatura, a filosofia, a sinuca, as artes plásticas, Nelson Rodrigues e os botecos. “O brasileiro tem certa vergonha de si próprio e das coisas que são feitas aqui. A chanchada, uma das raízes mais vigorosas do nosso cinema, é desprezada. As pornochanchadas também. Agora, é muito vulgar, muito comum, reclamar do lugar que se nasceu.”

Voltemos ao prato principal. Os homens são uns bocós? As mulheres são mais inteligentes? “A mulher é velocista. O homem, maratonista. Isso se refere até ao espermatozóide. O feminino chega antes e morre antes, vive apenas 24 horas. O do homem, mais devagar, vive até 48 horas. Talvez por isso os homens pareçam mais burros que as mulheres. Mas são apenas inteligências diferentes”.




Especialmente feliz com a nova temporada do Sem Frescura, o ator-apresentador vem conseguindo transportar para TV seu aguçado senso de improvisação (especialmente visível no filme Eu Te Amo de Arnaldo Jabor). É um artista que acredita no acaso e no erro, mas acima de tudo no fato de que as pessoas se revelam mais pelo que escondem do que pelo que dizem. Pereio fala bastante, porém é certeza que esconde muito mais.

Última pergunta. “A importância das mulheres na minha vida? Total. Estive, em alguns momentos, muito próximo da morte e sempre apareceu alguma mulher para me salvar. É isso, as mulheres salvaram minha vida.” E um silêncio cheio de memórias domina, mesmo que por apenas alguns segundos, os olhos de Pereio. Mas o personagem volta rapidamente e dispara. “Olha, até que é um bom final para sua matéria!”. De fato é.

p.s.: pra finalizar, um outro video estrelado por pereio e filmado em sua cobertura paulistana em 2007. é uma espécie de animação chamada pereio, debussy e o jogo de xadrez, da dupla caterina renaux e liliane stein.

domingo, 12 de julho de 2009

domingueira

um dos núcleos musicais mais produtivos e interessantes da recente música feita em são paulo, a banda DonaZica tem apenas dois discos gravados, os excelentes composição (independente, 2003) e filme brasileiro (elo music, 2005). em compensação seus integrantes se multiplicam em inúmeras outras parcerias e trabalhos solo. senão vejamos.

o violonista gustavo ruiz está no trash pour 4 e na banda glória, além de acompanhar junio barreto e mariana aydar. a flautista simone julian foi uma das orquídeas de itamar assumpção e também toca com chico césar. o trompetista gui mendonça é ninguém menos que guizado que vem tocando com músicos como curumim e ainda integra o trio esmeril. a percussionista mariá portugal também é do trash pour 4 e acompanha as cantoras natalia mallo e fernanda takai. o baixista andré bedurê e o baterista gustavo souza estão nos grupos maria preá e pochete set, sendo este com gustavo ruiz, seu pai luiz chagas e sua irmã tulipa ruiz. gustavo souza também é do cérebro eletrônico e do jumbo elektro.

já as cantoras vem lançando surpreendentes trabalhos solo: andreia dias, que também canta na banda glória, lançou vol. 1 (scubidu records, 2008), o primeiro de uma trilogia pessoal; iara rennó veio com o conceitual macunaíma ópera tupi (sesc sp, 2008); e anelis assumpção está preparando, ainda para este ano, sua estreia. mas é bom deixar claro que essa restrospectiva coletiva é apenas um pedacinho do que todos fazem e que não se tem previsão de um novo disco do DonaZica.

mas vamos ao clipe. segue abaixo "a vizinha" (oswaldinho da cuíca), no qual DonaZica recebe a lenda viva do samba paulistano, oswaldinho da cuíca. esse música não tem registro em disco e o clipe foi feito para acompanhar um documentário sobre o sambista.



e como faixas bônus dessa domingueira, clipes de cada uma das vozes da DonaZica. primeiro, o clipe de "pensamento massa", música que estará no segundo disco solo de andreia dias.



agora, iara rennó e sua "nina macunaíma".



por último, anelis assumpção e "como é gostoso".

sábado, 11 de julho de 2009

transversão #14

foi ótimo ver o kraftwerk ao vivo no just a fest em março. bem, só um integrante da formação original, ralf hütter, estava no palco, mas mesmo assim foi uma delícia ouvir músicas que povoam minha cabeça desde... meados dos anos 1980. não me interesso por música eletrônica, ouço muito pouco, mas era moleque no rio de janeiro e chapei quando ouvi o disco trans-europe express (capitol, 1977). o disco todo é um absurdo de bom e dá para notar como muitos dos seus climas foram incorporados pelo pop que veio depois (quem da minha época não lembra que "hall of mirrors" foi usada na propaganda do "saudoso" starsax, o calçado da geração jeans).

mas a minha preferida de todos os tempos desses alemães sempre foi "showroom dummies" (ou, originalmente, "schaufensterpuppen", mas vai conseguir pronunciar isso aí). o kraftwerk lançou versões em alemão e inglês, e acho que a primeira que escutei foi em inglês, mas escolhi a original pra começar os trabalhos. ah, o disco era do jamil, druso-mineiro gente boa e pai da minha querida prima marina, que também tinha o radio-activity (capitol, 1975).



muito bem. na mesma alemanha kraftwerkiana, mas em meados da década de 1990, o dj e produtor uwe schmidt (aka atom heart) montou o grupo señor coconut and his orchestra. diversão acelerada com músicas próprias e covers em ritmo latino e/ou funkeado. algumas coisas geniais surgiram de sua cachola bizarra e no segundo disco, el baile alemán (emperor norton, 2000), miraram no cancioneiro do kraftwerk e latinizaram tudo. taí a versão cha-cha-cha de "showroom dummies" que não me deixa mentir.



nos discos que sucederam a esse, o señor coconut foi mais fundo nessa onda de regravações. em fiesta songs (emperor norton, 2003) foi pra cima de sade ("smooth operator"), michael jackson ("beat it"), the doors ("rides on the storm"), jean-michel jarre ("oxygene pt. 1") e deep purple ("smoke on the water"). em seu mais recente disco, around the world (new state, 2008), os alvos foram tom jobim ("corcovado"), daft punk ("around the world"), eurythmics ("sweet dreams") e prince ("kiss"). mas aí é outra história.

atualização em 27 de julho porque um p.s. se faz necessário. é que tinha esquecido que fernanda e pil, a dupla brasiliense lucy and the popsonics, também fez a sua "showroom dummies". escute aí.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

CORJA #2

dessa vez foi mais rápido. tudo. gravamos a edição #2 do podcast do CORJA na noite de 30 de junho, uma terça, e o resultado já está aí ao lado, todo bonitão e mais dinâmico (e com a voz do valtinho chegando às alturas). novamente aportamos no cafofo que edson franco divide com a simpática clementina; novamente bebemos algumas cervejas (menos o oga, que não faz esse tipo de coisa); novamente nos surpreendemos uns com os outros; e novamente esperamos oferecer um programinha massa para nossos ouvintes. detalhe importante: a partir de agora nosso podcast se chama CORJACAST, insight do chapa alexandre matias, o homem por trás, pela frente e pelos lados do trabalho sujo, um dos melhores endereços da internet brasileira mundial do mundo.

o programinha desse mês junta no mesmo balaio
reginaldo rossi, the paragons, móveis coloniais de acaju, iggy pop e o projeto bole 2 harlem. ao fundo, uma homenagem discreta para michael jackson. ah, e se você preferir também é possível baixar AQUI. por último, mas não menos importante, o mano oga fez uma arte e o CORJA ganhou sua primeira capa ("tá parecendo capa de compacto duplo", disparou edson). olha só que belezura.


a pedidos: oga, edson, valtinho e eu

domingo, 5 de julho de 2009

ritchie tem dessas coisas

fiz essa entrevista com "o inglês mais perto de você" (segundo o próprio em seu twitter) pra revista monet de julho. mas infelizmente, aos 45 do segundo tempo, a matéria caiu (revista tem dessas coisas). o motivo era o especial outra vez (ao vivo no estúdio) (pop songs, 2009), show bonitão que reúne clássicos pop de ritchie em nouvas roupagens e inéditas (e que também ganha versões em cd, dvd e blu-ray). o especial vai ao ar hoje no canal brasil, às 21h.

Como nasceu o projeto desse show?
Era uma coisa que queria fazer a muitos anos. Quase fiz em 2006 e em 2008, mas não havia um formato muito bom e nem um parceiro como o Canal Brasil. Mas independente disso queria um registro de 25 anos da minha carreira. Coincidentemente o meu primeiro disco, Vôo de Coração [lançado em 1983], foi relançado há pouco tempo e as coisas acabaram tomando outro rumo. Voltei a ter contato com o Carlos de Andrade, que produziu o disco na época, e ele teve o trabalho de resgatar e restaurar as fitas originais para fazer uma nova masterização. A gravadora nem tinha planos de relançar o disco, tinha perdido a arte da capa, enfim, não tinha e não tem nenhuma política de conservação de seu catálogo. É um descaso com tudo.

Se eles fazem isso com um disco que fez tanto sucesso, imagine então...
É uma pena porque tem uma hora que tudo isso vira história, por menor que seja. Quer dizer isso foi tanto um trabalho de recuperação quanto de resgate e devo muito ao Carlão [Carlos de Andrade]. Essa nossa reaproximação acendeu uma luz na minha cabeça. Peraí, o Carlão está com um estúdio, o Visom. Então falei pra ele que estava com a ideia de gravar um DVD e ele disse que em três meses terminaria a construção de um novo estúdio para orquestra, com tela de cinema e tudo o mais. Disse que a gente poderia inaugurar a sala nova fazendo essa gravação. Uma coisa nasceu da outra.

Como foi se reaproximar dessas músicas de 20, 25 anos atrás?
Elas estão bem [risos]. Minha banda atual tem uma sonoridade própria e a gente elaborou os arranjos de uma forma que... as inéditas foram apresentadas antes e o restou veio com uma sonoridade próxima. Conseguimos atualizar as músicas deixando-as atemporais e sem mudar seus momentos reconhecíveis. Não é um show de revival e nem uma tentativa de recriar o som dos anos 1980, pelo contrário. É um novo registro, ao vivo, do meu catálogo como compositor e do meu jeito de fazer música pop. Tem também músicas que não são minhas, mas que fizeram parte da minha vida de alguma forma como “Mercy Street” do Peter Gabriel, que gravei para a trilha da minissérie O Sorriso do Lagarto [1991], e “Shy Moon” do Caetano Veloso [no disco Velô, de 1984].

Teu último disco, o Auto Fidelidade, é de 2002 e antes você estava meio afastado. Você continuou compondo nesse período?
Sou um pouco lento na produção [risos]. Meu ritmo é esse mesmo. Não acredito em falar fora de hora. Acho que quando a gente tem uma coisa pra dizer, a gente diz. Quando não tem... existem tantos outros artistas que tem coisas pra dizer, então [risos]... é que tenho vários interesses, inclusive tocar música [risos].

Desde meados da década de 1990 você está próximo das novas tecnologias. O que essas novas tecnologias e a internet trouxeram para você? De alguma forma renovaram seu tesão pela música?
Interessante. Não tinha pensando nisso. Fui estudar a internet porque desde o começo achei que era o caminho para a música. Sempre foi um meio de me aproximar da música e um jeito de entender para onde ela poderia evoluir. Quer dizer, a internet é a convergência de todas as mídias e as redes sociais são muito interessantes porque aproximam o artista dos seus fãs. Tudo isso ajuda em uma maior independência. É um momento bom de se estar na música porque todas as portas estão abertas. Bem, algumas estão se fechando, mas isso é normal. As gravadoras estão ruindo, o CD deixou de ser o produto e virou mais um cartão de visitas, e o artista deixou de ser uma estrela para se tornar uma marca. Aliás, se você olhar para a história da música verá que a única coisa que não mudou ao longo dos séculos foi a relação ao vivo do artista com seu público. Isso continuará.

E o que mais continuará para você?
Quero viver de música. Minha meta é essa. Mas não tenho grandes projeções, não quero nada de “a volta de Ritchie” e sei que as pessoas vão dizer isso [risos]. Mas é que gosto das minhas folgas, não sou afobado e já provei o gosto do sucesso no início da minha carreira (e vi que não era por aí). O importante é fazer com o coração, ser fiel a nós mesmo e fazer aquilo que nos agrada. Com sorte isso agradará aos outros também. Quero isso pra minha vida, viver de música de uma forma ou de outra. Seja como for. É só isso que quero.

segue abaixo o video de "outra vez" (ritchie e arnaldo antunes).

sexta-feira, 3 de julho de 2009

baianidade pop nagô

não tem muito tempo que fiz as pazes com a música baiana pop. acho que começou com o disco alegria original (emi, 2006) do timbalada que veio com uma das músicas mais bonitas que ouvi nos últimos tempos ("pedindo pra voltar", de carlinhos brown). aí depois teve ivete sangalo e sua "flor do reggae", outras de carlinhos brown e um retorno às raízes com o imbatível olodum ("requebra", "deusa do amor", "faraó, divindade do egito" e "i miss her", só para ficar em poucos exemplos). digo uma coisa, é liberador superar preconceitos com o pop nacional, e ainda mais com esse que vem da bahia, provavelmente um dos mais fortes e autênticos de todo o país.

essa retrospectiva pessoal me veio a cabeça depois de relembrar de "zanzibar (as cores)" (armandinho macedo e fausto nilo). nem fazia idéia que gostava tanto dessa música até que henrique januário (@henriheu) me mandou por e-mail. a gravação genial que segue abaixo é do grupo a cor do som e foi lançada no disco transe total (wea, 1980). mas no mesmo ano, não sei se antes ou depois, a música também saiu no disco vassourinha elétrica (wea, 1980) do imortal trio elétrico dodô & osmar. tente ficar parado!



quinta-feira, 2 de julho de 2009

transversão #13

o primeiro disco que comprei na vida era um LP. foi em fortaleza, 1983 talvez, tava com meu avô zé júlio e era uma coletânea chamada video hits. lembro que tinha michael jackson, bonnie tyler, ub-40, james taylor, men at work... alhos e bugalhos, enfim. lembro também que a música que mais gostei na época, até mais que "beat it", foi "electric avenue" do sumidão eddy grant. a original saiu no disco killer on the rampage (portrait, 1982), mas essa que consegui é uma versão extendida. sente a porrada.



anos e anos depois, a dupla sharkey & c-rayz walz lançou o disco monster maker (babygrande, 2007) com uma regravação igualmente forte e mais eletrônica.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

ser hamlet, não ser wagner

do baú tirei um texto que foi publicado na edição de julho de 2008 da monet. é sobre o hamlet de wagner moura (sua mulher, sandra delgado, fez um bom making of da peça que chegou a ser exibido no multishow). simbora.

Aderbal Freire-Filho, Sandra Delgado e Wagner Moura durante os ensaios

HAMLET REALITY

O cenário estava todo ali, prontinho, e o palco permanecia vazio esperando qualquer coisa acontecer ao som de um ar-condicionado profissional. Era dia de folga nos ensaios para mais uma montagem de Hamlet, mas não uma qualquer, pois desta feita é Wagner Moura quem passa pela ação e os tormentos do príncipe dinamarquês. Barulho de porta se abrindo e é Sandra Delgado quem chega para explicar o que está acontecendo. Fotógrafa, mulher de Wagner e mãe de Bem, Sandra é a diretora de Além Hamlet, especial do Multishow que revela os bastidores do encontro de um dos mais badalados atores brasileiros da nova geração com o personagem-síntese da obra de William Shakespeare, e que foi interpretado pela primeira vez no distante início do século 17.

“Quando Wagner teve a idéia de fazer Hamlet começamos a assistir a alguns filmes [baseados em Shakespeare] e vimos Ricardo III – Um Ensaio, aquele de Al Pacino que mostra os bastidores de uma montagem da peça. Fiquei muito encantada e achei que seria uma grande oportunidade acompanhar todo o processo e mostrar o que acontece para que uma peça chegue ao palco.” Tudo certo com Wagner, mas para o documentário acontecer muitas outras autorizações precisariam ser dadas, e a mais importante era de Aderbal Freire-Filho, o diretor. “Ele disse uma coisa importante e definidora da minha presença dentro dessa construção: ‘Você pode fazer esse filme, mas com uma condição. Que você esteja presente o tempo todo. Aparecer de vez em quando vai quebrar o grupo. Ou você vira o olho do grupo, naturalizando sua presença, ou não tem conversa’. Porque uma câmera pode ser muito intimidadora, até para atores.”

Desde 18 de fevereiro, quando os primeiros ensaios começaram no carioca Galpão do Solar, a tímida Sandra Delgado vem acompanhando outros tímidos enlouquecerem, inclusive o próprio marido. Fato inédito, pois nunca acompanhou-o nas coxias da vida (e estão junto há cerca de sete anos). “Tudo é muito novo pra mim e acho que esse filme é uma resposta às minhas perguntas de como o teatro acontece, a relação do ator com o personagem, a construção do personagem, se é ele ou se não é ele. Saber o que se passa dentro da cabeça do ator e mostrar esse processo criativo, essa mágica de ver as coisas brotando. É um elogio ao teatro e ao fazer teatro, mas nada de rasgação de seda.” E ela, que nunca foi atriz, acabou ganhando um personagem, pelo menos nos ensaios. Sandra Delgado ficou conhecida pelo elenco como Fortimbrás, príncipe da Noruega, uma ameaça constante, mesmo que invisível por toda a peça, ao Reino da Dinamarca. É Hamlet que entra em cena soltando fogo pelas ventas. Quer dizer, Wagner Moura chega tranquilo, acena um ‘tudo bem’ e rapidamente vai ver alguma coisa no fundo do palco.

Sandra prossegue: “Fazendo esse filme descobri que a vida do ator é muito difícil. Tudo é doloroso e muito exposto. Ao mesmo tempo são pessoas que têm uma disposição única para zerar, abrir novas portas, construir e reconstruir. São muito destemidos e sensíveis. Essa descoberta bateu em mim”, e solta um sorriso de quem encontrou segredos sobre alguém próximo. Detalhe: Sandra foi contemporânea de Wagner no curso de Comunicação Social na UFBA e o reencontrou anos depois no Rio de Janeiro, e apesar dos dois terem feito trabalhos juntos nos tempos da faculdade nunca haviam estado sob o mesmo projeto. Chega então, e de uma vez por todas, Wagner Moura.

“Detesto que pessoas estranhas venham ver os ensaios. Sinto-me invadido. Por isso só uma pessoa com a sensibilidade da Sandra poderia fazer isso. Tanto que não vi nada do que ela fez porque tenho total confiança em sua ética e bom gosto. Acho também que não é bom pra mim, antes da estréia, me ver. No mais, a gente conversa muito sobre o filme e a peça, existe uma troca muito legal. O que ela está procurando é revelar o processo criativo de um monte de gente e saber como essas pessoas tornaram Hamlet acessível à platéia de hoje e mostrando como ele é nosso contemporâneo. Ele vai enterrar a gente, cara.” Sentado à beira do palco, o ator que virou febre nacional após interpretar outros dois homens atormentados, o vilão Olavo na novela Paraíso Tropical e o violento Capitão Nascimento no filme Tropa de Elite, parece ansioso por mostrar seu Hamlet, idéia fixa desde que leu a peça pela primeira vez aos 15 anos.

O príncipe que volta à corte para vingar a morte do pai e que usa um grupo de teatro para concretizar o plano é o sonho de 10 entre 10 atores, mas qual é a razão deste fetiche? “O ator e diretor Steven Berkoff escreveu um livro chamado I Am Hamlet, no qual disse o seguinte: ‘Não existe erro de escalação para Hamlet porque ele é um personagem tão complexo e vivo, tão mais inteligente e bem humorado, que nos comporta a todos’. E outra coisa, nenhum Hamlet é igual a outro porque nenhum ator vai dar conta completamente do personagem. Isso não existe. Cada um mostra um pouco de si e esse pouco de si é um pouquinho dele.”

Segundo o renomado crítico literário Harold Bloom, Hamlet é o personagem mais irônico e camaleônico na obra de Shakespeare. Não acredita em nada, muito menos em suas próprias palavras, vai de uma profunda melancolia até ao mais enérgico nervosismo, e suas falas ocupam dois terços do mais longo texto do autor. “Acho que nenhum ator passar incólume por Hamlet. Tem coisas que ainda não sei dizer, coisas que vou descobrir com a temporada, porque o teatro ainda não se deu, falta ainda o público. Mas tentando ser objetivo, fiquei impressionado como o caminho de Shakespeare é reto, sem psicologismos, sem esforço. Basta dizer aquelas palavras para a ação e a magia surgirem. E ele foi escrito para esse lugar”, e bate ruidosamente com a palma da mão no palco.

“O meu [Hamlet] está sendo feito a partir de mim, da minha vida, do jeito que sou, do ator que sou. Gosto de ser um ator físico em cena e acho que posso emprestar isso a ele, principalmente na parte da loucura. Enfim, sou eu mesmo dentro da grandeza que é esse cara”, e bate mais uma vez com a palma da mão no palco. Ser ou não ser não é mais questão porque, pelo visto, Wagner Moura já é.