sábado, 30 de janeiro de 2010

documentando música

"fragmentos de um show no inverno portoalegrense. relatos de arthur sobre seu ofício, inspirações e afinidades". estrelando o sempre excelente arthur de faria e seu conjunto.



"mini-documentário sobre a passagem do macaco bong pelo auditório ibirapuera em show com convidados especiais: jack do porcas borboletas, siba, vitor araújo e a metaleira do móveis coloniais de acaju". precisa dizer mais?

je deteste...

serge gainsbourg, claro! mas isso não é opinião minha, muito pelo contrário. afinal, o pai de charlotte é autor de discos geniais como gainsbourg percussions (philips, 1964), bonnie and clyde (mercury france, 1968) e histoire de melody nelson (light in the attic, 1971). je deteste serge gainsbourg é o título de uma mixtape tributo organizada pelo pessoal do bootlegsfr que joga no liquidificador gainsbourg, rappers franceses e samplers de figuras como michael jackson, offspring, kings of leon, snoop dogg, fatboy slim, nine inch nails e assim por diante. e todas as 19 faixas (14 + 5 de bônus) estão para download gratuito. basta clicar na imagem abaixo. ah, fiquei sabendo dessa parada via @doni.

e ainda: o show gainsbourg imperial, que reuniu, em 2009, a víuva de serge (a atriz jane birkin), caetano veloso, o maestro jean-claude vannier e a orquestra imperial, vai sair em dvd pelo selo sescsp; e semana passada estreou em paris gainsbourg - vie héroïque, de joann sfar, filme-biografia que tem chance de ser interessante (pelo menos, o personagem é). no mais, o matias reuniu uma pancada de videos e músicas do cara lá no trabalho sujo. diversão garantida.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

hummmmmmm



este é zizi graffiti, curta produzido pela tbwa paris para a ong aides.

transversão #31

classicão roqueiro da gota serena, "house of the rising sun" (ou "the house of the rising sun" ou ainda "rising sun blues") não tem pai, nem mãe, mas é fruto da intensa nova orleans no final do século 19 e de seus alegres e fatais puteiros (que também geraram o jazz). os primeiros registros fonográficos só foram acontecer na década de 1930 e devem muito a john e alan lomax (pai e filho), pesquisadores que saíram pelos estados unidos - como mário de andrade fez aqui - gravando músicas tradicionais, negras e brancas. músicas folk, folclóricas. esses primeiros registros possibilitaram que já na década de 1940 surgissem versões de figuras como woody guthrie e lead belly, e depois weavers, frankie laine, joan baez, bob dylan e nina simone. esta gravou em duas ocasiões. mais lentamente em nina at the village gate (colpix, 1962) e numa versão mais rápida em nina simone sings the blues (rca, 1967). fiquei com a mais rápida.



entre uma gravação e outra de nina, a música estourou mundialmente sob a responsabilidade de eric burdon e seus animals. era 1964.



o sucesso foi tão grande e essa música fez tanto sentido para tantas pessoas que logo nasceram traduções mundo afora. no brasil, por exemplo, agnaldo timóteo gravou "a casa do sol nascente" (versão de fred jorge) no disco surge um astro (odeon, 1965).



aqui ao lado, na colômbia, los speakers mandaram ver em "la casa del sol naciente".



e não é que no irã também rolou uma?! é de um pessoal chamado group takhala la e foi chamada de "dokhtar e darya", e não sei o que significa nada disso. mas ouvi essa versão - o gatilho pra esse transversão - no disco raks! raks! raks! 17 golden garage psych nuggets from the iranian 60's scene (raks records, 2009), uma dica quente de zeca camargo em seu blog.



e agora, pra encerrar com chave de ouro e em dose dupla, duas gravações em gêneros preferidos da casa. começando com jazz e donald byrd, e retirada do delicioso disco up with donald byrd
(verve, 1964). ao piano, um jovem herbie hancock.



e passamos a régua com reggae estiloso de gregory isaacs, em registro do disco pardon me! (ras, 1992).

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

"con el abismo yo me enamoré"

não consigo parar de ouvir lhasa. todo dia aparece alguma de suas músicas nas listas randômicas que ouço, e tem sido assim desde que a conheci no início de janeiro desse ano (infelizmente, por causa de sua morte precoce aos 37 anos - falei mais aqui). aí resolvi juntar seus três maravilhosos discos e disponibilizar aqui para download como uma homenagem ao seu canto lindo em três línguas, suas letras melancólicas e instigantes, enfim, sua arte. acredito que ela não se importará. é do fundo do coração de um fã tardio. ah, deixei em itálico as faixas que mais gosto e linkei outras que possuem clipes. la llorona (wea, 1998)
1. de cara a la pared (aqui, ao vivo)
2. celestina
3. desierto
4. por eso me quedo
5. payande
6. peces
7. floricanto
8. desdeñosa
9. pájaro (o título do post é um verso dessa música)
10. mi vanidad
11. arbol del olvido
the living road (nettwerk, 2003)
1. con toda palabra (e aqui, o clipe)
2. la marée haute
3. anywhere on this road
4. abro la ventana
5. j'arrive à la ville
6. la frontera
7. la confession
8. small song
9. my name
10. pa'llegar a tu lado
11. para el fin del mundo o el año nuevo
12. soon this space will be too small
lhasa (nettwerk, 2009)
1. is anything wrong
2. rising (e aqui, o clipe)
3. love came here
4. what kind of heart
5. bells
6. fool's gold
7. a fish on land
8. where do you go
9. the lonely spider
10. 1001 nights
11. i'm going in
12. anyone and everyone

e como faixa bônus, lhasa e patrick stewart cantam "between the bars", do cultuado elliott smith, em mais um registro de vincent moon.


Fiume Night 11 _ Lhasa de Sela & Patrick Watson _ Montreal, april 2009 from vincent moon / temporary areas on Vimeo

perdido no espaço

esse moleque ainda vair dar muito o que falar. já disse isso? a babee colocou no tuiter essa música/video novo do kid cudi. meio brincadeira de maconheiro, mas com batida ótima, a música se chama "cudderisback". mais notícias sobre o garoto no blog dat new cudi.

KiD CuDi "cudderisback" - Directed by Jason Goldwatch - DatNewCudi.com from DP on Vimeo

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

são paulo de muitos

São Paulo de muitos from ciadefoto on Vimeo

projeto da cia. de foto que chamou um bando de fotógrafos (230!), profissionais e amadores, para reunir imagens sobre são paulo e suas várias caras e cores. ficou lindão, saiu na revista da folha de ontem, ganhou endereço próprio e contribui com essa aqui.

expressionismo no viaduto santa ifigênia

são paulo, essa é pra você

estou em são paulo desde 1994. já são 16 anos que amo cada momento vivido nessa cidade intensa, caótica, plural, divertida e extremamente calorosa. meu trabalho, meus amigos, meu amor, tudo está aqui em um liquidificador interminável e com resultados diariamente surpreendentes. e pra homenagear a cidade em seu aniversário lembrei de um dos trabalhos do gafieiras, lá do ano de 2003. o projeto são paulo, essa é pra você - que mais tarde foi apresentado na abertura de algumas sessões da 17ª mostra do audiovisual paulista - reuniu uma série de áudios de pessoas nas ruas da cidade lembrando de causos e sons. portanto, pode falar a sua, agenor (um vendedor de relógios na praça dom orione, no bixiga).



agora é a vez de célia, uma frequentadora dessa feira.



e maria, uma jovem menina romena, tocando no centro da cidade.



um beijo pra você, são paulo.

domingo, 24 de janeiro de 2010

domingueira

a verdade é que o último disco do marcelo d2 não me empolgou muito não. a arte do barulho (emi, 2008), seu quarto trabalho solo de estúdio (tem também o acústico mtv), veio com novas misturas de rap com samba, mas fiquei com a sensação de que os discursos (e algumas dessas misturas) começaram a se repetir. muito. mas é engraçado como o poder da imagem - caso parecido com o clipe do black drawing chalks de alguns posts atrás - transforma músicas medianas em boas músicas. basta fazer um clipe legal. é o caso de "meu tambor" (marcelo d2), todo filmado em nova york como um tributo ao estilo e aos cenários daquele rap que deu origem a tudo nos anos 1980. e com participação de zuzuka poderosa.



desse disco também foram feitos clipes das músicas "pode acreditar (meu laiá laiá)" (com seu jorge), "ela disse" (na música, vocais de thalma de freitas) e "desabafo" (com aquele bom sampler de "deixa eu dizer" com a cláudia).

sábado, 23 de janeiro de 2010

letra/música #12

olha, se essa estreia solo de rogerman, o homem de frente do sempre ótimo bonsucesso samba clube, estiver à altura das cinco músicas que estão no pompéia EP (independente), divulgado pela internet em dezembro de 2009 (vi a primeira vez no blog discoteca nacional), temos um sério candidato a um dos melhores discos no ano. serião. "me desculpe", "superar", "o que é pra falar", "amor de bairro" (que já existia, em outra versão, no repertório do bonsucesso) e a lindíssima "eu tenho fé" levam a sonoridade de rogerman pra outras caminhadas, mais variadas, surpreendentes e de balanço muito atual. e esse amor todo na letra de "eu tenho fé" ainda flagra dueto inspirado de rogerman com luisa maita.

capa do EP que rola pela internet; já o disco cheio sairá pela YB,
mas ainda sem previsão de lançamento

eu tenho fé
(rogerman)

eu tenho fé
que eu voltarei pra te encontrar
minha amada
independente do que houver
eu tenho fé
que eu voltarei pra te dizer que aprendi
a conviver e a ser feliz

eu tenho fé
que eu voltarei pra dormir contigo e mais tranquilo
iluminando com esses olhos todo esse horizonte lindo
eu tenho fé
que eu voltarei pra te dizer que aprendi
a conviver e a ser feliz

eu tenho fé
que eu voltarei pra te encontrar
independente do que houver
eu tenho fé
que eu voltarei pra te dizer que aprendi
a conviver e a ser feliz

eu tenho fé
que eu voltarei pra te encontrar
independente do que houver

eu tenho fé
que eu voltarei pra te encontrar
eu tenho fé
que eu voltarei pra te encontrar
minha amada
eu tenho fé
que eu voltarei pra te encontrar
eu tenho fé
que eu voltarei pra te encontrar
minha amada
minha amada
minha amada
minha amada

Eu Tenho Fé - Rogerman by Coelho

atualização em 2014: fábio trummer, da banda eddie, gravou um disco solo (trummer super sub américa) e fez sua versão pra linda "eu tenho fé".


que solidão, que nada

tirinha do malvado andré dahmer, no brasil econômico de hoje (pg. 50). aliás, o jornal tá mandando bem na parte de cultura, quadrinhos e crônicas - tem uma da vanessa barbara, na pg. 49, sobre suas tartarugas, que tá impagável. ainda nos quadrinhos, rafael sica, arnaldo branco, etc.

a vida é uma só, vai acabaaar!

depois de um post tão confessional (e de flores e um jantarzinho delícia)... voltamos a nossa programação normal. talvez o melhor episódio (até agora) da segunda temporada do larica total foi o #16, "tenha sempre em casa", com receitas de drinks clássicos como cosmopolitan e sex on the beach. vai vendo.



essa música que toca no final do episódio ficou martelando na minha cabeça durante todo o final de semana passado. era familiar, muito familiar, pop na veia. mas não sabia de quem era, de quando era (anos 1990?), e muito menos como achá-la. não lembrava de nenhuma parte da letra (não conseguia saber se era inglês e o refrão ainda era assim todo de ê ô ê ô). bruna, que trabalhou como estagiária de texto na monet, matou a charada na segunda. na terça chegou um email com a confirmação de um dos diretores (caito mainier). a música se chama "hey oh", sucesso de 2003 do tragédie, dupla francesa formada em nantes por silky shai e tizy bone (y-zit). é rap pop farofa que gruda na mente, pois não.



sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

in a sentimental mood for carolina

falei aqui, poucos dias atrás, que em 22 de janeiro de 2000, eu e carolina nos beijamos pela primeira vez. já era alta-noite-madrugada quando os olhares trocados - nos conhecíamos desde 1997 - viraram outra coisa. na sequência, sem muito lero-lero porque paixão assim não acontece todo dia e nem dá pra segurar, veio o namoro, as descobertas e muitas outras coisas. alguns anos depois juntamos nossos trapinhos, casamos, e montamos nosso primeiro lar: um apartamento lindo e cheio de boas lembranças lá no baixo pinheiros, na rua joão elias saada. novas descobertas no convívio diário, novas delícias (rusgas, crises e brigas também, quem não as tem). mais um tempo se passou e nos mudamos para um outro apartamento que, desde janeiro de 2007, vem sendo decorado com novas e belas histórias nossas (ali na oscar freire, do lado de pinheiros). e assim, de casa em casa, dez anos se passaram. uma década ao lado de carolina, mulher linda, forte, bem humorada, esperta, companheira e com tantas outras qualidades que se for listar aqui vai parecer que estou mentindo. não estou. mas também não vou entregar o ouro, afinal ela é minha, sacumé. por isso, sobe o som.



taí uma música que é, sem sombra de dúvidas, a nossa música. é também a faixa que abre um dos melhores discos da história mundial do mundo: duke ellington & john coltrane (impulse, 1962). que essa música, e outras mais que virão, embale nossas próximas décadas de amor, conquistas e carinhos sem ter fim.

carolina, eu te amo!

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

laerte da semana #3

quer mais mafagafos? vai no manual do minotauro
(usei as risadas do bróder daniel almeida pra escolher a tira da semana)

a harmonia, os sons e a vida

as silly symphonies, série clássica de walt disney (1901-1966), foram para os cinemas no período entre 1929 e 1939, já mostrando o poder de fogo criativo dos animadores do estúdio. desde o primeiro curta ainda em p&b, "skeleton dance" (do lendário ub iwerks), até o coloridíssimo "ugly duckling", a série trouxe ao mundo 75 belezuras, entre elas alguns inesquecíveis como "flowers and trees" (1932), "the three little pigs" (1933) e "the old mill" (1937). escolhi pra esse triplo x um que não conhecia e que trata de música e do eterno embate entre o popular e o erudito. "music land" é de 1935 e foi dirigido por wilfred jackson que, mais tarde, co-dirigiu os longas fantasia (1940), a bela adormecida (1950), alice no país das maravilhas (1951), peter pan (1953) e a dama e o vagabundo (1955).



na década de 1960, a era de ouro dos curtas e longas sob o comando de walt disney tinha se esgotado e uma nova rapaziada de animadores e estúdios estava colocando as manguinhas de fora. um deles, o melhor, era chuck jones (1912-2002). foi ele que injetou loucura, dinamismo e metalinguagem nos personagens da warner bros. (pernalonga, patolino, etc). mas no moderníssimo "now hear this" (1962-63), jones trata do diabo e seus sons.




e pra encerrar esse triplo x, o video de "it's a wonderful life" do sparklehorse. essa música está no disco it's a wonderful life (emi/capitol records, 2001), o terceiro do grupo liderado pelo multiinstrumentista mark linkous e foi dirigido pelo experimental guy maddin (o "david lynch canadense"), que adora um p&b e essa mistura de técnicas e colagens visuais.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

a volta do bob dylan negro

ele voltou. gil scott-heron voltou novamente. prestes a completar 61 anos - ele é de 1º de abril, verdade - e depois de mais de 15 anos após seu último disco, scott-heron acabou de lançar i'm new here (xl recordings, 2010). conhecido como "bob dylan negro", o sujeito de chicago é celebrado como um precursor do rap por suas poesias engajadas, acompanhadas por banda ou batidas, na virada da década de 1960 para 1970. assim nasceram discos como small talk at 125th and lenox (rca, 1970), pieces of a man (rca, 1971), from south africa to south carolina (tvt, 1976 - em parceria com brian jackson) e it's your world (tvt, 1976). é de sua lavra um dos grandes clássicos pioneiros do gênero, "the revolution will not be televised", e nunca é demais ouví-la (esse video foi produzido em 2001 sob a gravação original do início da década de 1970).



quase 40 anos depois, scott-heron vem com esse disco interessante produzido por richard russell (co-fundador do selo xl records), mas deixando claro também que os revolucionários do passado não conseguem se manter assim indefinidamente, e ainda mais após tantos problemas pessoais e silêncios artísticos (fora que o rap é um dos gêneros que mais mudou nas últimas décadas). no mais, fiquem com o clipe novinho da sensacional "me and the devil" (já estava ouvindo o disco quando soube pelo arthur dantas do video) e com uma entrevista do mestre para o guardian.

domingo, 17 de janeiro de 2010

domingueira dose tripla

ainda acho que a banda carioca picassos falsos não recebeu seu devido reconhecimento, principalmente pelos seus discos lá da segunda metade da década de 1980: picassos falsos (plug/rca, 1987) e supercarioca (plug/bmg ariola, 1988). tem um pop rock ali nada puro e muito brasileiro, uma espécie de elo perdido entre mutantes e chico science & nação zumbi. no disco de estreia, destaques para canções como "quadrinhos", "contrastes" e a clássica "carne e osso" (com suas citações a ismael silva e tim maia entre guitarras distorcidas). segue o clipe desta última que foi dirigido pelo jornalista e produtor do disco, josé emilio rondeau., em 1987.



mas olha, acho que o supercarioca está entre os melhores discos da música brasileira. exagero? nã, acho que não. ouça "retinas" ou "bolero" ou "marlene" ou "rio de janeiro" ou "wolverine" ou "sangue" ou "o homem que não vendeu sua alma". tem muita coisa nesse disco com direito a cruzamentos entre noel rosa e jimi hendrix. segue então "rio de janeiro", ao vivo em 1989, direto do canal no youtube do guitarrista gustavo corsi (que tem outras preciosidades).



mas esses discos não fizeram sucesso e a banda se desfez. durante os anos 1990, o vocalista humberto effe lançou um ótimo e único (até agora) disco solo - humberto effe (virgin, 1995) -, que já falei aqui num tranversão de agosto. o tempo passou mais um pouco e o quarteto se reuniu para um terceiro e bom disco, novo mundo (psicotrônica, 2004), que também não conseguiu dar uma regularidade pra banda. mas nasceram daí músicas deliciosas como "rua do desequilíbrio".



que o futuro venha com boas novas para o picassos falsos.

sábado, 16 de janeiro de 2010

transversão #30

tem umas músicas que são tão presentes em tantos filmes, propagandas e tv (tantas versões foram feitas e ouvidas) que o seu autor parece o inconsciente coletivo. "sea of love" é uma dessas, pelo menos pra mim. acho que fiquei sabendo dela pela primeira vez quando assisti, no começo dos 1990, aquele bom policial com al pacino e ellen barkin, vítimas de uma paixão (sea of love, 1989). é música romântica, doce, que me faz lembrar de minha carolina - ela adora uma das versões que colocarei -, por isso, o tranversão #30 é dedicado a essa moça, amor que está ao meu lado já faz uma década (o primeiro beijo, dia 22 de janeiro de 2000).

claro que o nosso amor é só mais um banhado por essa canção escrita por phil phillips, musicada por george khoury e lançada em 1959. de lá pra cá já foi gravada por gente como the honeydrippers, robert plant, iggy pop, the heptones, marty wilde, marcia griffiths, horace andy, tom waits e aquele havaiano gigante, o israel kamakawiwo'ole (no filme do al pacino tocavam duas, a original de phil philips e a torta de tom waits). mas aqui escolhi outras duas. primeiro, a pouco conhecida versão dub de sonia higgs & familyman, registrada no compacto juvenile delinquent (clappers up, 1981). e 'familyman' é a banda de aston barrett, baixista do lendário the wailers. fiquei sabendo desse disco no inesgotável you & me on a jamboree (a "sea of love [dub]" está no lado b do disco e logo após, mas na mesma faixa, de uma versão reggae).



agora, a mais conhecida versão de cat power, do disco the covers record (matador, 2000), e que depois entrou na ótima trilha de juno (2007). essa é a melhor de todas, amorosa e doída na medida. carolina concorda. um beijo e o meu coração pra você. sempre.



p.s.: cat power vem mais uma vez ao brasil, agora em 22 de maio, para shows na virada cultural paulista (em jundiaí e são josé dos campos).

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

toneladas de latinidad

ainda no rescaldo de 2009 - os primeiros bons lançamentos do ano estão começando a sair timidamente, tais como letieres leite & orkestra rumpilezz e o projeto guri convida, além de contra, o segundo disco do vampire weekend -, lembrei do ótimo tradition in transition (tru thoughts, 2009), do quantic and his combo bárbaro. para quem não sabe, quantic é o dj, produtor e multiinstrumentista inglês will holland que desde o início dos anos 2000 vem se multiplicando em projetos e sonoridades, desde o soul e o funk (quantic soul orchestra) até o reggae (flowering inferno, que em 2008 lançou o genial death of the revolution). mas de uns dois anos para cá, quantic se mudou para cali na colômbia e vem pesquisando ritmos latinos da américa do sul e caribe. daí nasceu o disco tradition in transition, que tem participações de malcolm catto (the heliocentrics) e arthur verocai. olha só o trailer de um documentário que ele está preparando sobre as gravações do disco.

Tradition in Transition: A Postcard from Cali (TRAILER) from Quantic

a quinta faixa do disco, "un canto a mi tierra", ganhou um clipe simples todo filmado no interior da colômbia e com a participação da cantora nidia gongora bonilla. uma delícia de ouvir.

Un Canto a Mi Tierra from Quantic

nidia, quantic e o combo bárbaro se reuniram mais vezes durante shows em alguns lugares mundo afora. por exemplo, em agosto de 2009, todos subiram ao palco do echoplex, em los angeles. segue o video de "memoria de justino", música que não entrou no disco (tem também um ótimo video de "linda morena", ao vivo em paris).

Quantic & his Combo Bárbaro @ the Echoplex, LA from Quantic

e para encerrar esse especial quantic goes latino, uma mixtape especial, gratuita (download no próprio player) e costurada pelo próprio sujeito. ele chamou de cumbia & jazz e traz figuras como pedro laza e lucho bermudez. lá em seu site ele disponibilizou outras duas mixtapes garimpadas em sebos colombianos: calypsos, cumbias & compas (essa eu vi no só pedrada musical e acabou sendo o gatilho para esse post) e descargas! descargas! descargas!

Cumbia & Jazz [Quantic Mix] by dafnesampaio

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

letra/música #11

as seis faixas de diamante, a estreia solo de caio bosco (radiola santa rosa), tocaram muito por essas bandas em 2009, tanto que o listei entre os melhores do ano. antes ainda já tinha colocado uma das faixas, a climática "2H2O + NaSO4", em um transversão. e agora, aproveitando que comprei o disco direto da fonte, resolvi resgatar uma outra faixa, a bela e amorosamente lésbica "eu não quero ser sua garota nunca mais".

olhaí a capa do diamante de caio bosco; foto tirada hoje em meio ao fechamento da edição de fevereiro da revista monet

eu não quero ser sua garota nunca mais
(caio bosco)

quero que me deixe em paz
com seus fantasmas de amor
eu já quis ser tua mulher
mas você não me deu valor
tua falsa risada quer
matar tua sede e nada mais
e agora que eu me libertei de você
quero só que me deixe em paz

por que eu não quero ser tua garota nunca mais
nesse verão, no litoral

você nunca assumiu
na popscene você me beijou
só por eu ser outra mulher
que entre nós não pode haver amor
se for pra subir serra eu vou
te fazer carinho é demais
e talvez até volte atrás do que te falei
de ser tua nunca mais.

por que eu não quero ser tua garota nunca mais
nesse verão, no litoral

caio bosco - eu não quero ser sua garota nunca mais by dafnesampaio

p.s.: o diamante pode ser comprado direto com o caio, mediante depósito de 10 reais (5 reais do disco mais 5 reais de frete pro brasil inteiro) no banco itaú, agência 0021, conta 66019-6, em nome de caio bosco d'amore azevedo. mas o próprio anda também divulgando em blogs uma versão do trabalho em mp3 de 320 kbps. baixa aqui.
é o fino, altamente recomendável.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

aê gurizada

o projeto guri é uma daquelas ações acima de qualquer suspeita. desde 1995, o pessoal "oferece continuamente, nos períodos de contraturno escolar, cursos de iniciação e teoria musical, coral e instrumentos de cordas, madeiras, sopro e percussão. atualmente o projeto guri atende cerca de 40 mil alunos em 301 municípios do estado de são paulo". quer dizer, ducaralho. aí, agora, eles lançaram um disco comemorativo chamado projeto guri convida (mcd, 2010) que, para surpresa de todos, reuniu a molecada (instrumentos e coros) a um selecionado de primeira com alguns dos artistas independentes mais interessantes da atualidade. todos fazendo "música infantil" naquela mesma onda adulta das mixtapes que postei aqui. imagina só, tem fernando catatau (cidadão instigado), thalma de freitas, rappin hood, max b.o., fernanda takai, curumin, mauricio pereira, andré abujamra, antônio pinto, sonantes e, em faixas separadas, as vozes do grupo donazica: anelis assumpção, iara rennó e andreia dias. tudo sob produção afinadíssima de beto villares e missionário josé. olha só um breve making of.



e agora uma sequência de três animações, feitas sob desenhos de valentina fraizcom músicas do disco (e que foram produzidas para o show de lançamento em dezembro passado, por isso esse caráter meio estático). a primeira é "robotito", do coletivo sonantes, formado por céu, gui amabis, rica amabis, dengue e pupillo.



agora é a vez de "caim", com andreia dias.



e pra encerrar, "a voz do meu instrumento", com zélia duncan.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

laerte da semana #2

quer mais intercâmbio? vai no manual do minotauro

aos pedaços, um tigre, o mar e o caveirão

o paulistano guilherme marcondes é um animador de mão cheia que já vinha causando estrago por aqui desde o início dos anos 2000. lembro que o primeiro trabalho dele que vi foi o curta into pieces (2004), com desenhos do amigo daniel bueno e trilha de paulo beto (anvil fx).

Into Pieces from Guilherme Marcondes on Vimeo

mas ninguém podia imaginar a maravilha que seria tyger (2006), inpirado em um poema de william blake, com deselhos de samuel casal e música, novamente, de paulo beto, mas interpretada por um de seus projetos, o zeroum (que tem tatá aeroplano entre seus integrantes). animação computadorizada, fotos, video, animação comum, teatro negro, uma mistura de técnicas das mais diversas fez desse curta de guilherme marcondes um das melhores animações da década. e muito de são paulo. se você ainda não viu...


Tyger from Guilherme Marcondes on Vimeo

depois que tyger se espalhou pela internet e sua fama cresceu (ele já assinava trabalhos em publicidade aqui), guilherme levantou âncora e foi para os estados unidos, ainda em 2006. primeiro, los angeles, onde trabalhou na renomada produtora motion theory. depois de um ano, nova york, onde está até hoje, alternando entre artes plásticas e publicidade. nos tempos de los angeles, ele assinou a direção de arte do clipe de "dashboard", do modest mouse. a música está no disco we were dead before the ship even sank (epic, 2007).



atualização em junho de 2014: saiu novo curta autoral de guilherme marcondes, o sensacional caveirão, mais uma vez filmado em são paulo, só que dessa vez na bela vila maria zélia, zona leste da cidade. 

Caveirão from Guilherme Marcondes on Vimeo

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

com a palavra, gay talese

em um tempo, como tantos outros, no qual a mídia impressa e televisiva mais desinforma que qualquer outra coisa, é sempre bom ouvir o mestre gay talese. seguem abaixo alguns trechos do excelente vida de escritor (cia. das letras, 2009 - páginas 228 a 230) sobre a arrogância do "quarto poder".

"nós, da mídia, adotávamos dois pesos e duas medidas, e, de acordo com nossos interesses, nos definíamos alternadamente como sendo "de dentro" e "de fora". éramos "de fora" nos casos em que não estávamos envolvidos pessoalmente com os "de dentro", cultivados como fontes, e éramos "de dentro" no sentido de que vivíamos sob o escudo protetor da primeira emenda e justificávamos a invasão de privacidade de outras pessoas de uma maneira que, se fizessem o mesmo conosco, havíamos de protestar. éramos seres efêmeros. a maior parte do que escrevíamos se circunscrevia a um único dia e, como profissionais, vivíamos vicariamente pelos altos e baixos de outras pessoas. nossos sentimentos eram filtrados; nossa sensibilidade, de segunda mão".

"éramos bajuladores, galanteadores, negociadores lisonjeiros, e usávamos como moeda de troca o que podíamos oferecer aos que tratavam conosco. oferecíamos voz aos emudecidos, oportunidade de esclarecimento aos incompreendidos, reabilitação aos caluniados. podíamos servir como pregoeiros para perseguidores de publicidade, caixa de ressonância para políticos oportunistas, refletores para estrelas teatrais e outros luminares. éramos convidados para estreias na broadway, para banquetes e outras noites de gala. (...) seja lá o que for que nos faltasse em termos de ética e caráter, nós nos justificávamos dizendo que éramos os guardiões mal remunerados do interesse público".

"o que escrevíamos às pressas era frequentemente incompleto, confuso e inexato. embora nossos editores tentassem corrigir essas falhas publicando erratas, essa nunca eram tão longas ou destacadas como tinham sido os artigos defeituosos que ensejavam a correção. nossos editores defendiam a objetividade e a imparcialidade, a apresentação de diferentes posições, de maneira a sermos justos e igualitários em relação a todas as partes envolvidas. mas atingir esse objetivo era improvável, se não impossível. nossos editores -
todos os editores - submetiam a cobertura noticiosa a seu critério do que era justo e equilibrado, do que era muito importante, importante ou de nenhuma importância. suas impressões digitais estavam em cada artigo, cada título, cada fotografia, cada página diagramada do jornal. podia-se remontar tudo o que se publicava, ou não se publicava, ao eu subjetivo deles, a seus valores íntimos, a suas vaidades e cricatrizes de batalha, a sua história ancestral, a sua origem geográfica e a qualquer tipo de influência que a política, raça ou religião tivessem exercido sobre eles".

lembrou de alguma coisa? algo soou familiar? pois então... e como faixa bônus, ou video bônus, segue um video interessante de talese falando sobre jornalismo no século 21. não concordo com alguns tiques nostálgicos, mas entendo, completamente.

domingo, 10 de janeiro de 2010

letra/música #10

ah, clara nunes (1943-1983). que voz. que mulher bonita. que imagem rodopiante, pés descalços na areia, dentro da minha cabeça. se fosse escolher o disco preferido da mineira acho que seria guerreira (emi/odeon, 1978) porque nele estão duas canções que considero trabalhos perfeitos, redondos, geniais (em letra, música, arranjo, interpretação, instrumentistas, vocais, tudo): "mente" (eduardo gudin e paulo vanzolini) e "ninguém" (paulo césar pinheiro). essa última então, porra. tanta vezes pensei em roteirizar essa música (né não, fábio sanchez?), tantas imagens me veem quando a ouço, que agora o que me resta é "imortalizá-la" no esforçado.

ninguém
(paulo césar pinheiro)

ninguém, ah, ninguém
percebeu que a batida do meu coração
disparou quando eu vi que ela se aproximava
revelando que o amor não havia morrido, meu senhor

ninguém, ah, ninguém
reparou na mão dela tremer minha mão
eu queria falar, não saía palavra
tomado que eu fiquei de tamanha emoção

ninguém percebeu como eu estava feliz ao seu lado
ninguém entendeu que a conversa era sobre o passado
ninguém, ah, ninguém
viu que alguém que chegava causou-me desgosto
ninguém viu a raiva e o ciúme
queimando o meu rosto

ninguém, ah, ninguém
teve pena do estado do meu coração
quando ela com seu novo amor se afastava
porque ninguém notou como eu estava abatido, meu senhor

ninguém, ah, ninguém
pôde avaliar minha grande aflição
ninguém viu que eu saí sem dizer uma palavra
e chorei pela rua em total solidão
e chorei pela rua em total solidão
e chorei pela rua em total solidão



p.s.: sempre me espantou o fato de uma música tão bonita ter apenas esse registro sonoro. nunca achei outra gravação. se alguém souber...
de qualquer forma, lá no um que tenha, tem o disco.

domingueira

recuperando uns bolachões espalhados em casas de amigos lembrei de uma fase musical minha na virada da década de 1980 pros 90, tempos de ribeirão preto. é que na mesma prateleira conviviam a melancolia de smiths e cure com a alegria de músicas dançantes também oriundas da inglaterra (bomb the bass, coldcut, s'express, soul II soul, etc.). é dessa época betty boo, uma inglesinha mignon que surgiu primeiro cantando como convidada em "hey dj (i can't dance to that music you are playing)", do grupo the beatmasters, para depois estrear no disco boomania (rhythm king/sire, 1990). a maioria de seus hits deviam muito ao rap americano do início dos anos 80, tais como "doin' the do" e "where are you baby?".


sábado, 9 de janeiro de 2010

o rock, o rap e jesus em post-its

na edição de janeiro da rolling stone brasileira saiu a lista dos melhores discos nacionais e internacionais de 2009, bem com as melhores músicas. um dos últimos posts de 2009 aqui do esforçado foi sobre a minha lista e é sempre interessante comparar. existem mais diferenças entre as escolhas internacionais (discos e músicas) e deu pra constatar novamente, na revista, uma falta de variedade no que se ouve. é tudo muito branco e roqueiro (ou eletrônico, ou os dois). e essa "questão de gosto" acabou chegando nas músicas nacionais e cravou a roqueiríssima e branquíssima "my favorite way", do black drawing chalks, no primeiro lugar (!?). problema nenhum em ser na língua de shakespeare. cravei "modern kid", do júpiter maçã, na minha (e ela ficou entre as 25 da revista). mas é um rock tão absolutamente comum, tão certinho, tão branco, que... é questão de gosto mesmo. mas o clipe é muito, muito bom, e a música funciona perfeitamente assim. saca só.

"My Favorite Way" by Black Drawing Chalks (OFFICIAL) from Marck Al

é a (minha) velha história com a música negra. it don't mean a thing if it ain't got that swing, né não duke? aí vi esse belo clipe de um dos melhores lançamentos internacionais do ano passado, the ecstatic (downtown records), do rapper e ator mos def. a música é a jazzy "history", com participação de talib kweli. vi no excelente year of the blacksmith que recentemente também disponibilizou, pra download gratuito, uma mixtape inédita da dobradinha talib kweli & hi-tek e uma outra com o the roots e sua participação como banda de apoio do programa late night with jimmy fallon (coloquei aqui, em março de 2009, uma parceria public enemy, antibalas e the roots que rolou no programa). quer dizer, material de primeira.

Mos Def Feat. Talib Kweli - History (Color Edit) from Creative Control

e pra finalizar esse triplo x, um pouco mais de 1 minuto de espiritualidade em ação. é o "super mario jesus", animação feita em post-it por TotemX. vi no meio da semana a partir de um tweet de alguém que não recordo e relembrei hoje pelo trabalho sujo.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

transversão #29

o soulman al green é um daqueles mestres incontornáveis da boa música mundial e quando todos achavam que sua arte se limitava à década de 1970 (e início dos 80) ele voltou nos anos 2000 com dois excelentes discos, everything's ok (blue note, 2005) e lay it down (blue note, 2008). mas nesse primeiro transversão de 2010 ficaremos com uma de suas pérolas setentistas, "here i am (come and take me)" (al green e teenie hodges), do discaço call me (the right stuff, 1973). segura a bronca.



um ano depois, marcia griffiths gravou a música no disco play me sweet and nice (sanctuary, 1974). a imperatriz do reggae, como era conhecida, foi durante anos uma das vocalistas de bob marley & the wailers e fez dupla com bob andy (the paragons).



e seguindo nas linhas de parentesco entre o soul e o reggae, voltamos ao soul com o cantor e baixista al brown (the paragons, grupo vocal surgido no final da década de 1950 e anterior aos paragons jamaicanos de bob andy, john holt, etc.). foi essa interpretação, aliás, que me deu a ideia de fazer esse tranversão, mas não consegui saber quando foi gravada. no mais, ouvi na coletânea soul jazz records presents 300% dynamite! lá no original pinheiros style.



pra finalizar, voltamos ao reggae com uma gravação da música com jacob miller (1956-1980), vocalista da banda inner circle. a música está no disco chapter a day: jacob miller songbook (vp records, 1999).



p.s.: entrando hoje no site do al green para fazer esse post vi que no dia 5 de janeiro morreu willie mitchell (1928-2010), trompetista, compositor, arranjador e produtor dos primeiros e melhores discos do soulman, incluindo call me. essa transversão vai em sua homenagem.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

laerte da semana #1

quer mais pintinhos? vai no manual do minotauro

casal 20

em outubro de 2009 completei três anos de revista monet, mas só agora em janeiro assinei a primeira matéria de capa (quase aconteceu uma outra vez, em junho de 2007, com o encontro de selton mello e lázaro ramos, que está aqui). dessa vez foi outra dupla, tony ramos e glória pires, protagonistas da franquia se eu fosse você. entrevistei o casal antes e depois de uma sessão de fotos com jorge bispo (que também tem flickr) e foi uma baita experiência boa. por ter conseguido reuní-los - glória, que está morando com a família em paris, estava de passagem pelo brasil e com agenda lotada -, mas acima de tudo por ter conversado com atores que respeito e acompanho faz tempo e que são a cara dessa figura admirável que é o artista-trabalhador. a minha reportagem abre um especial sobre cinema brasileiro, no qual editei perfis de outros figuras influentes no cenário atual (fernando meirelles, wagner ramos, lázaro, leandra leal, andré abujamra, etc.) assinados pelos colaboradores carol nogueira, chantal brissac, wilson weigl e maria emília kubrusly, além do próprio editor-chefe & bróder luis alberto nogueira. segue o meu texto na íntegra.

à esquerda, a capa da edição de janeiro que está nas bancas e com os assinantes; à direita, um estudo anterior cuja foto acabou sendo a que abre a reportagem na versão impressa (era para ser o contrário); fotos de jorge bispo

TONY PIRES & GLÓRIA RAMOS

Pense em um cenário: Copacabana, a verdadeira cara do Rio de Janeiro. Morro, asfalto, praia, malemolência, tudo junto e misturado. Purgatório da beleza e do caos, pode acreditar. É todo um resumo da cidade ali, de ponta a ponta, do Leme ao Forte. E no primeiro dia do último mês do ano de 2009, o bairro estava do jeitinho de sempre: lindo e congestionado. Mas em um de seus mais célebres edifícios, fincado à beira daquele mar desde 1923, o tempo escorria de um jeito diferente. Pelo hall principal do Copacabana Palace, o vaivém de hóspedes e funcionários parecia saído de um musical colorido e luxuoso dos anos 1950 ou de uma cena festiva de
Se Eu Fosse Você 2. Pelo menos, nesse último caso, Tony Ramos e Glória Pires, o casal de astros da comédia dirigida por Daniel Filho, estava presente. E cada um rodopiava a seu modo pelos corredores do hotel.

Principal lançamento do mês na Rede Telecine, com pré-estreia em HD, a sequência de
Se Eu Fosse Você levou mais de 6 milhões de espectadores aos cinemas e consolidou a dobradinha Tony-Glória como uma das mais populares da recente filmografia nacional.

Mas onde estávamos mesmo? Certo, o casal a rodopiar pelo hotel em Copacabana. Enquanto Glória Pires, em passagem rápida pelo Brasil e de agenda cheia por causa dos lançamentos nos cinemas de
É Proibido Fumar e Lula, o Filho do Brasil, seguia bailando freneticamente de compromisso em compromisso, Tony Ramos chegava tranquilo, apesar do “trânsito infernal”, dirigindo seu próprio carro. Sem assessor, assistente ou nada parecido. Subimos rumo a uma das principais suítes (“é a que a Madonna ficou!”, confidencia uma gerente orgulhosa), cenário reservado pelo hotel para entrevista e sessão de fotos. Glória ainda demoraria um pouquinho.

ARTE É OFÍCIO - “Só vou sair da linha do Sol, vamos lá”, disse o ator de 61 anos se arrumando na cadeira. “Já no primeiro Se Eu Fosse Você percebemos que o roteiro não era e nem podia ser apenas uma sucessão de gags. Pra fazer isso não precisa gastar celulóide; faz um vídeo, coloca na internet”, brinca. “Com o segundo tivemos essa mesma preocupação e o novo roteiro foi bem trabalhado para tratar de outros assuntos: o desgaste do relacionamento do casal, uma gravidez indesejada e inesperada da filha [interpretada por Isabelle Drummond], e por aí vai, mas ainda exercitando o grande barato dessa licença poética da troca de corpos, que é o que as pessoas esperam.” Tony gosta de falar, é franco e simpático, acessível e discreto, extraordinariamente normal e preciso. Não é à toa que, após 46 anos de carreira, seja um dos atores mais queridos e respeitados por companheiros de ofício e seus milhares de fãs.

Paranaense de Arapongas, mas com um sotaque que mistura seus anos de São Paulo com os muitos anos de Rio de Janeiro, Antônio de Carvalho Barbosa Ramos filmou
Se Eu Fosse Você 2 em 2008 entre as novelas Paraíso Tropical e Caminho das Índias. De lá para cá foi dirigido outras duas vezes por Daniel Filho – Tempos de Paz, com Dan Stulbach, já foi lançado e Chico Xavier chega aos cinemas em abril. Começou também a se preparar para outro batidão folhetinesco, Passione, próxima novela das 8 e que leva assinatura do amigo Silvio de Abreu. Nos últimos anos voltou a trabalhar nesse pique acelerado, alternando TV e teatro, além de reaquecer sua tímida filmografia (cujo destaque anterior foi o premiado drama Noites do Sertão, em um distante 1984). “Sinto que o que me move no trabalho são idéias que possam me dar um certo comichão no corpo, porque sei que isso também vai inquietar o espectador. Agora, é bom deixar claro que o espectador não é ingênuo. Ele é ou não é um grande cúmplice. E ele só será cúmplice se o roteiro lhe agradar, e se de alguma forma houver conflito e interesse.”

Essa complexa e milenar relação entre arte popular e público é muito bem resolvida em sua cabeça pragmática de pai de dois filhos (um médico e uma advogada) e avô de dois netos, frutos de um casamento que já cobre quatro décadas. “Sou um artista popular e nunca tive problemas com isso, porque o artista popular é um operário, possui um ofício. Tive grandes mestres, hoje grandes amigos, gente como Elias Gleiser, Lima Duarte e Laura Cardoso. Ficava ouvindo eles, prestando atenção nas atuações, na conduta com a carreira, no comportamento com a família. E foi muito claro pra mim que entrei pra uma turma que exerce um ofício e que não consiste em fazer capa de revista. Capa é consequência e não objetivo.” O objetivo é trabalhar, trabalhar muito em busca de bons papéis, e aprender com os ruins ou pouco inspirados.

DO HUMOR SE FAZ COMÉDIA – A tarde vai caindo sob os rumores de Copacabana e Tony segue articulando pensamentos. Nem liga quando é informado que Glória ainda vai demorar mais um pouco. Todo o resto está pronto, é isso que importa. Será que existe algum segredo para ser tão boa praça? “O humor. Pra mim, o humor é o grande condutor do ser humano. As pessoas às vezes confundem com deboche ou falta de responsabilidade, mas estou falando de um humor que vem na alma.” Sua cabeça não para, afinal o assunto humor lhe é muito caro, e lembranças de seus anos de formação começam a ricochetear pelas paredes do cômodo.

“Sou filho da Atlântida. Comecei a ir ao cinema com uns 5 anos pelas mãos de minha mãe e vi muita coisa, você não faz idéia. Foi ali que vi o que queria ser, através de Oscarito e de sua arte circense, a precisão dos gestos e do tempo da piada”, e sua memória abre um sorriso de orelha a orelha. “Pontuei minha vida a caça desses grandes atores de comédia.” Recorda então outros mestres: nacionais como Chico Anísio, Renato Aragão, Ronald Golias e Walter D’Ávila; internacionais de escolas distintas como Jerry Lewis, Cantinflas, Totó e Steve Martin. “E depois de tantos personagens dramáticos nas novelas sou surpreendido com
Se Eu Fosse Você 1 e 2 na minha vida e volto a me reencontrar com a comédia.” Seu prazer ao falar dessa busca pelo riso é evidente, e taí seu personagem, o workaholic e esquentado Cláudio, que não lhe deixa mentir. Mas nada chega aos pés da diversão que foi interpretar a colega Glória Pires.

Existe um fato muito curioso sobre a dobradinha Tony-Glória. Nove entre dez pessoas tem a mais absoluta certeza que eles trabalham juntos desde sempre. Nada disso. Apesar de se cruzarem pelos corredores da TV Globo desde a década de 1970, Tony e Glória só foram dividir o mesmo set de filmagem em 2005 quando, por uma dessas coincidências do destino, foram chamados para fazerem par na novela
Belíssima, de Silvio de Abreu, e em Se Eu Fosse Você (os dois também estiveram, em 1997, na comédia romântica Pequeno Dicionário Amoroso, mas foram pequenos papéis e nunca junto em cena). O sucesso na novela e no filme levou o par a encarar outra novela em 2007, Paraíso Tropical, e mais um sucesso na química. A sequência de Se Eu Fosse Você era apenas uma questão de tempo. “Glorinha é um encanto de pessoa, de humor e de disciplina. É uma parceria muito legal, inteligente, entre profissionais muito práticos e absolutamente dedicados ao trabalho.” E, quase como uma deixa, a campainha da suíte toca e Tony sorri mais uma vez: “Oi, garotinha!”. É Glória que entra no palco.

TROCANDO AS BOLAS – Durante a sessão de fotos, um inquieto Tony soltava piadas, grunhidos e expressões hindus aprendidas durante Caminho das Índias. Glória, muito concentrada, segurava a boca para não gargalhar. Nem sempre conseguia. Pouco depois, após a partida do ator rumo a um compromisso, a carioca deu um diagnóstico sobre o elétrico colega. “Tony vive contando piadas e fazendo graça porque, na verdade, é tímido demais. Isso eu saquei com o tempo. Em qualquer situação nova, com uma pessoa nova, ele vem com todo seu repertório. É uma defesa. Ele é muito engraçado, muito humano, o Tony.”

Atenciosa e simpática, apesar de uma tosse seca insistente e bocejos ocasionais devido ao batidão midiático, Glória Maria Cláudia Pires de Moraes tem sua energia renovada ao falar do colega. “Sempre achei o Tony um ator genial e ele deve ter comentado que minha mãe tinha uma vontade louca que trabalhasse com ele. ‘Não entendo porque você nunca está nas novelas do Tony Ramos!’ [risos] Era um sonho dela. Acabou que não viu aqui, mas está vendo lá de cima e com certeza vibrando.” É palpável sua emoção ao lembrar da mãe, principalmente por causa dessa conexão com Tony, mas logo retoma as rédeas do pensamento e define o colega como “educadíssimo, agradável e generoso, um sonho de parceiro. Imagine que a gente se encontrou pela primeira vez, para trabalhar juntos, no set do
Se Eu Fosse Você, e já fazendo essas maluquices todas [risos].”

Maluquices que são ainda mais malucas para Glória que, apesar dos 41 anos de carreira (e 46 de vida), pouco fez comédia e não se considera uma profissional do gênero. “Olha, eu queria mesmo era interpretar o Tony [risos], e acho que nesse segundo fica mais claro que nós estamos um brincando de interpretar o outro. A curtição é essa. Mas comédia tem um tempo dificílimo e sei que não domino esse tempo. Quer dizer, tenho ótimo humor, sei rir de mim [risos], e sou disponível, entendeu? Então, quando a gente faz uma comédia sem pudores, principalmente no caso de Se Eu Fosse Você que o humor vem das situações hilárias, a graça vem, né?”.

A atriz já estava em seu autoexílio francês – ao lado do marido, o cantor Orlando Moraes, e dos filhos mais novos – quando recebeu o chamado de
Se Eu Fosse Você 2. “Fiquei interessada de cara porque isso [uma comédia ter sequência] nunca tinha sido feito aqui, mas fiquei feliz mesmo por Daniel e os roteiristas terem encontrado o mote pra essa segunda aventura. Não era fácil.” É a voz da experiência da atriz que não tem bagagem nenhuma de teatro (como Tony tem), mas muita de cinema (só para citar alguns dos filmes que fez desde o início da década de 1980, temos Índia, a Filha do Sol, Besame Mucho, O Quatrilho, A Partilha e Primo Basílio, sendo que os dois últimos dirigido por Daniel Filho, figura onipresente na carreira tanto de Glória quanto de Tony).

CAI O PANO - Enquanto a vida do casal segue agitada nos embalos do ofício – Glória volta de seu autoexílio no meio do ano para a novela de Gilberto Braga que sucederá Passione, a próxima de Tony -, os planos de um terceiro Se Eu Fosse Você começam, lentamente, a ganhar corpo. “Já existe uma sinopse do terceiro”, confirma Tony. “O lógico, pensando na predisposição do mercado [risos], é que role, mas tem muita coisa envolvida. Agora, se tiver um terceiro acho que vai ser ótimo. Eu topo! [risos]”, diz Glória. Parece que ela pegou gosto por ser Tony Ramos.