quinta-feira, 30 de setembro de 2010

laerte da semana #18

pessoalmente, acho uma das melhores tiras que o laerte fez nos últimos tempos. e o novo livro do mestre, muchacha (quadrinhos na cia., 2010), será lançado agora no próximo sábado. o próprio dá mais detalhes: "o lançamento mundial é nesse sábado, dia 2/10. vai ser na loja cachalote, que fica na rua ministro ferreira alves, 48. eu vou estar lá, das 2 às 8, a não ser que não venha ninguém - daí eu vou embora às 7 e meia." eu já estou com o meu exemplar nas mãos, saca só.

muchachas me mordam!

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

afrobeat hecho en brasil

isso mesmo. cortesia do videocast compacto, que reuniu em seu episódio 7 os músicos curumin e léo marinho (burro morto). o baterista e o guitarrista, acompanhados de haley (sintetizador), lucas martins (baixo) e pablo ramires (percussão), tocam a sensacional "kalakuta", música que estará no esperado (por mim) segundo disco da banda burro morto, baptista virou máquina.



e para quem não sabe, "kalakuta" é o nome de uma "república" criada pelo músico nigeriano fela kuti, o pai do afrobeat, no anos 1970. a tal república compreendia, na verdade, a sua propriedade em lagos, onde vivia em forma comunitária com a família e membros da banda. foi uma forma de se contrapor politicamente aos militares que estavam no poder. obviamente, a coisa não acabou nada bem e em 1977 os zumbis fardados do general olusegun obasanjo colocaram abaixo a república de kalakuta, entre tiros, socos e fogo (a mãe de fela, a professora e ativista feminista funmilayo ransome kuti, foi jogada pela janela pelos milicos e acabou entrando em um coma que tirou sua vida em abril de 1978. tinha 77 anos).

terça-feira, 28 de setembro de 2010

vida editada

uma das melhores editoras do cinema americano, sally menke, morreu na manhã desta terça em los angeles. tinha apenas 56 anos e estava caminhando com seu cachorro em um parque meio que deserto e distante. morreu de calor, vê se pode o absurdo! mais detalhes no los angeles times. bem, sally era parceira unha-e-carne de quentin tarantino e editou todos os seus filmes desde cães de aluguel (1992), o que já seria o bastante para eternizar seu trabalho discreto e surpreendentemente moderno. e o curioso é que ontem a noite assisti ao ótimo curta the tarantino mixtape, da dupla eclectic method, uma homenagem-colagem aos filmes do diretor e que está concorrendo na categoria "remix" no primeiro festival vimeo. vai aí como uma homenagem também ao trabalho de sally menke.

The Tarantino Mixtape from Eclectic Method on Vimeo

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

nollywood não é aqui

não sei se vocês sabem, mas a pobre e devastada nigéria possui a terceira maior indústria cinematográfica do mundo, perdendo apenas para os estados unidos (hollywood) e índia (bollywood), e é disso que trata o excelente documentário nollywood babylon (2008). produção canadense dirigida pela dupla ben addelman e samir mallal, o filme logo trata de dar essa informação e ainda capricha nos detalhes, afinal na última década, o país produz uma média de 2500 filmes por ano, sendo que a grande maioria custa no máximo 15 mil dólares, e as pessoas tem o costume de assistir de 3 a 5 filmes por dia. quer dizer, esse papinho de se eu fosse você 2, nosso lar, chico xavier, é tudo bobagem pros nigerianos. é bilheteria de pinga. saca só o trailer do documentário.



mas antes de seguir falando sobre o filme é bom esclarecer que a nigéria não é nada pobre, na verdade. sua grande população de mais de 150 milhões de pessoas é, mas o país possui grandes reservas de petróleo e é uma das economias que mais cresce no continente africano. claro que as pessoas não vem a cor desse dinheiro e seguem vivendo na pobreza, abaixo da pobreza, em grandes periferias sem serviço público algum. colonizada pela inglaterra, a nigéria se declarou independente em 1960 e durante quatro décadas se debateu entre golpes militares de estado, guerras civis, violência étnica e todo tipo de inferno que costuma de abater sobre a áfrica. desde 1999 vive em uma democracia relativamente tranquila, apesar de eleições fraudulentas e da região do delta do rio niger ainda ser palco de violentos conflitos entre minorias étnicas e corporações petrolíferas estrangeiras. de novo, esse "ouro negro" não chega nas pessoas e o país é muito atrasado em todos os índices possíveis, de educação a saneamento básico e assim por diante. nós aqui no brasil sabemos bem como uma ditadura militar pode atrasar o desenvolvimento de uma sociedade.



mas voltemos a nollywood babylon. o documentário foi quase todo filmado em lagos, a maior cidade e centro econômico do país (14 milhões de pessoas), uma cidade que "é como um jardim que cresceu sem um jardineiro" (nas palavras do escritor odia ofeimun, um dos melhores entrevistados do filme). quase não existem mais cinemas na nigéria (sobraram apenas três em lagos que não exibem nenhum filme de nollywood) e toda a produção é assistida nas casas, em bares, enquanto os filmes são vendidos em camelôs, seguindo mais ou menos o mesmo esquema de venda e distribuição que acontece com o tecnobrega em belém do pará. o produto chega diretamente e de uma forma muito rápida a quem mais se interessa por ele. não tem erro.

e os diretores do documentário vão conversando com atores, atrizes, populares e acompanham a produção de bent arrows, o 157º filme de lancelot imasuen, um dos mais conhecidos e bem sucedidos cineastas de nollywood. evangélico e falastrão, lancelot deixa claro que os nigerianos consomem de tudo, de todos os gêneros, e como quase todo mundo afora dão privilégio a fantasia, mas que seja produzida e estrelada por eles. e por esses caminhos ficamos sabendo de um cineasta considerado pioneiro na cena, eddie ugbomah (de filmes como death of a black president, de 1983), que critica a grande quantidade de filmes produzidos no país ("é claro que se são produzidos 15 filmes em uma semana, a maioria certamente será uma porcaria"). também ficamos sabendo que o filme que é considerado um marco inicial de nollywood é o longa living in bondage (1992). ah, olha só o trailer de bent arrows.



o filme já seria ótimo se somente tratasse dessa grande e descentralizada indústria popular (e de sua consequente manifestação cultural e suas várias facetas), mas os diretores vão ainda mais longe ao problematizar uma importante questão: um dos motivos do sucesso de nollywood é seu aspecto aspiracional para uma grande camada da população, só que o "aspiracional" nos filmes é conservador, mágico, externo. além do já citado escritor odia ofeimun, o historiador onookome okome também joga lenha nessa fogueira. são eles que dizem que a crise geral no país pós-guerras civis empurrou boa parte da população para novas igrejas pentecostais. as pessoas procuram salvação em algo externo (o céu, o paraíso) e não na produção de bens e serviços (por exemplo, as indústrias viraram igrejas) e o cinema não fala disso, e ocasionalmente ainda demoniza a tradição "pagã" africana em filmes evangelizadores. esse esquema predatório de "filme feito rapidamente é dinheiro rápido" não pensa em médio e longo prazo, na construção de uma linguagem/tradição cinematográfica nigeriana. enfim, o grande filme nigeriano ainda não foi feito. será que o veremos?

p.s. 1: a nigéria é um dos países culturalmente mais ricos da áfrica, principalmente na música, afinal foi lá que nasceu fela kuti, o pai do afrobeat (que teve muitos problemas com os militares nas décadas de 1970 e 80). curiosamente, fela kuti não aparece na ótima trilha que traz artistas locais e estrangeiros como the anambra beats, the funkees, dan satch & his atomic dance band of aba, nekwaha semi colon, the hykkers, the nigerian police force band, george akaeze & his augmented hits, dele ojo & his star brothers band, opotopo, tony benson sextet, leo fadaka & the heroes, afrikan boy, chicago afrobeat project e konono nº1.

p.s. 2: pouco antes de nollywood babylon foram feitos outros documentários sobre o cinema nigeriano: welcome to nollywood, this is nollywood e good copy, bad copy, todos de 2007.

p.s. 3:
no site izogn movies é possível assistir filmes de nollywood on-demand.

porra, sega!

do jogo toe jam & earl (1991)

do jogo the jungle book (1993)

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa

rolou ontem aqui em são paulo um ato em defesa de uma imprensa séria, transparente, enfim, uma imprensa que faz jornalismo (notícia aqui no g1). entre um discurso e outro foi lida uma nota bastante interessante que vai contra tudo que os detratores do evento andavam espalhando por aí - a maioria dentro da própria imprensa. a saber, que tal ato era contra a imprensa, uma defesa da censura, um jeito servil de lamber as botas do governo federal, blábláblá. segue a nota na íntegra com alguns grifos meus, que geralmente discordo dessa banalização das palavras "golpe" e "golpismo" - por exemplo, a sigla PIG (Partido da Imprensa Golpista), tão usada por blogueiros e jornalistas de esquerda, sempre me cheirou a briga besta de pátio de escola -, além dessa menção ressentida do sindicato a extinção da obrigatoriedade do diploma de jornalismo. mas fora isso, o recado é claro e a discussão precisa ser levada a sério.

p.s.: vale ler também um texto ótimo, mesmo que a meu ver seja um tanto exagerado quando fala do lula, que o jânio de freitas - ele mesmo, o jânio da folha de são paulo - escreveu ontem sobre as críticas que a "grande imprensa" vem sofrendo e o papel dela no jogo eleitoral. o celso, do blog na prática a teoria é outra, colocou na íntegra. o bom é juntar tudo, liquidificar na nossa cabeça e aí sim...

ilustração de eric drooker

Em defesa dos jornalistas, da ética e do direito à informação

O conceito de golpe midiático ganhou notoriedade nos últimos dias. O debate é público e parte da constatação de que setores da imprensa passaram a atuar de maneira a privilegiar uma candidatura em detrimento de outra. É legítimo - e desejável – que as direções das empresas jornalísticas explicitem suas opções políticas, partidárias e eleitorais. O que é inaceitável é que o façam também fora dos espaços editoriais. Distorcer, selecionar, divulgar opiniões como se fossem fatos não é exercer o jornalismo, mas, sim, manipular o noticiário cotidiano segundo interesses outros que não os de informar com veracidade.

Se esses recursos são usados para influenciar ou determinar o resultado de uma eleição configura-se golpe com o objetivo de interferir na vontade popular. Não se trata aqui do uso da força, mas sim de técnicas de manipulação da opinião pública. Neste contexto, o uso do conceito “golpe midiático” é perfeitamente compreensível.

Este estado de coisas só acontece porque os jornalistas perderam força e importância no processo de elaboração da informação no interior das empresas. Cada vez menos jornalistas detêm o poder da informação que será fornecida à opinião pública. Ela passa por uma triagem prévia já no seu processo de edição e aqueles que descumprem a dita orientação editorial são penalizados. Também nunca conseguem atingir cargos de direção que, agora, são ocupados por executivos que atendem aos interesses de comitês, bancos associados, acionistas etc.

Esse estado de coisas não apenas abre espaço para que a mídia atenda a interesses outros que não o do cidadão, como também avilta a profissão de jornalista, precariza condições de trabalho e achata salários. A consequência mais trágica disso é a necessidade de se adaptar ao “esquema da empresa” para garantir o emprego, mesmo em detrimento dos valores mais caros.

Para avançar nessa discussão é necessário estabelecer a premissa de que informar a população sobre os desmandos do governo (qualquer deles) é dever da imprensa. Orquestrar campanhas pró ou contra candidatos é abuso de poder. A linha divisória entre esses campos é tênue e cabe ao jornalista, respeitando o profissionalismo e a ética, estabelecer o limite tendo em conta o que é de interesse público.

Não podemos incorrer no erro de instaurar na cobertura de fatos políticos os erros cometidos em outras áreas, ou seja, o pré-julgamento (que dispensa provas, pois o suspeito está condenado previamente) e o jornalismo espetáculo (que expõe situações de maneira emocional para provocar reações extremadas).

A ideia de debater e protestar contra esse estado de coisas resultou na realização do ato em defesa da democracia e contra o golpismo midiático a ser realizado no auditório do Sindicato dos Jornalistas. A proposta surgiu em conversa entre blogueiros, foi assumida pelo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, que procurou o Sindicato dos Jornalistas e este aceitou sediar o evento.

A sociedade sabe que o local ideal para este debate é o Sindicato dos Jornalistas. Não apenas porque os jornalistas são parte importante nesse processo, mas, principalmente, pela tradição da entidade em ser um espaço democrático aberto às diversas manifestações públicas e de interesse social.

O que está em discussão são duas concepções opostas, uma que considera a informação um bem privado, passível de uso conforme interesses pessoais e outro que entende a informação como direito social, portanto, regulado por um “contrato social”, exatamente como acontece com a saúde ou a educação.

Ter direito de resposta, garantir espaço para que o contraditório apareça, impedir o monopólio da mídia, tornar transparente os mecanismos de outorga das empresas de rádio e TV, destinar parte da verba oficial para pequenos veículos, criar a rede pública de comunicação, regulamentar as profissões envolvidas com a mídia, não são atos de censura, são movimentos em defesa da liberdade de expressão e cidadania!

O grupo dos liberais quer, a qualquer custo, impedir que o conceito de direito social seja estendido à informação. A confusão feita entre liberdade de opinião, de imprensa, de informação, de profissão e o conceito de censura e de controle público é intencional. Essa confusão é visível na argumentação utilizada pelo Ministro Gilmar Mendes para acabar com a necessidade do diploma de jornalismo. O objetivo é impedir que as ideias por trás das palavras sejam claramente entendidas pelo cidadão e, assim, interditar qualquer reivindicação popular nesse campo.

A liberdade de imprensa é o principal instrumento do jornalista profissional. Não é propriedade dos proprietários dos meios de comunicação. O verdadeiro ato em favor da liberdade de imprensa é feito em defesa do jornalista e, por consequência, diminui o poder da empresa. O problema é que, a exemplo do que escreveu George Orwell no livro 1984 quando criou a novilíngua (que pretendia reduzir o vocabulário, eliminar sinônimos e fundir palavras para diminuir a capacidade de pensamento), o conceito de liberdade de imprensa foi virado pelo avesso e, uma vez apropriado pela empresa de comunicação, passou a diminuir o papel do jornalista obrigando-o a se submeter às engrenagens do poder empresarial. Não é por acaso que existe a frase, ao mesmo tempo trágica e engraçada, de que apenas existe “liberdade de empresa”.

Não é por acaso que o debate sobre liberdade de imprensa e democratização da mídia está presente na campanha eleitoral deste ano. Não é uma briga entre partidos ou candidatos, é uma questão bastante difundida na sociedade e que exige posicionamento público das autoridades. A Associação Nacional de Jornais - ANJ está preparando um código de autoregulamentação para a imprensa que vem, exatamente, no sentido de fazer algo para impedir que o Estado ou a sociedade organizada o faça. Lembremos das palavras do escritor Giuseppe Tomasi di Lampedusa, em O Leopardo, “mudar para continuar igual”.

O debate público precisa ser aprofundado e ele não será feito com preconceitos ideológicos, mas, sim, a partir de análise apurada da realidade e das necessidades da democracia que, penso, não se concretiza sem o chamado “contrato social” que regra a atividade humana, impedindo que os mais fortes destruam os mais fracos. Estamos clamando pela verdadeira liberdade de imprensa, pela ética profissional e pelo direito do cidadão de informar e ser informado!

os militares se divertem

nos estados unidos,



na inglaterra



e na antiga tchecoslováquia.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

animando osgêmeos

vinheta feita sobre desenhos d'osgêmeos com personagens de um espetáculo do grupo slava's snowshow. dá uma baita vontade de ver outras animações gêmeas...

It's Snowing - Slava Snow Show e OSGEMEOS from Birdo Studio

dos pibes chorros

essa dica veio de um dos caras que mais conhece música popular brasileira na internet, o timpim. só que conversando no messenger ele disse que estava numas de ouvir cumbia villera, uma das derivações mais populares da cumbia, principalmente na argentina. é o som vulgar do povo, segundo seus detratores (que sempre reagem do mesmo jeito e com os mesmos argumentos em qualquer país, em qualquer época, diante de uma forte manifestação cultural popular - vide os nossos casos com samba, funk carioca e tecnomelody). timpim ainda deu a letra da banda-símbolo: los pibes chorros. confesso que conheço mais a "burguesa" cumbia digital do pessoal da zzk records, mas foi só ouvir a bela linha de guitarra de "el prisionero", tão próxima dos sons do pará, pra rolar aquela paixão à primeira ouvida.



e todos os clipes dos pibes chorros são meio que parecidos, gravados em externas periféricas, na rua principalmente, e com os próprios integrantes "tocando" seus instrumentos. quer dizer, de vez em quando aparece alguma moça, como é o caso de "pamela".

terça-feira, 21 de setembro de 2010

revista tem alma? e futuro?

fui chamado pelo pessoal da editora spring para fazer uma reportagem especial sobre a importância da arte e os desafios da área no atual mercado editorial brasileiro. algo assim. era pruma edição especial da em revista, uma publicação da aner (associação nacional de editores de revistas), lançada recentemente no fórum aner de revistas/world magazine marketplace. a matéria acabou caindo na última hora, o que foi uma pena, pois deu um trabalho danado. fiquei pensando se colocava aqui... afinal, tem um perfil mais institucional, menos autoral e tal... mas relendo, acho que ficou boa e desde já agradeço publicamente aos entrevistados que cederam momentos preciosos em suas agendas movimentadas. aquele abraço para o fotógrafo jorge bispo, o ilustrador daniel bueno, o designer marcelo calenda e o diretor de arte josé pequeno dos anjos neto.

ilustração de daniel bueno para a revista da cultura (setembro, 2009)

SOBRE A ALMA DAS REVISTAS

Sangrar ou não sangrar uma foto em página dupla. Tem espaço aqui para um box, mas também podemos substituí-lo por um infográfico. De repente, o título da matéria pode ser em uma fonte ilustrada e o texto pode começar com uma capitular. Ou não. Certo mesmo é que existem infinitas maneiras de se colocar o texto em uma página e de fazê-lo dialogar com fotos e/ou ilustrações. Ainda mais hoje com a profusão de ferramentas disponíveis em um computador. Para editoras, jornalistas e artistas gráficos, o desafio continua sendo como criar produtos (revistas) relevantes e interessantes para o leitor. Aqui falaremos com uma série de profissionais de uma área específica e muito importante dentro da engrenagem do mercado editorial brasileiro, o “pessoal da arte”, para saber mais sobre processos, relações e perspectivas. Esse pessoal não costuma falar sobre o próprio trabalho, um tanto por causa de suas muitas facetas intuitivas, mas quando falam...

“Não gosto de discutir técnica, portanto a minha resposta é que a câmera, o filme, o chip, tudo isso não tem significado nenhum, porque as câmeras são todas iguais. Elas simplesmente registram o teu sentimento. E você não fotografa com a câmera e sim com tua mente e o coração”, disse em 2007 a este repórter, o fotógrafo Otto Stupakoff (1935-2009). Ainda bem jovem, o paulistano fez parte da primeira geração de profissionais que modernizaram visualmente o mercado de revistas nacional a partir da década de 1950 (seus retratos e editoriais de moda tiveram papel fundamental na histórica revista Cláudia, da Abril, do início dos anos 1960). Foi contemporâneo de figuras como Attílio Baschera, Barreto, Grasseti e Aníbal Monteiro.

O ideário humanista dessa turma – que privilegiava tanto a parte técnica quanto uma ampla formação intelectual - não vale apenas para a fotografia, e parece cada vez mais atual e necessário. É que por trás de cada página impressa existe um tanto grande de profissionais envolvidos, e somente uma reunião de talentos e sentimentos singulares, aliados pelo propósito de comunicar, diferenciam um trabalho do outro. “Aprendi que as revistas têm alma e são únicas. As que são assim sobrevivem, enquanto as cópias morrem”, afirmou José Pequeno, diretor de arte da revista Época Negócios. Formado em Artes Gráficas com especialização em Desenho Gráfico, Pequeno teve uma formação multiplataforma, para usar um termo em voga (“Fazíamos de tudo: artes gráficas, fotografia, cinema e TV”), mas logo enveredou pelas páginas de títulos da Carta Editorial, tais como Vogue e Casa Vogue, na década de 1970.

Depois de uma passagem pela Abril, onde esteve em revistas como Quatro Rodas e Cláudia, até sua chegada a Editora Globo em 2001, o diretor de arte viu seu trabalho mudar radicalmente a partir da chegada da paginação eletrônica nos anos 1980 (tecnologia que começou nos jornais). Mas o benefício da agilidade trouxe à reboque uma perda de identidade e originalidade, segundo ele. Só que não demorou muito e também esse mundo foi sacudido, em meados da década de 1990, pela chegada da internet, um concorrente ainda mais ágil para revistas e jornais. Tal competitividade gerou um esperado e compreensível declínio de vendas, mas Pequeno acredita que “o mercado [brasileiro] amadureceu muito nos últimos 30 anos. Agora, talvez o grande desafio seja mostrar para as pessoas o quanto a leitura de um jornal ou revista pode ser uma experiência única, útil, importante e prazerosa. Temos que inovar e inventar uma nova maneira de contar histórias para ganhar o leitor. Nesse cenário o que sobra para as revistas? Voltar a ter alma, com uma pauta diferenciada, criativa, bom design e boa apresentação”.

Uma das maneiras de se alcançar essa “experiência única” é o trabalho em cima de boas referências, tanto nacionais quanto estrangeiras. O ilustrador Daniel Bueno acredita que “referências de qualidade são importantes e acho bobagem menosprezar o que é feito lá fora. É sempre bom acompanhar a boa produção estrangeira, sem cair obviamente na idolatria superficial, sabendo também refletir sobre o que é adequado à realidade nacional”. Formado em Arquitetura pela FAU-USP, o paulistano já colocou seu traço e suas colagens em publicações de editoras como a Abril e a Globo, além do jornal Folha de São Paulo e livros infantis.

O fotógrafo Jorge Bispo concorda. Formado em Belas Artes, o carioca, que já teve seus retratos estampados nas revistas Quem, Playboy, Vip, Monet, Bizz, Boa Forma e Rolling Stone, acha que “tudo que envolve imagem se constrói com referências de qualidade que acumulamos ao longo do trabalho. Quanto mais ferramentas temos mais fácil fica para criarmos algo nosso”. E hoje em dia são muitas as ferramentas disponíveis, invariavelmente digitais, unindo diretores/editores de arte, ilustradores e fotógrafos ao redor de um mesmo instrumento.

Por outro lado, esses profissionais também podem habitar um corpo só, o do designer gráfico. É o caso de Marcelo Calenda: “Sou formado em Comunicação, com ênfase em Publicidade e Propaganda, mas sempre fui autodidata. Comecei a trabalhar como ilustrador, mas com a popularização do computador houve uma demanda por editoração, assunto que gosto porque sou revisteiro. Depois veio o tratamento de imagens e a programação na internet. Tudo muito natural. Fui aprendendo a fazer porque sabia o que queria. Nunca consegui parar de fazer nenhuma dessas coisas, felizmente”. E seus trabalhos já foram impressos nas revistas Vip, Gloss, Rolling Stone, Pequenas Empresas Grandes Negócios, Exame e Superinteressante.

Entre passado, presente e futuro, os quatro entrevistados concordam que a maré está boa. “Uma coisa é certa, o poder aquisitivo brasileiro aumentou, estamos em outro país. Só precisamos de mais investimentos em tecnologia”, afirmou Calenda. E novos títulos continuam sendo lançados, novas parcerias são firmadas, a roda continua girando. “Apesar de alguns problemas, acho que o país tem um número considerável de publicações, muitas de qualidade, e vejo os profissionais fazendo planos e projetos, o que é muito positivo”, avalia Bueno, e entre alguns dos problemas está o medo de se arriscar. Mas não tem jeito, não tem escapatória, porque é a ousadia que faz história e vira referência. É ela que bagunça o coreto (porque alguém precisa fazê-lo). “Temos que aprender a ser mais livres, críticos, inquietos e curiosos com o que fazemos e produzimos porque os ventos parecem promissores”, é Pequeno que coloca um ponto final. Talvez reticências seja melhor...

já agradeci a todos os entrevistados, correto? mas aí vai um agradecimento especial a josé pequeno, o diretor de arte da época negócios, que deu uma entrevista cheia de informações e com uma perspectiva histórica tão bacana que acabou me ajudando e muito a costurar o depoimento dos outros. sem suas respostas teria tido muito mais trabalho para fechar esse texto. por isso, coloco aqui a sua entrevista na íntegra. valeu, pequeno!

DAFNE SAMPAIO - Qual sua formação? Quando e como começou sua vida profissional?
JOSÉ PEQUENO DOS ANJOS NETO - Sou formado em Artes Gráficas, com especialização em Desenho Gráfico. Comecei muito cedo, aos 17 anos, no CENAFOR. Tive a felicidade de trabalhar com bons profissionais e gente de muito talento naquela época. Fazíamos de tudo: artes gráficas, fotografia, audiovisual, cinema e TV. Desenvolvemos o projeto piloto da TV Educativa com a Fundação Padre Anchieta e a TV Globo. Isso foi até os 22 anos, quando comecei a trabalhar com revistas na recém-fundada Carta Editorial, já como editor e depois diretor de arte. Também tive muita sorte porque peguei bons veículos. Comecei na Arte Vogue com o Prof. Pietro Maria Bardi, depois fui para a Casa Vogue junto com o Luís Carta e nos anos 80 na Vogue com o Daniel Más e a Regina Guerreiro. Conheci bons jornalistas, fotógrafos, ilustradores, artistas plásticos e criativos. Tive uma passagem também pela Editora Abril. Na 4Rodas fiz o primeiro Guia de Praias e depois fui convidado pela Célia Pardi a participar da mudança editorial e gráfica de Claudia, uma revista que faz parte das minhas melhores recordações de infância junto com a Realidade, a Setenta, O Bondinho, O Pasquim, JB e o JT, aí já na adolescência. Na Abril conheci dois ídolos: o Barreto que tinha desenhado a Realidade e o Grasseti que arrasava na Playboy dos anos 70. Na Carta Editorial, tive o prazer de conhecer e trabalhar com o Aníbal Monteiro, João Baptista da Costa Aguiar, Murilo Felisberto, Tomas Lorente, Ehr Ray e o querido Attílo Baschera, que foi um dos primeiros diretores de arte de Claudia. Tive bons parceiros fotógrafos e devo muito aos fotógrafos Otto Stupakoff, David Zingg e Lew Parrela. Assim como ao genial e gentil José Zaragoza. Vim para a Editora Globo em 2001 para o projeto de uma semanal na revista Quem Acontece e em 2008 começei um novo projeto mensal, o da Época Negócios onde estou até hoje.

Do manual na raça até o digital, o que mais mudou no mercado de quando você entrou até agora? E quais as maiores diferenças que você sentiu no seu trabalho diário?
Primeiro a formação do profissional. Nos anos 60 e 70 existia só o Desenho Industrial ou Artes Plásticas. Tinha que ser mesmo com a cara e a coragem. Éramos paginadores ou diagramadores. Até hoje há essa briga com o sindicato dos jornalistas. Diferente dos EUA, que instituiu a função ainda nos anos 20 (!) e da Europa que têm escolas e institutos especializadas em Design Gráfico, como a Parsons e o Royal College, por exemplo. Hoje o ensino melhorou e os profissionais chegam mais preparados. Avalio sempre pela formação pessoal, mais do que a experiência profissional que às vezes pode mascarar o potencial do profissional. Depois, a velocidade. Havia um tempo maior nas agendas da turma do texto e da arte para a elaboração de uma matéria, de como ela seria editada e publicada na revista. Procurava-se a excelência. Revistas bem sucedidas e sempre reverenciadas foram criadas por pessoas assim como o M. F. Aga, Alexey Brodovitch e Alexande Liberman, Milton Glaser, George Lois. Hoje este diretor de arte autor quase não existe mais, porque com o advento dos programas de paginação eletrônica - e que vieram dos jornais - as revistas ficaram iguais. O mundo ficou igual. O template criado pelo Roger Black é um produto destes tempos. É bom porque dá base e métodos para a produção para o trabalho, mas não pode ser visto e aplicado como verdade absoluta. Claro que ganhamos muito com a tecnologia, mas com a massificação instantânea da internet e da TV a cabo perdemos a identidade e a originalidade. Isso ficou para os ainda poucos e bons como o editor da Esquire americana, David Granger, que estimula e provoca o seu diretor de arte para criar mensalmente novas maneiras de se ver e ler uma matéria. Ou do jovem diretor de arte da Wired, Scott Dadich, que abusou do design experimental na revista - todo jovem designer sonha em um dia trabalhar lá - e pensou, criou e desenvolveu junto com Adobe o formato para Pads. Ou ainda do ex-editor da Wallpaper, Tyler Brûlé, que criou na contramão a Monocle e acabou de lançar uma versão em formato de jornal que circulou em todo o Mediterrâneo no verão europeu. No dia-a-dia, vejo as redações cada vez mais jovens mas não menos talentosas. Porém com falhas de formação e bagagem. Aprendi muito olhando e estudando as revistas internacionais. Compro mensalmente às minhas custas (rs) uns 15/20 títulos. Repasso para o departamento de arte e também para os repórteres editores. Também repasso via e-mail notas de blogs de design e até de pautas que acho interessante. Pode ser útil. Faço o que fizeram comigo.

Qual a importância de referências visuais de revistas estrangeiras para a construção de uma identidade visual nossa/própria? Essa busca por referências (os tais benchmarks) se acirrou nos últimos tempos?
Um dia escutei a seguinte frase de um famoso editor já falecido: "O importante é ter a referência certa na hora certa". Anos depois, ouvi de outro diretor em um auditório cheio de designers e jornalistas: "Não chamaria isso de cópia, mas de atalho". Acho fundamental comprar, ver e 'ler" a matéria também. Traduza-se ler por 'entender' como e porque a matéria foi feita daquela forma. Este é o bom benchmark. Qual é o perfil do leitor, a cultura do país, etc, etc. Aprender, entender e não copiar. É como nas artes, na música e até no esporte: não dá prá copiar ou fazer uma versão parecida do Picasso, o Miles Davis ou o Zidane. Aprendi que as revistas têm alma e são únicas. As que são assim sobrevivem, as cópias morrem. O que funciona na Quinta Avenida não necessariamente dará certo na Av. Paulista. O mal benchmark é quando ele vira, por alguma razão inexplicável para mim, verdade absoluta. Já escutei e debati ou rebati várias nestes anos de carreira... É um insulto à inteligência e um desestímulo para os mais jovens. É como pensar: “Por que vou criar algo novo (layout), se tudo já foi inventado?”

A competição da midia impressa com a virtual tem se acirrado nos últimos cinco anos. Qual o grande desafio para a área visual das revistas e jornais para se diferenciar do conteúdo virtual?
Observamos um declínio nas vendas de revistas nas bancas nos últimos anos e já dizem que o leitor de mídia impressa vai acabar. Isso não é verdade. O que ocorre é que as mídias virtuais bombardeiam todo o tipo e qualidade de conteúdo 24 horas na cabeça das pessoas. Vivemos a overdose da informação desinteressante. Descontando matérias e sites de serviço, quase nada é relevante ou importante que você dedique um pouco do escasso tempo que lhe resta. As pessoas hoje preferem muito mais a gratificação material do que a intelectual. Intelectual só se for para plano de carreira. A recente crise econômica apontou e puniu os excessos e mostrou para o mundo que a nossa vida não pode ser só isso. Acredito que só o trabalho cosmético das publicações, o redesign que é tão comum, não resolverá o desafio de recuperar os leitores. Algumas revistas americanas fecharam logo após terem feito esta bobagem. É necessário repensar o projeto editorial mas sem querer competir com o site, o blog e a TV a cabo. Com a invenção do iPad comemorou-se o renascimento da leitura. Uma nova mídia proporcionada pela tecnologia, assim como foram o rádio, o cinema e a TV. Talvez o grande desafio seja mostrar para as pessoas o quanto a leitura de um jornal ou revista pode ser uma experiência única, útil, importante e prazerosa. Não acredito que haverá uma ruptura e sim uma sinergia de várias plataformas. E o papel de edição deste conteúdo (texto e imagens) continuará sendo feito pelos mesmos profissionais. Temos que inovar e inventar uma nova maneira de contar histórias para ganhar o leitor. Nesse cenário o que sobra para as revistas? Voltar a ter alma, com uma pauta diferenciada, criativa, bom design e boa apresentação. E para os jornais um pouco mais de inteligência editorial, análise e opinião clara. É só isso que as pessoas querem saber: qual é a turma delas.

Como você o mercado editorial brasileiro nos dias de hoje? O que já dominamos e o que ainda temos que aprender?
Vejo um mercado que amadureceu nos últimos 30 anos. Os anos 80 foram devastadores e quase acabaram com a nossa profissão de jornalista e com as editoras aqui no Brasil. A estabilidade econômica proporcionou um planejamento e estratégia melhor para o mercado. A ascensão de classes também. Abriu um novo flanco a ser explorado pelas editoras e já vejo novos títulos sendo lançados. Estamos exportando títulos: depois da Abril, agora é a Trip que está desembarcando na Alemanha, e conversa com a Inglaterra e Estados Unidos. Ou mesmo a Editora Globo, cuja preocupação com a qualidade editorial atraiu o olhar da Condé Nast. Mesmo assim, sei que estamos longe da excelência de uma edição americana ou européia. Temos que aprender a ser mais livres, críticos, inquietos e curiosos com o que fazemos e produzimos porque os ventos parecem promissores.

domingo, 19 de setembro de 2010

domingueira

é nessa semana que chega nos estados unidos o disco wake up! (g.o.o.d./sony, 2010), encontro do cantor e pianista john legend e da banda the roots com um repertório lotado de clássicos soul. tem marvin gaye ("wholy holy"), donny hathaway ("little ghetto boy"), bill withers ("i can't write left handed"), mike james kirkland ("hang on in there"), harold melvin ("wake up everybody") e uma das canções preferidas da casa, "hard times", composição do mestre curtis mayfield eternizada na voz do precocemente falecido baby huey (1944-1970). com vocês, "hard times", john legend e the roots.



e olha a capa bacana do disco.

p.s.: poucos dias depois desse post, a dobradinha john legend e the roots fizeram um show em nova york que foi transmitido ao vivo pelo youtube e dirigido por spike lee. segue aqui uma outra versão de "hard times", mas outras músicas desse show estão no canal de john legend.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

micro stop-motion

um celular acoplado a uma lente microscópica e o pessoal da produtora inglesa aardman, a mesma dos filmes de nick park (fuga das galinhas, wallace & gromit, etc.). o resultado é o curta dot.



e tem making of, claro.



via @cronai.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

saudades de tanino liberatore

relendo as aventuras dementes de ranxerox - que acabaram de ganhar uma indispensável edição de capa dura pela editora conrad - me bateu uma saudade danada de tanino liberatore. era um dos desenhistas que mais me impressionava quando folheava a saudosa revista animal. a pele de seus personagens parecia pulsar, o movimento de seus quadrinhos, os detalhes, as mulheres, o sexo, tudo era de encher os olhos. depois de ranxerox, o violento e apaixonado robô criado pelo amigo stefano tamburini (1955-1986) e eternizado por ele, nunca mais ouvi falar durante todos os anos 1990 e 2000.

o que foi feito de liberatore? ele participou de uma minissérie chamada batman: preto & branco (1996). tinha esquecido disso, mas tenho a edição nacional. agora, só descobri nessa edição da conrad que uma história inacabada de ranxerox foi finalizada por liberatore em 1997 em colaboração com o ator, roteirista e diretor alain chabat. os dois ficaram amigos, liberatore se mudou com família para frança e assinou os figurinos de um filme de chabat,
astérix & obelix - missão cleópatra (2002, ganhou até um césar pelo longa). teve também um projeto que começou nos anos 1990, lucy - l'espoir, e que só foi lançado em 2007 (tem roteiro de patrick norbert e é uma ficção sobre aquele fóssil hominídeo de 3,2 milhões de anos achado na etiópia). e nada mais, pelo menos de grande importância (existem outros quatro álbuns, não sei de quando - video clips, portrait de la bête en rock star, the universe of liberatore e liberatore's women). fora que seu site oficial parece bem abandonado. saudades de ver seus desenhos. então procurei algumas coisinhas pitorescas do italiano pra não esquecer. vamos lá.

capa do disco the man from utopia (barking pumpkin, 1983), de um frank zappa meio ranxerox

capa do compacto beat up (independente, 1984), da banda the toasters

imagem do álbum lucy - l'espoir (2007)

um ranxerox bem à vontade

nicole é nome dessa moça de liberatore

p.s.: nas pesquisas sobre o paradeiro de liberatore descobri uma coisa bem louca. um curta brasileiro clássico dos anos 1980, trancado por dentro (1989), é baseado em uma historinha desenhada pelo italiano e escrita por bruce jones (chama-se "shut in" e está aqui). já o curta sinistrão foi dirigido por arthur fontes (mandrake, podecrer!, etc) e tem no elenco paulo gracindo, fernanda montenegro, marcos palmeira e luciana vendramini. não fazia ideia dessa ligação liberatore-brasil.

criatividade, objetivos e resultados

a fábrica de loucuras musicais do ceará não tem fim, não tem limites, não vê fronteiras. ontem fiquei sabendo via @chicobarney da banda amor real. eles acabaram de colocar na rede o clipe de "mamãe passou açucar em mim" (não, não é uma regravação daquele clássico do wilson simonal), uma superprodução com tomadas aéreas feitas por um helicóptero e a participação de duas panicats (?), juju e babi, em compreensíveis trajes sumários. vejaí que depois tomo fôlego e faço alguns comentários...



quer dizer, as loiras juju e babi, mais essa morena que deve ser da banda, com poucas roupas e salto alto em um terreno pedregoso que deve ser de uma futura represa ou mineradora ou sei lá o quê. é muita informação, isso é fato. quem canta é janaína alves e o rapaz que não teve a sorte da mãe passar açucar nele se chama léo cássio. todo mundo nesse terreno que fica nos arredores da cidade de araçariguama, "o portal do interior" (distante 45 km de são paulo). mas o que mais me impressiona não é o fato da música só ocupar metade do video - o resto serve para créditos de abertura e encerramento -, e nem do conceito com moças com pouca roupa dançando em um terrenão com tomadas aéreas, muito menos que o diretor do video se chame comandante hamilton. o que mais gosto nisso tudo - fora a música, que achei boa de verdade, divertida - é uma frase que aparece nos créditos finais e acho que resume bem a empreitada: "não adianta ter ideias super criativas se elas não estiverem alinhadas com os objetivos e gerarem resultados". taí uma verdade.

p.s.: ah, vale dar uma olhada nos bastidores da gravação do clipe feitas com o habitual espírito investigativo do tv fama.


quarta-feira, 15 de setembro de 2010

hoje é dia de emicida

tem umas coisas que acontecem que... acabei dormindo uma parte da noite passada no sofá, mas aqueles passarinhos madrugadores me acordaram e, enquanto fui me arrastando rumo a cama, lembrei de um sonho que acabou sendo interrompido. nele estava com o emicida e íamos dar inicio a um bate-papo/entrevista. não lembro muito mais que isso e só depois, já desperto, fui me dar conta que hoje é o dia de lançamento da esperada nova mixtape do jovem rapper. emicídio é seu título. faz tempo que o garoto é um dos preferidos da casa - em julho do ano passado falei aqui e no gafieiras da primeira mixtape dele e de um show que assisti no soma - e de lá pra cá, o paulistano vem ganhando cada vez mais espaço com talento (enorme), carisma e um discurso absolutamente afiado e atual. "eu quero ter liberdade pra mudar de ideia", diz em um trecho desse ótimo minidoc feito pelo pessoal do fora do eixo.



e para comprovar que o rapaz está com tudo basta vê-lo completamente à vontade no programa do jô soares que foi ao ar na semana passada (e que, acompanhado ao vivo, levou o nome do emicida ao topo dos assuntos mais comentados no twitter mundial naquela noite de quinta).





opa, ia esquecendo de colocar aqui a ótima capa do emicídio e o tracklist da mixtape (das 18 faixas, "avua besouro" já tinha sido lançada na rede, e até coloquei em um post que falei dos filmes mirageman e besouro). e para adquirí-la, basta um email para vendas@emicida.com

1 – e agora? (emicida/casp)
2 – cê lá faz idéia (emicida/laudz)
3 – rinha (já ouviu falar?) (emicida/skeeter)
4 – isso não pode se perder (emicida/base mc)
5 – santo amaro da purificação (emicida/casp/evandro fióti/toca mamberti/curumim)
6 – então toma! (emicida/renan samam)
7 – emicidio (emicida/renan samam/dj nyack)
8 – santa cruz (emicida/nave/dj nyack)
9 – velhos amigos (emicida/skeeter)
10 – rua augusta (emicida/casp)
11 – i love quebrada (emicida/casp)
12 – eu gosto dela (emicida/casp/renan samam/evandro fióti/toca mamberti/cohen)
13 – só mais uma noite (emicida/zegon/evandro fióti)
14 – de onde cê vem?! (emicida/dj will/kamau)
15 – um final de semana (emicida/dj nyack/evandro fióti)
16 – novo nego veio (emicida/dario)
17 – avua besouro (emicida/felipe vassão/mauricio canezzin)
18 – beira de piscina (emicida/casp/rael da rima)


Emicida - Emicidio [Prod. Renan Samam]

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

joseph tourton, a banda, o disco e o download

os pernambucanos d'a banda de joseph tourton já tinham aparecido aqui com o clipe de "frevo do preguiçoso" (cortesia do música de bolso), mas agora a parada é mais séria, afinal eles estão lançando seu esperado disco de estreia. a banda de joseph tourton (independente, 2010), o disco, é rock, jazz, soul, dub, samba, tudo instrumental, cheio de climas e camadas. e eles disponibilizaram o disco para download gratuito no site deles (link acima), mas também dá para ouvir todas as faixas via soundcloud. escuta só.

josephtourton by josephtourton

legal também é ouvir o disco junto com o ótimo texto do jornalista alex antunes. coloco aqui na íntegra porque vale a pena.

Já há alguns anos que a cena do rock instrumental brasileiro só faz crescer. Não apenas em subgêneros tradicionais, como a surf music, o ska e o rockabilly, mas também com o experimentalismo presente em bandas da cena paulistana como o Hurtmold ou os cuiabanos do Macaco Bong. E a contribuição sempre original de Recife no instrumental de agora é o lançamento do primeiro álbum d'A Banda de Joseph Tourton. Mas o interessante é que, no caso desse quarteto, se o território não é tradição, também não é o seu oposto simétrico, a desconstrução. A Banda de Joseph Tourton encontra jeito de combinar liberdade com elegância arejada. E, se é encantador de ouvir, não é nada fácil de explicar.

O exercício de pinçar referências, no caso d'A Banda de Joseph Tourton, pode acabar dando um resultado dadaísta. Por exemplo, “Lembra o Que?”, de título autoexplicativo, poderia ser descrita como o encontro de um King Crimson que gostasse de usar escaleta com algum arranjador maroto de samba rock, como o de “Luiza Manequim” de Abílio Manoel. Já “16 Minutos” fica em algum outro lugar setentista, digamos entre a doçura radiofônica de algum tema de Dave Grusin para a trilha de “500 Milhas” e o delírio flutuante do krautrock do Can.

O importante é anotar que, neste álbum, o instrumental d'A Banda de Joseph Tourton equilibra pelo menos três aspectos: um certo conforto auditivo; uma forte inspiração imagética; um tanto de urgência e inquietação. Nesse sentido, as comparações com sons do final dos anos 60 e início dos 70 fazem sentido. No pré-metal e pré-punk, havia todo um enorme território imaginário onde o rock fazia fronteira com gêneros menos agressivos (mas também menos simplórios), como o lounge e a chamada “library music” (música de trilha para cinema, rádio e televisão). Nos anos 90, iniciou‐se uma revalorização dessa memória, cuja sofisticação climática antes era tida como um tanto brega, mas até agora não havia muito sinal disso chegar ao rock (o resgate ficou mais restrito ao hip hop e à eletrônica, como nos trabalhos geniais do finlandês Jimi Tenor e do inglês Barry Adamson – mas todo roqueiro inteligente devia ouvir “Futures” do Burt Bacharach ou as trilhas da blaxploitation e do western spaghetti).

O fascinante em relação à Banda de Joseph Tourton é que os rapazes não são particularmente pesquisadores de gravações e estilos do século passado. São só jovens instrumentistas e compositores autodidatas que, sem o menor traço de preconceito ou programa ideológico, cresceram ouvindo as coisas de sua época como rock noventista e o pós‐manguebeat – e de lá da faísca de alguma sinapse do cérebro-sampler de Chico Science pescaram a chave para o paraíso perdido. Neste primeiro álbum, predominam nos arranjos o espaço e a leveza para brilharem as composições. Então acaba se destacando o trabalho dos guitarristas (e multiinstrumentistas, se desbobrando à flauta, teclados vintage e programações), Gabriel Izidoro e Diogo Guedes. Mas preste atenção na pegada ao mesmo tempo eficiente e criativa de Pedro Bandeira (bateria) e Rafael Gadelha (baixo), que nos shows costumam bater mais pesado. E aí pode-se traçar outro roteiro de seu DNA: em “Aquaplanagem”, por exemplo, a cozinha ao mesmo tempo sólida e suingada lembra o Public Image de Jah Wobble, banda que estabeleceu no pós-punk a conexão com os alemães do Can – mas um Public Image que tocasse samba, evidentemente. E olhe que até aqui eu só citei as três primeiras faixas.

Outras conexões (iê-iê-iê, soul, dub, fusion, prog, regional) podem ser estabelecidas observando as participações: em diferentes momentos, aparecem os convidados Chiquinho, Marcelo e Felipe S. do Mombojó (esses dois últimos produziram o álbum com Rodrigo Sanches, produtor da Trama), o pianista pop-erudito Vitor Araújo (aqui tocando o piano elétrico Fender Rhodes), o trompetista Guizado, os metais (Beto Mejía, Paulo Rogério, Esdras Nogueira, Xande Bursztyn) dos Móveis Coloniais de Acaju, o produtor e percussionista Homero Basilio (Catarina Dee Jah) e China. As outras músicas alternam climas evocativos (“100 m”), pulsantes (“O Triunfo de Salomão”, “A Festa de Isaac”, “#3”), sinuosos (“After Work Ganja”) e marotos (“Provolone”, “Volta Seca”). Não estranhe o título bíblico de algumas faixas; é só mais um exercício de desinibição criativa, assim como o Joseph Tourton do nome do grupo, um suposto aviador da Segunda Guerra Mundial. Se essa combinação de curiosidade com sofisticação serve para descrever a personalidade dessas pessoas tão jovens (Pedro e Gabriel têm 19 anos, Rafael 20, Diogo 21), podemos continuar sendo otimistas em relação à música – e à humanidade.

domingo, 12 de setembro de 2010

uma vida não é nada sem amor

olha, não sabia desse encontro de dom salvador (e a banda abolição) com a elis regina. descobri porque atualizando o @gafieiras vi que hoje é aniversário de 72 anos de salvador da silva filho. aí fui no youtube dar uma procurada e achei esse registro simplesmente genial do final do ano de 1971. essa canção se chama "uma vida" (dom salvador e arnoldo medeiros) e abre um dos melhores discos da música popular brasileira, som, sangue e raça (cbs, 1971). parabéns, dom salvador! a gente só tem a agradecer.

domingueira

e o selo alemão analog africa continua positivo e operante. falei dele aqui no ano passado por causa de um discaço que tenho, african scream contest (analog africa, 2008), e também do legends of benin (analog africa, 2009), o terceiro e o quinto lançamento deles, respectivamente. também no ano passado eles lançaram echos hypnotiques (analog africa, 2009) com mais músicas foderosas da big band nigeriana orchestre poly-rythmo de cotonou. o clipe abaixo é da música que abre o disco, "se ba ho".



depois desse disco, o analog africa já lançou outro dois: mambo loco (analog africa, 2009), do colombiano anibal velasquez y su conjunto (o primeiro disco de fora da áfrica) e afro-beat airways - west african shock waves (ghana & togo, 1972-79) (analog africa, 2010). ainda não ouvi esses dois, mas é certeza que são da pesada.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

quem é do mar não enjoa



vi lá no trabalho sujo.

ela toca campainha e sai correndo

encontrei com maria rita em um café chique na rua oscar freire, em são paulo, acho que em outubro de 2005. nossa conversa estampou a capa da tam magazine (spring) de novembro do mesmo ano, com fotos dos bróders da cia. de foto e coisa e tal. mas antes da entrevista acontecer houve uma certa tensão no ar, principalmente por causa dos assessores da cantora, completamente neuróticos pela recente polêmica criada, com aquela leviandade de sempre, pela revista veja (o caso dos ipods distribuidos pela gravadora warner para algumas figuras da imprensa - aqui, "o mensalinho de maria rita", é comentado por luis antônio giron). nada de fazer perguntas sobre o caso, nada de perguntas sobre a vida pessoal, etc. como se eu me interessasse por fofocas, vejam só vocês. só que quando maria rita chegou e o gravador foi ligado tudo isso desapareceu e a conversa rolou muito bem, e ela sempre muito simpática, muito acessível.

nesse tempo, maria rita estava lançado
segundo (warner, 2005), um disco agradável e sonoramente próximo a sua ótima estreia em maria rita (warner, 2003). depois desse nosso encontro fulgaz, a cantora se mudou para o rio de janeiro e caiu no samba. achei o terceiro disco da moça, samba meu (warner, 2007), um tanto chato, talvez pelo excesso de composições de arlindo cruz - eu realmente não gosto da escola cacique de ramos, não tem jeito - e por respeitar muito o cânone carioca do samba (fiz resenhas dos três discos para o gafieiras e os link estão em maria rita, segundo e samba meu). no mais, maria rita, que ontem completou 33 anos, continua uma das melhores cantoras da atualidade. e a vida continua.

A CERTEZA DE SER MARIA RITA

Quando, há dois anos, a cantora Maria Rita surgiu para o grande público foi com a força de um fenômeno natural, um furacão, um terremoto, um vendaval, e em seu rastro brotaram todo tipo de comentários: produto de gravadora, linda, filha da Elis, produto de marketing, maravilhosa, revelação, filha de César Camargo Mariano, um novo sopro de vida da MPB e assim por diante, para todos os gostos. Muita coisa mudou desde então e Maria Rita tanto ganhou quanto perdeu. Ganhou um filho, Antônio. Ganhou uma legião de fãs de todas as idades, e em mais de 30 países, que levaram as vendas de seu disco de estréia a ultrapassarem as 800 mil cópias. Perdeu o amigo e produtor do primeiro CD, Tom Capone, morto em um acidente nos EUA na noite da entrega do Grammy Latino 2004 (onde Maria Rita, que estava lá, levou três prêmios).

O mundo deu muitas voltas e recentemente deu mais uma paradinha para ver a cantora lançar seu esperado segundo disco, e por isso mesmo intitulado de
Segundo (Warner Music). A Maria Rita que se vê hoje não é a estrela distante que se espera, é apenas uma jovem mulher que sofre quando o filho fica doente, cola frases em sua agenda, brinca, grita, fala palavrão e sente uma força inexplicável quando sobe ao palco e enfrenta platéias com desejos e expectativas tão diversas. “Quem sou eu para julgar as interpretações dos outros. também sou uma intérprete”, disse durante a entrevista exclusiva.

O certo é que Maria Rita faz suas escolhas ouvindo a intuição. Foi assim que manteve a sonoridade ao vivo com piano, baixo e bateria dos amigos Tiago Costa, Sylvinho Mazzuca e Cuca Teixeira: “Se eu mudasse falariam que não tenho personalidade e se eu repetisse diriam que estou seguindo uma fórmula”, brincou. Foi assim que voltou a gravar composições de Marcelo Camelo, da banda carioca Los Hermanos, que no primeiro disco emplacou três e agora volta com duas, “Casa pré-fabricada” e a inédita “Despedida”. Foi assim que apostou suas fichas em compositores pouco conhecidos como Rodrigo Maranhão, Edu Tedeschi e Edino Krieger, além de encarar interpretações pessoais dos clássicos “Sobre todas as coisas” (Chico Buarque e Edu Lobo) e “Minha alma (A paz que eu não quero)” (Marcelo Yuka e O Rappa). Foi assim que chamou o ídolo Lenine para co-produzir o disco a seu lado. E foi assim por diante, feliz e certa de suas escolhas, que chegou ao final das gravações de
Segundo.

mãe elis, filha maria rita

Vendo você nos shows, ouvindo você falar, dá para notar uma postura pessoal bastante discreta. Como é ser assim e ter que lidar com um grande esquema de divulgação que exige superexposição?
É difícil, é algo que gera conflitos mesmo, porque eu realmente sou uma pessoa mais envergonhada, mais caseira. Não gosto muito de falar. E toda essa exposição gera muitos incômodos no dia-a-dia... gente tocando a campainha ou telefonando... mas é claro que é uma escolha. Sou uma artista e quero que as pessoas conheçam meu trabalho, mas é preciso colocar limites. Isso é muito importante.
E onde colocar esse limite?
Também é difícil saber porque uma hora tudo bem e outra hora não. A resposta é vaga... porque sim! Mas a gente também tem que pensar que para a pessoa levantar de onde ela está, respirar fundo... porque, enfim, é um ídolo dela ou é alguém que ela admira... e vir falar exige também uma coragem. Mas ao mesmo tempo vejo palavras minhas numa revista e não disse nada daquilo ou... quem tirou esse foto do meu filho? Quem deu autorização? Eu só trabalho com quem me cobra. Não sou preferencial, preferenciável ou prereferenciada. Não quero isso. Quero que respeitem meu trabalho, e as pessoas com quem trabalho, como respeito o trabalho de todo mundo.
E como foi esse aprendizado de lidar com todas essas questões?
Como tudo aconteceu muito rápido no primeiro disco, foi uma coisa meio no susto, não tive muito tempo para digerir. É assim? Então tá! Mas é um aprendizado diário. Chegou um momento na turnê do primeiro disco que não conseguia dormir, não conseguia sair com os amigos, namorar, tava fazendo mal a minha saúde. Foi muito delicado. E ao mesmo tempo você tá no meio disso tudo e não dá pra parar porque tem gente que tá comprando, gente que tá vendendo, gente que tá segurando a onda.


Maria Rita - Cara Valente
Enviado por azvix_1
Mas você esperava que fosse assim? Qual era tua expectativa?
Eu achei, claro, que fosse ter uma procura porque sou filha de dois grandes ídolos da música brasileira e minha mãe tem muitos fãs até hoje. Achei que houvesse uma curiosidade normal. Mas não achei que fosse tanto e que fosse tão rápido. De repente começou a encher o Supremo Musical
[onde Maria Rita começou a cantar ao lado de Chico Pinheiro e Luciana Alves logo que voltou dos Estados Unidos], que tinha 70 lugares. Tivemos que fazer shows extras. Aí mudamos para um outro lugar um pouco maior, o Crowne Plaza. E começou a lotar também. Recebi até uma carta de uma fã dizendo que apanhou na fila porque queria comprar quatro ingressos e a gente tinha limitado em dois por pessoa. Uma loucura. Essa rapidez com que as coisas aconteceram me impressionou. E tenho que entender meu lugar nisso tudo.
Você já fez os shows de lançamento do disco novo em São Paulo e no Rio de Janeiro. Notou alguma diferença no público deste disco para o público da sua estréia?
A gente já notou uma diferença durante a turnê do primeiro disco. O público foi ficando mais jovem. No começo apareceram os fãs da minha mãe, fãs de todas as idades, mas rapidamente isso foi mudando, foram aparecendo jovens, adolescentes e até crianças. As pessoas cantavam as minhas músicas e, juro, nunca ninguém pediu nenhuma música da minha mãe nos shows. Acho que todos logo perceberam que quem estava ali no palco era a Maria Rita.
E como surgiu a idéia do Lenine produzir o disco?
Quando o Tom Capone morreu eu fiquei muito insegura. Foi um baque muito forte porque a gente se entendeu muito rápido e era uma coisa que não precisava de palavras. No olhar a gente se entendia. Tinha muita verdade, muita entrega. E ele virou logo uma referência musical pra mim porque produziu de tudo, MPB, rock, tudo. Foi difícil pensar em um produtor novo. Aí, um dia, o Álvaro [Alencar], que é amigo de infância do Tom e foi engenheiro de som do primeiro disco, disse: “E o Lenine?”. O Lenine? E foi o primeiro nome com quem me senti confortável. Já tinha gravado uma música dele no primeiro disco (“Lavadeira do rio”) e o admiro muito. Senti que esse era o caminho e que tava tudo bem.


Você manteve a mesma sonoridade do primeiro disco no segundo com piano, baixo e bateria. Ao vivo. Foi uma escolha natural?
Pois é, se eu mudasse falariam que não tenho personalidade e se eu repetisse diriam que estou seguindo uma fórmula [risos]. Um dia eu tava folheando uma revista e vi uma propaganda, tinha uma mulher toda poderosa, um fundo branco ao lado, e uma frase que dizia assim: “A intuição é a arma mais poderosa da mulher. Use-a!”. Achei aquilo o máximo, colei na agenda e tudo. Decidi usar minha intuição, meu coração e pensei... porque mudar? Estou com esses músicos há anos, são meus amigos. Eles entendem minha linguagem corporal no palco. A gente se entende muito bem. Segui então minha intuição.
Mas você tem vontade de se envolver com outras sonoridades, outros tipos de formação?
Tenho sim. Gosto muito de metais e uma paixão pelo trompete. Gosto de cordas. Tenho vontade de fazer uns projetos especiais, mas não sei se esse é um nome adequado. Gosto de rock, tenho isso dentro de mim. Quero colocar isso pra fora. Não sou uma bonequinha! Não mesmo. Fico indignada com muitas coisas, com todas essas injustiças sociais, crianças abandonadas na rua, e acho que tem sonoridades que cabem melhor a esse tipo de indignação. O rock, por exemplo.
E você toca algum instrumento?
Campainha [risos]. Adorava tocar campainha e sair correndo [risos]. Mas tenho vontade de aprender algum instrumento sim, mais até do que compor. Tem esse lance de menininha... papai é meu herói... então tenho um lance com piano. Acho piano tão bonito!