sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

sobre uma família e uma loja de penhores

muito bem, chegamos então ao fim de mais um ciclo. o texto que segue abaixo foi o último que fiz como editor da revista monet (os dois últimos parágrafos, aliás, foram escritos após a notícia da demissão) e surgiu de um convite do history channel para entrevistar os protagonistas do reality show trato feito. do mesmo jeito que aconteceu na minha reportagem sobre outro reality, à prova de tudo (discovery), não tinha visto nem um episódio do programa antes do convite, mas diferentemente das aventuras do inglês em terras inóspitas, essa atração televisiva me interessou mais (tem briga de família, interação, doses de história, etc). e teve a viagem a las vegas, uma cidade que jamais entraria na minha rota turística pelos estados unidos.

apesar de ter achado a cidade um lixo, a viagem em si foi agradável, com direito a conversas bem divertidas, e numa mistura curiosas de três línguas, com o pessoal do history (daniela zavala, dana e joseph) e com colegas jornalistas como a argentina valentina ruderman (la nación), a colombiana liliana lópez sorzano (el espectador) e o carioca natanael damasceno (o globo). interessante comparar textos diferentes a partir de um mesmo evento.



corey, rick, chumlee e old man, ao lado da loja gold & silver

PENHORES E DELÍRIOS EM LAS VEGAS

Fomos ver de perto porque a Cidade do Pecado é uma inspiração para Trato Feito, reality que coloca três gerações fazendo negócios, comprando e vendendo história

Não sei como vim parar nesse lugar. Mentira, sei sim. Me confiaram uma missão. Mas que lugar é esse? Estou no meio do deserto, o céu é tão azul e sem nuvens que parece de mentira e do outro lado da avenida a Torre Eiffel e o Arco do Triunfo disputam espaço no mesmo quarteirão. Ao meu lado, Homer Simpson balança a pança com alguns dólares pendurados na sunga preta, enquanto um transformer Autobot (ou seria Decepticon?) descansa as pernas no ponto de ônibus. Tudo parece fora do lugar, não é possível. Mas a verdade é que tudo é real e está bem aqui, diante dos meus olhos. Não bebi e nem ingeri nada. Juro pelo Santo Hunter Thompson! É que me deram uma missão, lembra? Conhecer a loja de penhores Gold & Silver, cenário do reality Trato Feito, e entrevistar Rick Harrison, seu filho Corey Harrison e o amigo Chumlee, protagonistas de um dos mais bem sucedidos programas do History Channel.

Só que ainda falta um chão para esse encontro acontecer, então vou matando tempo atravessando a pé cassinos, passarelas, lojas de luxo, calçadas desertas e gigantescos terrenos baldios, desviando de um Buzz Lightyear aqui, um Jack Sparrow acolá, e de um vento frio que vem do deserto. Nessa cidade-cenário, terra natal de todas as limusines, o conceito de shopping foi elevado a categoria de espetáculo e tudo é construído para que não se saiba se é dia ou noite e que não exista limites para a diversão. Mas eu vim a trabalho, portanto...

Passo então a procurar vestígios do passado romântico de Las Vegas. Não encontro nada de Frank Sinatra, Sammy Davis Jr., Dean Martin e aquela turma toda da pesada. Muito menos dos mafiosos clássicos, reais ou não, que comandaram a cidade até a década de 1960, gente como Bugsy Siegel (Bugsy), os Corleones (O Poderoso Chefão 2), Frank “Lefty” Rosenthal (que inspirou o personagem Sam “Ace” Rothstein de Cassino) e Charlie “Lucky” Luciano (Lucky Luciano). Vegas vive em um presente contínuo, como naquele ditado popularizado por Hollywood: “O que acontece em Vegas, fica em Vegas.”

Curioso que é exatamente do passado que vive Trato Feito, afinal em seus episódios as três gerações do clã Harrison avaliam, compram ou descartam uniformes militares do início do século 20, rifles do Velho Oeste, espadas samurais, livros antigos e assim por diante. E qual a ligação disso com Las Vegas? “O programa tem tudo a ver porque essa cidade gira em torno de negócios e dinheiro”, explicou mais tarde Mary E. Donahue, produtora executiva do History Channel, em encontro com a imprensa. “Mas credito o sucesso a outros fatores: a dinâmica familiar dos Harrison, porque eles são muito engraçados; a combinação deles com os outros personagens, os especialistas e o pessoal que trabalha na loja, com destaque para o Chumlee, claro; e o fato de que como ainda estamos vivendo uma recessão econômica as pessoas alimentam esse sonho de achar um bilhete premiado entre as coisas velhas da família.”

Distante pouco mais de três quilômetros dos cassinos centrais da cidade, a loja Gold & Silver segue em sua movimentada rotina 24 horas. Já é noite e a lua parece tão cheia no céu que fico imaginando se não é um canhão de luz. Vai saber. Certo mesmo é que o encontro com os Harrison e Chumlee será no dia seguinte, então o objetivo do momento é ficar de olhos e ouvidos abertos durante um tour pelo estabelecimento guiado por Andy, o gerente novaiorquino gente boa (“Costumo dizer que coleciono apenas salários e bons sentimentos”).

A loja existe desde 1988. Antes do programa, de 50 a 70 pessoas passavam nela por dia, atualmente são 3000, mais ou menos. Como as outras 43 lojas de penhores da cidade, somos obrigados a mandar um relatório diário para a polícia local e o FBI com a movimentação diária da loja, principalmente do que entra, para não sermos condenados como receptores de roubo. As regras aqui em Nevada são duras. O que movimenta realmente os negócios são itens em ouro e prata, além de jóias, e nossos clientes geralmente vendem mais do que penhoram. A taxa de resgate de uma penhora ficava por volta de 90%, mas depois da crise em 2008, esse número caiu pra 70%. Já passaram por aqui personalidades como o lutador Randy Couture, a atriz Mary Olsen, e os músicos Bob Dylan e Alice Cooper. Alguns objetos aqui não estão à venda por preço algum, pois ajudam a atrair turistas.

Andy continua falando e as paredes da Gold & Silver, tantas vezes vistas na TV, começam a brilhar com seus quadros de Dali, Picasso e Chagall, uma camisa do cowboy cantor Roy Rogers, o calendário original com Marilyn Monroe nua lançado em 1952, uma espada samurai do século 15, entre tantas outras coisas. A loja não é grande, mesmo após ter sofrido algumas reformas e ampliações significativas nos últimos anos, e a olhos nus nada nela impressiona, mas, ao mesmo tempo, possui algo que falta na cidade: respeito e cuidado pela história (nem que seja por motivos comerciais). Hora de ir embora.



Respeitável público! Com vocês...

Amanheceu e algumas dezenas de jornalistas de várias partes do mundo são divididos em grupos para as entrevistas. No meu ficam uma argentina, uma colombiana, uma mexicana e dois canadenses. Rick Harrison, seu filho Corey e o amigo Chumlee estão cada um em uma suíte nos esperando – como já havia sido avisado, o Velho Harrison não tem paciência para essas demandas de publicidade - e teremos algo em torno de 20 minutos com cada um. Começamos com Rick, o verdadeiro protagonista de Trato Feito.

“Durante quatro anos tentei emplacar uma versão desse programa e em um dos canais me disseram que ninguém ia querer ver na TV quatro gordos numa loja de penhores”, explica entre gargalhadas o jovem pai de família e empresário de 44 anos. A virada no destino aconteceu quando o pessoal de uma produtora de Nova York veio para uma festa de solteiro em Vegas e entre uma bebida e outra saíram em busca de um negócio familiar que pudesse ser transformado em reality show. Acharam os Harrison.

“Sou muito nerd. De verdade. Leio muita coisa, livros obscuros, história, ciência e quase nunca vejo televisão, acho meio chato, que o pessoal do History não me ouça”, e dispara novas gargalhadas. Mas porque então tanta insistência na TV? “Porque seria bom para os negócios, ué. Dinheiro é a minha segunda ou terceira coisa preferida no mundo. Mas atualmente, o grande negócio é vender camisetas com a cara do Chumlee.” 

Só que brincadeiras e sentimentos à parte, Rick diz à MONET que coisas são apenas coisas: “Tenho objetos dos meus avós, mas se chega em um ponto que preciso escolher entre alimentar minha família e manter o canivete suíço do meu tataravô... bem, existem assuntos mais importantes.” Existem mesmo, mas é hora de partir para a outra suíte.

Corey não é o único filho de Rick, mas como o outro (Adam) é encanador e não liga a mínima para a loja e foi sobre ele que recaiu a responsabilidade de seguir com a tradição familiar. Ele não reclama, pelo contrário. “Sempre soube que iria trabalhar lá e até tive outros empregos, mas sabe quando você é bom em uma coisa e nem sabe direito qual o motivo? Às vezes brinco com o meu pai... porque hoje em dia tanto eu quanto ele não precisamos ir na loja todos os dias, muito menos o Velho. E mesmo assim vamos todo santo dia. É que não sabemos fazer outra coisa.”

E não adianta colecionar motos, participar de corridas, nem passar algumas horas na cadeia por causa de uma briga de bar (como aconteceu em março do ano passado), Corey só pensa em uma coisa. “O que mudou na loja? O tanto de pessoas. Éramos 13 trabalhando na loja e agora somos 60. Em um dia agitado fazíamos umas 17 transações, enquanto agora, em época de férias, chegamos a ter umas 750. É um caos controlado, digamos assim, porque precisamos equilibrar a onda de turistas e os negócios do dia-a-dia”, explica à MONET.

É isso. Gold & Silver, faça chuva ou sol. Tanto que Corey adora relembrar histórias de clientes, principalmente os malucos que aparecem na madrugada diante da folclórica “Night Window” (a janela blindada na frente da loja que funciona 24h). “Teve aquela senhora que chegou perguntando se a gente comprava dente de ouro. Disse que sim. Aí ela saiu e voltou uns 20 minutos depois com a boca cheia de algodões ensanguetados. ‘Quanto você me paga por esses aqui?’, disse. Respondi que uns 40 dólares. Ela topou, recebeu o dinheiro e foi embora.” Claro que Corey não teve a indelicadeza de perguntar por que ela fez isso, afinal negócios são negócios, os motivos dela são coisa dela e ouro é ouro. Fim de papo.

Diferente de Rick e Corey, Chumlee recebe os jornalistas de óculos escuros. É o único solteiro do trio e provavelmente deve ter dormido tarde. Amigo de infância de Corey, o rapaz nascido na Califórnia e criado em Vegas é o principal motivo de risadas de Trato Feito e acabou, para a surpresa de todos, tornando-se o rosto mais famoso da loja e estampando dezenas de modelos de camisetas. “É um pouco estranho cruzar na rua com alguém vestindo uma camiseta com a minha cara, mas é legal também. Não tenho nenhuma, mas minha mãe se recusa a usar qualquer outra camiseta que não seja do Chumlee. Acho que as pessoas se identificam comigo e veem que sou de verdade, que sou honesto.”

Ele não parece deslumbrado, mas não consegue esconder a euforia de ter encontrado ídolos como Ozzy Osbourne e Bon Jovi que o conheciam da TV. “Não me vejo como um coadjuvante cômico (sidekick). Tento apenas viver cada dia sendo eu. Mas gosto da minha posição”, confessa à MONET o amante de games antigos e novos que ainda disse que se não trabalhasse com os Harrison provavelmente seria eletricista. “Mas em outro Estado porque o emprego está difícil aqui em Vegas”, e exemplifica com a notícia que um grande hotel & cassino que, construído recentemente, deverá ser implodido porque fizeram algo errado nas fundações. Resultado? Não existe previsão de retomada nas obras. 

Mas isso não interessa ao Chumlee de hoje em dia porque ele aprendeu muito bem no trabalho com os Harrison que “ouro é o melhor negócio. Você pode comprar algo hoje e vender amanhã com algum lucro. Qualquer outra coisa precisa ficar na loja até o comprador certo aparecer.” Ele já sabe que quem fica parado no deserto o vento leva. 

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

muros de mais, pontes de menos

só vi agora que um dos melhores documentários brasileiros dos últimos tempos, o média a ponte (2006-08), de roberto t. oliveira e joão wainer, está na íntegra na internet. traz depoimentos de mano brown, do escritor ferréz e da educadora dagmar garroux, fundadora da casa do zezinho. a trilha é da dupla zé gonzales e daniel ganjaman.


e tem no site da revista trip uma boa entrevista, de 2008, com wainer.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

existem cowboys na bélgica?

dia desses, o @arnaldobranco relembrou um dos quadrinhos mais dementes dos anos 1980: cowboy henk. agora já nem sei direito se conheci a criação dos belgas kamagurka (roteiros) e herr seele (desenhos) na lendária revista animal, mas deve ter sido algo próximo e me impressionou muito com seu humor violento e surrealista. separei alguns quadrinhos aqui (tem mais acolá) e não custa avisar que basta clicar em cada imagem para aumentá-la.











p.s.: achei estranho tão pouca informação sobre o personagem na internet, mas descobri que kamagurka (abaixo, com o dedo no nariz) e herr seele (de língua de fora) também fizeram tv, inclusive como atores, e música.


belgas sim, bobos não

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

yahoo #21

engraçado como são as coisas e curioso como nada como uma semana após a outra. digo isso porque após ter gostado tanto de ter feito o texto "custe o que custar, uma ova!" escrevi esse "o nada incrível huck", que considero o mais fraco de todos que fiz até agora para o ultrapop. no entanto, por causa das críticas ao personagem top-coxinha, o texto acabou sendo minha segunda melhor marca no yahoo (algo em torno de 280 mil views, ainda perdendo do recordista "meu fraco é subcelebridade" com seus 350 mil). mas porque não gostei do texto? porque ele é apenas um vômito contra luciano huck, é vazio, e olha que o assunto renderia bastante. em minha autodefesa posso dizer que a semana tinha sido ruim, ainda estava sofrendo o baque da demissão, sem nenhum assunto palpitante à vista, estava na metade de um outro texto que acabei largando mão (consequentemente atrasado na entrega) e ainda por cima com o rosto todo dolorido após tirar meus últimos dois sisos. quer dizer, uma bagunça completa. mas nada como uma coluna após a outra e a que está no ar agora, "o de cima sobe, o de baixo desce", uma espécie de mini-retrospectiva de 2011, ficou a gosto da gerência. 


O NADA INCRÍVEL HUCK

Desde que me entendo como gente ouço críticas a TV Globo, mas com o passar do tempo fui peneirando o que era verdade e o que não passava de teoria conspiratória. Fui também fazendo as minhas. No entanto, é sempre engraçado ver o pessoal dos comentários, principalmente na última coluna que era sobre o CQC da TV Bandeirantes, dizer coisas como: “ah, mas da Globo ninguém fala mal, apostos que vocês do Yahoo são pagos”. Então vamos lá, cambada, para agradar vocês a Globo será o alvo da vez. Façam suas rimas e apertem seus cintos!

Como toda grande empresa de comunicação, a Globo é boa e má (para usar esses termos gastos) em iguais proporções. Nos tempos do pai-fundador Roberto Marinho foi tanto amiga dos militares quanto abrigo de muitos profissionais de esquerda, que acabaram assim escapando de prisões, tortura, exílio. Enquanto se calava no Jornal Nacional dava liberdade a realizadores como Paulo Gil Soares, Eduardo Coutinho, Walter Lima Jr. e Maurice Capovilla para falar de coisas inéditas do Brasil nos áureos tempos do Globo Repórter, final da década de 1970 (sim, houve um tempo que o programa não falava só de bichos, alimentação e sexualidade na terceira idade).

É também a mesma que vem estimulando grandes artistas como Luiz Fernando Carvalho (Hoje é Dia de Maria, Capitu, etc.), comunicadores como Regina Casé e ousadias cômicas como Macho Man ao mesmo tempo dá moral a figuras como Luciano Huck. E o Huck... bem, não sou uma pessoa de desprezar ninguém, muito menos de ter ódios, mas não fui com a cara dele desde que o vi pela primeira vez. Também acredito que ele é uma das piores coisas que aconteceu na TV aberta nacional com seu “orgulho coxinha”, seu assistencialismo barato, seu mal gosto galopante, seu humor playboy de Atlética de faculdade, etc.



O seu “estilo” não mudou muito desde aquelas outras tardes de sábado, tempos do Programa H, Tiazinha e Feiticeira: gostosas no palco, platéia jovem, bandas ruins, “reportagens”, convidados e “entrevistas”. Eu olhava pr’aquele sujeito, eternamente o irmão gêmeo de Rogério Ceni, e pra mim ele representava algumas das coisas mais detestáveis da classe alta paulistana, apesar do seu jeitinho inofensivo. Quando, em 2000, foi anunciada sua mudança para a Globo fiquei pensando se o sucesso se repetiria. Sim, o sucesso sorriu novamente para Huck, só que dessa vez maior e acompanhado de um “casamento dos sonhos” com Angélica (dos sonhos para a Globo e para a publicidade).

Nunca entendi isso. O Caldeirão do Huck é repleto de quadros copiados de programas americanos, o jeito amigão como o apresentador trata as pessoas que vão lá em busca de um tapa no carango ou arrumar a casa caindo aos pedaços é nitidamente forçado, não vejo carisma nenhum em sua pessoa, mas ele é um cara inteligente, principalmente nos negócios, e sabe conversar com todo tipo de gente. Por outro lado, ninguém acha estranho, ou talvez nem saibam, que o bom moço foi multado por crime ambiental em Angra dos Reis (RJ) e que então contratou o escritório de advocacia da mulher do governador Sérgio Cabral. Poucos dias depois, como em um passe de mágica, o governo do Estado abriu brechas na lei e Huck não precisou nem paga a multa.

Enquanto vou despejando esse tanto de críticas sobre o rapaz já prevejo alguns comentaristas dizendo coisas como “quem é você para criticar o Luciano Huck, seu paspalhão?!?!” ou “você tem é inveja do sucesso dele”. Não trabalhamos com inveja aqui, amiguinhos e amiguinhas, e tão somente com senso crítico (que pode até estar errado, mas é meu). Tenho é saudade daquelas tardes de sábado, no qual o Velho Guerreiro jogava pedaços de bacalhau em sua platéia (escrevi sobre ele na minha sexta coluna por aqui, “Chacrinha continua balançando a pança”), ou de mais pessoas como a semi-xará Thafne Souza que colocou Huck no seu devido lugar em um episódio daquele quadro “Soletrando”. E nunca se esqueçam: lugar de coxinha é no boteco ou na padaria.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

um festival-selva

na semana mais louca que tive de trabalho no ano, na segunda metade de novembro, escrevi uma coluna pro yahoo ("custe o que custar, uma ova!"), um texto pra revista piauí (que sairá agora em janeiro), o meu último como editor da revista monet (da viagem a las vegas e do programa trato feito, que sairá na edição de janeiro da revista) e esse aqui, "floresta de imagens", um breve histórico do amazonas film festival, com direito a entrevista com dheik praia, a jovem ganhadora de um prêmio de roteiro patrocinado pelo banco daycoval. essa reportagem está saindo na revista day by day, produção gráfica bonitona feita pela editora spring, de periodicidade anual e distribuída entre os clientes do banco.

camila pitanga e gustavo machado em cena do filme de beto brant e  
renato ciasca, um dos premiados no festival amazonense

FLORESTA DE IMAGENS

Tem muita história acontecendo na floresta; história de árvore, bicho e gente. Tem muita imagem também. E nada melhor que o cinema para traduzir esse mar verde de possibilidades. Pois então, no meio da Floresta Amazônica, na cidade de Manaus, o Amazonas Film Festival, AFF para os íntimos, vem fazendo desde 2004 o nobre trabalho de registrar a floresta para o mundo ao mesmo tempo em que traz o mundo para a floresta.

Sua 8ª edição aconteceu agora, de 3 a 9 de novembro, e para se ter uma ideia da diversidade exibida basta dar uma olhada nos premiados na mostra competitiva de longas: o iraniano A Separação, de Asghar Farhadi, ganhou melhor filme e roteiro; o brasileiro Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios, de Beto Brant e Renato Ciasca, levou de  melhor ator (Zécarlos Machado) e atriz (Camila Pitanga); o francês La Source des Femmes, de Radu Mihaileanu, foi laureado pelo júri popular e premiado por sua fotografia; e, finalmente, o argentino El Estudiante deu o prêmio de melhor direção para Santiago Mitre.

Questões históricas e ambientais também são uma marca do evento, tanto que o filme que abriu o festival, em premiere mundial, foi o esperado Xingu, filme dirigido por Cao Hamburguer (O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias) e produzido por Fernando Meirelles, que refaz a história real, os dramas e a jornada de Orlando, Cláudio e Leonardo Villas Bôas. Interpretados respectivamente por Felipe Camargo, João Miguel e Caio Blat, os irmãos percorreram todo o Brasil Central entre as décadas de 1940 e 60 e seus extraordinários feitos em prol dos índios culminaram na criação do Parque Nacional do Xingu em 1961.

O filme foi exibido com a presença do elenco e de seus realizadores no sempre deslumbrante Teatro Amazonas e por lá também passaram a cineasta norte-americana Randa Haines (Os Filhos do Silêncio) e o ator mexicano Alfonso “Poncho” Herrera (ex-integrante do fenômeno juvenil Rebeldes), que fizeram parte do júri. Poncho, aliás, protagonizou momentos hollywoodianos em Manaus tendo seu nome gritado por fãs enlouquecidas. Em outras edições estiveram presentes personalidades internacionais como os cineastas Claude Lelouch, Alan Parker, Jean-Jacques Annaud, Roland Joffé, John Boorman e John McTiernan, o cartunista francês Wolinski, os atores Matt Dillon e Jeremy Piven, e as atrizes Claudia Cardinale, Parker Posey, Neve Campbell e Leonor Silveira.

Toda essa badalação é apenas uma pequena parte de um festival que vem crescendo ano após ano, mas com os pés muito firmes no solo da mata, dando ênfase a mostra competitiva de curtas produzidos no Estado e ao aguardado Prêmio Daycoval de Roteiro, este ano concedido a Dheik Praia.

Amazonense do pé rachado, isto é, da capital, Dheik trancou a faculdade de jornalismo em 2009 para se dedicar integralmente a sua paixão de fazer cinema (que vem desde seus 14 anos quando participou de um curso patrocinado pelo Ministério da Cultura através do projeto de pontos de cultura). Diretora e roteirista de curtas feitos na raça como Faça o que Eu Digo (que participou do AFF dois anos atrás), Orelhão e A Menina que Mudou o Mundo, a jovem de 22 anos veio com tudo para esta edição do festival, inscrevendo tanto um ambicioso e já finalizado curta de 20 minutos (Jorge) quanto um roteiro (Rota de Ilusão).

“Estava cheia de expectativa, né? Mas levei a primeira decepção porque Jorge não foi selecionado. Fiquei muito triste. Depois disso realmente nem esperava nada do roteiro, mas na noite do encerramento me ligaram gritando ‘Cadê tu? Teu roteiro foi premiado!’ e foi aquela correria. É muito emocionante ter recebido esse prêmio exatamente nesse momento e em 35mm. É a minha oportunidade de fazer um ótimo trabalho e mostrar essa realidade que pouquíssimas pessoas conhecem, dos rios, das viagens de barco, das histórias de amor que acontecem neles”, relembrou em entrevista por email.

A trama criada por Dheik segue os passos de Núbia, uma jovem do interior que anseia dar uma vida melhor a seu filho e coloca o pé na estrada ou, para ser mais preciso, o barco no rio (afinal estamos na Amazônia). Nessa jornada ela conhece e se apaixona por Raimundo, um garimpeiro que está indo trabalhar na Guiana Francesa, e é aí que seus planos e sonhos tomam outro rumo. “Minha área é ficção. Gosto de criar histórias”, mas ela não se furta em assumir que parte desse roteiro foi inspirado em histórias que ouviu durante um “mochilão” que fez pelo Brasil durante quatro meses. Pois é, ficção e realidade vivem se misturando na floresta como bem sabem os que nasceram nela.

A trajetória muito real de Dheik Praia, espectadora em um dia e realizadora premiada em outro, resume muito bem o que de melhor pode acontecer quando se criam possibilidades de estímulo e incentivo cultural. E assim, feliz da vida, ela foi de coração leve até o encerramento do AFF receber a confirmação de que a pré-produção de Rota de Ilusão já pode começar em janeiro.

Lá no Largo São Sebastião, centro da Manaus e local da festa de encerramento, os números também davam outros motivos para alegria: nos sete dias de programação, o festival superou a marca de 300 mil espectadores assistindo seus 180 filmes (curtas e longas) em cerca de 40 teatros, salas de cultura e espaços transformados em cinema, tanto em Manaus quanto em cidades do interior/ribeirinhas como Pau Rosa, Itacoatiara e Manacapuru. Muita gente que nunca viu cinema na vida. Às vezes literalmente como os participantes da mostra inclusiva “Outra Visão do Cinema”, no qual deficientes visuais acompanham filmes a partir de audiodescrição.

Números, histórias e projetos assim consolidam o Amazonas Film Festival como um dos mais importantes eventos de cinema no Brasil. Mas, para os organizadores, tão importante quanto isso é ver o festival estimulando e movimentando a cultura local – em 2013 terá início a primeira turma do curso de cinema na Universidade do Estado do Amazonas (UEA) –, ou servindo de vitrine para a crescente produção cinematográfica manaura – no ano que vem, a festa de encerramento será transmitida ao vivo pelo Canal Brasil. É a árvore dando frutos onde tem mais espaço para crescer e se multiplicar: fora do eixo.


p.s.: abaixo um programa da tv bandeirantes do amazonas com uma boa entrevista com dheik e alguns de seus curtas.





terça-feira, 20 de dezembro de 2011

as 25 músicas nacionais de 2011 + bônus

canções inesquecíveis nunca faltaram ao brasil e esse ano viu nascer um monte delas. cantadas ou instrumentais, de recife, belém, curitiba, vitória, são paulo, rio de janeiro, maceió, de tudo que é canto do país. e com muita gente aparecendo em mais de uma - lembro agora de cabeça de rodrigo ogi, karina buhr, marcelo cabral, thiago frança, kiko dinucci e anelis assumpção. seguem agora, na ordem alfabética de sempre, as 25 principais de 2011.

academia da berlinda – "praia do l" (olindance)



anelis assumpção – "neverland" [part. céu] (sou suspeita estou sujeita não sou santa)



autoramas – "abstrai" (música crocante)



bid – "chiquinha hey" [part. luiz melodia, anelis assumpção e negresko sis] (bambas 2)



cícero - "joão e o pé de feijão" (músicas de apartamento)



criolo – "linha de frente" (nó na orelha)



domenico – "fortaleza" (cine privê)



eddie – "o saldo da glória" [part. otto e karina buhr] (veraneio)



emicida – "pequenas empresas" [part. mv bill e dom pixote] (doozicabraba e a revolução silenciosa)



felipe cordeiro – "legal e ilegal" (kitsch pop cult)



gal costa – "recanto escuro" (recanto)



gui amabis – "o deus que devasta mas também cura" [part. lucas santtana] (memórias luso-africanas)



karol conká – "boa festa" (single)



kassin – "potássio " (sonhando devagar)



lirinha – "valete" [part. angela ro ro & otto] (lira)



marcelo camelo – "acostumar" (toque dela)



momo – "barco" (serenade of a sailor)



mundo livre s/a – "o velho james brouse já dizia" (as novas lendas da etnia toshi babaa)



pélico – "levarei" (que isso fique entre nós)



rodrigo ogi & stereodubs – "talarico" (single)



são paulo underground – "colibri" (três cabeças loucuras)



silva – "a visita" (silva EP)



slim rimografia & thiago beats – "batida e alfenim" [part. rapadura] (mais que existir)



vanguart – "mi vida eres tu" (boa parte de mim vai embora)



wado – "si próprio" [part. zeca baleiro] (samba 808)



e tem muitas outras dentro desses discos citados acima. mas a regra (aqui) é clara: só pode uma por álbum. no mais, o país é grande, a produção é imensa e coisa boa não falta, portanto seguem mais trinta músicas que fizeram a minha trilha do ano.

adriana calcanhotto – "beijo sem" (o micróbio do samba)
amiri – "insônia" (êta porra EP)
arthur de faria e seu conjunto – "tango do morto" (música para ouvir sentado)
bixiga 70 – "zambo beat" (bixiga 70)
chimpanzé clube trio – "nos tempos da motown" (tudo veio do nada)
css – "hits me like a rock" [part. bobby gillespie] (la liberación)
douglas germano - "obá iná" (orí)
faria & mori – "precaução" (outro lugar)
flávio renegado - "suave" (minha tribo é o mundo)
gang do eletro – "uno treme treme" (single)
junio barreto - "passione" (setembro)
karina buhr – "não me ame tanto" (longe de onde)
kiko dinucci, juçara marçal e thiago frança – "trovoa" (metá metá)
leandro lehart – "fricote" (ensaio de escola de samba)
mallu magalhães - "velha e louca" (pitanga)
mariana aydar – "cavaleiro selvagem" (cavaleiro selvagem aqui te sigo)
marina lima - "não me venha mais com o amor" (climax)
marisa monte – "o que se quer" [part. rodrigo amarante] (o que você quer saber de verdade)
pio lobato – "luana samba dub" (café 2)
rafael castro - "tô chutando lata" (rc canta rc EP)
rashid – "vou ser mais" (dádiva e dívida)
rodrigo ogi – "eu tive um sonho" (crônicas da cidade cinza)
romulo fróes, kiko dinucci, marcelo cabral e rodrigo campos – "cidadão" (passo torto)
savave – "no bonde" [part. rodrigo ogi] (versão extendida)
seu jorge – "dois beijinhos" (músicas para churrasco vol. 1)
sistema criolina - "manos e molhados [secos & molhados vs. racionais mcs]" (single)
strobo - "zouk house" (coletânea fora do eixo norte vol. 1)
xeiro verde – "loucas no pop" (single)
zé miguel wisnik – "mortal loucura" (indivisível)
tulipa ruiz – "memória fora de hora" (literalmente loucas – elas cantam marina lima)

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

os 25 discos brasileiros de 2011 + bônus

agora chegamos ao brasil, tudo muito mais próximo, mais quente, etc. e tal. sinceramente achei que foi um ano bem bom por essas bandas, infinitamente superior ao ano dos estrangeiros: muita surpresa, vários discos bons de cabo a rabo, variadão de verdade. foi difícil, bati cabeça, mas aqui estão os 25 principais lançamentos brasileiros segundo a gerência.

academia da berlindaolindance (independente)
anelissou suspeita estou sujeita não sou santa (scubidu records)
arthur de faria e seu conjuntomúsica para ouvir sentado (casa de francisca/natura)
bambas 2 (soul city/natura/universal)
bixiga 70 (traquitana discos)
caçapaelefantes na rua nova (garganta records)
criolonó na orelha (matilha cultural)
felipe cordeirokitsch pop cult (independente)
domenicocine privê (coqueiro verde)
gal costarecanto (universal)
gui amabismemórias luso-africanas (independente)
karina buhrlonge de onde (coqueiro verde)
kassinsonhando devagar (coqueiro verde)
kiko dinucci, juçara marçal e thiago françametá metá (desmonta/circus produções)
leandro lehartensaio de escola de samba (independente)
lirinhalira (independente)
marcelo camelotoque dela (universal)
momoserenade of a sailor (pimba/tratore)
pélicoque isso fique entre nós (yb music)
rodrigo ogicrônicas da cidade cinza (independente)
romulo fróes, kiko dinucci, marcelo cabral e rodrigo campospasso torto (yb music/phonobase)
são paulo undergroundtrês cabeças loucuras (submarine records)
seu jorgemúsicas para churrasco vol. 1 (cafuné/universal)
wadosamba 808 (independente)
zé miguel wisnikindivisível (circus produções)

e aí? algum destaque? eu poderia facilmente eleger o nó na orelha do criolo como o disco do ano, afinal foi a grande história musical de 2011 (muita música boa, grandes arranjos, intérprete da pesada e por aí vai), mas resolvi destacar os discos que emplacaram mais músicas na minha memória afetiva: sou suspeita estou sujeita não sou santa, bambas 2, nó na orelha, lira, serenade of a sailor e samba 808.
claro que a história não acaba aí (como visto na lista gringa) e agora seguem outros 15 discos que também merecem (e muito) ser ouvidos.

adriana calcanhottoo micróbio do samba (sony music)
autoramasmúsica crocante (coqueiro verde)
chinamoto contínuo (joinha records/trama virtual)
cida moreiraa dama indigna (jóia moderna)
eddieveraneio (pogo tropical/soul city)
emicidadoozicabraba e a revolução silenciosa (independente)
emiliano castrokanimambo (independente)
mallu magalhãespitanga (agência de música/sony music)
marginals (independente)
marisa monteo que você quer saber de verdade (phonomotor/emi)
me & the plantthe romantic journeys of pollem (independente)
mundo livre s/aas novas lendas da etnia toshi babaa (coqueiro verde)
romulo fróesum labirinto em cada pé (yb music)
savaveversão extendida (independente)
slim rimografia & thiago beatsmais que existir (independente)

não é de hoje que as grandes gravadoras deixaram de frequentar listas como essa de melhores do ano. além de escolherem quase unicamente a saída do mercado, as majors tem lançado cada vez menos, o que deixa espaço livre, escancarado, a novos jeitos de tratar música. já faz um tempinho que os independentes são maioria nas minhas listas, mas de qualquer forma foi surpreendente olhar na lista e ver vários títulos de dois selos “pequenos”: o carioca coqueiro verde e o paulistano yb music. ambos emplacaram discos em todas as categorias, tanto na dos 25 principais, quanto na dos outros 15 e na lista-monstro que agora segue.

agridoce (vigilante/deckdisc); apanhador só (acústico-sucateiro, independente); ava (diurno, warner); azymuth (aurora, far out recordings); blubell (eu sou do tempo em que a gente se telefonava, yb music); bonifrate (um futuro inteiro, independente); caldo de piaba (volume 3, independente); camarones orquestra guitarrística (espionagem industrial, independente); celso fonseca & ronaldo bastos (liebe paradiso, dubas); che (papagaio's fever, somzera/yb music); chico buarque (chico, biscoito fino); chimpanzé clube trio (tudo veio do nada, independente); cícero (músicas de apartamento, independente); copacabana club (tropical splash, st2 records); css (la liberación, v2/universal); daniel peixoto (mastigando humanos, fora do eixo discos); doncesão (bem vindo ao circo, independente); douglas germano (orí, bac discos); eletrofan (day sky/night sky, el sonora/mutant records); elo da corrente (o sonho dourado da família, independente); erasmo carlos (sexo, coqueiro verde); eta carinae (novos sons e tradições mudernizadas, independente); fabio goés (o destino vestido de noiva, phonobase); faria & mori (outro lugar, reco-head records); flávio renegado (minha tribo é o mundo, independente); funk como le gusta (a cura pelo som, radar records); hamilton de holanda & andre mehmari (gismontipascoal, brasilianos); ivor lancellotti (em boas e más companhias, dubas música), jards macalé (jards, biscoito fino); júlia says (violência, independente); junio barreto (setembro, independente); léo cavalcanti (religar, traquitana discos/yb music); literalmente loucas – elas cantam marina lima (jóia moderna); los porongas (o segundo depois do silêncio, baritone records); macaco bong (verdão e verdinho EP, independente); mariana aydar (cavaleiro selvagem aqui te sigo, universal); marina lima (clímax, liberta records); mopho (volume 3, pisces records); naná rizzini (i said, independente); nevilton (de verdade, sombrero/fora do eixo discos); nuda (amarénenhuma, independente); panorama do choro paulistano contemporâneo (pôr do som/atração); pedro luís (tempo de menino, mp,b/universal); pio lobato (café 2, lado p); pipo pegoraro (táxi imã, yb music); projota (não há Lugar melhor no mundo que o nosso lugar, independente); rael da rima (música popular do 3º mundo, trama virtual); rafael castro (rc canta rc EP, traquitana discos); rashid (dádiva e dívida, independente); rubinho troll (stinkin like a brazilian, independente); silva (silva EP, independente); silvério pessoa (no grau, independente); sobrado 112 (sobrado 112 no país da skapolca, oi música); tibério azul (bandarra, joinha records); tiê (a coruja e o coração, warner); tonho crocco (o lado brilhante da lua, momo king records); vanguart (boa parte de mim vai embora, vigilante/deckdisc); xará (além da razão, independente).

alguns adendos se fazem necessários. dessa ruma, dez discos só não entraram nas listas principais porque a concorrência foi pesada (não coincidentemente todos emplacaram músicas entre as melhores como será lido/ouvido na próxima lista). são eles chimpanzé clube trio (tudo veio do nada), cícero (músicas de apartamento), css (la liberación), douglas germano (orí), junio barreto (setembro), pio lobato (café 2), literalmente loucas – elas cantam marina lima, mariana aydar (cavaleiro selvagem aqui te sigo), sobrado 112 (sobrado 112 no país da skapolca) e vanguart (boa parte de mim vai embora).

três discos/artistas foram decepções semi profundas para o que sempre espero deles: o chico de chico buarque (careta, sei lá, não quero falar nisso), o sexo de erasmo carlos (achei o anterior, rock’n’roll, tão mais intenso) e o jards de jards macalé (alguém pode fazê-lo parar de regravar as mesmas de sempre? se ele não fosse tão genial até nas repetições e eu tão fã...)

também me “decepcionei” – assim entre aspas mesmo porque gostei de todos os discos nessa lista, afinal os ruins e os não ouvidos estão em algum outro lugar - com outros três, mas pelas expectativas criadas nos ótimos trabalhos anteriores, os de estréia. esperei mais de blubell (eu sou do tempo em que a gente se telefonava), fabio goés (o destino vestido de noiva) e tiê (a coruja e o coração), mas aí é coisa minha. de qualquer forma listas são aquela coisa: um dia antes ou um dia depois e a ordem das coisas poderia muito bem ser outra.

p.s. 1: não fiz uma seleção de dvds musicais, mas não poderia encerrar esse post sem citar o excelente caixa de ódio – o universo de lupicínio rodrigues (casa de francisca/canal brasil), registro inspirado de shows de arrigo barnabé entortando à la tom waits as músicas de fossa do grande compositor gaúcho.
p.s. 2: também não poderia deixar de mencionar o grande programa musical televisivo de 2011, o grêmio recreativo (apesar que o som brasil da tv globo continua aprontando algumas ótimas surpresas como gaby amarantos na homenagem a zezé di camargo & luciano). mas nesse grêmio comandado por arnaldo antunes aconteceram grandes encontros, misturas inusitadas, novos e velhos hits, tudo muito bem filmado. a lista dos convidados dos dez episódios da primeira temporada é gigante e afiadíssima, mas separei um dos muitos pontos altos do programa. afinal, foi nele que conheci a maviosa "dia a dia, lado a lado", com marcelo jeneci, tulipa ruiz e grande elenco.

domingo, 18 de dezembro de 2011

as canções que você fez pra mim

segue aqui no esforçado o texto que foi minha primeira contribuição ao farofafá, dos camaradas pedro alexandre sanches e eduardo nunomura. é sobre o novo documentário de eduardo coutinho, as canções, que ainda segue em cartaz em poucos cinemas nas cidades de são paulo, rio de janeiro, fortaleza, salvador, porto alegre, brasília e joão pessoa.


NO CORPO DE QUEM CANTA

As Canções, o mais novo documentário de Eduardo Coutinho, estreou na sexta passada em alguns poucos cinemas de algumas poucas cidades e, provavelmente, não fará a boa e surpreendente bilheteria que Edifício Master teve lá em 2002. Não merecia. Só o anúncio que foi colocado para convocar pessoas no Rio de Janeiro para participar do filme (“Alguma música já marcou sua vida? Cante e conte sua história”) já seria uma deixa para se prever que Coutinho levaria o espectador para o terreno dos sentimentos mais populares: amor, perda, traição, saudade, alegria. E isso dá samba, sabemos bem. Ou samba canção. Ocasionalmente bolero. É identificação imediata e não importa idade ou gosto musical (e olha que a faixa etária d’as canções do documentário é alta). Enfim, sucesso. Mas isso não acontecerá com As Canções e sua muita tímida distribuição.

Ao total, 237 pessoas foram entrevistadas pela sempre afiada equipe de Coutinho, 42 foram gravadas e 18 entraram na edição final. O formato do filme é o mesmo de Jogo de Cena (2007) – uma cadeira, um palco, um entrevistado por vez rasgando o peito -, o que acaba lhe conferindo um ar de déjà vu. Mas isso é o de menos, originalidade hoje em dia está nos detalhes ou na construção de algo. O que importa em As Canções são as histórias e suas relações íntimas com a música popular brasileira. Coisa de pele mesmo.

Como a de um músico (tô em dúvida agora sobre a profissão do cara), talvez a mais surpreendente dessa leva. Ele conta sobre seu primeiro casamento que o levou a tocar na Igreja Batista, e da súbita interrupção do mesmo com a morte de sua mulher. Depois a depressão, um novo amor, o segundo casamento, a saída da igreja. Mas acaba lembrando de uma música (“Esmeralda”, bolerão de 1960 cantado por Carlos José) que associa a sua mãe costurando em casa. E começa a chorar copiosamente. Mas sua mãe está bem, viva, 85 anos, não tem nada de errado e ele fica desconcertado sem saber por que chorou desse jeito, com essa música.

Muitas outras histórias aparecem. Doloridas, divertidas, ricas, mas a maioria girando em torno de amores perdidos, por desencontros ou separações. É aí que as músicas de Roberto Carlos (e Erasmo) entram de sola nos corações de alguns entrevistados (“Não se Esqueça de Mim” e “Olha”) e de milhões de brasileiros. Coutinho chegou a afirmar em entrevista recente que o filme todo poderia ter sido feito apenas com Roberto e Erasmo, mas que as negociações de direitos seriam muito problemáticas.

De qualquer forma, entram ainda nesse microcosmo sentimental canções como “Minha Namorada” (Carlos Lyra e Vinícius de Moraes), “Retrato em Branco e Preto” (Tom Jobim e Chico Buarque), “Último Desejo” (Noel Rosa) e as clássicas versões em português das latinas “Fascinação” e “Perfídia”. A música mais nova presente no filme é “Que Nega é Essa?” (Jorge Ben), já que “Pais e Filhos” (Legião Urbana), segundo o próprio realizador, acabou ficando no chão da sala de edição.

E assim, em suas falas e histórias, os personagens vão deixando claro que o romantismo é a faceta mais importante, mais próxima, de sua relação com o cancioneiro popular brasileiro. Músicas servem para lembrar, celebrar ou curar o amor, são terapêuticas em sua essência, e é isso que marca a vida das pessoas (a maioria das histórias do filme são entre mulher X homem, mas também entraram casos de filho X pai e filho X mãe).

Ainda haverá o momento que conseguiremos entender direitinho porque povo tão festivo curte mesmo uma fossa. As Canções, de Eduardo Coutinho, dá uma pista: a música popular é o divã do povão.



Epílogo-diálogo

No sábado a tarde, 10 de dezembro, um dia após a estréia, o colega James Cimino me chamou no facebook perguntando se eu gostava de Coutinho (respondi que sim, claro), porque ele não gostava, tinha escrito uma crítica negativa ao filme e queria saber minha opinião, queria entender porque as pessoas gostavam do cineasta. Então li seu texto, voltei ao bate-papo e, brincando, disse que como ele já tinha me adiantado que não gostava do Coutinho discordei de tudo que ele tinha escrito. Ali, na hora, começamos a discutir o processo dele, as escolhas, mas só depois de assistir o filme à noite tive a confirmação do que, pra mim, era o erro de sua análise.

“Na maioria dos casos, os entrevistados estão apenas expostos ao escárnio público, quando não à piedade coletiva”, diz Cimino sobre os personagens que vão cantando, abrindo e fechando suas feridas publicamente. E isso eu não consigo entender porque vejo aquelas pessoas com muito orgulho de ter essas histórias e de poder contá-las (ou teatralizá-las). Sentir-se constrangido com essa exposição é problema unicamente do espectador.

Tenho certeza que se o estrevistado tivesse se arrependido ou tivesse “apelado”, Coutinho seria o primeiro a cortá-lo (tanto para preservar o filme quanto o personagem, afinal sendo jornalista como Cimino, eu e os camaradas do Farofafá, ele sabe que ‘respeito’ e ‘confiança’ são fundamentais na relação ideal entre entrevistado e entrevistador).

Cimino fala ainda que “ao encadear essas histórias desconexas umas das outras, não apresenta reflexão nenhuma, como se espera de um documentário”. E aí está outro erro. As histórias não são nada desconexas, pois na costura de todos os depoimentos está a ligação íntima entre sentimentos pessoais e sua manifestação musical (o bom e velho “essa música foi feita pra mim”). No mais, um documentário, como qualquer outro filme, não é obrigado a apresentar reflexões, ou o que quer que seja, como “se espera”. As histórias podem ser bem ou mal contadas, e o resto é com a gente.

Pra mim é impossível imaginar Coutinho explorando a miséria humana, como Cimino afirma numa comparação de As Canções com realities shows que apelam para o choro fácil. Em todos os seus filmes que vi – de Cabra Marcado Para Morrer a Moscou, passando por Santo Forte, Babilônia 2000, Edifício Master, Peões, O Fio da Memória e Jogo de Cena –, a emoção é sempre intensa, mas o choro é raro e quando vem é à reboque de uma identificação com a história de uma ou outra pessoa (e não por meio de artifícios).

Coutinho é um antisentimental por natureza, oras bolas, mas seus entrevistados não, e é desse “confronto” que surgem alguns dos melhores momentos de seus filmes. Porque Coutinho não julga e gosta de ouvir, o que faz com que seus entrevistados se sintam livres e confiantes para rasgar o coração diante das câmeras.


o militar aposentado que é um dos 18 entrevistados que entraram
na edição final de as canções

sábado, 17 de dezembro de 2011

as 25 músicas gringas de 2011 + bônus

música então é mais difícil ainda, principalmente porque faço questão de escolher apenas uma música por artista/disco, o que às vezes é bem injusto. mas a vida é 'escolhas', e optei pela diversidade. sempre. então seguem aqui as 25 principais músicas gringas do ano à moda da casa (ordem alfabética), com direito a clipes, apresentações ao vivo ou apenas as canções, puras e simples. tem de tudo um pouco.

afrodizz - "suspect" (from outer space)



atmosphere - "bad bad daddy" (the family sign)



azealia banks - "212" [part. lazy jay] (single)



beastie boys - "make some noise" (hot sauce committee part 2)



charles bradley – "the world (is going up in flames)" [part. menahan street band] (no time for dreaming)



das racist – "middle of the cake" [part. anand wilder] (relax)



danger mouse & daniele luppi – "two against one" [part. jack white] (rome)



dead combo –"lisboa mulata" [part. marc ribot] (lisboa mulata)



dengue fever – "cannibal courtship" (cannibal courtship)



drc music - "hallo" [part. damon albarn, tout puissant mukalo e nelly liyemge] (kinshasa one two)



ghostpoet - "finished i ain't" (peanut butter blues and melancholy jam)



hail mary mallon - "meeter feeder" (are you gonna eat that?)



j. rawls - "best producer on the mic" [part. diamond d, oh no e kev brown] (the hip-hop affect)



jay-z & kanye west - "gotta have it" (watch the throne)



lee ‘scratch’ perry – "butterfly" (rise again)



mayer hawthorne - "a long time" (how do you do)



quantic y su conjunto - "get ur freak on" (los miticos del ritmo EP)



radiohead – "lotus flower" (the king of limbs)



raphael saadiq – "good man" (stone rollin')



rodrigo leão - "o hibernauta" [part. miguel felipe] (a montanha mágica)



sbtrkt - "wildfire" (sbtrkt)



shabazz palaces – "swerve..." (black up)



shawn lee – "não vacila" [part. curumin] (world of funk)



the cool kids – "get right" (when fish ride bicycles)



the echocentrics – "esclavo y amo" [part. natalia clavier] (sunshadows)



difícil pra cacete chegar nesses 25 acima e a escolha ficou sendo cozida por duas semanas – deu tempo para canções/discos entrarem na última hora, por exemplo –, fiquei com uma considerável lista sobressalente que achei interesante compartilhar. tudo 'linkado' conforme o figurino.

adele – "rolling in the deep" (21)
amsterdam klezmer band – "the new terk" (katla)
architecture in helsinki – "everything’s blue" (moment bends)
blueprint – "radio-inactive" (adventures in counter culture)
dennis coffey - "space traveller" (dennis coffey)
evidence – "well runs dry" [part. krondon] (cats & dogs)
gonjasufi - "the lows" (the ninth inning EP)
ikebe shakedown – "refuge" (ikebe shakedown)
jc brooks & the uptown sound - "baaadnews" (want more)
lack of afro - "lazy lazarus" (this time)
little dragon – "ritual union" (ritual union)
mexicans with guns – "highway to hell" [part. freddie gibbs e bun b] (ceremony)
michael kiwanuka – "tell me a tale" (tell me a tale EP)
ocote soul sounds – "pirata" (taurus)
peter cat recording co. – "prequel/pariquel" (sinema)
roots manuva – "watch me dance" (4everevolution)
spoek mathambo – "put some red on it [shabazz palaces remix]" (put some red on it EP)
the aggrolites – "out of sight" (rugged road)
the funk ark – "a blade won’t cut another blade" (from the rooftops)
the roots - "the otherside" [part. bilal oliver & greg porn] (undum)
the strokes – "taken for a fool" (angles)
the whiskey barons - "la murga skank" (reworks)
vast aire – "almighty jose" [part. karniege] (ox 2010: a street odyssey)
wale – "ambition" (ambition)
wu-tang clan – "only the rugged survive" [part. rza] (legendary weapons)