segunda-feira, 29 de outubro de 2012

pense novo

pela lei eleitoral os sites de campanha não podem continuar no ar após o anúncio oficial do resultado da eleição pelo tse. ontem à noite, portanto, o pensenovotv caiu e junto dele o pdf do plano de governo. hoje no facebook apareceram algumas pessoas questionando isso (cadê o plano?) e respondi que ele voltará numa plataforma que não tenha problemas legais. enquanto isso, compartilho ele aqui. basta clicar aí na imagem que você pode baixar o arquivo oficial. e ainda essa semana escreverei sobre a experiência sensacional de ter trabalhado na campanha que ajudou a eleger fernando haddad o novo prefeito de são paulo.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

cultura e educação contra o extermínio

um dos grandes momentos da campanha: o encontro de fernando haddad com mano brown, ice blue, leandro lehart, andreia dias, emicida, leci brandão, etc. ainda falarei mais sobre essa experiência (a de trabalhar nessa reta final da campanha), mas deixa passar domingo. nesse trecho, as falas de mano brown, ice blue e haddad.



saiu um segundo trecho do encontro com a presença de netinho de paula, leandro lehart e leci brandão.



e lá no blog H tem outros trechos do encontro transcritos por pedro alexandre sanches. ah, e no último trecho em vídeo, emicida, fernando anitelli (teatro mágico) e andré frateschi.

esforçando o instagram #12

edição especial 'streetart em são paulo', praticamente um capítulo à parte no meu instagram e uma das coisas mais interessantes de se procurar nas ruas da cidade. não conheço todos os artistas, então se alguém souber de algo que não foi creditado pode avisar. tamosaê.

rui amaral (viaduto da lapa)

rui amaral (viaduto da lapa)

rui amaral (viaduto da lapa)

rui amaral (viaduto da lapa)

andré "treco" farkas (rua sampaio vidal, jardins)

andré "treco" farkas (próximo à 
praça panamericana, alto de pinheiros)

andré "treco" farkas (rua pascoal vita, vila beatriz)

space invader (ladeira da memória, centro)

space invader (ao lado do teatro municipal, centro)

onesto (sobre a linha de trem, 
rua do curtume, lapa de baixo)

desconhecido (sobre a linha de trem, 
rua do curtume, lapa de baixo)


desconhecido (rua pio 11, alto de pinheiros)

silvio ? (minhocão)

desconhecido (minhocão)

desconhecido (em frente à quadra da vai-vai, bixiga)

desconhecidos (rua conselheiro crispiniano, centro)

desconhecido (rua fradique coutinho, pinheiros)

desconhecido (rua pascoal vita, vila beatriz)

desconhecido (rua oscar freire, pinheiros)

desconhecido (rua mourato coelho, pinheiros)

domingo, 21 de outubro de 2012

yahoo #50

atolado por duas semanas na campanha não consegui escrever o texto da semana que passou para o yahoo (terei o mesmo desafio na semana que está começando), então pedi ajuda ao colega timpin pinto que, por sua vez, vinha falando comigo para ajudar a divulgar seus textos recentes. sempre achei que timpin tem tudo a ver com o ultrapop e foi interessante fazer esse teste (o texto teve mais de 800 'likes' no facebook e quase 400 comentários, números ótimos). e lá veio timpin em sua cruzada para saber quem roubou quem no faroeste da música POPULAR brasileira.


nope


MICHEL TELÓ EM PELE DE CORDEIRO

Tenho uma dívida eterna com Timpin Pinto, afinal ele é (com certeza é) o cara que mais conhece a verdadeira música popular brasileira do século 21. E não é a tal “curiosidade antropológica”, pois o cara gosta profundamente de tudo que ouve (e isso vale também pro que não gosta). Foi através dele e de seu Cabaré que conheci os eletromelodys paraenses, as swingueiras baianas, os bregas-funks pernambucanos e por aí vai. Mas tem outra: Timpin gosta e não foge de briga. O sujeito que já foi ameaçado de morte por gente ligada ao submundo do forró agora está numa missão de desconstruir a fama de bonzinho de Michel Teló, o multimilionário homem de um sucesso só. Pedi permissão ao Cabaré para reproduzir aqui no Ultrapop uma versão ligeiramente editada de “A verdadeira (e sórdida) história de Michel Teló”. Vai que é sua, Timpin!

Recentemente Michel Teló foi pra mídia reclamar que o Ministério da Cultura se recusou a ajudá-lo em um documentário através da Lei Rouanet. O cantor queria um milhão e trezentos do governo (entenda-se, do povo que paga os impostos que sustentam o governo) para documentar seus passeios pela Europa, na esteira do sucesso de “Ai se eu te pego” que, diga-se de passagem, tem sua autoria até hoje contestada na justiça. Na entrevista ao site Universo Sertanejo ele não consegue deixar de transparecer sua arrogância. Declarou que com seu hit levou “...o nome do país pra fora, o país voltou a ser notícia por algo de cultura”

A questão é que Michel Teló pousa de mocinho e de mocinho ele não tem nada. Quer desmascará-lo? Pergunte qual foi a verdadeira história da saída de sua antiga banda, o grupo Tradição, do Mato Grosso do Sul. Peça para Michel Teló explicar porque a banda se dilacerou, com todos os membros, que tocavam juntos há anos, partindo cada um para lado. Essa história nunca foi bem contada. Aliás, essa história nunca foi contada, apesar de que todo mundo que trabalha nos bastidores do mercado sertanejo saiba. Mas o público e os fãs não sabem. Por isso este cabaret vai trazê-la à tona.

Tudo começou em 2008, quando o grupo Tradição estava finalizando seu DVD Micareta Sertaneja 2. O anterior tinha rendido um disco de ouro e uma apresentação no Domingão do Faustão. Tinha tudo para não só repetir a dose como ainda apresentá-los para o resto do Brasil, já que seu sucesso ainda era regional. Ocorre que quando tudo já estava pronto, inclusive a arte final do DVD, Michel e seu irmão Teófilo Teló, disseram que as oito músicas que estavam registradas na editora Panttanal, que era deles, só seriam liberadas mediante ao pagamento de uma pequena fortuna por cada uma. Valores absurdos, completamente acima do valor do mercado.

Naturalmente a banda declinou da proposta, alegando que se fosse o caso, excluiriam as tais oito músicas e seguiriam em frente. Então os dois rebateram: se fosse feito assim, os direitos de uso das imagens do cantor não seriam liberados. O que se seguiu foi uma discussão que, segundo fontes seguras, chegou às vias de fato. Em seguida foi convocada uma entrevista coletiva no qual Michel Teló anunciou sua carreira solo, tranquilizando os fãs de que cumpriria a agenda de shows já vendidos, permanecendo na banda por seis meses. Isso depois de cantar na banda a mais de dez anos (ele foi descoberto pelos empresários do Tradição quando ainda era adolescente).


Durante meio ano a banda se apresentou por toda a região Sul e Centroeste disfarçando nos palcos o clima horrível que imperava nos bastidores. Chegou agosto de 2009, Michel desligou-se da banda, levou toda a estrutura de palco e ainda estreou solo usando nos cartazes de divulgação a expressão “Micareta Sertaneja”. Deixou pra trás uma banda falida e despedaçada. Todos os outros membros saíram, com exceção do guitarrista Wagner Pekois que insistiu em tentar o que na época era considerado por todos uma louca utopia, recomeçar do zero.

E foi o que ele fez. Inicialmente viajou ao Rio Grande do Sul e em Ijuí recrutou os irmão Guilherme e Leonardo Bertoldo, cantor e baterista do grupo Os 4 Gaudérios, respectivamente. Da banda sul matogrossense Zíngaro contratou o sanfoneiro Jefferson Villava, o baixista Leandro Azevedo e o percussionista Marcio Pereira. Com a formação nova gravaram o disco Caixinha de Surpresas e caíram na estrada por dois anos até adquirirem a sinergia e a verba necessária para a gravação de um novo DVD.

O DVD Tô de Férias acabou sendo um dos melhores lançamentos sertanejos de 2010, apesar da baixa repercussão que teve na mídia. E assim o Tradição continua na batalha até hoje. Recentemente lançaram um single de sucesso, chamado “Ui, adoro” que, apesar não tocar nas rádios, já teve mais de um milhão de downloads.

Só que a lei do karma ruim é implacável. A música “Ai se eu te pego” pode estar tocando no planeta inteiro, mas o sucesso de Michel Teló é uma bolha, uma mera ilusão porque ele não tem fãs. Ao contrário da maioria dos cantores que saem de suas bandas e se lançam em carreira solo, os fãs do Tradição não migraram para o lado do cantor, muito pelo contrário, permaneceram ainda mais fiéis à banda, sendo praticamente uma extensão do departamento de divulgação. Enquanto a preocupação de Michel é ganhar mais e mais dinheiro, o Tradição segue apostando na construção de uma carreira artística de qualidade.

O dia em que algum empresário visionário resolver investir no Tradição, o Brasil irá conhecer um dos melhores shows da atualidade. Se no momento Michel Teló é um dos artistas mais saturados do país, certamente o Tradição é o segredo mais bem guardado. Quem vai entrar na história como o mocinho e quem vai entrar como o bandido, só o futuro dirá. Mas não é muito difícil de adivinhar.

sábado, 20 de outubro de 2012

mulheres, sangue e champanhe

já tem uns dias que o belíssimo clipe de "sangue é champanhe" está rolando pela rede. queria ter comentado antes, mas a correria anda braba. conheci o rapper don l em 2008, quando o entrevistei para o gafieiras. na época ele era integrante do grupo costa a costa, um das mais instigantes revelações do rap nacional dos últimos tempos (acho a mixtape dinheiro, sexo, drogas e violência de costa a costa, de 2007, uma das grandes obras musicais dos anos 2000). daí que don l começou a fazer seus próprios sons e novidades não tardaram a aparecer. mais eletrônico, pesado e diverso, o rap do cearense também ganhou novos temas, menos periféricos, o que já se rascunhava nas rimas do costa a costa. agora ele está prestes a lançar, numa batelada só, duas mixtapes solo: caro vapor e vida premium beta. mas vou parar com o blábláblá... com vocês, "sangue é champanhe", com participação de flora matos.

Sangue é Champanhe_Don L. feat. Flora Matos from LuckyBastardsInc on Vimeo

pra quem espera o clima chavão de rap (quebradas, crime, cidade cinza, etc.), "sangue é champanhe" é uma surpresa e tanto. mulheres lindas, nuas, paisagens deslumbrantes ao redor do brasil e mundo, diversão, prazer, brincadeira, bebidas, comidas, tudo em clima tranquilo de hedonismo (enquanto don rima suavemente sobre a volatilidade da vida e dos afetos). a direção é da dupla erica gonsales e autumn sonnichsen (que pouco antes tinham feito o igualmente belo vídeo "one day"). ah, e tem uma entrevista boa com o cearense no portal da mtv.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

com esse jeito faz o que quer de mim

idealizado e produzido pelo jornalista jorge wagner (e lançado pelo fita bruta), o ótimo tributo jeito felindie presta homenagem ao cancioneiro romântico pagodeiro do raça negra. no facebook, wagner declarou o seguinte:

“por uma série de fatores, o ano de 2009 ainda figura como o pior da minha vida. e como todos nós precisamos de marcos vez em quando, eu torcia para que aquele ano acabasse. nessa torcida, fui convidado por uma amiga para ver a entrada de 2010 em rio das ostras, com ela, alguns de seus amigos e familiares. a trilha sonora desses dias foi uma só: o dvd de 25 anos do raça negra, uma banda onipresente na minha infância, mas com a qual não tinha mais contato desde a metade da adolescencia. percebendo que após tanto tempo, ainda era capaz de lembrar letras e melodias inteiras, sorri... e cantei.

ao longo de todo o ano seguinte (quando, de fato, as coisas começaram a mudar), o assunto ‘canções que o tempo não apagou’ voltou à pauta algunas vezes - fosse com o pagode versions ou com as gravações de sertanejo feitas pelo rufatto. e continuou aparecendo em 2011, com aquela guria que ria descrente e perguntava: "vocês realmente gostam dessas coisas?!"; com a audição dos ep de ‘couves’ da letuce, com uma ida ao boliche em vassouras com amigos, com um show da orquestra superpopular numa praça da cidade onde eu e um dos membros do grupo crescemos e regulamos série na escola.

esse projeto é fruto dessas histórias, dessas ideias, em comum com outras histórias e outras ideias de pessoas que admitem não terem crescido ouvindo beatles ou chico buarque. criticado, admirado e com uma repercussão absurdamente maior do que a que imaginei, ele está aqui, pronto.”


se você esteve vivo e atuante nos anos 1990 é impossível não conhecer pelos menos alguns desses hits de luiz carlos & cia. e o jeito felindie reúne versões inspiradíssimas de clássicos como “cigana” (lulina), “cheia de manias” (vivian benford), “maravilha” (giancarlo ruffato), “jeito felino” (letuce), “você não sabe de mim” (radioviernes), “é tarde demais” (harmada), “quando te encontrei” (amplexos) e “me leva junto com você” (orquestra superpopular).



atualização em abril de 2013: finalmente saiu um ótimo minidoc oficial sobre os bastidores do jeito felindie.

yahoo #49

12 de outubro, dia das crianças. queria ter feito uma coisinha mais leve, mas só consegui pensar nesse debate ainda em aberto sobre a proibição da publicidade infantil. foi o bróder fernando de almeida que me mostrou ano passado o documentário "criança, alma do negócio" que encerra esse novo texto pro yahoo, mas que acabou sendo meu ponto de partida para tentar refletir sobre o assunto (então já dá pra sacar qual meu lado da história). depois que foi publicado fiquei com uma sensação de muitas pontas soltas, mas o bagulho é complexo mesmo. 


VINDE A MIM AS CRIANCINHAS CONSUMIDORAS

Fui criança no final dos anos 1970, início dos anos 1980. Um tanto em Fortaleza e outro tanto no Rio de Janeiro. Tudo era muito diferente então – tinha até um lance chamado “ditadura militar”, vejam só vocês – e com a infância não seria diferente. A equação era mais ou menos a seguinte: mais rua, menos brinquedos, menos TV.

Sobre os brinquedos, a família não tinha muita grana e não existia lá muita variedade. Sobre a TV, não havia muita programação infantil na TV aberta. Não era bem uma questão de escolha e mais de adequação à realidade, mas acabava estimulando a imaginação e jogando as crianças pra brincarem umas com outras na rua.

O tempo passou e só voltei a ter contato com a “infância” quando familiares, amigas e amigos começaram a ter seus próprios filhos. Descobri que crianças continuam iguais, mas a infância no século 21 é muito outra (ah vá?). O primeiro sinal é muito menos rua pra brincar. O shopping e a própria casa, representada por TV e internet (esta apenas na segunda infância), entraram em seu lugar.

Os brinquedos (e games) ganharam uma sofisticação e uma variedade tão absurdas que deixariam em estado de choque qualquer criança de décadas passadas. Só que também possuem tanta informação que deixam menos espaço para crianças forjarem seu próprio imaginário. Já está tudo ali, e para a criança resta apenas a ação, o ‘play’. Já a TV, bem, a TV tomou todos os espaços. Ela hoje é entretenimento, berçário, rua, educação, babá, conforto, segurança, cultura, comodismo, estímulo e por aí vai.


Mas ó, não adianta ficar de chororô pela infância perdida de outros carnavais porque as coisas sempre mudam, é sempre assim. E cada geração tem sua própria cota de acertos e erros. A TV, por exemplo, é responsável hoje por crianças de 2 e 3 anos terem um impressionante e vasto vocabulário (às vezes, bilíngue). Por outro lado, seus comerciais geram cabos-de-guerra entre pais e filhos.

Apetitosos objetos de desejo, muitos criados junto com atrações televisivas, são esfregados nas caras das crianças a cada 30 segundos. Qual criança não quer tudo? Que pai ou mãe consegue dar tanto? Lembrando ainda que uma pesquisa do Ibope de 2007 mostrou que crianças brasileiras, entre 4 e 11 anos, passam em média 5 horas por dia em frente à TV (contra 4 horas na escola), isso é uma batalha perdida. Ainda mais em um tempo no qual pais fazem de tudo para não frustrar seus filhos (uma bobagem, afinal frustração faz parte da vida, amadurece).

Criado em 2001 pelo deputado federal Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), o Projeto de Lei 5921 “proíbe a publicidade/propaganda para a venda de produtos infantis”, mas pouco mais de dez anos depois ainda não chegou à votação no plenário. A Associação Brasileira de Agências de Publicidade obviamente esperneou e criou a campanha “Somos Todos Responsáveis”, na qual enfileira uma série de depoimentos de anônimos e “especialistas” (advogados, publicitários, políticos, apresentadores de TV, etc.). Falam de inconstitucionalidade, cerceamento da liberdade de expressão, não-tutelamento do Estado, o fim da programação infantil por falta do dinheiro dos comerciais, já existe uma agência regulamentadora (Conar) e coisa e tal.

Não falam, claro, dos problemas levantados por movimentos como o “Publicidade Infantil Não” e o Instituto Alana: ansiedade, estresse familiar, obesidade, violência e tortura psicológica, entre outros, todos decorrentes de estímulos publicitários ao consumo. Esquecem ainda que o Estado tem sim (ou deve ter) responsabilidade sobre questões sociais. Tal debate sugere três alternativas: a proibição, uma regulamentação mais rígida ou deixar como está. Assunto quente, necessário. Só não dá pra deixar os publicitários venderem, mais uma vez, gato por lebre.

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

yahoo #48

o texto mais recente do ultrapop só poderia ser sobre eleições (tá logo aí, domingão) e o recorte escolhido foi o da mobilização virtual, principalmente entre tumblrs e facebook. no texto não falo nenhuma vez o nome de fernando haddad, não era minha intenção declarar voto lá, mas tá bastante claro qual é minha escolha para prefeito de são paulo (não só porque ele é realmente o melhor candidato pr'uma cidade que vem sofrendo bastante nos últimos dois mandatos serra-kassabianos, mas também porque ele é o único que pode derrotar o coisa ruim do russomanno). simbora. 

o lugar do russomanno

POLITIZA QUE EU GAMO

Lembro que quando começou a campanha eleitoral deste ano vi inúmeras mensagens no Facebook de pessoas avisando, quase sempre ameaçadoramente, que deletariam qualquer “amigo” que postasse ou compartilhasse mensagens políticas. Que o Facebook é um residencial virtual e realmente careta todo mundo sabe e essa repulsa à política é apenas reflexo de um dos mais idiotas sensos comuns de todos os tempos.

Quer dizer, os não-políticos curtem adoidado mensagens “edificantes” sobre fotos de bebês ou cachorros fofos, mas na hora que o calo aperta, quando temos a chance de mudar algo em nossas cidades, o pessoal tira o corpo fora com o bordão “político é tudo a mesma merda”. Peraí, a gente é tudo a mesma merda? Porque, afinal de contas, político é gente, político é a gente, sem tirar nem por.

Obviamente, essa gritaria apolítica não adiantou em nada e as campanhas para prefeituras e assembleias de todo o Brasil se espalharam rapidamente pela internet, principalmente no Facebook, para o bem e para o mal. Como vivo há 18 anos em São Paulo sou bombardeado pela campanha local, mas com a internet consigo ter alguma noção do que está acontecendo em outras cidades do meu interesse: Fortaleza, Rio de Janeiro, Recife, Belo Horizonte, Belém, Salvador e Porto Alegre. Se fosse esperar pelos jornais e revistas...


Porque internet é praça pública, é o caos da vida. Tem discussão, piada, agressão, troca de ideias, uma baladinha aqui, um bandeiraço acolá. Onde mais se poderia rir, agrupar e comentar as impagáveis fotos careteiras e os micos de José Serra? Nessa eleição, o veterano candidato tucano – que está correndo o sério risco de não conseguir emplacar no segundo turno em São Paulo (numa disputa que ele estava em primeiro poucos meses atrás), – virou protagonista de três tumblrs divertidíssimos: Serra Demasiadamente Humano, Serra Loko e Serra Inova. Rir é política também.

No entanto, também foi na internet que o Coronel Telhada, ex-comandante da Rota e candidato a vereador pelo PSDB, ameaçou e incentivou agressões a André Caramante, profissional sério que cobre segurança pública pela Folha de S. Paulo. O jornalista que tanto apontou em suas reportagens um aumento de mortos por policiais em 2012 quanto os assassinatos de policiais, numa autêntica nova guerra entre Rota e PCC, foi afastado (exilado) pelo jornal por medida de segurança.

Agora, por exemplo, soube que o Coronel publica em sua página no Facebook fotos de bandidos (ou quem ele julga bandidos) assassinados pela polícia na rua. Esse tipo de material violento o Facebook demora séculos para tirar, diferente de um evento-festa que, criado na segunda feira para criticar o candidato Celso Russomanno, foi deletado duas vezes em questões de minutos (o Facebook assumiu o erro e republicou o evento “Amor sim, Russomanno não”, que acontece nessa sexta).

Toda ação, progressista ou conservadora, individual ou coletiva, gera uma reação. Isso é política. Acompanhei muita coisa interessante nesses meses, muita mobilização, várias discussões importantes sobre que tipo de cidade queremos viver. Também assisti a coisas de perder a fé na humanidade. Mas, como diria Carlinhos Cachoeira, tudo é processo.

O que quero dizer é que não adianta fugir da responsabilidade. A política somos nós, no que temos de mais bonito e feio, e assino embaixo no que o colega aqui de Ultrapop, Pedro Alexandre Sanches, disse no twitter: “Quem pensa que a política não é arte. E não é nobre. Não sabe nada. Da vida.”

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

paulo carvalho, cantautor

nunca fui um profissional de releases (musicais) para imprensa e nesses meus doze anos de profissão só tinha feito um, no final de 2008, porque foi pedido de um amigo (oga mendonça, do projeto manada), gosto do trabalho dele/grupo, presto muito atenção no rap brasileiro e gostaria de dar uma contribuição e tals. mas daí que em março ou abril, o paulistano paulo carvalho me convidou pelo facebook pra fazer o release de seu segundo disco solo (o amor é uma religião). não sei se ele tinha uma opção anterior, não o conhecia pessoalmente, mas lembrava que tínhamos falado um pouco por emails quando ele lançou seu disco de estreia em 2007 e me agradeceu pela resenha que fiz no gafieiras. fui tomado por receios ético-profissionais. e se não gostar do disco? será que vou ter que apelar pra ficção jornalística? na conversa com paulo decidimos que iria acompanhar um pouco dos ensaios em maio e da gravação em junho para ter mais informações extra-musicais. e, ufa, bastaram alguns minutos do primeiro ensaio pra ter certeza que não precisaria usar de truques para falar sobre um disco que se mostraria cheio de boas surpresas e muitas e belas canções. portanto, seguem algumas fotos que tirei nesse processo, o release em si e o disco em streaming (que também pode ser baixado gratuitamente no site oficial do paulo ou, acima, no link do disco).  



CORAÇÃO NA BOCA

O amor é um daqueles grandes mistérios, e consequentemente temas, da humanidade. Artistas e não-artistas tentam entendê-lo (e assim louvá-lo, amaldiçoá-lo, mil coisas) em verso e prosa desde que a maçã foi comida. Paulo Carvalho gosta de escrever sobre o amor e não é de hoje. Em 2007, sobre sua estreia em disco (De Longe) como cantor e compositor, escrevi o seguinte para o site Gafieiras: “Romântico, o paulistano prefere cantar dores de amor e ausências, mas devidamente colocadas em um cenário urbano e atual”.

Mas foi necessário um pouco mais de tempo e maturação para o também escritor e psiquiatra tomar coragem de se assumir definitivamente como um “cantautor”. O resultado é seu segundo disco, O Amor é uma Religião, que volta a tratar dos solavancos do coração, só que de uma forma mais aberta e ainda mais poética e autoral. O título vem de um dos versos de “Solando no tempo” – canção de Luiz Melodia, gravada originalmente em Mico de Circo (1978) –, uma das duas regravações presentes no disco. A outra é “Aeroplanos” (Jorge Mautner e Rodolfo Grani Jr.), que Mautner gravou em Mil e Uma Noites de Bagdá (1976).

Nessas duas músicas, e também nas autorais “Sóis” e “Segredo” (esta com a irmã Luciana de Carvalho, parceira habitual), existem ligações evidentes entre amor, Deus e religião/crença, como sugere o título desse disco de 12 faixas. Mas na verdade o amor-religião de Paulo Carvalho é feito de belezas e mistérios muito próximos, em nada distantes ou idealizados. Tanto faz ganhar ou perder, o importante é se encantar e se entregar. Amor é vida, o resto é ficção.

É notável a coragem de Paulo Carvalho enfrentar o amor (logo o amor) dentro do historicamente fértil terreno da canção popular brasileira, e ele se sai muito bem nas suas escolhas poéticas, mas teve ainda a grande sabedoria de chamar um afiado quarteto de músicos-arranjadores para todo o disco.

Três deles possuem uma longa convivência no grupo Cidadão Instigado: Dustan Gallas (teclados), Rian Batista (baixo) e Régis Damasceno (guitarra e violão). Rian e Régis haviam tocado na estreia discográfica de Paulo Carvalho e agora o guitarrista é co-produtor ao lado de Yury Kalil (que também co-produziu a estreia de Paulo, mas na época ao lado de Fernando Catatau, o líder do Cidadão Instigado). O baterista Richard Ribeiro poderia ser um estranho no ninho, mas toca com Régis em seu projeto solo (Porto) e na banda de Marcelo Jeneci (e de lá veio Laura Lavieri que cantou junto de Paulo na delicada “Miragem”), além de também colaborar com o Cidadão Instigado.

Nos ensaios, a familiaridade de uns com os outros era patente em quão rápido e fácil encontravam soluções e caminhos para cada música de O Amor é uma Religião. Uma psicodelia aqui, uma bossa nova acolá, pitadas de futurismo, umas colheres de Jovem Guarda, um jeito Caetano Veloso, uma valsinha com clima de praia, uma guitarra Lulu Santos, rocks variados e assim por diante em um disco repleto de surpresas sonoras. Tudo isso, todo esse clima leve, ajudou Paulo a ter mais confiança e lá se foi o rapaz arriscar em espanhol (“Inmersión”) e inglês (“Dreamer”, parceria com Régis) e assinando canções com Pélico (“Teu nome”) e Pecker, cantor e compositor espanhol que veio até São Paulo gravar uma participação em “Inmersión” (além de terem feitos juntos “Segredo”). O amor, esse mistério, nos dá força pra cada coisa.



p.s.: as fotos acima foram tiradas durante os ensaios, que aconteceram no estúdio loop, a as que seguem abaixo nas gravações nos estúdios mosh.


yuri kalil (co-produção)

dustan gallas (teclados)

rian batista (baixo)

régis damasceno (guitarras, violão e co-produção)

richard ribeiro (bateria)

laura lavieri (voz) e tony berchmans (acordeon), 
participações especiais em "miragem"