quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

charangas me mordam

nos últimos tempos, o pobre e esquecido carnaval de rua paulistano vem ganhando um fôlego novo. a cada ano surgem blocos novos - agora em 2013, por exemplo, tem o bloco soviético (dia 2, 16h) - e projeto especiais como a espetacular charanga do frança. big band liderada por um dos homens que mais trabalha na música de são paulo, o saxofonista thiago frança (sambanzo, criolo, metá metá, marginals, etc.), a charanga tem se apresentado às quartas no centro cultural rio verde e é um das maiores delícias de ouvir e ver (olha aqui o poder deles ao vivo). tem show hoje, dia 30, e na quarta que vem, dia 6 de fevereiro. o repertório vai de marchinhas clássicas como "taí" até versões inusitadas de canções como "cheia de manias" (raça negra), "lama" (mauro duarte) e "retalhos de cetim" (benito di paula), passando por composições próprias da pesada como estas três que o frança disponibilizou em seu canal no youtube.







o grupo é formado por thiago frança (sax alto), anderson quevedo (sax barítono), amílcar rodrigues (trompete), didi machado (trombone), emerson bernardes (cavaquinho), samba sam (surdo), tony gordin (reco) e pimpa moreira (bateria). e aqui abaixo fotos dos shows que fui nos dia 16 e 30 de janeiro, e 6 de fevereiro, respectivamente.




terça-feira, 29 de janeiro de 2013

yahoo #62

meio nonsense (ou não) esse texto do yahoo sobre música popular brasileira, cavalos, a derrocada do macho moderno, etc. e tal. e tudo teve início com o vídeo que tá lá no pé do post. agora, lá no ultrapop, "as charges e a dor".




MÚSICA POPULAR DE CAVALGAR

Você não sabe que a cavalo dado não se olham os dentes? Pois então, lugares comuns equinos não faltam à música popular brasileira. Primeiro vieram os reais cantados pelo caipira/gaúcho/sertanejo, tais como “Cavalo Baio” (Brinquinho & Brioso), “Cavalo Preto” (Palmeira & Luisinho), “Como é Burro o Meu Cavalo” (Bob Nelson), “Cavalo Zaino” (Raul Torres & Florêncio), “Cavalo Enxuto” (Jacó & Jacózinho) e “Cavalo Crioulo” (Luiz Gonzaga).

Mas a partir dos anos 1970, o cavalo ganhou diferentes usos na música popular, desde a viagem mística-suingante-elétrica de “Cavaleiro do Cavalo Imaculado” (Jorge Ben) até o revisionismo regionalista de crítica social de “Ventania (De Como um Homem Perdeu Seu Cavalo e Continuou Andando)” (Geraldo Vandré), passando pela euforia de “Cavalo das Alegrias” (Marku Ribas), a liberdade de “Cavalo Bravo” (Renato Teixeira), e os delírios de “Cavalo Ferro” (Fagner) e “Cavalo de Pau” (Alceu Valença). Só que o duplo sentido acabou ganhando a batalha. Em “Cavalgada”, lançada em 1977, Roberto Carlos e Erasmo Carlos transformaram o simples ato de trotar numa explosão de sacanagens românticas (sim, isso é possível). Nada mais foi o mesmo.


Aí, meu amigo e minha amiga, quando a sacanagem entra na parada não sobra pra mais nada. Potrancas, por exemplo, se multiplicaram nos axés baianos e pancadões cariocas e encontraram com garanhões e pangarés que sumiram dos pastos para ganharem as cidades. E essa cavalgada seguiu em ritmo de festa até ser interrompida brevemente pelo sucesso, em 2003, da quase infantil “Eguinha Pocotó”, de MC Serginho (e Lacraia, in memoriam).


Hoje em dia, o cavalo se encontra numa encruzilhada. Ou vai para o brejo de vez, já que até no campo foram substituídos por Camaros, Dodges Ram e até helicópteros. Ou então fica na eterna dúvida se é dominado ou se domina como em “Vai Cavalinho” (Forró da Curtição), provável hit do verão baiano do Trio da Huanna. Certo mesmo é que estrelas mudam sempre de lugar, sua cavalgadura!



p.s.: o gatilho desse texto surgiu quando yuri de castro postou no facebook o vídeo de um casal muito bêbado dançando "vai cavalinho" em algum lugar no espírito santo. depois colocaram uma versão extendida no youtube e a parte do cavalinho começa no 5:22. coisa mais linda é ver gente feliz, né?

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

e o nanquim semeou a terra

conheci cuttlas nas páginas da revista animal, nos anos 1980, e nunca mais tinha ouvido falar desse caubói malandro criado com poucos traços pelo espanhol calpurnio até que, no final do ano passado, foi lançado aqui no brasil o livro-compilação o bom e velho cuttlas (zarabatana books, 2012). bom humor, crítica, ótimos personagens, deboche, metalinguagen, enfim, leitura das mais divertidas. foi aí que descobri que calpurnio continuava produzindo novo material para cuttlas - desde 2004 está na versão impressa e digital do diário 20 minutos - e que o personagem completa 30 anos de vida nesse 2013. descobri ainda que entre 1992 e 1994 foi produzida uma série animada (cuttlas microfilms) em 13 episódios com o personagem e achei um deles no youtube. 





p.s.: poucos dias antes de adquirir esse livro do cuttlas comprei uma camiseta na el cabritón, aqui em são paulo, onde se lê "caffeine & cigarette. what else?". qual não foi meu espanto quando vi, tanto no livro quanto neste video acima, que uma das falas famosas de cuttlas é algo como "tenho café e cigarros. o que mais necessita um homem?". pois então, caro pistoleiro...

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

y san pablo cumple años...

459 anos, para ser mais exato. quando começou esse 25 de janeiro de 2013 estava ouvindo diablos del ritmo: the colombian melting pot (1960-1985), o mais recente lançamento do selo analog africa, quando, entre as muitas maravilhas do álbum duplo, começo a ouvir um san pablo pra lá, san pablo pra cá. era a "cumbia san pablera", do conjunto son san, música originalmente gravada no disco el polleron (felito records, 1985). claro que a san pablo cantada era a terra natal dos son san, cidade do interior da colômbia entre bogotá e barranquilla, e não são paulo. mas e daí né? então segue "cumbia san pablera" como meu presente de aniversário pra cidade onde vivo há quase 20 anos.



e saca só a capa stáile do disco do conjunto son san.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

yahoo #61

bateu uma nostalgia lá no yahoo e acabei fazendo, sem querer, um texto que dialogava com o anterior sobre o longa o som ao redor, afinal a morte do cinema de rua tem muito a ver com o tal medo da classe média do resto do brasil. de qualquer forma, ninguém deu a mínima pelota, então o lance é bola pro mato que o jogo é de campeonato (e está no ar "música popular de cavalgar").




SAUDADE DE CINEMA DE RUA

Os primeiros filmes que vi foram em cinemas de rua, mais precisamente no Centro de Fortaleza. Dá-lhe E.T. – O Extraterrestre, Superman III, Loucademia de Polícia e Trapalhões, muitos Trapalhões. O São Luís ainda existe, mas outros como o Diogo passaram dessa pra pior (shoppings, igrejas ou a pura e simples demolição). Depois vieram os do Rio de Janeiro. Vários na Praça Saens Peña, perto de onde morava, outros tantos no Centro e alguns poucos na Zona Sul. E tome Guerreiros de Fogo, Remo – Desarmando e Perigoso, Por Incrível que Pareça, Ran e Brás Cubas. Depois ainda vieram Ribeirão Preto, Campinas e, finalmente, São Paulo. Muitos e muitos filmes em cinemas de rua, sempre.

Tinha algo de mágico nesse movimento de sair da realidade (a cidade) para entrar na fantasia (o cinema) e depois voltar com uma montanha de imagens e assuntos na cabeça. Sempre achei que cinema, literatura, quadrinhos, música, cultura de uma forma geral, fazem a gente viver mais ou, pelo menos, ter mais experiências, conhecimentos e paixões. Cultura fica na gente, por baixo da pele, nos olhos. E os cinemas de rua fazem com que essas sensações se relacionem com a cidade. Mas lá pelo final dos anos 1980 os shoppings começaram a ganhar terreno.

Primeiro como modernidade e status provinciano, e depois como refúgio de classes médias e elites contra uma cidade que lhes parecia cada vez mais assustadora (é o medo do outro, do diferente, do Brasil, como se pode ver no longa O Som ao Redor, assunto que tratei em “Nem todos estão surdos”). Daí que os cinemas de rua foram sendo abandonados em nome de uma bolha de segurança e vitimados pela sempre esperta especulação imobiliária.


Mas não adianta chorar pelo fotograma derramado, pois os cinemas de shopping vieram pra ficar e ficou muito caro manter um cinema de rua. Talvez se houvessem incentivos públicos como isenção de IPTU, a coisa melhorasse um pouco, afinal qualquer equipamento cultural acaba movimentando a região que o cerca e isso é ótimo pra cidade.

No entanto tive sensações conflitantes quando soube que Juca Ferreira, Secretário de Cultura da nova gestão da Prefeitura de São Paulo, planeja comprar o prédio do falecido Cine Belas Artes (esquina da Consolação com a Paulista) para transformá-lo em centro cultural. Quer dizer, todo novo centro cultural é bem vindo, onde quer que seja, e a região agradeceria – bem como os que vivem, trabalham ou passam por ela – que lhe dessem uma chance contra a degradação urbana.

Por outro lado, o Belas Artes não tem nada de especial, a não ser, claro, a relação afetiva com seu frequentadores. Mas prédios também possuem seu ciclo de vida, é normal. Então, não seria o caso de usar esse dinheiro para criar equipamentos culturais em áreas menos favorecidas, como sugere Raul Juste Lores em “O elitismo da ‘compra’ do Belas Artes”? Ou que se pensem em políticas culturais melhores e mais abrangentes como diz Ricardo Queiroz em “A polêmica do Belas Artes”?

De uma forma ou de outra tem que ter pipoqueiro, boteco perto, esses gêneros de primeira necessidade de uma cidade feliz.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

esforçando o instagram #14

em tempos de andar e estar na rua, uma das imagens mais recorrentes é a de gente dormindo na calçada. sem teto, mendigos, bêbados, em sua grande maioria homens. é uma espécie de "vida em trânsito", série que fiz logo que entrei no instagram, mas que larguei mão porque fui vendo que boa parte do que fotograva poderia ser classificado assim. seguem, portanto, novas vidas em trânsito.











segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

daquele itamar em diante

lançado em 2011 em poucos cinemas, depois em DVD e, mais recentemente, encartado no livro cadernos inéditos de itamar assumpção (itaú cultural/editora terceiro nome), daquele instante em diante é documentário sensível e essencial sobre um dos maiores e mais inquietos artistas da música popular brasileira dos últimos anos. e o longa dirigido por rogério velloso agora está todo disponível no youtube em HD para que mais pessoas conheçam o nego dito, cantor da pesada, poeta raivoso e apaixonado, moderno e tradicional, e que foi embora cedo demais (10 anos, porra, em 12 de junho serão 10 anos sem ele!). pra ver, rever e ouvir muito.



aproveitando a deixa, acabei não falando de tudo esclarecido (warner music, 2012), disco de zélia duncan que saiu bem no fim do ano e somente com músicas de itamar assumpção. a cantora, como era de se esperar, aplaina o que itamar tem de mais ousado em suas interpretações. por outro lado mostra como ele pode ser pop e acessível (acompanhada de músicos como kassin e marcelo jeneci, e em duetos com martinho da vila e ney matogrosso, outro dos intérpretes mais assíduos de itamar). o resultado é irregular, algumas versões não descem ("tua boca", por exemplo) e outras surpreendem lindamente como essa "noite torta". 



atualização: rogério velloso, diretor de daquele instante em diante, também disponibilizou o documentário para download gratuito.

sábado, 19 de janeiro de 2013

se todo meridiano fosse assim

absolutamente fascinado com o som do meridian brothers, que conheci esses dias através do blog do blundetto. são um grupo de bogotá, colômbia, criado e liderado pelo guitarrista (e eventual cantor) eblis javier álvarez vargas. até agora lançaram quatro discos: meridian brothers V - el advenimiento del castillo mujer (la distritofónica, 2005), meridian brothers VI - este el corcel heroico que nos salvará de la hambruna y corrupción (la distrifónica, 2009), meridian brothers VII (la distrifónica, 2011) e desesperanza (soundway records, 2012). 

o som deles tem salsa, cumbia, humor, distorção, jazz, chicha, psicodelia, áfrica, um balanço estranho... só ouvindo. e, olha, esse desesperanza é particularmente sensacional (ainda estou ouvindo os outros). teria facilmente entrado na lista de melhores do ano passado. saca essa "salsa caliente".



ou "salsa del zombie (perseguido por alegres buitres)"



ou ainda "guaracha u.f.o. (no estamos solos...)"



p.s.: na busca por informações sobre eblis ávarez descobri que ele também faz parte do frente cumbiero, que esteve junto com o inglês quantic em ondatrópica (soundway records), um dos discos que mais ouvi em 2012. quer dizer, tava muito perto, e agora vou seguir tudo que o sujeito fizer. ah, mas antes de encerrar essa postagem faz-se necessário colocar mais uma música-vídeo, só que do disco meridian brothers VII. é a épica e maluca "tendré que luchar con los 98 carniceros que pretenden tu amor?" (que título maravilhoso, putalamierda).

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

yahoo #60

quem gosta e acompanha cinema brasileiro estava ansioso para a estreia em longas de kléber mendonça filho. um tanto por seus inspirados curtas (ficcionais e documentais) e outro por suas brilhantes, e serenas, críticas de cinema no jornal do commercio, incluindo deliciosas coberturas do festival de cannes. o som ao redor é tudo que se podia esperar de seu talento e muito mais. é o tipo de filme que dá o que pensar e fica por dias a fio maturando na cabeça de quem o assiste, melhorando a cada lembrança. e, claro, foi assunto no yahoo. o texto mais recente por lá é o "saudade de cinema de rua" e tem relação com esse.




NEM TODOS ESTÃO SURDOS


Medo. Do que pode acontecer. Do desconhecido. Do escuro. Da rua. De quem está ao lado. De tudo, tudo. Boa parte dos personagens de O Som ao Redor, longa de Kleber Mendonça Filho lançado recentemente nos cinemas, sofre desse mal tão contemporâneo e urbano. Algumas vezes com razão, mas na grande maioria fruto de um emaranhado de paranoias, delírios e preconceitos, muitos preconceitos, individuais e coletivos.

Não existe uma trama clara nessa excelente estreia do pernambucano, autor de curtas sensacionais como Recife Frio e hábil crítico de cinema. Existem pessoas de classe média e seus empregados (porteiro, doméstica, flanelinha, entregador de água etc.), uma rua em Recife perto da Praia da Boa Viagem e um grupo de seguranças particulares que chegam oferecendo... segurança (Contra o quê? Contra quem?). E, claro, um dia após o outro dia.

Tem crianças brincando no playground azulejado do prédio, a patroa que dá esporro na empregada, a moradora de apartamento que reclama porque “anda recebendo sua Veja fora do plástico”, o boyzinho arruaceiro e prepotente, uma reunião de condomínio, o cachorro que não para de latir madrugada afora, um baseado fumado escondido, um banho de mar noturno, adolescentes namorando, um argentino perdido, uma batida de carros. Tudo normal, aparentemente normal. Aos poucos, o filme vai sendo tomado por uma tensão de que algo (ruim) está para acontecer. É o medo dessa gente tomando as mais diferentes formas.


No ótimo texto “Da relação direta entre ter de limpar seu banheiro você mesmo e poder abrir sem medo um Mac Book no ônibus”, Daniel Duclos fala da Holanda onde mora para chegar ao Brasil onde nasceu e à seguinte conclusão: “O curioso é que aqueles brasileiros que se queixam amargamente de limpar o próprio banheiro, elogiam incansavelmente a possibilidade de andar à noite sem medo pelas ruas [de Amsterdam], sem enxergar a relação entre as duas coisas. Violência social não é fruto de pobreza. Violência social é fruto de desigualdade social”.

Só que no Brasil a manutenção da desigualdade – consequentemente da violência e do medo – é um bom negócio para muita gente (não só dá lucro como também elege os coronéis Telhada da vida). E grudado nisso tem o espírito Casa Grande & Senzala que ainda vive arraigado em nossas relações sociais. Arraigado e difuso, afinal hoje em dia existem milhões de senhorzinhos de engenho espalhados pelo país (a diminuição da desigualdade econômica ameniza a social, mas não a resolve).

Não precisa mais ter poder, basta achar que tem. E na rua de O Som ao Redor, como em todo o país, tem um monte de gente que quer manter as coisas como estão com seus grandes e pequenos poderes. Quanto mais desigual, melhor, e o medo é moeda de troca nesse conflito diário entre autoritarismos e subserviências.

O filme critica tudo isso observando, apenas observando. Não levanta bandeiras, não faz discursos. Mas registra inúmeros momentos no qual pessoais normais alimentam o bicho feio (real ou não) que irá lhes assustar quando colocarem o pé na rua. Quem mandou não olhar para o lado. Quem mandou não ouvir.

p.s.: Recomendáveis a leitura desses dois textos sobre o filme, “O som ao meu redor” (Marcelo Negromonte) e “Terror suspenso” (Kiko Dinucci), e a ótima divulgação que o filme tem feito no Facebook.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

brincadeira de criança

taí uma dessas belezas que só poderia acontecer por causa da internet, do digital e do amor (não necessariamente nessa ordem). refilmaram todo toy story (1995) em live-action, stop-motion, enfim, do jeito que deu. pra ir vendo aos pouquinhos, curtindo cada segundo dessa louca homenagem ao cinema e a infância.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

yahoo #59

o primeiro parágrafo desse texto foi escrito na noite do dia 31 de dezembro do ano passado (nem faz tanto tempo assim, 2012) e o resto já nesse ano nas minhas "férias" no ceará (depois aconteceu belém, mas aí é outra história). quis fazer algo diferente, mais reflexivo, pessoal, aquele tipo de texto para se reler no final do ano e avaliar o que foi feito. tomara que eu seja melhor em 2013 e que 2013 seja bonzinho comigo. simbora. enquanto isso, já no yahoo, o texto "nem todos estão surdos" sobre o excelente filme o som ao redor, de kleber mendonça filho.




DO TIPO QUE SORRI PARA FOGOS DE ARTIFÍCIO


No último dia do ano fiquei horas e horas olhando um rio em busca de uma metáfora. Para o sentido da vida, a virada de ano, coisas assim, só que não encontrei nada e acabei dando um mergulho. Quando saí da água me desequilibrei e abri um talho acima do joelho. Sangrou um tanto bom na hora... que tudo se realize... mas não doeu, nem inchou... no ano que vai nascer... e o ano novo nasceu, como sempre. Só que pra mim com uns cortes na perna, o que, obviamente, não é fato nada metafórico.

Então fiquei pensando nisso de “que tudo se realize” enquanto minha irmã borrifava um sanativo e meus sobrinhos olhavam hipnotizados. Porque desde que me entendo como gente, os telejornais do dia 31 de dezembro e 1º de janeiro fazem as mesmas perguntas mundo afora e as respostas sobre os sonhos para o ano novo são invariavelmente aquelas de sempre. Homens falam de dinheiro, enquanto mulheres, mais cuidadosas, mencionam genericamente saúde e paz. Tudo vago para agradar o bom mocismo da boca pra fora proporcionado pela TV ou que dependa de forças externas extraordinárias como sorte ou Deus.

"só pra me exibir / só pra te impressionar"

Mas antes que tudo se realize é preciso passar de ano. E lá vem o frenesi e a obrigatoriedade de ser feliz, muito feliz, durante o reveillon. Entre engarrafamentos na estrada, na praia e nas filas de banheiro, e na falta de água e luz com tanta gente amontoada em cidades e vilas que no resto do ano carecem de atenção. Alheio a tudo, o Rio Mal Cozinhado (cerca de 70 km de Fortaleza, o tal rio do início do texto) segue no fluxo de marés baixas e altas do seu encontro com o mar. Não existe ano novo no seu leito, muito menos siris espaçosos dirigindo Hilux. E quando a meia-noite se aproxima o rio continua lá impávido e em constante movimento.

Então decido jogar o relógio para escanteio na espera que os gritos e fogos anunciem que 2012 é passado e 2013 é presente e futuro. Mas e aí? O que falaria na TV sobre o que desejo para o ano? Dinheiro? Paz? Não. Saúde, talvez. “Saúde é o que interessa, o resto não tem pressa!”, grita o sempre elétrico  Paulo Cintura dentro da minha cabeça, enquanto os primeiros fogos estouram ao longe (alguém adiantado).

Mas coisas assim não dependem da gente. Nada disso é busca pessoal. Mais fogos, devem faltar uns cinco minutos. Já desencanei de procurar respostas no rio, não tem escapatória, é comigo mesmo, tá tudo no meu nome. Quero continuamente ser uma pessoa melhor (pra mim, para os que me cercam) do tipo que julga menos, ama e ouve mais. Do tipo que transforma medo em reflexão, curiosidade em ação, encantamento em paixão, músicas em amor, segundas chances em belezas totais. Bem na hora dos fogos. Fogos. 2013. Fogos. Fogos. E eu sorri. Quem sabe?


p.s.: “Brisa tropicana” é faixa de Pelos Trópicos, terceiro disco da cantora paulistana Andreia Dias, e está disponível para download gratuito.

sábado, 5 de janeiro de 2013

foi bonita a festa, pá

cultura livre é um daqueles raros espaços para a boa e nova música popular brasileira no rádio e na tv. comandado com graça e interesse por roberta martinelli, o programa ganhou uma promoção e tanto ao ser transformado em um especial de quase duas horas no réveillon da tv cultura. e ele está disponível na íntegra no youtube. olha só que belezura de atrações (tendo o terno como banda de apoio)...

o terno – “zé, assassino compulsivo”
barbara eugênia – “por aí”
barbara eugênia & tatá aeroplano – “sinta o gole quente do café que eu fiz pra ti tomar”
tatá aeroplano – “tudo parado na city”
filipe catto – “adoração”
pélico – “recado” (com tony berchmans)
tulipa ruiz – “script”
márcia castro – “29 beijos”
karina buhr – “não me tanto”
rafael castro – “pra vender mais, agradar mais, se falar mais”
kiko dinucci – “lizete”
todo mundo – “gente aberta” (erasmo carlos)
rael – “caminho” (com carlos café e dj will)
felipe cordeiro – “legal e ilegal” (com manoel cordeiro)
léo cavalcanti – “sonho parasita”
laura lavieri – “quem nasceu”
blubell – “protesto”
letuce & blubell – “que se chama amor”
letuce – “insoniazinha”
juçara marçal – “morto”
maurício pereira & juçara marçal – “trovoa”
maurício pereira – “compromisso”
o terno – “66”

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

yahoo #58

acabei usando minhas listas retrospectivas em duas colunas no yahoo: a de 10 músicas e essa de 6 clipes. tudo nacional, tudo nosso. publicando essa de clipes aqui no esforçado encerro definitivamente 2012 e agora 2013 é o que importa. bola pra frente que tem muita coisa pra fazer.



O BRASIL DE 2012 EM 6 CLIPES

Semana passada rolou por aqui uma lista com 10 das melhores músicas brasileiras do ano como parte de uma retrospectiva que tenho feito no meu blog pessoal, o Esforçado. Agora é a vez de clipes, videoclipes, que de alguma forma resumem a excelente e sortida safra audiovisual nacional (e, não coincidentemente, são de ótimas músicas) bem como a descentralização de nossa produção.

“Legal e ilegal” (Felipe Cordeiro). A última década viu nascer no Pará uma pulsante geração de artistas populares: estrelas como Gaby Amarantos, eletrônicos como a Gang do Eletro e ligeiramente MPB como Aíla, Luê Soares e Lia Sophia. Felipe Cordeiro também é desse último grupo só que traz a tiracolo uma guitarra eletrizante e bastante humor (com um bigode daqueles, só podia). O clipe de “Legal e ilegal”, música do disco Kitsch Pop Cult, pega o humor, o balanço e as cores da trabalho do paraense e lhe dão uma forma de carrossel repleto de figuraças. Direção de Bruno Reggis e Carolina Matos.


“66” (O Terno). Prova clara que São Paulo também possui senso de humor, o primeiro clipe do trio liderado por Tim Bernardes, filho de Mauricio Pereira (Os Mulheres Negras), é uma montanha russa de boas ideias e achados visuais em pouco menos de 3 minutos. Sem falar que “66” é ótimo exemplo de uma união entre senso pop, pulso de rock e inteligência (a música que fala da própria situação da música hoje em dia). Direção de Marco Lafer e Gustavo Moraes.


“Carnaval no fogo” (doo doo doo). Que o Rio de Janeiro não é mais aquele do banquinho e violão todo mundo já está bronzeado de saber, mas UPPs e funks à parte, ninguém jamais imaginou uma invasão de zumbis em um bloco carnavalesco. Esse é um dos muitos acontecimentos do divertido e estranho clipe dessa marchinha rock psicodélica retirada do disco Casa das Macacas.


“Mi vida eres tu” (Vanguart). Por mais que clipes livres, nonsense ou de colagens de imagens sejam ocasionalmente bacanas, nada como o bom e velho clipe com história, com roteiro. Ainda mais quando rola uma produção, elenco, etc. e tal. “Mi vida eres tu”, música do disco Boa Parte de Mim Vai Embora, é isso e ainda a muito bem filmada aventura romântica e violenta de um menino. É também o encontro do folk rock com a Jovem Guarda, Mato Grosso e São Paulo, o cool e o brega. Direção de Ricardo Spencer.


“Levante” (Lurdez da Luz). Uma das mais ativas vozes femininas no ultramasculino cenário rapper brasileiro, Lurdez tem aprontado das suas desde os tempos do Mamelo Sound System. Sua estreia solo em 2010 mostrou uma artista segura, engajada e bela (e com clipes ótimos como “Andei” e “Ziriguidum”). Neste ano, inquieta, começou a colocar novas sonoridades, mais eletrônicas, em sua rima e o primeiro resultado foi “Levante”, batidão politizado com clipe simples, bem iluminado e fashion. Direção de Ricardo Magrão.


“Sangue é champanhe” (Don L & Flora Matos). Já falei do cearense Don L aqui no meio do ano (“A hora e a vez do rap nordestino”), mas de lá pra cá ele lançou o mais interessante e belo clipe do ano. A música, que traz participação da brasiliense Flora Matos, fala de diversões, vida e morte, encantamentos e a volatilidade dos afetos. Enquanto isso, o clipe alterna imagens de moças muito nuas, viagens, comidas e shows, muito diferente do que se imagina em um vídeo de rap. Atenção: não recomendável para ambientes de trabalho e moralistas de plantão. Direção de Autumn Sonnichsen e Erica Gonsales.