15 dias passam depressa e cá está o texto da minha quinta coluna ultra pop. dessa vez os comentaristas não me xingaram, nem nada (tanto que foi o texto mais 'favoritado' via facebook entre todas as colunas até agora), porque simplesmente preferiram sair em defesa de chico césar, o secretário de cultura da paraíba, e sua política de valorização da música tradicional nordestina. é uma política interessante a dele, mas é conservadora também. sugeri um meio termo, mas ninguém deu bola, claro. enquanto isso, já tá rolando texto novo por lá, "chacrinha continua balançando a pança", um comparativo entre os programas de auditório de chacrinha e faustão.
A PELEJA DO FORRÓ JUNINO
Forró é para todo mundo, certo? É música de todo dia para alguns, diversão para muitos e ganha pão de outros tantos. E não é exclusividade do Nordeste, afinal tem nordestino em tudo que é canto do mundo (é de Nova York, por exemplo, o excelente grupo Forró in the Dark). Mas durante o agitado período das festas juninas, o forró vira assunto sério na região, coisa de riscar a faca no chão mesmo. Tanto é verdade que nesse ano o gênero se viu em meio a uma polêmica que começou na Paraíba e se alastrou, por meio das redes sociais, Brasil afora. É que o secretário de cultura do Estado, o músico Chico César, declarou que o governo não pagará por grupos e artistas que “nada têm a ver com a herança da tradição musical nordestina”. Não foram citados nomes – o artista Chico César não cometeria essa indelicadeza com a classe -, mas bastou defini-los como “bandas de forró de plástico e grupos sertanejos” para o arraial pegar fogo.
Ficou uma coisa assim: forró pé-de-serra X forró eletrônico ou então arrasta pé X forró universitário, folclórico X comercial e assim por diante, com direito a presença do sertanejo-estranho-no-ninho bagunçando tudo. Teve gente incomodada com o Estado – esse bicho mau, sufocante e intrometido – escolhendo o que toca e o que não toca no “Maior São João do Mundo” em Campina Grande. Em entrevista ao jornal cearense O Povo, o músico Dorgival Dantas (do hit “Você Não Vale Nada”) declarou que a atitude do colega paraibano era “safadeza, falta de atitude, covardia e besteira”. Mas teve mais gente que soltou rojão a louvar essa defesa da música de raiz, incluindo o próprio governador da Paraíba e Waldonys, o sanfoneiro herdeiro da tradição de Luiz Gonzaga e Dominguinhos.
Acho interessante e corajosa a postura de Chico César de enfrentar pressões comerciais para ter uma festa “autenticamente nordestina”. Em nota oficial, o músico-secretário – cujo último disco lançado, Francisco, Forró y Frevo (2008), foi justamente uma visão nada ortodoxa de suas raízes – defendeu-se das críticas que distorciam sua declaração. Segundo ele, não existe nenhuma proibição por parte do governo de tocar artista X ou música Y, só que o erário público não pagará por isso. Quem quiser que pague. Afinal, as tais “bandas de plástico” e os sertanejos já tocam o ano todo, sem parar, nas rádios (que são concessão pública, sempre é bom lembrar). É muita vitrine! E ainda querem tomar a festa que se tornou o último refúgio de artistas populares/folclóricos como Baixinho do Pandeiro, Cátia de França, Zabé da Loca, Escurinho, Livardo Alves e Pinto do Acordeon.
Mas não seria possível fazer uma ponte entre a tradição e a contemporaneidade, entre o popular e o pop? E misturar tudo nessa grande festa? Porque por melhor que a cultuada e tradicionalíssima Zabé da Loca seja (e é), sua música e sua poesia não dialogam tão facilmente com gerações mais novas. Outro tempo, outra velocidade, outro pique. Então não seria o caso de ter um Aviões do Forró ali no meio do furdunço chamando um público que de outra forma não conheceria Zabé, Pinto do Acordeon, etc.? A cultura popular é dinâmica e o que é “autenticamente nordestino” hoje não é o mesmo de 30 anos atrás, e a política do junto & misturado talvez seja a melhor saída para todos os forrós que existem.
Não precisava fechar as porteiras pro forró eltrônico. Precisava de uma curadoria que selecionasse bem as bandas, com destaque para as "autênticas", mas sem deixar de colocar o que muita gente quer ir ver.
ResponderExcluirEu tomaria como exemplo o carnaval do Recife. Há muito destaque para os grupos tradicionais, mas passam artistas mais populares também, assim como artistas que em tese não teriam muito a ver com o carnaval. E acaba sendo ótimo, bem misturado e divertido pra todo mundo.
Mas se o dinheiro tá curto, vale o "conservadorismo" do Chico César para segurar as pontas do São João neste mundo de plástico.
Muito bom o artigo Dafne,
ResponderExcluireu ia lembrar o carnaval do Recife como exemplo, mas vi que o colega Victor Rodrigues já mencionou...
De qualquer maneira qualquer forma de enfrentamento à música comercial me parece algo interessante!