segunda-feira, 12 de setembro de 2011

jornalismo musical, esse desconhecido

foi nos meus tempos de gafieiras que comecei a perder o interesse em fazer crítica musical. geralmente gosto de ler, e mesmo quando não concordo acho interessante, mas comecei a achar bobo (eu) falar se um trabalho era bom ou não. em um mundo tão cheio de opiniões - os críticos, na maioria das vezes e em todas as áreas, disfarçam opiniões pessoais com objetividade jornalística - achei que era mais interessante falar com o artista, tratar de suas referências, de seu trabalho, e deixar para o leitor ter suas próprias opiniões em vez de sair adjetivando por aí. claro que minhas opiniões também apareciam aqui e aqui, nas entrelinhas do texto (não existe objetividade, pronto), mas aquilo já não era crítica musical. e assim meu coração acalmou. muito bem.

umas duas semanas atrás fui convidado, e nem lembro mais por quem, a participar de uma comunidade da bizz (a falecida revista da abril que colaborei uma vez em sua última encarnação; foi o texto 'conexão entre o morro e o asfalto') no facebook. sabia que a comunidade da bizz no orkut era (e acho que ainda é) bastante intensa, mas depois de uns três dias nessa do facebook simplesmente desisti e saí. muita egotrip de jornalista, papinho furado, polêmica vazia, briga de turminhas, fofoca. "brinquedo de menino", segundo bia abramo (@biawabramo). "ufc de jornalistas musicais" nas palavras de nina lemos (@ninalemos).

mais ou menos ao mesmo tempo, o pedro alexandre sanches escreveu no farofafá o texto "criolo, o esqueleto do hype" e o circo de jornalistas musicais pegou fogo. para quem não é desse mundo (99,999% do brasil), uma breve contextualização. nó na orelha, o segundo disco do mc paulistano, foi saudado por muita gente como o disco do ano e seu autor, criolo, começou a aparecer em tudo que é lugar. com o hype veio seu irmão gêmeo, o antihype. ambos apaixonados, assertivos, totais. e nesse texto, o pedro tentou entender o fenômeno, o que era e o que não era "moda", para então chegar à música (que, segundo ele, e concordo com isso, quase sempre foi esquecida nas avaliações; apenas ser pró ou contra bastava).
daniel ganjaman (@danielganjaman), co-produtor do disco do criolo e um dos linhas de frente dessa história, elogiou o texto do pedro (@pdralex) e os dois começaram um diálogo interessante no twitter, mas fernanda couto (@sete8), assessora de imprensa do artista (e de tulipa ruiz, marcelo jeneci, etc) acabou atravessando o samba e alfinetou o jornalista ao afirmar que ele não podia julgá-lo sem também ter visto sua performance no palco. nas entrelinhas desse quiprocó, nos ditos e não-ditos, a velha rixa entre imprensa e artistas. mas nesse caso específico do criolo era uma briga que vinha acontecendo nos bastidores (hype X antihype) e que acabou vindo a tona a partir desse texto.

o bicho pegou lá no facebook e foi exatamente nessa hora que saí da comunidade. não queria saber. já tinha lido muitas resenhas, reportagens e avaliações sobre o nó na orelha. algumas entrevistas também. fora inúmeras conversas (reais e virtuais) com gente de dentro e fora da cena rapper paulistana. gosto imensamente do disco. não sei se o criolo vai emplacar como artista (e não é uma capa da serafina, suplemento descolado da folha de s. paulo, ou um dueto com caetano veloso no vmb que fará isso acontecer), mas tenho certeza que nó na orelha é um disco que vai entrar para a história. a versatilidade vocal, o carisma e as letras fortes e lotadas de referências de criolo, a produção e os arranjos inspirados de ganjaman, marcelo cabral e banda. é um grande disco de gênero indefinido porque não é rap, mas é do rap que vem toda sua essência. é ótima música popular (negra, branca, índia) brasileira. mas isso sou apenas eu dizendo, cê tá me entendendo?

mas quando achei que tinha saído, "eles" me puxaram de novo. foi no sábado que @igordisco (que também escreveu sobre aqui) me passou o link para um texto do daniel ganjaman espinafrando o jornalismo musical brasileiro a partir da comunidade da bizz no facebook. ele compilou uma série de frases polêmicas, quase todas de josé flávio jr. (bravo) e algumas poucas de alex antunes, tirou algumas fora de contexto, deu aquela generalizada e desceu o pau. algumas de suas críticas são bastante pertinentes, principalmente quando fala de leviandade de certas avaliações (polêmica gera audiência, todo mundo sabe), mas seu jeito irônico-agressivo acaba deixando transparecer uma dificuldade para lidar com críticas (negativas). sem falar no velho chavão, pretensamente deslegitimador, de que todo crítico é um artista frustrado ou então de que ele "apenas" escreve, não cria.

logo depois, o marcelo santiago (@meiodesligado) postou no blog meio desligado sua avaliação pessoal (bastante ponderada) do evento e uns printscreens com a continuação desse bate-boca, agora com as principais partes envolvidas (ganjaman, alex antunes e flávio jr.), lá no facebook. tiroteio pra lá, tiroteio pra cá e se de alguma forma eu também não estivesse envolvido nessa história (ossos do ofício) teria uma preguiça desgraçada de entendê-la, principalmente por questões escancaradamente pessoais entre ganjaman e flavio jr. isso me fez lembrar uma frase do livro de anthony bourdain (ao ponto) que estou lendo: "usar a função de crítico para resolver pendências pessoais o coloca no mesmo pântano interesseiro de seus colegas que usam o poder para obter vantagens pessoais". isso vale para ambos os lados e dá pano pr'algumas reflexões.

não acredito que o jornalismo musical - essa "especialização" criada no final da década de 1960 - no brasil vá mal. acho que estamos passando por uma entressafra. os "revolucionários" das décadas de 1980 e 90 já andam meio barrigudos, mal humorados e ocasionalmente perdidos nesse mundo novo descentralizado, sem certezas. a garotada dos anos 2000 ainda precisa descobrir que música não é tudo. mas também existem pessoas de gerações distintas que já se ligaram nisso e que mesmo assim mantém aquele tesão, aquela curiosidade pelo que é produzido ontem e hoje, aqui e no mundo, e pra além de seus gostos pessoais. agora, pra mim, curiosidade e tesão são diferentes de deslumbramento e tendência. e sinceridade é mais interessante que cinismo. no mais, tem espaço pra tudo nesse mundo e é assim que tem que ser. e cada um que faça o seu filtro, que busque sua turma. como eu nunca fui de turmas...

também não acho que artistas independentes (e sua entourage) sejam coisinhas puras de deus e nem os jornalistas demônios armados de iphones. a coisa não funciona assim. todo mundo pode ser alvo de críticas ou piadas. resta saber se são boas ou não, e se você aí sabe lidar com isso. "se nem jesus agradou a todos", diria algum comentarista ululante de grandes portais.

agora, pra encerrar, que esse texto já ficou mais longo que deveria, gostaria de falar um pouquinho sobre uma das acusações do antihype criolo: a do lobby na imprensa. acho que já passou da hora de encararmos o lobby como uma coisa natural do sistema. e quando digo lobby não me refiro a jabá. tentar vender seu peixe é uma coisa. empurrá-lo contra a vontade de outrem é diferente. quer dizer, é tão imaturo fingir indignação com a existência de algo que efetivamente existe (e que, a princípio, não é errado), fora que é ingênuo achar que a grande mídia e interesses privados estão criando um monstro-produto. a grande mídia não consegue nem mais eleger presidentes, um assunto que lhes interessa diretamente, quanto mais artistas pop. fora que o tal sucesso de criolo é totalmente entre aspas. 95% do país não sabe que ele existe e ainda mais pessoas não estão nem aí para o que o andré forastieri pensa dele.

falta humildade. falta interesse. falta voltar pra rua e abrir os ouvidos. falta discutir com pessoas diferentes. sobra se esparramar na redação à espera dos discos mandados pelas assessorias ou de link exclusivos. sobra a correria para ser o primeiro a falar da novidade da hora nas redes sociais. nesse universo umbigo quem mais perde são os jornalistas que, pouco a pouco, se vêem escrevendo para seus 13 amigos de cerveja e por alguns míseros 'curtir' no facebook. exatamante como talvez eu esteja fazendo agora...

damn!

atualização em 20 de setembro: e fernanda couto e daniel ganjaman fizeram ressalvas e comentários sobre o texto na janela de comentários, mas resolvi colocar aqui também pra enriquecer a discussão e não deixar "escondido" na janela de comentários. seguem...

fernanda couto: "oi Dafne, só corrigindo, não "atravessei" nenhuma conversa entre PAS e Ganja, até porque quando direcionei uma pergunta ao PAS no sábado de manhã, Ganja não estava nem online. questionei se PAS já tinha assistido a um show e ele respondeu que não."

daniel ganjaman: "Olá, Dafne. Gostei do seu texto e apesar de discordar de certos pontos, fico feliz de ver o assunto sendo discutido assim, abertamente. Gostaria de incluir algumas ressalvas, se me permitir.

A Fernanda Couto tem toda razão de fazer a correção, já que a conversa entre ela e o PAS foi "atravessada" por mim, e não o contrário. A discussão no caso tinha foco muito mais na capa da Serafina do que um confronto entre hype X antihype. Achei pertinente dar essa atravessada pois percebi que haviam outros pontos na conversa dos dois, em função do envolvimento da Fernanda com o trabalho e a posição "antifolha" que o Pedro faz questão de ressaltar sempre que tem a oportunidade. Na minha opinião, isso de certa forma deslegitimava um pouco os discursos, mas achei tudo super saudável e natural.

Em relação ao meu texto, gostaria só de deixar claro que não disse em momento algum que "todo crítico é um artista frustrado". É fato que um trabalho depende do outro, mas acho que essa forma comum de encarar o assunto diminui (e muito) a discussão. Críticas construtivas são sempre bem vindas e os textos que mais gostei sobre o trabalho do Criolo foram também os únicos que apontaram os defeitos do disco, escritos pelo próprio PAS (para o portal ig) e pelo Arthur Dantas (para a revista +Soma). O que eu questiono ali não são críticas. São todos os pontos também apontados por você no texto, como "egotrip de jornalista, papinho furado, polêmica vazia, briga de turminhas, fofoca".

No mais, concordo com oque você falou e aceito também suas críticas ao meu texto de forma construtiva, como deve ser. Abs! Daniel Ganjaman"

10 comentários:

Fernanda Couto disse...

oi Dafne, só corrigindo, não "atravessei" nenhuma conversa entre PAS e Ganja, até porque quando direcionei uma pergunta ao PAS no sábado de manhã, Ganja não estava nem online. questionei se PAS já tinha assistido a um show e ele respondeu que não.

dafne disse...

olá fernanda, não coloquei o 'atravessar' num sentido de tudo ao mesmo tempo, tanto que tomei cuidado em não colocar datas exatas. mas entendo sua correção.
acompanhei todas as conversas e na sua com o pas rolou uma tensãozinha no começo. foi respeitosa, mas um tantinho tensa.
no mais, valeu pelo comentário, tanto aqui quanto no facebook. é sempre bom conversar abertamente.

Dafne Sampaio disse...

olá daíse, prazer é todo nosso. a casa é sua.

Daniel Ganjaman disse...

Olá, Dafne.

Gostei do seu texto e apesar de discordar de certos pontos, fico feliz de ver o assunto sendo discutido assim, abertamente.

Gostaria de incluir algumas ressalvas, se me permitir.

A Fernanda Couto tem toda razão de fazer a correção, já que a conversa entre ela e o PAS foi "atravessada" por mim, e não o contrário. A discussão no caso tinha foco muito mais na capa da Serafina do que um confronto entre hype X antihype. Achei pertinente dar essa atravessada pois percebi que haviam outros pontos na conversa dos dois, em função do envolvimento da Fernanda com o trabalho e a posição "antifolha" que o Pedro faz questão de ressaltar sempre que tem a oportunidade. Na minha opinião, isso de certa forma deslegitimava um pouco os discursos, mas achei tudo super saudável e natural.

Em relação ao meu texto, gostaria só de deixar claro que não disse em momento algum que "todo crítico é um artista frustrado". É fato que um trabalho depende do outro, mas acho que essa forma comum de encarar o assunto diminui (e muito) a discussão. Críticas construtivas são sempre bem vindas e os textos que mais gostei sobre o trabalho do Criolo foram também os únicos que apontaram os defeitos do disco, escritos pelo próprio PAS (para o portal ig) e pelo Arthur Dantas (para a revista +Soma). O que eu questiono ali não são críticas. São todos os pontos também apontados por você no texto, como "egotrip de jornalista, papinho furado, polêmica vazia, briga de turminhas, fofoca".

No mais, concordo com oque você falou e aceito também suas críticas ao meu texto de forma construtiva, como deve ser.

Abs!

Daniel Ganjaman

dafne disse...

legal, ganjaman
muito obrigado pelo comentário e pelas ressalvas. vou aproveitar e postar junto com o texto tanto o seu comentário quanto o da fernada pra não ficarem "escondidos" aqui na janela. valeu.

Anônimo disse...

Eu ouvi o cd inteiro doi criolo e percebi que é igual a mpb da maria gadú a diferença é que o criolo fala " girias da quebrada "
mais é a mpb " agua com açucar " igual da maria gadú ! até !!

Anônimo disse...

Eu ouvi o cd inteiro doi criolo e percebi que é igual a mpb da maria gadú a diferença é que o criolo fala " girias da quebrada "
mais é a mpb " agua com açucar " igual da maria gadú ! até !!

Anônimo disse...

Eu ouvi o cd inteiro doi criolo e percebi que é igual a mpb da maria gadú a diferença é que o criolo fala " girias da quebrada "
mais é a mpb " agua com açucar " igual da maria gadú ! até !!

Unknown disse...

Primeira vez por aqui, em busca de conhecimento e de parceria comercial para o meu trabalho,

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Anônimo disse...

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