na edição de julho da revista Monet saíram dois textos meus. um sobre a saga Karatê Kid e esse aqui, sobre Como Treinar Seu Dragão, filme que tenho certo carinho, pois a trilogia de animações foi uma das paixões da minha filha em dado momento da primeira infância. e assisti o atual live-action com ela no cinema. pro texto da Monet pesquisei muito sobre a autora dos livros que deram origem a esse universo, a inglesa Cressida Cowell, o que acabou virando o fio narrativo da coisa toda.
DRAGÕES: MODO DE USAR
Depois de três longas de animações e algumas séries, Como Treinar
Seu Dragão ganha carne, osso e computação gráfica em elogiada live-action
Era uma vez uma menina que cresceu passando as férias de verão com a família numa pequena ilha de uma casa só na costa da Escócia. Foi lá que ouviu do pai histórias de vikings que moraram lá mais de 1000 anos antes e de dragões que viviam em cavernas nos penhascos. Também foi lá que essa menina começou a escrever e desenhar suas próprias histórias de vikings e dragões. Tinha 9 ou 10 anos. Seu nome, Cressida Cowell, inglesa que mais tarde tornou-se escritora de livros infantis e infanto-juvenis, ocasionalmente também os ilustrando, até que, aos 37, lançou seu grande sucesso, Como Treinar Seu Dragão.
Publicado em 2003, o livro apresentou ao mundo Soluço, um jovem viking hesitante em manter a tradição de seu povo em odiar e matar dragões. Principalmente após seu encontro com um dragão poderoso, temperamental e muito amigo, o Soluço. O livro foi um sucesso tão grande que Cressida Cowell expandiu o mundo de Soluço e Banguela por outras 11 publicações (a última, How to Fight a Dragon’s Fury, é de 2015).
“Eu queria escrever uma história sobre um menino que estava com dificuldade para se ‘encaixar’ com os colegas e corresponder às expectativas do pai. Soluço tem onze anos no início do livro. Acho que é uma idade muito interessante, pois é quando uma criança começa a deixar a infância para trás e entra na adolescência. Nessa idade, as crianças começam a se perguntar que tipo de adulto serão. Soluço é muito diferente do pai, e isso é difícil para ele. As crianças muitas vezes pensam que ‘deveriam’ ser como os pais, e pode levar algum tempo para que percebam que não há problema em ser elas mesmas, em encontrar seu próprio jeito de fazer as coisas”, disse, em seu próprio site, a escritora que começou a escrever profissionalmente aos 33 anos, logo após ter a primeira filha (Maisie). Muitos livros vieram depois e mais dois filhos (Clementina e Alexander).
DAS PÁGINAS PARA AS TELONAS E TELINHAS
No entanto, não muito tempo após seu lançamento, os direitos de adaptação do livro de vikings e dragões de Cressida foram comprados pela DreamWorks, a principal concorrente da Disney em termos de animação, e que em sua primeira década de existência criou três franquias de sucesso: Shrek, Madagascar e Kung Fu Panda. Para fazer do livro uma possível quarta franquia, a DreamWorks contratou Peter Hastings (que recentemente dirigiu Homem Cão), mas sua adaptação muito fiel ao livro mirava um público mais infantil, e o estúdio queria mais. Chamaram então Dean DeBlois e Chris Sanders, a dupla que criou, para a Disney, o bem sucedido Lilo & Stitch (2002), e lhes deu carta branca.
O livro virou mais uma inspiração para o filme, um ponto de partida. E tudo bem para Cressida Cowell. “Não tenho palavras para descrever o quão emocionante é ver suas criações ganharem vida própria na tela grande. Isso é particularmente importante para mim porque é uma história muito pessoal – Stoico foi baseado no meu pai, e a ilha de Berk é um lugar real onde passei muito tempo na infância – então é profundamente gratificante que a história seja contada no filme com tanto coração e emoção, além de uma animação tão linda”, disse a escritora.
Aliás, um dos grandes achados do primeiro Como Treinar Seu Dragão foi a consultoria de um diretor de fotografia de filmes “de verdade” para dar mais realismo e profundidade de luz e sombra para a animação. O responsável foi o mestre Roger Deakins, conhecido por seus trabalhos com os irmãos Coen, Sam Mendes e Denis Villeneuve.
Outro grande achado foi o elenco de vozes: Jay Baruchel faz um Soluço frágil, criativo e bem humorado; Gerard Butler coloca seu vigor espartano no chefe Stoico; America Ferrera coloca pitadas de vigor latino na jovem guerreira Astrid; Craig Ferguson é um perfeito Gobber, o Bocão; além dos coadjuvantes Jonah Hill, Christopher Mintz-Plasse, Kristen Wiig, TJ Miller e David Tennant.
“Foi incrível assistir ao processo de produção do primeiro filme. Levou sete anos para ser feito, e a arte e a criatividade dos animadores, diretores, roteiristas, sem mencionar os atores, foi tudo realmente impressionante. É um pouco alucinante pensar que uma história que começou na minha cabeça agora está dando prazer a tantas pessoas ao redor do mundo”, afirmou a escritora. E, sem pestanejar, declarou que “tudo nos filmes é fiel ao espírito dos livros, todas as mensagens sobre como precisamos cuidar do meio ambiente, das criaturas selvagens e dos lugares neste belo mundo em que vivemos. E o tipo de líderes de que precisamos, líderes gentis, inteligentes e imaginativos como Soluço, que têm ideias criativas”.
O mundo daquela menina da ilha cheia de histórias então se expandiu, a partir de 2010, em três longas de animação, cinco curtas e quatro séries de TV/streaming. E agora, em 2025, Como Treinar Seu Dragão ganhou sua primeira versão live-action (novamente sob direção de Dean DeBlois).
“Me sinto muito protetor com os personagens e esses mundos. Tenho muito orgulho dos filmes de animação, mas senti que poderia colocar um ponto final nisso, como se esses três atos se tornassem agora uma história maior de amadurecimento”, explicou o cineasta Dean DeBlois para o site da Animation Magazine. Mas a verdade anterior e incontornável é que a DreamWorks pretendia fazer a versão live-action de Dragão com ou sem a presença do cineasta e roteirista canadense.
Só que DeBlois, muito espertamente, virou a mesa, bateu o pé e disse que só faria se tivesse liberdade criativa e corte final. A jogada foi tão eficiente que a DreamWorks até esqueceu que tinha cogitado em fazer o filme sem ele. DeBlois queria, acima de tudo, defender o legado da trilogia em animação (afinal de contas, o co-criador e co-diretor do primeiro, Chris Sanders, estava em outra e dirigiu posteriormente Os Croods, o live-action O Chamado da Floresta e Robô Selvagem).
“O primeiro filme foi feito às pressas, e então há coisas que poderíamos ter feito ainda melhor. Então decidimos tratar a animação como ‘nossa mais recente exibição de teste’, e que ainda tínhamos tempo e dinheiro para nos aprofundar um pouco mais nos personagens, para enriquecer a experiência, para tornar as cenas de ação, o voo, mais viscerais, mais imersivos, mas também tornar os relacionamentos dos personagens um pouco mais ricos e profundos. Espero que a experiência seja algo que ecoe a familiaridade e a nostalgia do primeiro filme, mas com mais profundidade”, afirmou DeBlois para o site The Wrap.
No campo da familiaridade, o cineasta chamou o ator Gerard Butler para novamente ser a voz, a agora também o corpo do grande chefe Stoico, bem como o compositor John Powell (autor das trilhas de todas as três animações). Mas o resto do elenco precisou de gente jovem reunida, com destaque para Mason Thames (O Telefone Preto) como Soluço e Nico Parker (Dumbo e The Last of Us) como Astrid.
A aposta da DreamWorks no live-action de Como Treinar Seu Dragão é tão grande que todo um parque temático sobre o filme foi recentemente inaugurado no Universal’s Epic Universe, em Orlando, Flórida. E uma sequência do longa já tem data de estreia em 2027.
Do outro lado do Atlântico, Cressida Cowell acompanha com permanente assombro os desdobramentos daquelas histórias que começou a escrever quando criança. “Sempre fui consultada, recebi roteiros e minha opinião foi solicitada, mas também tentei me distanciar e dizer: ‘Sou uma escritora de livros e vocês são os cineastas’. Às vezes, isso pode ser difícil de fazer, mas acho que essa liberdade pode permitir que outros façam seu melhor trabalho”.
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