quinta-feira, 3 de outubro de 2024

eterna fernandona

mais um frila pra revista Monet e dessa vez o assunto é o aniversário de 95 anos de uma das maiores atrizes da história da humanidade, a muito nossa Fernanda Montenegro. dessa vez não quis fazer apenas uma biografia recheada e entrevistei duas figuras do teatro para falar de Fernandona: o diretor, ator e dramatugro Ivam Cabral (d'Os Satyros, e que fiz perfil em 2018) e a atriz, diretora e dramaturga Érica Montanheiro. segue o texto com fotos de Bob Wolfenson.

Fernanda por Bob Wolfenson, 2024

A DONA DA PALAVRA

Fernanda Montenegro comemora 95 anos de vida e 80 de uma carreira toda dedicada ao texto

“Meu sonho era nunca estrear. Era ficar ensaiando, ensaiando, e aí a coisa ia acontecendo”, confessou certa vez Fernanda Montenegro à sua filha Fernanda Torres. Do alto de seus 95 anos, a grande dama do teatro, do cinema e da TV brasileira, também está comemorando 80 anos de ensaios e estreias. Impossível saber o que mais surpreenderia à pequena Arlette Pinheiro Esteves da Silva, nascida em 16 de outubro de 1929 em Madureira, no Rio de Janeiro: uma vida tão longa, uma carreira tão rica e premiada ou ser reconhecida como Fernanda Montenegro.

O pseudônimo que virou nome foi criação dela própria quando, logo após começar a trabalhar aos 15 anos como locutora e depois atriz na Rádio Ministério da Educação e Saúde (atual Rádio MEC), viu que Arlette Pinheiro não iria muito longe. Pensou em algo grandioso, um nome que poderia ser de uma escritora (ironicamente, muitos e muitos anos depois ela se tornaria um membro imortal da Academia Brasileira de Letras). Da cabeça de Arlette nasceu Fernanda Montenegro, que do rádio passou a atuar regular e apaixonadamente no teatro, onde conheceu seu marido (o ator e diretor Fernando Torres), e na televisão desde seu início no país em 1950. O cinema só viria mais tarde. 

“Minha mãe é um caso sério. E ela é viciada mesmo em teatro. ‘Os teatros estão cheios, minha filha. Cheios!’”, disse Fernanda Torres nos bastidores da apresentação única e gratuita que a mãe fez em agosto deste ano no anfiteatro do Auditório Ibirapuera, em São Paulo. Numa noite quente de domingo, Fernanda Montenegro apresentou A Cerimônia do Adeus - monólogo baseado em textos de Simone de Beauvoir (1908-1986) sobre os últimos anos de vida de seu marido, Jean Paul Sartre (1905-1980) -, para nada menos que 15 mil pessoas.

“Fernanda Montenegro não é apenas uma mestra do teatro, mas também uma guardiã das múltiplas vozes que compõem o Brasil. Ela, ao longo de décadas, manteve uma companhia de teatro que cruzou as fronteiras do Brasil, levando a arte dramática a lugares onde o teatro era, muitas vezes, um raro visitante. Sua dedicação inabalável a esse trabalho itinerante reflete uma compreensão profunda do teatro como um espaço de encontro, de trocas simbólicas e de construção comunitária. Em um país continental como o nosso, onde as desigualdades culturais se manifestam com tanta força, a prática de Fernanda em levar o teatro aos mais variados rincões é uma forma potente de resistência e de valorização da cultura popular”, afirmou Ivam Cabral, ator, dramaturgo e fundador da companhia teatral Os Satyros.

Cabral nunca trabalhou com Fernanda Montenegro, mas após ser impactado por duas peças que viu com ela nos 1980 (As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant e Fedra), teve a rara oportunidade de ser seu aluno em um curso no Teatro Guaíra, em Curitiba. “Foi assim que, por três dias, tive a chance de conhecê-la em uma sala de aula. Aqueles encontros foram inesquecíveis e marcaram profundamente minha trajetória no teatro”.

Petra Von Kant e Fedra estão entre as Fernandas teatrais preferidas de Ivam Cabral, mas ele recorda também de Dona Doida, uma adaptação da obra de Adélia Prado; Dias Felizes, de Samuel Beckett, dividindo palco com o marido Fernando Torres; e a cultuada The Flash and Crash Days, de Gerald Thomas, apenas ela e a filha Fernanda Torres. “No cinema não tem como não dizer que sua atuação em Central do Brasil, de Walter Salles, é absolutamente magistral; e sua Nossa Senhora em O Auto da Compadecida, de Guel Arraes, Adriana Falcão e João Falcão, baseado na obra de Ariano Suassuna, é inesquecível. Ela não é apenas uma atriz que domina sua técnica com maestria, mas uma intérprete que infunde em cada personagem uma complexidade emocional e uma verdade cênica que transcendem o texto e tocam o espectador de forma visceral”.

Já a atriz, dramaturga e diretora Erica Montanheiro pensa um pouco e um pouco mais até chegar à conclusão que “é muito difícil definir a Fernanda, mas ela é certamente uma das principais referências para as atrizes brasileiras. A Dercy Gonçalves, por exemplo, é quem define o tempo da comédia no Brasil. Já a Marília Pera caminha no fio da navalha entre a comédia e o drama. E a Fernanda é o trabalho com a palavra, o poder da palavra, o domínio da palavra”.

Montanheiro também não teve a sorte de trabalhar com Fernanda Montenegro, mas guarda com carinho um encontro fortuito. “Foi no lançamento de um dos livros do Jô Soares, com quem trabalhei durante 11 anos. Estava lá na fila esperando pelo autógrafo quando percebi que quem estava na minha frente era a Fernanda. Quando a chegou a vez de ela pegar o autógrafo do Jô, os dois ficaram conversando e fui ali plateia desse encontro de dois monstros da cultura brasileira”.

E o que mais ela viu de Fernanda Montenegro que a marcou? Montanheiro lembra da “impressionante e inesquecível” montagem de Dias Felizes e da adaptação que Daniela Thomas fez de A Gaivota, de Anton Tchekhov, que trazia, em certo momento, “Dona Fernanda” como uma gaivota literal, fazendo barulhos e correndo pelo palco. “Muito engraçada, maravilhosa. Era algo que ninguém esperava da Dama do Teatro né, mas ela estava ali brincando como uma criança”. Montanheiro lembra ainda de se divertir horrores com personagem libertária que Fernanda Montenegro interpretou na novela Zazá, mas lembra sobretudo de Dora, a protagonista de Central do Brasil. “É um filme muito bonito e a Fernanda cria essa personagem cheia de contradições e com muitas camadas. E ela, ainda por cima, faz um melodrama com muito requinte”.

Fernanda por Bob Wolfenson, 2000

AZAR DO OSCAR

Fernanda Montenegro já era conhecida no teatro e na televisão, e tinha cerca de 35 anos, quando fez sua primeira protagonista para o cinema em A Falecida, adaptação de Nelson Rodrigues sob direção de Leon Hirszman. Suas prioridades sempre foram outras, e outros filmes notáveis só surgiram na virada da década de 1970 para a de 1980: Tudo Bem de Arnaldo Jabor e Eles Não Usam Black-Tie, novamente com Hirszman. 

Uma participação aqui, outra acolá, o tempo foi passando e outra protagonista apareceu somente no final da década de 1990. Sua Dora de Central do Brasil rapidamente alavancou o filme de Walter Salles a outro patamar de densidade dramática, trazendo consigo elogios derramados da crítica, uma fiel legião de fãs e muitas indicações e premiações por todo o mundo (filme e atriz ganharam os principais prêmios do Festival de Berlim, por exemplo). 

Então, quando vieram as indicações ao Oscar, uma nova esperança acendeu no coração do cinéfilo nacional. Se por um lado a estatueta para Melhor Filme Estrangeiro já estava na mão de Roberto Benigni e seu A Vida é Bela, a de Melhor Atriz, tão inesperada, poderia premiar o azarão e reconhecer Fernanda Montenegro mundialmente.

O momento da indicação ao Oscar foi registrado por uma equipe da TV Globo e quando o nome de Fernanda é anunciado, Walter Salles a abraça e ela diz apenas, meio com orgulho e meio com espanto: “Estou ali entre essas divinas criaturas maravilhosas. Louras”. E dá uma risadinha aérea. Suas “competidoras” eram Meryl Streep, Cate Blanchett, Gwyneth Paltrow e Emily Watson.

Mas em 21 de março de 1999, quando Jack Nicholson subiu ao palco do Dorothy Chandler Pavilion, o envelope que trazia em mãos tinha o nome de Gwyneth Paltrow. Foi uma das joias da coroa que o produtor Harvey Weinstein pagou – em termos de festas e agrados para membros da Academia – pelo sucesso de Shakespeare Apaixonado (que ganhou 7 prêmios naquela noite). Fernanda tanto não ligou que, quando um jornalista do New York Daily News perguntou se ela tinha planos para Hollywood, ela desdenhou elegantemente: “No Brasil, eu tenho uma carreira. Na América, eu tenho sotaque”.

Fernanda Montenegro pode não ter dado muita bola para o Oscar perdido, afinal continuou trabalhando incessantemente, mas a torcida brasileira nunca esquece uma injustiça. E não está só, afinal pouco mais de vinte anos depois, a atriz Glenn Close voltou a abrir a ferida em entrevista para a ABC News: “Honestamente, nunca entendi como é possível comparar atuações. Eu me lembro do ano em que Gwyneth Paltrow ganhou da atriz incrível de Central do Brasil. Eu pensei: ‘O quê? Isso não faz sentido’”, confidenciou. Não faz sentido mesmo, Glenn. Nunca fez.

Fernanda por Bob Wolfenson, 1995

terça-feira, 13 de agosto de 2024

eddie murphy ou axel foley, eis a questão

acabei esquecendo de atualizar aqui, mas rolaram mais uns frilas pra revista Monet. na edição de julho teve Eddie Murphy retornando mais uma vez como o icônico detetive Axel Foley em Um Tira da Pesada 4: Axel F. saca só.

UM COMEDIANTE DA PESADA

Quando Eddie Murphy interpretou pela primeira vez o irreverente Axel Foley em Um Tira da Pesada (1984) ele tinha pouco mais de 20 anos. No entanto, do alto de sua juventude, já possuía quatro anos de estrada no programa Saturday Night Live e dois filmes de sucesso (48 Horas e Trocando as Bolas). Mas nada disso chegaria perto da explosão mundial que foi a chegada daquele detetive negro, anárquico e de sorriso largo na branca, milionária e corrupta Beverly Hills. Agora, exatos 40 anos depois, um mais experiente e ainda anárquico Axel Foley retorna ao sol da Califórnia para solucionar novos crimes em Um Tira da Pesada 4, filme de estreia do australiano Mark Molloy. 

Claro que a vida artística de Edward Regan Murphy é muito mais vasta, intensa, irregular e elétrica que suas quatro encarnações como Axel Foley. Novaiorquino do Brooklyn, Eddie Murphy foi o segundo e último filho de Lilian Murphy e Charles Edward Murphy, casal que se separou quando o pequeno Eddie tinha apenas 3 anos. O pai morreria 5 anos depois ao ser esfaqueado por uma amante e, mais ou menos ao mesmo tempo, a mãe ficou doente e Eddie e o irmão Charles passaram uma temporada em um orfanato. Felizmente, a mãe se recuperou, casou de novo e os irmãos voltaram a ter um lar. 

Aos 15, o totalmente irrequieto Eddie, muito influenciado pelos ídolos Richard Pryor e Peter Sellers, encarou um show de talentos no Roosevelt Youth Center e personificou o cantor Al Green dublando o hit “Let’s Stay Together”. As gargalhadas e aplausos em resposta lhe deram a certeza que aquilo seria sua vida. Quatro anos depois, foi chamado para o elenco fixo do Saturday Night Live e rapidamente tornou-se um dos responsáveis por colocar o programa de novo no radar após algumas temporadas desastrosas no final da década de 1970. Nessa época contracenou com os igualmente jovens James Belushi e Julia Louis-Dreyfus (Eddie e Julia voltariam a se encontrar, em 2023, na comédia Certas Pessoas, disponível na Netflix). 

O sucesso de Eddie no Saturday Night Live foi tão rápido que já em seu segundo ano de programa ganhou a primeira chance no cinema. A comédia policial 48 Horas (1982), de Walter Hill, foi o perfeito carro chefe para o humor e o carisma de Eddie (ainda mais contrastando com o turrão Nick Nolte), e o filme entrou para a lista das dez maiores bilheterias do ano. De 1982 a 1988, Eddie Murphy mandava prender e mandava soltar, não tinha pra ninguém, e assim vieram grandes sucessos como Trocando as Bolas e Um Príncipe em Nova York, ambos dirigidos por John Landis, os dois primeiros Um Tira da Pesada, o especial stand-up Sem Censura, O Rapto do Menino Dourado e até um passo em falso, A Melhor Defesa é o Ataque. Sobre este último disse, em programa do David Letterman em 1984, que só aceitou pelo dinheiro e se arrependeu tanto que afirmou nunca mais faria nada parecido. “Quer dizer, só se for muito, muito, muito, muito dinheiro”, brincou. 

Mas nada que é bom dura para sempre e no final da década de 1980 até meados dos anos 1990, Eddie Murphy passou por sua primeira fase em baixa. Tudo começou com seu primeiro (e único) filme como diretor, Os Donos da Noite, que contou com a presença de dois de seus maiores ídolos, Richard Pryor e Redd Foxx, o amigo Arsenio Hall e o irmão Charlie Murphy. Mesmo sendo uma comédia, o público não comprou a personagem de Eddie sem aquele charme debochado que fez sua fama e o fato de ser ambientado nos distantes anos 1930. O filme foi um fracasso de bilheteria. 

Tentando se recuperar de tamanha frustração optou por projetos certeiros e qual não foi sua surpresa quando 48 Horas - Parte 2, novamente sob direção de Walter Hill, e Um Tira da Pesada 3, agora com John Landis atrás das câmeras, também fracassaram. O mesmo aconteceu com Um Vampiro no Brooklyn, comédia de terror dirigida pelo mestre Wes Craven. 

Já na segunda metade da década de 1990, alguns respiros do bom e velho Eddie, tais como O Professor Aloprado (no qual interpretou vários personagens, uma de suas marcas registradas), o delicioso Os Picaretas (escrito e co-estrelado por Steve Martin e dirigido por Frank Oz), e Mulan (seu primeiro trabalho de voz em animação). Aliás, foi Mushu, o pequeno e divertido demônio chinês de Mulan, que abriu as portas para Eddie interpretar o debochadíssimo Burro em Shrek (2001), animação tão bem sucedida que teve mais três longas e inúmeros especiais. 

Fora Shrek e a atuação coadjuvante indicada ao Oscar em Dreamgirls (2006), os anos 2000 e 2010 foram duros para Eddie. Aconteceu de tudo, desde um dos maiores fracassos de bilheteria da história (a ficção científica Pluto Nash) até comédias familiares risíveis (Imagine Só, A Creche do Papai e Mansão Mal Assombrada), passando por roteiros trash (Norbit e O Grande Dave), escolhas furadas (As Mil Palavras e o drama – um drama!? – Mr. Church) e desperdícios de elenco (com Robert De Niro em É Hora do Show, Owen Wilson em Sou Espião e Ben Stiller e Matthew Broderick em Roubo nas Alturas). A situação ficou tão difícil que o ator assumiu uma semi-aposentadoria em parte dos anos 2010. “Fiquei largado no sofá”, disse em inúmeras entrevistas. 

As coisas mudaram de rumo com Meu Nome é Dolemite (2019), primeira parceria do ator com a Netflix e um projeto muito pessoal. Nesta comédia ambientada nos anos 1970, Eddie interpretou Rudy Ray Moore, ator, cantor e produtor de filmes cult como Dolemite e The Human Tornado. Com o sucesso do filme no streaming, o ator conseguiu produzir Um Príncipe em Nova York 2 e agora, novamente pela Netflix, Um Tira da Pesada 4. “Faço filmes desde 1982 e de lá pra cá tiveram períodos quentes e frios, altos e baixos, mas na minha vida tudo acontece em ciclos. Sempre bom lembrar que muita gente não continua fazendo coisas nesse negócio por tanto tempo quanto eu. Então, sucesso é a exceção, não a regra”, afirmou em entrevista para Al Roker no programa Today em 2019. Eddie Murphy está de volta mais uma vez. 


UM BOX DA PESADA

Um Tira da Pesada (Martin Brest, 1984)

A primeira aventura de Axel Foley em Beverly Hills definiu de vez a persona do ator na telona, com seu jeito charmosamente debochado, e rapidamente tornou-se um ícone pop dos anos 1980. São tantas cenas memoráveis, e algumas totalmente improvisadas, que é até difícil escolher uma (e o então diretor iniciante, Martin Brest, conduz tudo muito bem). Quem poderia imaginar que o filme originalmente seria estrelado por Sylvester Stallone? 

Um Tira da Pesada 2 (Tony Scott, 1987)

Os produtores do segundo filme de Axel Foley decidiram chamar Tony Scott, que acabara de vir do sucesso Top Gun, para injetar ainda mais ação no humor de Eddie. O resultado foi um novo sucesso de bilheteria, mesmo com problemas no roteiro e atrasos frequentes do ator para as filmagens. 

Um Tira da Pesada 3 (John Landis, 1994)

Eddie Murphy não vivia uma fase boa na carreira quando aceitou encarar Axel Foley novamente e parecia uma boa ideia chamar John Landis para dirigí-la. Landis tinha timing de comédia e já havia trabalhado com Eddie em Trocando as Bolas e Um Príncipe em Nova York

segunda-feira, 10 de junho de 2024

muitas novidades no front

a querida revista Monet é certeza de pauta divertida, sem grilos. agora na edição de junho saiu texto meu costurando o ator Wagner Moura, o diretor Alex Garland e o bem sucedido filme Guerra Civil (tanto financeiramente quanto em termos de qualidade). saca só.

UM BRASILEIRO NA LINHA DE FRENTE

Wagner Moura é um dos protagonistas do thriller político Guerra Civil que estreia este mês na Claro TV+ após liderar as bilheterias nos EUA

Com pouco mais de uma década trabalhando em produções hollywoodianas, tanto no cinema quanto na TV, o ator Wagner Moura mantém os mesmos princípios de sua carreira no Brasil: não liga para números, não planeja estrategicamente próximos passos, não vive para as redes socias, não tem medo do risco, e trabalha com quem gosta, ou é amigo ou admira. Seu mais recente filme, Guerra Civil, tem um pouco de tudo isso, mas qual não foi a surpresa para todos os envolvidos quando o longa independente dirigido por Alex Garland se tornou o número 1 das bilheterias americanas por duas semanas seguidas.

Ao custo de US$ 50 milhões, Guerra Civil é (até agora) o filme mais caro produzido pela independente e cultuada A24 – a mesma de Hereditário, Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo e Vidas Passadas –, mas em pouco menos de um mês conseguiu arrecadar mais de US$ 100 milhões globalmente. O termômetro desse sucesso foi que parte do elenco seguiu sendo chamado para programas televisivos, matutinos e talk shows, após a estreia (o costume é um batidão intenso de divulgação na semana que antecede). Daí Wagner Moura aproveitou os bons ventos, deixou a timidez de lado e fez de um tudo, de mostrar no pé como se samba na Bahia até a se rasgar para Whoopi Goldberg enquanto fã (Whoopi é da bancada do programa The View).

“Estou muito orgulhoso deste filme. Eu sabia desde o início – acho que todos nós sabíamos – que não seria um trabalho comum. O que venho tentando fazer como ator é encontrar algo que seja oportuno, mas também interessante para as pessoas interagirem. Nunca gostei da ideia de que para fazer algo popular é preciso fazer algo bobo. Acho que Alex [Garland] acertou esse equilíbrio com Guerra Civil. Ele fez um filme que é politicamente relevante, que captura o espírito do tempo e também é interessante para quem quer apenas se divertir”, disse Moura em entrevista para Esquire.

O ator baiano é um dos quatro jornalistas – os outros são Kirsten Dunst, Cailee Spaeny e Stephen McKinley Henderson – que atravessam os Estados Unidos rumo a Washington em meio a uma literal guerra civil. O diretor e roteirista Alex Garland não explica e nem quer explicar como o país chegou a esse destino, quem são as forças oponentes, suas ideologias. Seu interesse parece estar em como um evento extremo assim afeta pessoas comuns (tanto os jornalistas quanto os retratados, civis ou militares).

“Pra mim o filme funciona também como uma reportagem que mostra uma série de eventos buscando tirar qualquer viés ideológico, objetivamente. Do jeito que um jornalista ‘das antigas’ faria. Mas pra ajudar nisso busquei nos personagens retratar diferentes fases da vida de um jornalista, desde o veterano, sábio e cansado [Henderson] até a intensa e frágil freelancer [Spaeny], passando pelos maduros e calejados [Dunst e Moura]”, afirmou Garland em entrevista para o programa de rádio/internet Q with Tom Power.

Fã de filmes politicamente combativos como A Batalha de Argel de Gillo Pontecorvo e Z de Costa-Gavras, Moura foi pelo mesmo caminho quando decidiu estrear como diretor em Marighella. Mas a abordagem neutra escolhida por Alex Garland acabou o interessando, pois acreditou que deixava espaço para outras reflexões. Os dois iriam trabalhar juntos na minissérie Devs, que Garland fez logo após Ex Machina e Aniquilação, mas a agenda do ator não permitiu. Ficou no ar um ‘até logo’.

Garland e Moura voltaram a se encontrar para a formação do elenco de Guerra Civil e o encontro deu tão certo que o ator está na cena preferida do diretor no filme: uma do personagem gritando de dor e frustração após a morte de um colega, com tanques e soldados passando logo atrás. Segundo afirmou ao canal CineFix, a cena não estava no roteiro e surgiu em meio à confusão de extras e maquinário militar. “Tinha alguma coisa ali. Aí falei pro Wagner, vai lá, vai lá e grita! Ele se preparou e gritou com força. Quando vi a câmera nele, os tanques passando, a poeira subindo, a dor no rosto dele. Quando vi tudo isso, pensei que não só aquela cena tinha que estar no filme como ela é uma espécie de resumo de tudo que aconteceu até ali”, relembrou Garland.

a produtora Emile Lesclaux, o diretor Kléber Mendonça Filho e o ator Wagner Moura

E AGORA, WAGNER?

Após toda a intensa tour de divulgação de Guerra Civil – que trouxe o ator de volta ao Brasil acompanhado da jovem colega Cailee Spaeny –, Moura já sabe o que fará em seguida. Nos Estados Unidos estará ao lado de Adria Arjona no romance dramático Say Her Name, dirigido pelo mexicano Geraldo Naranjo (Miss Bala). E de volta ao Brasil, onde não filma desde Praia do Futuro de Karim Ainouz, pouco mais de dez anos atrás, trabalhará pela primeira vez com Kléber Mendonça Filho em mais um thriller político, O Agente Secreto. Também no elenco, Maria Fernanda Cândido. 

Ainda não sabe se estará na segunda temporada da série Sr. e Sra. Smith, com Donald Glover e Maya Esrkine, pois seu personagem foi, aparentemente, assassinado. Mas sabe muito bem que já tem o projeto para o seu segundo filme como diretor. Baseado em livro de Stewart O’Nan, Last Night at the Lobster acompanha o gerente de um restaurante de shopping no último turno antes do estabelecimento fechar de vez. Segundo Moura é uma espécie de “filme de Natal anti-capitalista” que o colocará diante de dois desafios: dirigir a si próprio e dirigir em inglês. 

“Estou aqui porque Narcos mudou minha vida de maneiras muito diferentes. As pessoas sabiam quem eu era. Tornou-se um sucesso nos EUA, o Pablo Escobar triste virou meme. Abriu oportunidades de trabalho às quais eu não tinha prestado atenção antes. E agora eu moro aqui. Meus filhos moram aqui. O Brasil está em melhor situação e sempre nos perguntamos se deveríamos voltar. Mas as crianças não querem”, afirmou Moura na mesma entrevista para a Esquire.

Wagner dando uma checada na careca de Matt Damon em Elysium

INVASÃO COM ARROZ E FEIJÃO

Wagner Moura não é um novato nas bilheterias americanas. Seu primeiro filme hollywoodiano, a ficção científica Elysium de Neill Blomkamp, arrecadou U$29,8 milhões em seu final de semana de estreia em 2013. Mas era um papel pequeno e essa segunda parte da carreira do ator estava apenas começando. Quem o ajudou muito nesse início foi a colega e atriz Alice Braga, que também estava no elenco de Elysium (os dois contracenaram juntos em Cidade Baixa, em meados dos anos 2000).

Alice Braga, aliás, é a atriz brasileira mais presente em grandes bilheterias americanas nas últimas décadas. Tudo começou com Eu Sou a Lenda, depois Elysium, Esquadrão Suicida e Predadores. Antes dela, só mesmo Rodrigo Santoro que surgiu em um papel pequeno em As Panteras, e então cresceu (literalmente) em 300 e na sequência 300 – A Ascensão do Império, para então contracenar com Will Smith e Margot Robbie em Golpe Duplo.

Só com Braga e Santoro já são oito filmes, então Moura se reuniu definitivamente ao time com Guerra Civil, pouco depois de outra novata, Bruna Marquezine, chegar em ritmo de ação e super herói com Besouro Azul. A invasão brasileira a Hollywood está, definitivamente, ganhando corpo.

sexta-feira, 1 de março de 2024

visão além do alcance

foi ali por agosto do ano passado que reativei contato com Décio Galina, jornalista gente boa que conheci pouco mais de dez anos atrás quando ele estava nas customizadas da Trip (ele editava a Audi Magazine e fiz uns três frilas pra lá nessa época). descobri que ele estava editando a Forbes Brasil e fui lá em seu Instagram oferecer meus serviços, mesmo sabendo que essa área de business nunca foi muito minha praia. mas sei fazer jornalismo, sei escutar pessoas e sei pegar o que elas sabem pra explicar algo que eu mesmo não sei (e, talvez, o leitor também). 

ele logo me passou um frila da pesada, muita responsabilidade mesmo: um panorama de consultorias de negócios com direito a 5 empresas gigantes, 5 entrevistas, muitas expectativas, muito vai e vem de perguntas e respostas. deu um trabalho danado, mas o resultado ficou ótimo e saiu na edição 112 (setembro/outubro). 

de lá pra cá fiz outros três frilas pra Forbes Brasil: textos pr'um especial sobre empresas inovadoras, textos pra categoria 'terceiro setor/empreendedorismo social' do especial anual com lideranças abaixo de 30 anos (Under 30) e, mais recentemente, uma matéria sobre novos investimentos da Disney em seus parques.

p.s.: o texto abaixo é o que mandei originalmente, sem edição. acho que Décio não mexeu quase nada no texto, só separou as consultorias em blocos (o texto aqui segue corrido), e mudou o título/linha fina.

o abre da matéria na edição 112 da Forbes Brasil

CONSULTORIAS EM TRANSFORMAÇÃO

O mercado de consultorias se reinventa e cresce com ajuda da tecnologia

Num mundo de negócios em constantes mutações, tudo que é sólido corre o sério risco de se desmanchar no ar. Então, para evitar estes e outros desastres, grandes empresas invariavelmente precisam dos serviços de consultorias e auditorias. É um jeito de se organizar, se atualizar, tirar excessos e seguir em frente. 

Foi com esse objetivo que, em meados do século 19, na esteira da Revolução Industrial, surgiram os primeiros escritórios de contabilidade na Inglaterra, o marco originário de algumas das maiores consultorias ainda atuantes no mundo. Muito distante dos cadernos vitorianos repletos de números, as consultorias hoje em dia precisam constantemente se reinventar oferecendo novos e melhores serviços. E cada vez mais digitais.


A DELOITTE, por exemplo, foi fundada por Willian Welch Deloitte em 1845 e seu ofício de contabilidade ficava na Basinghall Street, coração da City londrina. Atualmente conta com um time de 457 mil profissionais espalhados por cerca de 150 países e no mais recente fechamento de ano fiscal, em junho de 2023, apontou receitas globais de US$ 64,9 bilhões e um crescimento de 14,9%. No Brasil há 112 anos, a Deloitte chegou para auditar companhias ferroviárias britânicas e hoje em dia possui 7 mil funcionários e 300 sócios e sócias em 17 escritórios pelo país.

Os negócios das Deloitte estão divididos em cinco grandes frentes: Auditoria & Assurance, Consultoria Empresarial, Risk Advisory, Consultoria Tributária e Financial Advisory. Mas a maior parte de suas receitas, à exemplo da evolução de todo setor, vêm dos serviços de consultoria, com destaque para Consultoria Empresarial e Risk Advisory que tiveram crescimento no último ano fiscal de 19,1% e 17,5%, respectivamente.

“O mercado está oferecendo - e os clientes querendo - cada vez mais serviços de ponta a ponta. Antes você comprava contabilidade de um, financeiro de outro, sistemas de um terceiro. Com o avanço da tecnologia o dado é único e se você compra separado acaba saindo mais caro. Nossa estratégia então é ser cada vez mais multidisciplinar abrindo nosso portfólio de serviços para oferecer soluções completas para o cliente. Conseguimos isso porque temos parcerias com empresas de tecnologia que nos ajudam a oferecer esse pacote completo. Essa é uma grande e recente mudança de modelo de negócios”, diz João Maurício Gumiero, líder de Clients & Industries e Market Development da Deloitte.

A pandemia acabou acelerando algumas iniciativas em transformação digital que já caminhavam dentro da empresa. “Durante a pandemia nossa área de consultoria em implantação de tecnologia e segurança das informações teve um boom de crescimento. Mas agora, resolvendo esse problema de dados e informações, de agilidade nas comunicações, nos voltamos a novas tecnologias como inteligência artificial e cloud, a nuvem. Estas novas áreas é que estão impulsionando a Deloitte para virar também uma consultoria em tecnologia e de estratégia de negócios”, explica Gumiero.

Só que a tecnologia em si não é a resposta para tudo, pois como Gumiero faz questão de frisar, “as pessoas são a maior riqueza de uma empresa e é preciso constantemente treiná-los, melhorá-los. Eu, originalmente, sou administrador e contador. Seu soubesse calcular e contabilizar o imposto eu já era um grande profissional. Agora estou aqui, com 28 anos de empresa, conversando sobre TI. Depois de velho fui aprender tecnologia. Então queremos ajudar nossos profissionais a não ter apenas uma formação. Porque só uma formação não basta, e isso também é uma tendência de mercado”. 

Também nascida em Londres, só que em 1849, a PWC é outra grande consultoria global, que se espalha por 160 territórios, conta com 350 mil colaboradores e receitas que superam US$ 50 bilhões. Tal como a Deloitte e outras empresas do mercado, a PwC possui um portfólio cada vez mais amplo e diversificado de serviços “que vão dos trabalhos de asseguração às capacidades de consultoria de negócios e tributária, bem como um braço dedicado à consultoria estratégica, sempre com o propósito de construir confiança na sociedade”, como afirma Hércules Maimone, sócio-líder em Consultoria Empresarial (Advisory). 

“A combinação dessa variedade de habilidades nos ajuda na resolução de projetos complexos, desde a estratégia à implementação, execução e operação. Esse é o conceito que chamamos de ‘One Firm’ e que explica nossa expansão em um cenário cujos desafios de mercado evoluem de modo constante. Estamos atentos às perspectivas trazidas pela pluralidade da sociedade, pela necessidade de governança, pela observação de mudanças importantes como os desafios do clima e dos aspectos relacionados à sustentabilidade, em um contexto de avanços tecnológicos vigoroso e crescente que expandem os alcances da busca de soluções exequíveis, confiáveis, competentes e sempre com inovação”, diz Maimone.

A pandemia também serviu para a PwC como um momento importante para rever prioridades e acelerar processos digitais. “A PwC colaborou ativamente em projetos globais e locais com o objetivo de atenuar os impactos da pandemia, oferecendo suas habilidades e apoio a entidades de pesquisa, governos e associações comprometidas com ações solidárias no resgate das condições mínimas de convivência e cidadania em um momento tão disruptivo”, reflete Maimone.


Outra consultoria cuja origem remonta a Londres de 1849 é a EY, a terceira maior do mundo. Em números globais, a EY possui 395 mil colaboradores em mais de 150 países, e registrou receitas de US$ 49,3 bilhões no ano fiscal de 2023 com crescimento de 14,2% em moeda local (sendo que as Américas responderam por quase metade desse faturamento). Só na EY Brasil são cerca de 8700 funcionários em 13 cidades focados em quatro linhas de serviços integradas: Auditoria, Consultoria, Estratégia e Transações/Impostos.

“Com nosso profundo conhecimento dos principais segmentos econômicos de mercado, ajudamos nossos clientes a capitalizar novas oportunidades e a avaliar e gerenciar riscos para proporcionar um crescimento responsável. Atendemos assim uma grande variedade de empresas da indústria financeira, de consumo e varejo, agronegócio, tecnologia, mídia e telecomunicação, saúde, bem-estar, energia, mineração, óleo e gás, utilities, infraestrutura, educação, governo, real estate, entre outros”, enumera Luiz Sergio Vieira, CEO da EY Brasil. 

Seguindo a mesma tendência do mercado, a EY vem alternando serviços tradicionais de auditoria e consultoria com a transformação digital de processos e sistemas que oferece aos seus clientes. “Nos últimos anos, as empresas mudaram muito. Começaram a usar dados para tomar decisões e a dar seus primeiros passos utilizando tecnologias que hoje são maduras como Cloud, Big Data e Analytics. Hoje, as empresas estão em uma nova onda digital, buscando entender e implementar a Inteligência Artificial Generativa e integrar a tecnologia e a sustentabilidade, trazendo mais transparência para as métricas socioambientais”, diz Vieira 

Para o CEO da EY Brasil, sustentabilidade não pode ser mera fachada, nem para a própria consultoria nem para os clientes que representa. “É importante entendermos que o desenvolvimento econômico e a sustentabilidade ambiental andam de mãos dadas. E o Brasil, nesse aspecto, tem uma posição privilegiada, pois cerca de 87% da nossa produção de energia elétrica vem de fontes renováveis. Temos uma oportunidade incrível de, ao perseguir a sustentabilidade ambiental, conseguir atingir o desenvolvimento econômico duradouro e sustentável”.

Também não é fachada o estímulo que a empresa tem dado para diversidade e inclusão. Vieira orgulha-se ao falar que é “nosso dever moral e ético criar oportunidades para que mulheres, afrodescendentes, pessoas com deficiência, membros da comunidade LGBTQIA+ e de outras minorias ingressem na empresa, se qualifiquem continuamente, sejam promovidos e expressem suas crenças sem receio - que sejam como desejarem ser. Afinal de contas seremos mais fortes e inovadores quanto mais diversos formos”. 

Quarta maior consultoria do mundo, a multinacional KPMG tem sede em Amsterdã e é resultado de uma fusão feita em 1987 de três consultorias cujas origens remontam à virada do século 19 para o 20, com raízes na Holanda, Inglaterra e Estados Unidos. Presente em 145 países e territórios e com mais de 265 mil sócios e profissionais atuando nas firmas-membro em todo o mundo (sendo que quase 6 mil apenas no Brasil), a KPMG faturou US$ 34,64 bilhões globalmente após o fechamento de seu mais recente ano fiscal.

Tal como suas principais concorrentes, a KPMG presta serviços nas áreas de Audit, Tax e Advisory, e também notou mudanças radicais e desafiadoras no mercado. “A maior delas, pelo menos nos últimos dez anos, foi a entrada da tecnologia muito mais forte. As consultorias operavam muito, e ainda operam um pouco, no modelo de conselho. Ser alguém que orienta, que aponta caminhos, que tem metodologia. Com mais uso de tecnologia o cenário de consultoria mudou muito, o que nos fez avançar para um nível mais de execução, de implementação”, diz André Coutinho, sócio-líder de Advisory da KPMG no Brasil.

“Qualquer trabalho nosso hoje em dia envolve algum tipo de tecnologia. Ou ela é um meio, isto é, a KPMG tem uma tecnologia pra entregar um melhor serviço para o cliente. Mas também tem a tecnologia fim, ou seja, você vai instalar uma tecnologia para transformar o processo e o negócio do cliente”, complementa. “A gente também percebeu que hoje em dia as empresas não dão mais a chave nas mãos da consultoria, elas acompanham mais de perto tudo. Existe uma simbiose maior entre executivos e consultores. Pensando bem, é até meio absurdo o modelo antigo, como se o consultor soubesse mais que executivo. Esse modelo atual, essa simbiose, é muito mais inteligente”.


A mais nova das consultorias desta reportagem e cuja origem não tem relação com contabilidade e auditoria, a BAIN & COMPANY é americana do ano de 1973 e atualmente possui mais de 18 mil funcionários – sendo 800 no Brasil – em 65 escritórios distribuídos por 40 países. “Diferentemente das consultorias tradicionais, que têm foco em operações ou processos específicos, a Bain oferece uma visão sistêmica do negócio e do mercado para que seu cliente entenda as tendências no longo prazo e possa tomar decisões tempestivas e adequadas aos seus objetivos”, afirma Alfredo Pinto, Office Head da Bain & Co. América do Sul.

Com foco em consultoria estratégica destacando segmentos como ambientes de negócios sustentáveis (ESG), entregas com inteligência artificial, consultoria sobre transações de M&A, especialmente em integrações de grandes fusões, e projetos de Enterprise Technology, a Bain tem atualmente 60% da receita na América do Sul ligada a novos projetos relacionados a transformação digital. 

As perspectivas de futuro para o mercado de consultorias são tão desafiadoras quanto lucrativas, e Pinto acredita que “há um enorme potencial em projetos que ajudam a definir os caminhos futuros das empresas, seja em tecnologia, arquitetura organizacional, iniciativas ESG, fusões e aquisições, e tantos outros serviços”. Mas conclui que não se pode perder de vista o fator humano, “pois temos visto uma mudança significativa no comportamento dos colaboradores, que buscam com razão qualidade de vida no trabalho. Com isso, as empresas e a própria Bain têm investido amplamente em iniciativas de diversidade, inclusão e equidade para atrair e reter os melhores talentos”.

todas as mulheres de kate

o assunto do mês na minha colaboração pra Revista Monet é a atriz Kate Winslet, e seu novo trabalho, a minissérie The Regime pra HBO. não consegui ver, pois não liberaram antecipadamente, mas pelos trailers pareceu divertida e interessante e Winslet brincando muito à vontade com uma personagem que não lhe é comum.

Uma chanceler muito louca

TODAS AS MULHERES DE KATE

Ao interpretar uma chanceler na sátira política The Regime, Kate Winslet coloca mais um quadro na sua galeria de mulheres fortes

Aos 48 anos de idade, e com pouco mais de 30 de carreira, Kate Winslet não precisa provar nada para ninguém já faz um bom tempo. Mas nem sempre foi assim, e o problema foi justamente o fato de a atriz britânica ter feito muito sucesso logo no começo da carreira. “Depois de Titanic fiz escolhas que deliberadamente iam contra o que era esperado de mim. Porque certamente eu não estava pronta pra ser uma pessoa famosa e foi muito assustador ser tão famosa, tão rapidamente, tão da noite pro dia”, confessou Winslet ao podcast Happy Sad Confused, em dezembro de 2022. 

Prestes a lançar The Regime, sua terceira minissérie pela HBO, Winslet segue buscando o que é inesperado. Tanto é verdade que ela, conhecida e premiada por papéis intensos e dramáticos, agora pôde se divertir ao interpretar Elena Vernham, uma chanceler populista e vaidosa em um país fictício na Europa central no turbilhão de uma grande crise. 

Criada por Will Tracy – que foi roteirista de Last Week Tonight with John Oliver e escreveu o longa O Menu e alguns episódios de Succession –, a minissérie em seis episódios é uma sátira política que poder ser definida como o encontro de The Great com Veep. Mas pouquíssimo material foi distribuído para a imprensa e dois teasers de pouco menos de 2 minutos cada esconderam a trama enquanto deixaram claro que será um trabalho com direção de arte opulenta, texto afiado e atuações comicamente intensas. 

Além de Winslet, o elenco principal conta com Matthias Schoenaerts como um militar desconhecido que é alçado à braço direito da chanceler, Andrea Riseborough como a gerente do palácio e braço esquerdo da chanceler, Guillaume Gallienne como o marido humilhado da chanceler, Martha Plimpton como a Secretária de Estado dos EUA e Hugh Grant como o líder da oposição cuja prisão dá início a uma grande crise no país. Filmada na Áustria e na Inglaterra, a minissérie teve a direção dividida entre Stephen Frears (Ligações Perigosas, Alta Fidelidade e A Rainha) e Jessica Hobbs (The Crown). 

Se The Regime seguir o mesmo padrão de sucesso das duas minisséries anteriormente protagonizadas por Kate Winslet para a HBO, a próxima temporada de premiações será uma festa para a atriz. Em 2011, sob direção, roteiro e produção de Todd Haynes, Winslet estrelou Mildred Pierce e ganhou Emmy e Globo de Ouro de Melhor Atriz. Os prêmios se repetiram cerca de dez anos depois com sua atuação na ainda mais elogiada Mare of Easttown, criação do roteirista e produtor Brad Ingelsby. 


UM ROSTO, MUITAS VIDAS

A chanceler ególatra em The Regime, a policial fragilizada em Mare of Easttown e a mãe superprotetora em Mildred Pierce, encontraram em Winslet a forma mais intensa de ganhar vida. E a atriz sempre foi assim, desde quando apareceu para o mundo, aos 18 anos, como uma adolescente perdida em um perigoso mundo de fantasias e repressão. O filme? Almas Gêmeas. O diretor? Um iniciante Peter Jackson.

As jovens mulheres de uma jovem Kate Winslet seguem se equilibrando e desequilibrando entre a fantasia, a paixão e a tragédia. É assim com sua Marianne Dashwood em Razão e Sensibilidade (1995), de Ang Lee; com Sue Bridehead em Jude (1996), de Michael Winterbottom; com sua Ofélia em Hamlet (1996), de Kenneth Branagh; e, finalmente, com sua Rose, a jovem rica que deseja mais da vida, em Titanic (1997), de James Cameron.

Nos anos 2000, após o nascimento de dois dos seus três filhos (Mia é de 2000 e Joe de 2003), um novo e poderoso ingrediente potencializou as escolhas da atriz: a angústia. Foi assim com sua Iris Murdoch em Iris (2011), de Richard Eyre; sua Clementine em Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças (2004), de Michel Gondry; com Sarah Pierce em Pecados Íntimos (2006), de Todd Field; com Hanna Schmitz em O Leitor (2008), de Stephen Daldry; e com April Wheeler em Foi Apenas Um Sonho (2008), de Sam Mendes. Winslet ganhou um Globo de Ouro e um Oscar por sua atuação em O Leitor e um Globo de Ouro por Foi Apenas Um Sonho, filme que marcou a única vez que foi dirigida pelo seu então marido, o cineasta Sam Mendes, e o reencontro com Leonardo DiCaprio pouco mais de dez anos após Titanic.

Em uma entrevista em 2014, Winslet afirmou que se conecta com “mulheres que estão buscando a saída para uma situação difícil, procurando por amor, tendo alguma luta dentro do amor, ou questionando as grandes coisas da vida”. Esses interesses continuaram direcionando a escolha por trabalhos da atriz, mas a década de 2010 foi a mais irregular de sua carreira, um tanto porque também priorizou a família (seu terceiro filho, Bear, nasceu em 2013).

Dentro desse turbilhão ainda saíram uma doutora em tempos de pandemia em Contágio (2011), de Steven Soderbergh; uma mulher frustrada no casamento e com problemas alcóolicos em Deus da Carnificina (2011), de Roman Polanski; uma mãe solteira apaixonada por um fugitivo em Refém da Paixão (2013), de Jason Reitman; uma líder tirana em um futuro distópico nos filmes Divergente (2014) e Insurgente (2015), os dois primeiros de uma trilogia; uma executiva de marketing nos primórdios da Apple em Steve Jobs (2015), de Danny Boyle; e uma mulher que queria ser atriz e agora precisa se contentar com um casamento falido e um amante que a traí com a própria enteada em Roda Gigante (2017), de Woody Allen.

Em outra entrevista de 2014, Winslet confessa que as mulheres que interpreta entram em sua vida e não largam fácil. “Ainda tenho dificuldade em me livrar delas”, diz sobre suas personagens. “Eu sei que é apenas um trabalho. Mas é um trabalho que usa suas emoções, todas elas têm que vir de algum lugar, e é difícil simplesmente deixar passar. Eu sei que deveria, mas não consigo. Não posso simplesmente aprender minhas falas e fazê-las, mas talvez seja porque não quero atuar, quero ser. E acho que há uma diferença grande aí”.

Nos últimos anos, com mais tempo pra si, afinal de contas já tem dois filhos adultos, Winslet pôde ser dar ao luxo de produzir e mergulhar na pesquisa para a minissérie Mare of Easttown (2021), fazer narração de documentários, ser uma rainha Na’vi no reencontro com James Cameron em Avatar 2 – O Caminho da Água (2022) e, então, brincar de ser má, inconsequente, irresponsável e criminosa em The Regime. Existem muitas em Kate Winslet e outras tantas virão.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

manera fru fru, manera

outro frila pra revista Monet. dessa vez o assunto é Larry David e a décima segunda e final (?) temporada da cultuada e premiada série Curb Your Enthusiasm (ou Segura a Onda, por aqui) que acabou de estrear nesse início de fevereiro. ficou massa demais o abre da matéria e o texto tá aqui.

 
CAOS CONTROLADO

A série que transformou o rabugento e neurótico Larry David em um ícone pop chega ao fim em sua décima segunda temporada

Nos pouco mais de 20 anos desde a estreia de Segura a Onda – série que chega agora à sua 12ª e derradeira temporada –, a pergunta que seu criador e protagonista mais ouviu em entrevistas e coletivas foi a seguinte: “O quanto o Larry David da TV é parecido com o Larry David da vida real?”. Na vida real, Larry David invariavelmente respondia, entre muxoxos bem humorados, “quem me dera eu fosse que nem ele”. David pode não ter conseguido ser tão egocêntrico, raivoso ou violentamente sincero/transparente quanto sua versão televisiva, mas pelo menos criou e viveu ficcionalmente quem gostaria de ser (muito bem sucedidamente, diga-se de passagem).

No entanto, na segunda metade da década de 1990, a situação de David era outra. Financeiramente ele estava bem e era reconhecido, afinal tinha co-criado e escrito muitos episódios de Seinfeld ao lado do amigo Jerry Seinfeld. Mas em 1996, após o fim da sétima e antepenúltima temporada da série, ele decidiu sair amigavelmente. Estava cansado. E mesmo assim não sabia o que fazer com tanto tempo livre. Pensou em voltar ao stand-up, como em seu início na década de 1970, mas nunca se sentiu confortável no palco. Decidiu dirigir seu primeiro longa, mas foi solenemente ignorado, e hoje ninguém lembra de Os Sortudos (1998). Nem ele.


Então sugeriu um especial de uma hora a um amigo de longa data que tinha virado executivo da HBO. Seria uma espécie de documentário fake acompanhando suas tentativas de volta ao stand-up. Assim nasceu Larry David: Curb Your Enthusiasm (1999). O especial foi bem recebido e David começou a pensar que seria interessante ver o que acontece antes e depois desses momentos no palco, que isso poderia ser ainda mais engraçado. Em outubro de 2000 foi ao ar o primeiro episódio da série Curb Your Enthusiasm, ou Segura a Onda.

“Algumas pessoas me disseram depois que o programa começou a ir ao ar que tiveram que sair da sala em algumas cenas. Elas se encolhiam de constrangimento. Não suportavam assistir, era como se fosse um filme de terror. Não fazia ideia de que a série podia ter esse efeito nas pessoas. Eu gostei”, disse entre gargalhadas David ao Origins (podcast, aliás, que dedicou 5 episódios aos bastidores da série em 2017).

O humor seco e a observação minuciosa, por vezes neurótica, do cotidiano e de algumas absurdas convenções sociais guarda muitas semelhanças com Seinfeld, mas Segura a Onda expande o humor em termos de personagens, locações, cores e possibilidades. E David conseguiu algo ainda mais audacioso: todos os diálogos são improvisados pelo elenco, afinal David só escreve cerca de 7 ou 8 páginas por episódio com diretrizes gerais sobre o que acontece e o resto é com o pessoal. É um caos controlado, costumam dizer as atrizes e atores que acompanham David a mais tempo nessa aventura cômica.

Tudo gira em torno do dia a dia do ficcional e muito real Larry David, um escritor-produtor que teve um grande sucesso na TV e agora não sabe muito bem o que faz ou o que não faz em Los Angeles. Ao seu lado, a esposa/ex-esposa Cheryl David (Cheryl Hines), o velho amigo e seu empresário Jeff Greene (Jeff Garlin) e sua esposa Susie Greene (Susie Essman), e o novo amigo Leo Black (J.B. Smoove), além de muitos outros personagens de passagem e participações de celebridades interpretando a si próprias (Mel Brooks, Lin-Manuel Miranda, Martin Scorsese, Ben Stiller, Seth Rogen, Shaquille O’Neal, Richard Lewis, etc). Teve espaço até, na sétima temporada (2009), para uma reunião com o quarteto de Seinfeld: Jerry Seinfeld, Julia-Louis Dreyfus, Jason Alexander e Michael Richards. Mas o David da TV só topou participar de evento tão histórico porque queria fazer uma presença com sua esposa. Os dois estavam em crise.

Larry David atacando Elmo (Sesame Street) num morning show recente nos EUA

No entanto, no início dos anos 2010, David deu uma longa pausa em Segura a Onda, de 2011 a 2017. Nunca explicou muito bem o motivo, mas escreveu um filme para a TV protagonizado por Jon Hamm (Apagar Histórico), reencontrou mais uma vez o amigo Seinfeld em um episódio impagável de Comedians in Cars Getting Coffee, fez participações aqui e ali e interpretou Bernie Sanders em esquetes no Saturday Night Live

Já o retorno de Segura a Onda foi explicada da maneira mais larrydavidiana possível em uma coletiva, em 2017: “Realmente não sinto muita falta das coisas, das pessoas, mas eu estava sentindo falta disso, e estava sentindo falta desses idiotas [o elenco]. E cansei de pessoas me perguntando ‘o show vai voltar?’. Não conseguia mais enfrentar essa questão. Eu não estava pronto para dizer não, nunca, e continuei dizendo, ah, você sabe, talvez, quem sabe. Então pensei que sim, a série vai voltar. Daí não precisaria mais responder isso”.

Neste mesmo ano, David descobriu que Segura a Onda salvou um homem condenado à morte. É que Juan Catalon foi acusado pelo assassinato de uma adolescente em Los Angeles, em 2003, só que ele dizia e insistia que tinha um álibi: na hora do assassinato ele estava assistindo a um jogo de beisebol. A defesa de Catalon procurou imagens do estádio e da transmissão e nada. Ficaram sabendo que no mesmo dia estavam filmando uma sequência da quarta temporada da série, e com o próprio Larry David em cena, e lá encontraram Catalon perto de David. Catalon foi inocentado e toda essa história é contada no curta documental Long Shot (2017), disponível na Netflix.


Mas o que esperar dessa ‘season finale’?  Até agora só se sabe que a temporada vai de fevereiro a abril, que o elenco principal estará presente, e que terá, como sempre, dez episódios. E existe um final possível para Larry David? Em uma entrevista recente, um dos produtores executivos da série, Jeff Schaffer, deixou portas abertas. “Minha primeira temporada [como produtor] foi a 5ª temporada. E você sabe como se chamava o episódio final dessa temporada? ‘O fim.’ Não ironicamente. Isso foi há 15 anos. Portanto, cada temporada é a última temporada. Tem sido assim desde sempre. Larry coloca todas as ideias que gosta na temporada. Ele é o único que pensa que nunca mais terá outra boa ideia. Então, é claro, ele se dá por satisfeito por um tempo. Mas você sabe, geralmente ele sai e tem encontros animados em Los Angeles e então surgem ideias. Portanto, estamos na mesma situação em que sempre estivemos”, afirmou Schaffer.

Por outro lado, toda a campanha promovida pela HBO frisa que é sim a última temporada de Segura a Onda. Tanto que no material distribuído para a imprensa é o próprio Larry David que diz adeus a Larry David. “À medida que a série chega ao fim, agora terei a oportunidade de finalmente me livrar dessa personalidade ‘Larry David’ e me tornar a pessoa que Deus pretendia que eu fosse - o ser humano atencioso e gentil que eu era até que a minha vida descarrilou ao retratar esse personagem maligno. E então, ‘Larry David’, eu me despeço de você. Sua misantropia não fará falta. E para aqueles que desejam entrar em contato comigo, podem me achar no Médicos Sem Fronteiras”.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

70 músicas e 55 discos brasileiros de 2023

música brasileira é aquela coisa bonita, cada vez mais diversa e territorialmente vasta. e todo ano aparece gente nova, tem povo amadurecendo e veteranos inquietos. mas foi em 2023 que teve Barbara Eugênia cantando Wando, Céu cantando Pitty, DJ Múlu remixando Tetê Espíndola, Martinho da Vila e Chico César cantando Zé Ketti, Valério tocando Luiz Gonzaga e Xande de Pilares cantando Caetano.

também foi em 2023 que finalmente gostei de Ava Rocha e fui surpreendido pelo improvável (a ex-atriz Cleo e Johnny Hooker, a ex-skatista Karen Jonz e o Cansei de Ser Sexy). falando em primeiras vezes, surgiram por aqui a potiguar Sarah Oliver, a mineira Sara Não Tem Nome, os gaúchos Ian Ramil e Duda Brack, o paraibano VictoRAMA, o cearense Mateus Fazeno Rock, o pernambucano Luiz Lins, o carioca Jonathan Ferr e o paulista MC Pedrinho.

também foi em 2023 que precisei quebrar mais uma vez a regra de não colocar mais de uma música por artista. Aleatoriamente de Rodrigo Ogi é tão porrada pulsante de um rapper cronista cada vez mais afiado que foi difícil fechar em apenas uma música (teria colocado mais que duas, aliás), e assim entraram “Chegou sua vez” e “Valha-me” (uma com Juçara Marçal, a outra com Siba, ambas produzidas por Kiko Dinucci). também não fui capaz de escolher entre “Madrugada maldita” e “Estante de livros” (essa com participação certeira de Don L), os dois pontos altos do excelente disco O Amor, o Perdão e a Tecnologia Irão Nos Levar Para Outro Planeta do FBC.

dessas 70 músicas vieram, obviamente, trampos novos & massa de gente já querida pela casa. gente que já sai com uns corpos de vantagem. é o caso de Aíla, Alice Caymmi, Jaloo, Ju Dorotea, Lurdez da Luz, Lucas Santtana, MC Tha, Síntese, Vitor Ramil, Baiana System, Duda Beat, Marcelo D2, Tatá Aeroplano, Xis e sempre sempre a filha Iara Rennó e a mãe Alzira E. mas já tá bom de blábli né. segue a playlist com 70 músicas brasileiras de 2023 segundo os ouvidos da casa.


70 MÚSICAS BRASILEIRAS DE 2023

A Espetacular Charanga do França - “Chevette azul”
Academia da Berlinda - “Bandoleiro”
Afrocidade - “Tá fod*”
Aíla & Jáder - “Me beija”
Alaíde Costa - “Ata-me”
Aldo Sena - “Meu vovô” [part. Saulo Duarte]
Alice Caymmi - “Las brujas”
Alzira E - “Filha da mãe” [part. Ney Matogrosso]
Ana Frango Elétrico - “Insista em mim”
Arquétipo Rafa - “Feito ladeira” [part. Alessandra Leão]
ÀTTØØXXÁ - “Dejavú” [part. Liniker]
Ava Rocha - “Longe longe de mim”
BaianaSystem & Duda Beat - “Borogodó”
BaianaSystem, Gilsons & Tropkillaz - “Presente”
Bárbara Eugênia - “Gosto de maçã”
Bixiga 70 - “Na quarta-feira”
Céu - “Emboscada”
Clarice Falcão - “Chorar na boate”
Cleo - “Seu fim” [part. Johnny Hooker]
Coruja BC1, MC Luanna & Febem - “Versão brasileira”
Djonga - “Coração gelado” [part. Tz da Coronel]
Domenico Lancellotti - “Quem samba” [part. Ricardo Dias Gomes e Marcia]
Don L - “Tudo é pra sempre agora” [part. Luiza de Alexandre]
Duda Brack - “Víbora ligeira”
Eddie - “Máscara negra” [part. Karina Buhr e Isaar]
FBC - “Estante de livros” [part. Don L]
FBC - “Madrugada maldita”
Felipe Cordeiro, Illy & Barro - “Todo céu azul”
Giovani Cidreira - “Dois lados” [part. Russo Passapusso e Melly]
Ian Ramil - “Macho-Rey”
Iara Rennó - “Orí axé”
Iza & MC Carol - “Fé nas maluca”
Jaloo - “Tudo passa”
Jards Macalé - “A foto do amor”
Jonathan Ferr - “Correnteza”
Ju Dorotea - “Raven”
Juliano Gauche - “Nos cânticos de lá”
Karen Jonz - “Coocoocrazy” [part. CSS]
Karol Conká, Tasha & Tracie - “Negona”
Letrux & Lulu Santos - “Zebra”
Lucas Santtana - “What's Life”
Luiz Lins - “Midas”
Luisa e os Alquimistas & Getulio Abelha - “Caninga”
Luiza Lian - “Homenagem”
Lurdez da Luz - “Devastada”
Marcelo D2 - “Povo de fé”
Marina Sena - “Me ganhar”
Martinho da Vila & Chico César - “Acender as velas”
Mateus Fazeno Rock - “Melô de Aparecida”
MC Pedrinho - “Gol bolinha, Gol quadrado 2”
MC Tha & MahalPita - “Coisas bonitas”
Moreno Veloso - “Mundo paralelo”
Mulú - “Escrito nas estrelas” [remix]
niLL - “3.0” [part. Amiri]
Paulo Ohana & Bruna Alimonda - “Um pedido de desculpas”
Rico Dalasam - “Tarde d+”
Rodrigo Campos - “Japonego” [part. Juçara Marçal]
Rodrigo Ogi - “Chegou sua vez” [part. Juçara Marçal]
Rodrigo Ogi - “Valha-me” [part. Siba]
Sara Não Tem Nome - “Nós”
Sarah Oliver - “Redinha”
Síntese - “Éter, dom & maldição”
Tatá Aeroplano - “Canto mistério”
Valério - “Asa Branca”
VictoRAMA - “AfroRobot”
Vitor Ramil - “Acordei sonhando” [part. Alunas e Alunos da Escola Projeto]
Xande de Pilares - “Muito romântico”
Xis - “Cutuco di bituca” [part. Elena Diz, Kami Cruz e Chico Chagas]
YMA & Jadsa - “Meredith Monk”/ “Mete Dance”
Zudizilla - “Groove ou caos” [part. Tuyo]

João Gilberto por Speto (próximo ao Mercadão de São Paulo)

55 DISCOS BRASILEIROS DE 2023

como já disse lá em cima, Aleatoriamente do Rodrigo Ogi e O Amor, o Perdão e a Tecnologia Irão Nos Levar Para Outro Planeta do FBC são dos maiores frutos do ano. discos que são tanto 2023 quanto o futuro. tem balanço e sujeira, esperança e desigualdade, cidade e amor.

outros grandes discos deste ano são o Coração Bifurcado de Jards Macalé, Iboru de Marcelo D2, a Negra Ópera de Martinho da Vila, O Paraíso de Lucas Santtana, a volta de Xis em Invisível Azul, a revelação de Mateus Fazeno Rock em Jesus Ñ Voltará, a delicadeza de Xande de Pilares ao cantar Caetano Veloso e a dobradinha de Rodrigo Campos (com o próprio Pagode Novo e a parceria com Romulo Fróes em Elefante), além do absurdo talento de mãe (a Mata Grossa de Alzira E) e filha (o Orí Okán de Iara Rennó).

seguem os 55 discos brasileiros do ano com link pra ouvir os respectivos na íntegra.

A Espetacular Charanga do França - Baile Espetacular
Aldo Sena - Jamevú
Alzira E - Mata Grossa
Ana Frango Elétrico - Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua
Arquétipo Rafa - Pisa de Conversa
Ava Rocha - Néktar
Banda Del Rey - O Disco
Barbara Eugênia - Foi Tudo Culpa do Amor
Bixiga 70 - Vapor
Cabezadenego, Leyblack e Mbé - Mimosa
Clarice Falcão - Truque
Coruja BC1 - Versão Brasileira, Vol. 1
DJ K - Pânico no Submundo
Djonga - Inocente
Domenico Lancellotti - Sramba
Eddie - Carnaval Chanson
Elza Soares - No Tempo da Intolerância
FBC - O Amor, o Perdão e a Tecnologia Irão Nos Levar Para Outro Planeta
Gaby Amarantos - PiraruCool
George Belasco & O Cão Andaluz - O Trabalho Mortifica
Ian Ramil - Tetein
Iara Rennó - Orí Okán
Iza - Afrodhit
Jaloo - Mau
Jards Macalé - Coração Bifurcado
Jonathan Ferr - Liberdade
Juliana Calderón - Primeiro Ato: Tectônica
Juliano Gauche - Tenho Acordado Dentro dos Sonhos
Letrux - Letrux Como Mulher Girafa
Lirinha - Mêike Rás Fân
Lucas Santtana - O Paraíso
Luiza Lian - 7 Estrelas
Mahmundi - Amor Fati
Marcelo D2 - Iboru
Marcelo Jeneci - Caravana Sairé
Mariana Cavanellas - DNA
Marina Sena - Vício Inerente
Martinho da Vila - Negra Ópera
Mateus Fazeno Rock - Jesus Não Voltará
MC Carol - Tralha
Meno Del Picchia - Pompeia Lo-Fi
Ná Ozzetti - Ná canta Zécarlos Ribeiro
Rico Dalasan - Escuro Brilhante, Último Dia no Orfanato Tia Guga
Rodrigo Campos - Pagode Novo
Rodrigo Campos & Romulo Fróes - Elefante
Rodrigo Ogi - Aleatoriamente
Sara Não Tem Nome - A Situação
Sarah Oliver - Manha
Tatá Aeroplano - Boite Invisível
Totonho e Os Cabra - Canções Pra Macho Chorar e Roer Unhas
Urias - Her Mind
Vários Artistas - Admirável Chip Novo (Re)Ativado
Xande de Pilares - Xande Canta Caetano
Xis - Invisível Azul
YMA & Jadsa - Zelena