domingo, 30 de maio de 2010

domingueira tulipa

hoje, lá pelas 19h, tulipa ruiz sobe ao palco do auditório ibirapuera para lançar efêmera (yb music, 2010). quero muito assistir, mas existem picanhas e cervejas no meio do caminho. veremos. mas a estreia de tulipa é disco bonito, cheio de camadas, pop, paulistano, de uma compositora com muitas vozes e uma intérprete segura e divertida (fora a influência de gal do início dos anos 70). fora que tulipa é mais uma cantora a fazer seu trabalho para além do samba, o que é sempre bom, e assim cria uma quantidade invejável de ótimas músicas para um primeiro disco: "efêmera", "pontual", "pedrinho", "a ordem das árvores", "às vezes", "só sei dançar com você" e "brocal dourado", por exemplo. e aqui um video recentíssimo e ao vivo (em estúdio) de "brocal dourado", filmado pela dupla pablo francischelli e caio jobim para o programa pelas tabelas (canal brasil).



e agora um versão de "pedrinho" gravada em agosto de 2008 pelo música de bolso, com tulipa no violão e acompanhada do pai (luiz chagas, um dos mais célebres músicos da banda de itamar assumpção) e do irmão (gustavo ruiz, do trash pour 4, donazica, etc).



encerrando essa domingueira especial dose tripla uma outra versão ao vivo, mas agora da adorável "pontual", filmada em novembro de 2009 dentro do excelente projeto oi novo som.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

precisa dizer mais?

tá pronta(o)? então ouça.



esse rapagão aí é o mauricio fiore (@mauriciofiore), grande amigo desde os tempos da sociais na usp, mandando ver nos argumentos. quer dizer, o raciocínio é tão simples que parece burro-por-demais que já não tenha sido tomado uma providência a respeito da legalização. só que ainda tem muito boi nessa linha, é história longa pra desatar. certo também é que quero me envolver mais com o assunto. tanto que eu fui com o mauricio, um estudioso da parada, no domingo passado - dia 23 de maio - lá no parque do ibirapuera ver como seria e aconteceria a marcha da maconha ou pelo menos mais uma tentativa (já que nos anos anteriores ela foi proibida aqui em são paulo). falei disso no post domingueiro.

resumo da ópera-marcha: proibição de última hora, contingente policial a postos, vetados os cartazes e camisetas com a palavra maconha (ou derivados), algumas apreensões, e mesmo assim umas 300 pessoas andaram pelo parque gritando então por liberdade de expressão, entre uma brincadeira e outra. tô aqui passando a limpo minhas anotações da marcha e fazendo uma primeira pesquisa sobre o dia e seus protagonistas, em notícias e videos. juntando material pr'uma reportagem - só não sei pra quem, nem quando, nem como. foi nessa primeira pesquisa que achei o canal de videos do pessoal do legalize cânhamo brasil e o mauricio falando tão direto ao ponto. acho que esse video foi feito no dia que não houve a marcha da maconha do ano passado. continua atual.

olha, posso ter esquecido, mas é quase certeza que ele nunca falou dessa sua aparição (timidez? zelo? malandragem?). ele também participou de um mtv debate sobre o mesmo assunto em 2007, mas esse eu fiquei sabendo (só não tinha visto, até agora). todo esse blábláblá (mais um) somente pra justificar que fiquei feliz de achar esse video e esses argumentos/raciocínios vindos de um bróder da mais fina qualidade (e olha que o apelido dele é rivolts).


cenas de um domingo 23

alguns cliques celulares durante marcha, com direito ao momento em que um garoto é levado por policiais. ele carregava um cartaz com uma frase desestabilizadora para a sociedade. a saber, "não fumo, não compro, não vendo e não condeno".

p.s. 1: o pessoal do growroom fez uma transmissão ao vivo da marcha, incluindo as conversas com os policiais e toda a hesitação do começo. os videos estão aqui.

p.s. 2: o mauricio é antropólogo e integrante do neip (núcleo de estudos interdisciplinares sobre psicoativos). foi um dos organizadores do livro drogas e cultura: novas perspectivas (edufba, 2008) que está disponível para download gratuito no site no neip.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

"meu deus do céu que escuridão"



vista da avenida 9 de julho (de cima do viaduto da rua avanhandava) mais uma curta e instrumental versão de "sampa midnight" do itamar assumpção (o nome do violonista não aparece na página do video lá no vimeo). via @URBe.

nada disso. nada disso. comi bola. não chequei, comi bola. a música que toca nesse video se chama "eldorado" (a.c. tonelli) e essa gravação tá no disco sampa midnight - isso não vai ficar assim (baratos afins, 1983), o terceiro do itamar. é uma espécie de abertura instrumental para "sampa midnight" (itamar assumpção) e, dando uma olhada no encarte, os músicos aí devem ser tonho penhasco e luiz waack. quem me alertou, aí na caixa de comentários, foi o guima do blog linha de frente. valeu, guima! de resto é a avenida 9 de julho mesmo. a 9 de julho continua sendo.

representando

khalil jackson, jorden plaines e dallas ifill são do brooklyn, tem por volta de 11 anos e agora também são conhecidos como 3 titans. o trio lançou um EP pelo selo dunham records, um braço da daptone records, com duas músicas ("the life of a scholar" e "college") e em ambas a participação luxuosa da menahan street band (aquele catadão de músicos dos grupos budos band, antibalas, el michels affair e dap kings, e criadores de uma das melhores músicas de 2008, a linda "make the road by walking"). a molecada faz um rap bem falado à la anos 1980 e a metaleira da menahan street band completa as lacunas com muito peso. o assunto só podia ser um: a vida puxada da (sei lá) quinta série.



vi lá no ótimo blog hasta luego baby (que tem o EP pra download).

quarta-feira, 26 de maio de 2010

tony tornado, 80 anos

um dos caras mais importantes da black music nacional, tony tornado lançou apenas dois discos. poderia ter sido mais, muito mais, porém a ditadura militar (e uma grande parte da sociedade) não viu com bons olhos o movimento negro brasileiro que vinha surgindo na virada da década de 1960 pra 70. tornado foi uma das vítimas após o sucesso de "br-3" (antônio adolfo e tibério gaspar) no 5º festival internacional da canção (1970), bem como erlon chaves e wilson simonal, entre outros. e foi aí que o orgulhoso cantor virou ator em filmes, novelas e programas humorísticos, quase sempre na tv globo. mas deixou pra posteridade os impressionantes (e atuais e indispensáveis) discos toni tornado (odeon, 1971) e toni tornado (odeon, 1972), no qual gravou pedradas do naipe de "br-3", "uma vida" (dom salvador e arnoldo medeiros), "papai, não foi esse o mundo que você falou" (roberto carlos e erasmo carlos), "o jornaleiro" (major e toni tornado), "podes crer, amizade" (major e toni tornado), "uma idéia" (marcos valle e paulo sérgio valle), "bochechuda" (toni tornado) e "eu tenho um som novo" (toni tornado), todas com arranjos do mestre dom salvador.

queria deixar aqui registrado um grande salve pra esse cara cuja importância na cultura nacional ainda é muito subestimada (fora que, parodiando nelson rodrigues, 80 anos não são 80 dias). então fui procurar algum video do grande tornado lá na década de 1970 e achei esse divertido quadro no programa dos trapalhões. no cruzamento de informações vi que o video é de 1977 e, pelo jeito, essa música ("black esperto") nunca foi gravada (talvez fosse uma tentativa de voltar a cantar aproveitando a febre disco).



p.s.: na página original do youtube um dos comentários diz que esse dançarino (ligeirinho) foi um dos maiores da cena black carioca setentista.

terça-feira, 25 de maio de 2010

o amor em diferentes formas

o traço da inglesa julia pott me soa muito familiar. não sei onde vi antes. não sei se foi alguma ilustração ou animação (ela manda muito bem nas duas áreas). certo mesmo é que hoje de manhã, a partir de uma tuitada da (igualmente excelente) ilustradora daniela hasse, fiquei sabendo de uma nova animação dela: o curta howard (2010). amores súbitos e estranhos, perdas dolorosas e um um mundo quase sempre mágico (com trilha de um grupo novo de nova york chamado walter; amigos de julia).



na página da moça lá no vimeo tem outras animações, incluindo o clipe de "white corolla", música do disco advance base battery life (tomlab, 2009), uma compilação de singles do casiotone for the painfully alone, projeto lo-fi do músico owen ashworth. nos vocais dessa música, jenny herbinson.

CORJA #8

olha, tanta coisa aconteceu do último corjacast pra esse que fica até difícil resumir. ele já estava gravado faz tempo - bem como o número 9 -, mas como douglas mendonça feitosa (o oga), nosso querido rapper de plantão e artista gráfico de ponta, foi tirar um sabático de dois meses nos estados unidos... cuma?

esse é o começo do textinho que fiz para o corjacast de número 8. o resto tá lá no blog corjeiro, com direito a muitos videos de apoio, suporte e/ou complemento. mas é claro que não iria perder a oportunidade de colocar meu primeiro podcast editado aqui (acho que não consegui resolver alguns problemas de volume, mas parodiando paulo tiefenthaler, "podcast é treino"). seguraaa!

corjacast#8 by corjacast2

segunda-feira, 24 de maio de 2010

um conselho de irmão

integrante do grupo contrafluxo, o rapper ogi está prester a lançar seu disco de estreia solo (crônicas da cidade cinza). mas já tem uma música rodando velozmente a internet, a excelente "premonição", produzida por dj caique, um aperitivo e tanto para o disco. e não é que a música ganhou um clipe bacana, cheio de climões, dirigido por fernando reginato? ah, e o ogi tem twitter.

domingo, 23 de maio de 2010

domingueira



o maluco aí é o afroman e a música se chama "because i got high", diretamente da trilha daquela comédia infame do kevin smith, jay and silent bob strike back (2001). tô colocando essa música porque hoje acontecerá, na marquise do parque do ibirapuera às 14h, a marcha da maconha em são paulo (após dois anos de justiça e polícia proibindo). vou dar um pulo lá com o bróder @mauriciofiore para sacar o movimento, mas principalmente porque está mais que na hora dessa discussão sobre as drogas avançar. e quando digo avançar penso em legalização, porque drogas são assunto para saúde pública, como cigarros e bebidas, e não segurança pública. a discussão é complexa e ainda levará alguns anos para a sociedade amadurecer nesse ponto, mas temos que começar de algum jeito. acabar com a demagogia é uma maneira. imaginem que em uma banca de revistas 24h de um bairro de classe alta paulistana são vendidos estranhos objetos cromados. uma caveira ostentando uma coroa, por exemplo. aí pergunto para o funcionário da banca que diabos é aquilo. a resposta vem calma e objetiva: "é um dixavador e custa 60 reais". claro que em
higienópolis a polícia não vai parar e encher de porrada o maninho que comprou o dixavador de 60 reais. não vão fechar a banca também. mas é que lá pode, o pessoal tem grana, forma opinião. quer dizer, não dá mais para esse assunto ser tratado com 4 pesos e 6 medidas. enfim, me alonguei e o mauricio foi bem direto ao ponto lá no twitter: "importante: a marcha não é para fumar, nem só para quem fuma maconha. domingo, 14h, na marquise, se luta pelo direito de lutar por mudanças!".

p.s.: acho meio estranho o nome "marcha da maconha" (meu problema com esses termos militares), principalmente acontecendo no parque do ibirapuera, que tá mais pr'uma "caminhada da maconha" ou "passeiozinho da maconha", afinal fica tudo dentro do parque, não sai pra rua e nem atinge mais pessoas (como foi em muitas cidades e, mais recentemente, no rio de janeiro - olha o vídeo abaixo do camarada bruno natal).

sábado, 22 de maio de 2010

esses americanos...



falar o quê? via @chicobarney lá do vida ordinária.

luta boa, luta limpa

lá na editora globo existe o projeto generosidade que envolve, desde 2006, todas as revistas em reportagens sobre ações de pessoas em busca pelo bem comum (geralmente são projetos que ainda não foram contemplados por grana da iniciativa privada). em 2007, lá na monet, escrevi uma sobre o projeto viver (cora garrido boxe), misto de instituição social, academia de ginástica e escola de boxe e artes marciais (tudo para ressocializar camadas mais pobres da população). quando entrevistei nilson garrido e cora garrido, o projeto estava embaixo de um viaduto na tradicionalíssima bela vista (bexiga). não sei se em 2008 ou 2009 foram expulsos de lá pela política higienista do prefeito kassab e agora estão na mooca, na altura do número 1200 da radial leste. a luta de nilson e cora não tem fim.

foto de joão kehl, da cia de foto, que fez uma série sobre
os boxeadores da academia nos tempos do bexiga


A CIDADE É UM RINGUE

Era uma noite qualquer no Centro de São Paulo quando o segurança e ex-boxeador Nilson Garrido se deparou com um menino. Ele disse que tinha 9 anos, estava machucado por causa de uma briga e pediu ajuda. Garrido disse que sim e a partir daquela noite começou a reunir meninos de rua em um improvisado ringue de boxe ali mesmo no Vale do Anhangabaú. Curiosamente aquele garoto - conhecido como Alemão - nunca apareceu. Garrido ainda o encontrou outras três vezes e em todas ele fugiu. Até hoje não sabe se o que aconteceu foi real ou se foi uma espécie de chamado, mas uma coisa é certa, o que começou individualmente se transformou em um projeto social que possui pouco mais de 900 pessoas cadastradas e atende de 100 a 150 pessoas/dia, todos sob coordenação de Garrido e da amiga Cora Batista. Em janeiro de 2007, o Cora Garrido Boxe, também conhecido como Projeto Viver, completou um ano em sua casa nova doada pela Prefeitura, debaixo do Viaduto do Café, no tradicional e central bairro da Bela Vista.

O barulho dos carros, caminhões e ônibus é alto, constante durante o dia e vem por todos os lados, mas ninguém parece se importar. Além do ringue de boxe, o projeto já conta com uma boa aparelhagem de ginástica, uma biblioteca, uma brinquedoteca e, futuramente, o plano de uma sala para informática e aulas de idiomas. “Trabalhamos com o resgate social de moradores de rua em situação de risco, albergados, ex-meninos da Febem e ex-detentos, além de moradores mais necessitados aqui da Bela Vista. Queremos trazê-los de volta à sociedade”, afirma Cora do alto de seu muitos anos de trabalho assistencial com mulheres. Suas vidas se encontraram há pouco mais de quatro anos em uma solenidade da Comunidade Negra do Estado e logo as idéias e projetos de ambos entraram em sintonia e a dupla resolveu juntar forças. “Temos que dar para estas pessoas estas duas grandes oportunidades para se viver melhor no mundo de hoje. É muito importante o acesso a tecnologia e cultura, mas caminhando sempre e lado a lado com o esporte. Assim é possível fazê-los acreditar que podem ser reciclados”, completa Garrido. O apoio da Prefeitura é essencial, mas o projeto vive mesmo de doações, tanto de particulares quanto de empresas.

Mas não são apenas os frequentadores do projeto que saem ganhando com a iniciativa. “Depois que a a gente chegou aqui muita coisa mudou. A região está mais segura e iluminada. As pessoas podem andar a pé durante a noite ou andar de carro com os vidros abertos”, diz Garrido. Enquanto constroem o futuro no dia-a-dia, Garrido e Cora sonham com um novo núcleo para as atividades do projeto e organizam um campeonato para novos boxeadores nos meses de fevereiro e março. “É fácil falar que é culpa do governo. O difícil é fazer as pessoas perceberem que podem dar um pouco de si para outros mais necessitados. Por isso queremos que as pessoas, políticos, empresários e cidadãos comuns, venham nos visitar para conhecer o projeto. Tenho certeza de que somos um modelo de ação social bem sucedidada, séria e com muito potencial”, afirma o ex-boxeador que só estudou até o 2º ano primário.

nilson garrido no clique de joão kehl

Ao fundo e lentamente começam a crescer os sons de punhos batendo nos sacos de treinamento. É um som seco e contínuo produzido por mais um jovem integrante do projeto. “Olha, as pessoas entram aqui de um jeito e saem com uma outra postura. Algumas até voltam a estudar. Por causa disso conseguimos fechar uma parceria com a Universidade Mackenzie. Somos beneficiados com o trote solidário deles e quatro dos nossos garotos estão no curso preparatório para a faculdade. Se eles forem bem nas provas ganharão bolsas integrais”, explica uma orgulhosa Corina.

Em muitos momentos a entrevista é interrompida: uma vizinha do projeto pergunta se eles aceitam e retiram doações; um carroceiro pede água; uma jovem com roupas esportivas quer saber quem pode orientá-la nos exercícios; e assim por diante. “Hoje estamos sem tempo para gente e com tempo para todos eles”, diz Garrido, enquanto lança um sorriso cúmplice para Cora, sua companheira de ringue e vida. A luta continua.


p.s.: encontrei alguns videos sobre o projeto dos garrido, mas esse foi o que achei mais bem feito. tem também um documentário feito como trabalho de conclusão de curso de alguns alunos da puc-sp. estão aqui parte 1 e parte 2.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

laerte da semana #13

d'uma nova série de drágeas lá no manual do minotauro

homem é tudo igual

com certeza um dos melhores discos do ano, brothers (nonesuch records, 2010) é outro petardo blues rock sujão do duo the black keys. e ganhou com "tighten up" um primeiro clipe à altura.



e aqui um trecho do making of.

duas mixtapes drásticas

gosto muito do the drastics, povo lá de chicago que faz mistura bacana de dub, reggae, jazz e rap (tanto que emplaquei a linda e instrumental "bulletproof" no corjacast #6). mas fora o som próprio, o pessoal cria mixtapes sensacionais com outros artistas e posta mensalmente no site oficial da banda. a série chama-se the blends e é atualizada pelo baterista e produtor anthony abbinanti. vou colocar aqui as duas últimas por mera questão cronológica, mas todas são excelentes. bloodline caminha mais pelo rap, enquanto the g.i. mix é uma homenagem ao reggaeman gregory isaacs.


roots manuva - son of the souil
herbaliser - repetitive loop
i-cue - dig this
souls of mischief - spark [dj vadim remix]
slide five trio - kc doppler
the khromozomes - the l
ohmega watts - where it all started
zion i - we got it
yesterday's new quintet - sunrays
phat kat & jay-dee - microphone master
the roots - proceed [live]
the roots - mellow my man [live]
common & 45 king - can horn
dj shadow - in-flux alternative interlude '93 mix]
dj krush - on the dub-ble
the prunes - mr. jolly lives next door
bjork - it's in our hands [arcade mix]

the g.i. mix [the original lovers rock]

the blends - introduction
gregory isaacs - another heartache
gregory isaacs - my religion
dr. alimantado - unitone skank
the mighty diamonds & gregory isaacs - idler's corner
gregory isaacs - soon forward
sly & the revolutionaries - ezekiel 29:13
gregory isaacs - love is overdue
gregory isaacs & u roy - love is overdue [version]
gregory isaacs - philistines
gregory isaacs - fugitive dub
the blends - night nurse intro
gregory isaacs - night nurse
gregory isaacs - night nurse dub 2
gregory isaacs - grow closer together
gregory isaacs - my number one
trinity - number one [version]
gregory isaacs - sad to know (you're leaving)
gregory isaacs - way of life
gregory isaacs - something nice
prince far i - ghardaia dub
gregory isaacs - jailer
gregory isaacs - waterfall dub
gregory isaacs - permanent lover
gregory isaacs - can i change my mind
gregory isaacs - changing dub
gregory isaacs & carlene davis - feeling irie
gregory isaacs - loving pauper
big youth - i am alright
duke reid - de pauper a dub
gregory isaacs - my time
gregory isaacs & baja jedd - downpressor
gregory isaacs - guilty
gregory isaacs & general - tk in my nest
gregory isaacs - overdrive
gregory isaacs - each day

quinta-feira, 20 de maio de 2010

1974

foi o ano que nasci, e que meus pais não tiraram férias. foi o mesmo que jards macalé lançou o disco aprender a nadar (philips), seu segundo solo, com uma das músicas mais lindas da história mundial do mundo: "rua real grandeza" (jards macalé e waly salomão).

jards macalé - rua real grandeza by dafne47

lá no gafieiras tive uma coluna chamada disco do mês de sempre, no qual escrevi textos curtos e ficcionais inspirados em discos clássicos (alguns bem no esquema colagem como esse aqui). teve discos de figuras como jorge ben, racionais mcs, batatinha, egberto gismonti, chico buarque, roberto carlos, paulinho da viola, paulo vanzolini, elis regina e romulo fróes (15 ao total). mas começou, coincidentemente, com esse disco do jards, justo do ano que nasci. já faz muito tempo que não escrevo e nem me interesso por ficção (na literatura), então segue o texto, sem nenhuma revisão espaço-temporal e com um pouquinho de vergonha.

...

Estava nascendo e ouvia uma voz batendo suavemente na barriga da minha mãe - "vale, vale a pena ser poeta!" -, mas relutava em sair. Só o calor e aquela escuridão úmida, fruto de dois corações que se amavam de verdade, importavam. Posso ficar mais um pouco? E ouvir meu pequeno coração descompassando em jatos de sangue?

Mas então meu pai encostou a boca na barriga de minha mãe e sussurrou, "tudo é alegria". Parecia um aviso. O médico veio da sala ao lado com um instrumento de ferro que parecia poder agarrar um pouco mais de seis cabeças ao mesmo tempo. Seus olhos cansados de uma longa madrugada escoavam um só lamento, "tudo é ilusão". Vi muito claramente que não poderia mais ficar ali e que para ser poeta precisava antes nascer. Só mesmo vendo. Doeu... e o mundo ficou de cabeça para baixo.

A luz fria da sala me cegou, o frio me fez chorar e não conseguia deixar de ouvir música por todo o lado. Não eram violinos, nem trombetas, pareciam mais violões dobrados e caixas de fósforo. Gemi entre sete cordas e soltei um silencioso "e daí?"

Mãos emborrachadas me levantaram ao céu do quarto e logo depois fui descendo até o peito de minha mãe que entre um choro e outro me segredou, "não pode haver no mundo maior felicidade". Mas vai continuar assim? pensei. E se eu saltar de banda? E se eu saltar de lado? Meu pai não tardou a emendar, "meu querido, samba é sempre a mesma história". Uma tesoura veio correndo prateada e jogou fora o cordão. Aliviada, a enfermeira cantou "vou aprender a nadar... eu não quero me afogar". Silêncio, olha o vexame, o ambiente exige respeito.

Fui retirado para o berçário, minha mãe foi para o quarto descansar e meu pai saiu para comer alguma coisa. Nada de café, estraga o estômago, são quatro e meia da manhã. A sala de cirurgia ficou assim vazia. Paisagem de fim de festa. Meu olhos pareciam grudados de tanta música, mas não estava com medo, já havia nascido com a alma em sinuca. Todo o resto seria mais fácil.

p.s.: achei um myspace em homenagem ao jards - o site dele que existiu sumiu no éter - e a imagem de fundo da página é uma foto tirada para a entrevista que ele deu ao gafieiras.

morte e vida de um réptil severino

animação simples e old school, calango lengo - morte e vida sem ver água (2008) é um divertido duelo, em plena caatinga, entre um lagarto esfomeado e a inevitável morte (com direito a participação especialíssima de uma nossa senhora com voz de chica xavier). escrito e dirigido por fernando miller, o curta foi feito pela rocambole produções.



também vi lá no salaBR.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

sementes e raízes

ouço tanta música que às vezes esqueço de colocar alguns hits pessoais pré-esforçado (a vida inteira, praticamente). aí dando aquela passada de lei pelo original pinheiros style me deparo com o clipe de "the seed 2.0", dos sempre excelentes the roots e com participação de cody chesnutt. pra mim é uma das melhores músicas dos anos 2000, saída diretamente do disco phrenology (geffen, 2002).



e aqui segue a versão original de chesnutt, muito mais crua e menos pop (e chamada apenas de "the seed"), registrada no disco the headphone masterpiece (ready set go, 2002), o único (até agora) de sua curiosa carreira.



o sujeito meio que sumiu após o sucesso de "the seed 2.0" e em seu myspace dá pra sentir que tá em outra. saca só:

Cody has been living life in its momentary expression as a husband, a father, and a student of God. Life has been his muse, his wife; his child, the earth, wind, and the sun are his text book. During this time he has created a multimedia video and soundtrack entitled The Last Adam and a new collection of songs entitled The Live Release. The Live Release is a unique experiment in music, an exercise of the living word. In essence Cody is releasing his new project anew on stage for his audience. Cody has assembled this body of work in the tradition of the African story tellers and his audience is a part of a camp fire circle. Cody will often ask the audience not to clap in between songs; his intent is to tell a story, share a fluid continuous expression. Todays Cody ChesnuTT is an expression of pure art; pure expression in its purest form. A man, an instrument, and the living word.

tem também outra versão de "the seed" aqui, dessa vez bem acústica, gravada por chesnutt pra bbc.

skateboarding is not a crime (parte 1)

tá na rede o documentário dirty money (2010), trabalho de estreia da dupla alexandre vianna e ricardo koraicho. com muitos depoimentos e imagens da época, trata da volta por cima de uma geração de skatistas brasileiros - bob burnquist entre eles - que rodavam pelas ruas de são paulo no final da década de 1980, mas que, surpreendidos pela fuga de patrocinadores por causa do governo collor e da falta de estrutura dos campeonatos, fizeram um video caseiro com suas próprias manobras. essa fita rodou o país em tempos pré-internet e injetou um ânimo novo a todos os skatistas iniciantes desse brasilzão. olha o trailer.



mas o melhor é que no site oficial do filme, que foi patrocinado pela nike, é possível baixar gratuitamente o filme. vi lá no salaBR.

terça-feira, 18 de maio de 2010

aí ponho meus pés na cara, sabe?

as pessoas não se dão conta, mas os musicais podem ser mais perturbadores do que muita coisa que se vê por aí. olha só esse exemplo. o número logo abaixo é um trecho do filme broadway rhythm (1944), musical dirigido pelo faz-tudo roy del ruth pra mgm naquele esquema de teatro de revista. aí entram as ross sisters: cantoras, malabaristas e contorcionistas nascidas no texas durante a segunda metade da década de 1920. as irmãs aggie ross, elmira ross e maggie ross (cujos nomes verdadeiros, acredite-se quiser na wikipedia, são veda victoria, dixie jewel e betsy ann ross) cantam em afinado uníssono a infantil e bucólica "solid potato salad". mas logo a letra é esquecida e as três passam a se contorcer como se não houvesse amanhã. p.s.: o número musical começa no 1.27.



vi lá no blog quase pouco de quase tudo.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

encontros: ceumar & dante ozzetti

mais um encontro musical do fundo do baú. outro texto feito para a tam magazine, em tempos de editora spring, lá em setembro de 2006. a entrevista com ceumar e dante ozzetti aconteceu na casa de dante numa tarde bonita e foi tão deliciosa quanto a audição do disco que a dupla produziu naquele ano (achou!). de lá pra cá, ceumar se mudou para amsterdã - acho que casou com um gringo - e ano passado lançou o seu terceiro disco solo, meu nome. já dante segue acompanhando a irmã ná ozzetti e em outros projetos especiais, mas não lançou nenhum outro disco autoral.

a colorida capa de achou! (assinada por jaime prades)

PARCERIA É INVESTIMENTO, AMOR TAMBÉM


É fácil ver quando uma música pega em um show. Os pés das pessoas começam a bater ritmadamente, a cintura balança, tudo se espalha por cabeças e braços, sorrisos despontam e dá pra ver a vontade, estampada na cara, de cantar junto. Foi bem assim que o público do Festival de Música Brasileira da TV Cultura, realizado no segundo semestre de 2005 em São Paulo, recebeu a música “Achou!”, parceria de Dante Ozzetti e Luiz Tatit defendida pela cantora Ceumar. A canção ficou com o segundo lugar em uma polêmica decisão dos jurados, mas Ceumar e Dante, que esteve no palco tocando violão ao lado da cantora mineira, preferiram comemorar a alegria de terem tocado juntos uma música cuja recepção foi pra lá de calorosa. Assim mesmo, sem traumas nem esconjuros, como deixaram bem claro em conversa de fim de tarde.


“As músicas concorrentes tinham torcida e ‘Achou!’ acabou sendo incorporada por todas no decorrer do festival porque ela tem uma coisa que contagia todo mundo”, é Dante procurando explicações. Já Ceumar acredita que “a letra fala do amor de um jeito atual e as pessoas estão ligadas nesse jeito novo de falar, nesse jeito novo de amar. Com a recepção do público a gente ficou com uma sensação de ‘e aí?’”. A resposta veio em forma de um convite da gravadora MCD para gravar um disco e o resultado é Achou!, CD com doze faixas, sendo que oito delas compostas especialmente para o projeto por Dante em parcerias com Zeca Baleiro, Zélia Duncan, Chico César, Kléber Albuquerque e Luiz Tatit. “Fui compondo pensando no meu universo e no universo dela e dos músicos pra construir uma coisa da gente. Tudo deu certo desde o começo”, relembra Dante sobre o processo de composição que atravessou todo o mês de janeiro [de 2006]. Ceumar completa que “uma referência pra gente em termos de parceria foi o Elis & Tom, um disco clássico e básico. Não com a pretensão de ser um outro Elis & Tom, claro, mas buscando aquele primor, aquele cuidado”.
Ceumar e Dante já se conheciam por amigos em comum, mas somente no ano passado começaram a trabalhar juntos. Primeiro, quando o violonista convidou a cantora para participar em uma temporada que fez no paulistano Café Piu Piu. Depois, a cantora convidou o violonista para escrever arranjos para uma apresentação sua com a Orquestra de Cordas de Curitiba. A empatia entre os dois foi rápida e desaguou no festival. “A Ceumar tem uma baita presença de palco. É impressionante. Ao final do show todo mundo quer levar ela pra casa”, derrete-se Dante. Após um breve sorriso, entre orgulhoso e tímido sobre o reconhecimento, Ceumar admitiu que “há tempos adoro as composições e o violão do Dante. Foi legal ver outros lados da minha voz, e muito desafiador também porque tive que estudar para encontrar estas músicas. E elas são lindas e muito sofisticadas nas melodias”.

Samba rasgado, frevo, xote, rock e balada estão no cardápio deste primeiro registro da dupla, e da banda, também creditada como co-responsável pela sonoridade afiada e a alegria coletiva transmitidas pelo CD. “Minha função no grupo era de desestabilizar”, diverte-se a única mulher do bando. Com dois discos solo na bagagem,
Dindinha (MCD, 2000) e sempreviva! (MCD, 2002), Ceumar vem de uma carreira independente e sólida onde é conhecida tanto como compositora quanto como violonista, além de também interpretar canções de Itamar Assumpção, Arnaldo Antunes, Zé Ramalho e Zeca Baleiro (autor de “Dindinha”, música que a lançou no final da década de 1990), entre outros. Dante Ozzetti, por sua vez, é mais conhecido por seus trabalhos como músico, arranjador e produtor para a irmã Ná Ozzetti. Ganhou, em 2000, o Prêmio Visa – Compositores o que lhe possibilitou gravar seu disco de estréia solo, o belíssimo e pouco conhecido Ultrapássaro (Eldorado, 2001).

Com o disco nas lojas e shows de lançamento planejados
, Ceumar e Dante concordam em uma coisa: “ninguém sabe o que vai acontecer”. Mas como bem diz a cantora, “o que me interessa é atingir a pessoa que tá ouvindo e fazer ela sorrir ou chorar. Acho que é assim, pelo coração, que a gente consegue atingir mais pessoas. Afinal, não temos nenhuma obrigação, somos independentes, e sabemos que existe um espaço para a curiosidade”. E ambos saem para fazer as fotos que ilustram esta matéria, Dante com seu violão e Ceumar acompanhada de uma sombrinha roxa, felizes porque sabem que investir é isso, é cultivar o amor.

p.s.: segue abaixo o video de uma das apoteóticas apresentações de "achou!" no festival de música brasileira da tv cultura em 2005. e aqui nota que fiz sobre o disco para o gafieiras.


sexta-feira, 14 de maio de 2010

curto circuito geracional

um dos produtores mais requisitados dos últimos anos - já esteve por aí trabalhando com amy winehouse, lily allen, wale, estelle, adele, nas, ghostface killah e, mais recentemente, bebel gilberto -, mark ronson está prestes a lançar um novo disco solo. record collection sairá só em setembro, quando o cara completa 35 anos, e já tem as participações garantidas de garantidas de boy george, jonathan pearce (the drums), nick hodgson (kaiser chiefs) e dave mccabe (the zutons). torcer pra aparecer um pessoal mais interessante, afinal o anterior e excelente version (columbia, 2007) trouxe gente como amy, lily, santigold, wale e daniel merriweather. de qualquer forma, ronson colocou ontem em seu canal de videos no youtube o primeiro video do disco. é da instrumental e apenas ok "circuit breaker" que ganhou esse clipe divertido como uma homenagem aos jogos eletrônicos do começo da década de 1990.



fiquei sabendo via omelete.

laerte da semana #12

essa é da série "para um..." e tá no manual do minotauro, claro

quarta-feira, 12 de maio de 2010

"temer o tempo não nos leva a nada"

taí um verso de "amarelasse" (jenifer nunes e saddy menescal), certamente uma das melhores músicas desse ano - pelo menos na humilde opinião aqui da casa. é de autoria do pessoal do mini box lunar e eu já coloquei no meu setlist feito para a rádio levi's e em um corjacast que está para subir. falo desse povo do amapá porque essa música ganhou um video deliciosamente singelo feito pelo música de bolso. confiraê.



p.s.: o música de bolso sempre grava dois videos por artista/banda. é o lance do lado a e lado b e o outro lado de "amarelasse" é a música "despertador 7:45" (helvana quintas e otto ramos). bem bonitinha, hippie e timidamente alegre.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

curumin chama cunhatã

é curioso que um dos artistas que mais gosto de ouvir nos últimos tempos, e um dos mais versáteis e ativos da atualidade, ainda não tivesse aparecido aqui no esforçado. curumin é o cara e acho que ele só não entrou aqui por estar numa lacuna na carreira solo (em compensação tá tocando com um monte de gente). é que ontem, zapeando pela madrugada, passei na mtv e vi o final do clipe de "japan pop show", música que deu nome ao segundo e (até agora) último disco lançado pelo paulistano em 2008 pelo selo yb music. com um climão à la david lynch, o video foi feito no final do ano passado lá no pará pelo trio vladimir cunha, gustavo godinho e priscilla brasil, via produtora green vision (aquela mesma já citada aqui por causa dos documentários brega s/a e as filhas da chiquita). antes de procurar na rede, perguntei lá no twitter se alguém tinha o link e quase no mesmo instante fui respondido por @babee, @flaviadurante e @crisnaumovs. segue.



uma das pessoas que curumin vem acompanhando é a céu. no início do ano ele mandou ver uma versão poderosa e ao vivo de "cangote", faixa que deu nome ao segundo disco da paulistana,
vagarosa (universal, 2009).



e pra encerrar esse pacotão curumin, o clipe de uma música de seu primeiro disco,
achados e perdidos (yb music, 2003). é a suingada "tudo bem malandro".

isso é legal... que porra é essa?

lendo o ótimo os bastidores de hollywood na vanity fair (agir, 2010) fiquei sabendo de um curta que foi o primeiro trabalho de mel brooks no cinema. depois de passar os anos 1950 escrevendo para tv e teatro, brooks entrou na década de 1960 com ganas de ir para o cinema. ainda ia demorar um pouco, afinal seu primeiro longa, primavera para hitler, só viria em 1968 (essa demora também pode ser explicada pelo sucesso da série televisiva agente 86), mas cinco anos antes brooks escreveu e colocou a voz no curta the critic (1963). dirigido pelo pouco conhecido ernest pintoff (1931-2002), o curta é uma animação abstrata comentada em voz alta e mal humorada por um velho judeu russo na platéia do cinema.



se você teve dificuldade de entender o sotaque judeu novaiorquino de mel brooks, aqui tem a transcrição de algumas das melhores frases do curta, como por exemplo a que inspirou o título desse post: "this is cute... this is cute... this is nice... what the hell is it?!? i know what it is! it's garbage! that's what it is! two dollars i've paid for a french movie, for a foreign movie and i've got to see this junk... "

domingo, 9 de maio de 2010

domingueira

sharon jones é apenas três anos mais nova que minha mãe (sharon tem 54) e fora essa proximidade etária as duas não tem muito em comum. tem também o fato de celinha, minha mãe, nunca ter ouvido ouvido sharon (pelo menos até agora). quer dizer, colocar essa música hoje, como uma espécie de homenagem/lembrança a minha mãe - e consequentemente a outras mães que passarem por aqui - é meio uma forçação de barra. é coisa da minha cabeça. mas explico, ou tento explicar: quando ouvi e vi esse video com sharon fiquei muito impressionado com a força e a intensidade do sentimento dela, e aí hoje, pensando em qual música colocar, lembrei dele de cara. nem sei se sharon teve filhos, mas sua força e sentimentos me lembraram mães, a minha mãe. então essa é pra você, celinha! beijo grande, abraço apertado, mesmo que de longe.



"i'll still be true" é faixa de i learned the hard way (daptone records, 2010), o mais recente disco de sharon jones & the dap kings. tem lá no original pinheiros style.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

brincando de messias

foi em 1997, ou 1998, que conheci o grupo brincando de deus e quem me apresentou foi um conterrâneo dos cabras, o baianíssimo Walter Hupsel, amigo mais novo dos tempos da sociais na usp. de cara me surpreendi com aquele som melancólico, roqueiro e anglófilo vindo da Bahia. e adorei, claro, afinal ouvi The Smiths por toda minha adolescência. fazia muito tempo que não os ouvia, mas depois que soube que Messias, o vocalista do grupo, estava lançando um ousado disco triplo solo voltei meus ouvidos para o passado. pelo menos enquanto aguardava a chegada de escrever-me, envelhecer-me, esquecer-me (independente, 2010) que comprei pelo site do Messias. aí pensei o seguinte, deixa eu convidar o Salvador - que era como todo mundo chamava o Hupsel naqueles tempos - para falar do brincando de deus e depois apresento o trabalho solo do messias. então, a luz se fez...

evento raro: show da brincando de deus em dezembro de 2009 em registro de thiago fernandes (foto retirada do blog quase concreto)

A Maiúscula brincando de deus
por Walter Hupsel

“ô ô ô ô... aqui em Salvador, a cidade do axé, a cidade do horror!”. Nos idos da década de 1980, quando a indústria do axé music ainda caminhava, a iconoclastia do Camisa de Vênus disparava sua verve contra a música baiana que embelezava a pobreza, que ufanava a cidade, que reinventava uma invenção antiga, o tal Baiano, invenção de Jorge Amado e de Caymmi. Mas agora éramos bonitos, rebolativos, alegres, como um povo feliz e pacífico deveria ser, orgulhoso de suas ladeiras, de sua negritude falsa. Este axé saia dos bairros nobres de Salvador e transformava e reificava o samba-reggae do povão, punha harmonias e melodias pops onde antes era pura percussão. Se o Olodum cantava a história negra com uma certa raiva, conclamando à revolta, o axé branco dos blocos de carnaval pediam pra “abrir a rodinha”, logo depois pedindo festas e mais festas.

Para quem via Salvador com certa desconfiança, quem era um outsider naquela maravilha tropical, encontrou sua expressão nos riffs punks com letras ácidas de Marceleza e afins. O Camisa sintetizava a revolta contra uma cidade que pensava em se exportar como capital da beleza, da jovialidade, da sensualidade pueril. E lá fomos nós, correndo o risco, gritar contra o Eldorado que insistiam em nos dizer que éramos. Uma década depois houve uma outra revolução na nossa música.

O axé era produto exportação para israelenses, italianos e paulistas. A indústria do axé, ou Máfia do Dendê, ficou ainda mais forte, acabando com quase todos os espaços para shows, excluindo das rádios a música roquenrou. A pasmaceira voltava a reinar na cidade onde o sol era sempre mais amarelo.

Sei lá, este é um texto bem impressionista, no pior sentido da palavra. Escrevo como me sentia na época, eu e outros garotos que mal e porcamente viram o Camisa. Assim, sinto que o começo da década de 1990 era mais ou menos como se sentiam os ingleses ouvindo roque progressivo e dizendo: “este não sou eu!!!”.

Isso mesmo, estávamos na antesala de uma nova revolução na música baiana. Não sabíamos, mas estávamos. Várias bandas apareceram de súbito e entre elas estavam o Dr. Cascadura, com uma pegada bem hard rock, setentista até; a punk Inkoma, primeira banda de Pitty; Dead Billies, um Cramps criado a sarapatel; e o motivo deste meu texto: uns loucos, insanos, uns meninos que, olhando para o sol lindo e brilhante de Salvador, para arquitetura barroca portuguesa, para as praias mais belas do mundo (só perdendo pra Padang Padang) preferiam dizer: sou de Londres, sou do smog, não sou alegrinho, sou um rei sóbrio de um país chuvoso. Os meninos não eram joviais, coloridos. Eram velhos.

Era isso que precisávamos!!! De velhice! De barulho, microfonias e poesias! De não ter vergonha da melancolia, de corações realmente partidos.

A brincando de deus (sim, sim... em minúsculo) unia a Baía de Todos os Santos ao Canal da Mancha. Não consigo esquecer a magnífica capa do
Better When You Love (Me), singela, triste, poética. Uma linda foto de uma linda menina abraçada com um urso de pelúcia. Semblante sereno, tranquilo, mas não alegre, efusivo.

E dentro da capa a coisa só melhorava. “Spleen”, “De Profundis”, “Tweedledum”. PORRA, MESSIAS!!! Seja lá o nome que querem por... indie, guitar band, noise... só sei que era música de primeira qualidade, mesmo, com riffs matadores, com barulho milimetricamente colocado, microfonias que nos deixavam em estado de profunda contemplação... e tudo isso misturado com Baudelaire, Oscar Wilde, Lewis Carroll.



Que Caetano Veloso, e Cury, me perdoem. Para aquela geração de soteropolitanos deslocados do clima reinante da cidade, que começavam a ouvir Sonic Youth, Jesus and Mary Chain e My Bloody Valentine... nem João e nem Frank Black, a brincando de deus (porra, é assim mesmo, minúsculo) é que era a música em estado bruto!
[o Cury aqui citado é Ricardo Cury, baterista da formação mais recente da banda, que ouviu da boca de Caetano a seguinte frase “João Gilberto é como o Pixies. Conhece o Pixies? Então, é música pura, estado bruto”; texto aqui]

E ia além. O saudoso bar Vicious, na Barra, onde a brincando de deus tocava, onde Joe
[baixista da Dead Billies, hoje de Pitty] era garçom, foi o palco ideal, o casamento perfeito. Um lugar escuro, com uma área pra show minúscula, vertia, escorria atitude e beleza. Beleza encarnada no velho e saudoso Rickenbacker de Dalmo [primeiro baixista do grupo]. Lá na Barra, no Vicious, foi onde a geração carente de boa música a reencontrou. A brincando de deus nos descortinou um novo mundo, escondido há tempos.

Salvador não era Boston, muito menos Londres, mas de alguma maneira nos sentíamos parte deste mundo. Aquele era eu, aqueles éramos nós!

E tudo isso graças a Cézar, Messias, Dalmo, Quinho
[irmão de Dalmo e primeiro baterista do grupo]. A eles só posso agradecer, com pureza d’alma. Obrigado Brincando de Deus, obrigado!!!



tá vendo? nada do que pudesse escrever teria esse sabor de quem esteve lá, de quem viu e ouviu ao vivo, de quem trocava ideias com os caras. mas o brincando de deus não acabou, apesar dos hiatos produtivos e de um trágico incêndio em 2000 que transformou em cinzas muitos dos áudios, fotos e tantos outros materiais da banda. de qualquer forma, e apesar de tudo, messias está entre nós com um disco belo, caseiro, simples nos arranjos (afinal, é rock'n'roll, certo?), ousado na proposta conceitual (
escrever-me é o título do disco 1, envelhecer-me do disco 2 e esquecer-me do 3), familiar aos fãs do brincando de deus e internamente inovador ao adotar algumas programações eletrônicas (quase sempre à cargo de andré t, o braço direito de messias no disco). os amigos da banda participam em algumas poucas faixas, mas no geral messias está sozinho fazendo sua música, ou pelo menos com a companhia de andré.

messias em foto de beatriz franco no parque trianon em janeiro deste ano

outro ponto interessante desse trabalho do messias são as músicas com letras em português. já devo ter dito em alguma lugar daqui que não tenho problema algum com letras em inglês, mas é que invariavelmente acho que bandas ou artistas que começam assim acabam se tornando mais relevantes/interessantes quando escrevem em português (vide exemplos recentes com o vanguart e a mallu magalhães). então, para apresentar o escrever-me, envelhecer-me, esquecer-me pincei 3 das melhores músicas, que não coincidentemente são na nossa língua, entre as 32 dos trio de discos (todas compostas por messias). uma de cada disco. 

a primeira, do escrever-me, é uma das mais bonitas e doloridas. com vcs, "Avenida Contorno".


do envelhecer-me vem "Ens Perfectissimum".


e pra encerrar, do esquecer-me, a bela "Vésperas".



p.s.: olha, recomendo totalmente que se compre esse disco. porque é muito bom, tem um encarte caprichado e é triplo (tudo isso pela bagatela de 36 reais, 35 do disco mais 1 de frete). saca só o meu.

e dá-lhe Messias, no trabalho e em casa

quarta-feira, 5 de maio de 2010

o fino (de volta)

uma das melhores coisas de 2007 foi o surgimento do fino coletivo, grupo que reuniu no rio de janeiro músicos cariocas e nordestinos que já possuíam suas próprias carreiras (wado e marcelo "momo" frota, por exemplo). o discaço de estreia, que saiu pelo selo dubas, trouxe as inéditas e saborosas "boa hora" (alvinho lancellotti e domenico lancellotti), "hortelã" (alvinho lancellotti e ivor lancellotti), "na maior alegria" (adriano siri) e "dragão" (alvinho cabral, daniela folha, wado e totonho), entre muitas outras, incluindo duas faixas que ganharam clipes singelos. primeiro, a delicada "tempestade" (marcelo frota).



e agora, o já clássico samba "tarja preta" (wado), que já foi gravado pelo próprio wado e por maria alcina.



trouxe esses dois clipes para relembrar o fino coletivo e aquecer os tamborins para o segundo disco do grupo, copacabana (oi música, 2010). pelo que já pude ouvir dele está mais carioca e menos melancólico, o que traz ganhos e perdas, mas ainda é cedo para tecer comentários mais profundos. sei que o fino sofreu algumas alterações e agora é formado por adriano siri e alvinho lancellotti (vozes), alvinho cabral (violão, guitarra, percussão e voz), donatinho (teclados), daniel medeiros (baixo e voz) e marcus cesar (bateria), e que o disco tem participação do rapper de leve, uma regravação dos novos baianos ("swing de campo grande") e outra de totonho ("nhem nhem nhem").