sexta-feira, 16 de outubro de 2009

realizado sem dinheiro público

fazer documentário não é difícil, mas fazer documentário bom não é pra qualquer um. tem os que são bons porque o tema é forte, outros são pela pela pesquisa minuciosa e outros ainda possuem uma narrativa original. tem os, mais raros, que conseguem reunir tudo isso. o excelente brega s/a, da dupla vladimir cunha e gustavo godinho, não possui grandes pretensões a não ser a de esquadrinhar o movimentadíssimo cenário tecnobrega paraense e talvez exatamente por isso seja tão instigante. aliás, ele já foi mencionado aqui no início do mês no post download s/a (que anunciava a liberação de seu download gratuito pela produtora greenvision).

logo no início, um aviso ("este filme foi realizado com recursos próprios e sem dinheiro público") deixa claro que o filme de pouco menos de uma hora é produção de guerrilha. cunha e godinho vão atrás de figuraças como dj dinho, beto metralha, maderito, marlon branco, dj maluquinho e dj mauro classe a, além de um professor de arquitetura e um jornalista, mais velhos e com diploma, que funcionam como contraponto crítico e elitista sobre todo o movimento tecnobrega. ao redor de tudo, o movimento entre artistas, rádios, aparelhagens e camelôs. vale ler uma entrevista que gustavo godinho deu ao portal mtv que, aliás, colocou o documentário na íntegra, em quatro partes, lá no site. ah, e pra baixar o filme é só ir no pirate bay. e pra saber mais sobre música do pará vale (e muito) visitar o blog música paraense, do pesquisador edvaldo souza, e o site brega pop.

voltando ao filme. duas ótimas sequências dão o tom de singela ousadia formal de brega s/a. na primeira, pra exemplificar as diferenças entre o velho brega e o novo brega, a tela se transforma em karaokê com a letra correndo e todo o resto. a diferença é que pro velho brega o fundo é de natureza, enquanto pro "barulhento" e "comercial" tecnobrega surgem carrões e mais carrões. já a segunda sequência é um balé visual que acompanha o processo veloz de cópias de cds e da criação de uma capa de coletânea, desde sua criação em algum programa tosco até a impressão. é interessante ainda a escolha da trilha incidental do filme com artistas independentes de fora do pará como pata de elefante, guizado, hurtmold e a dobradinha detetives & jupiter maça. afinal, música popular brasileira é mundão grande sem porteiras.

aparelhagem em fúria!

separei aqui trechos de depoimentos de duas figuras-chave do documentário:

dj maluquinho - a música popular de hoje, de massa mesmo, comercial que eu digo... ela foi feita pra ser descartável. então a gente deve sugar o que puder sugar dela, entendeu?

dj maluquinho - a música da massa sempre vai existir. e ela sempre vai ter problemas. talvez de baixa qualidade. daquela letra um pouco mais sentimental, daquela letra sarcástica. vai ter sempre essa situação. mas a periferia vai ter sempre sua música.

dj maluquinho - quando a gravadora empurrava na garganta da galera a música tava tudo bonito. empurrava os polegares da vida, os "dá pra mim", o dominó, tava tudo bonito. mas quando a galera da periferia teve a opção pra querer sua própria música ficou complicado. essa música não teve espaço nas gravadoras, a verdade é essa. essa música de periferia não teve um espaço na gravadora. então ela arrumou outra opção. e a pirataria veio, no caso do tecnobrega, pra suprir essa necessidade de distribuição.

dj mauro classe a - a gente não copia um cd de roberta miranda, zezé di camargo & luciano, roberto carlos, porque são coisas que não vendem mais. principalmente aqui na região metropolitana de belém são poucos desses que vendem. porque? porque é uma ou duas músicas que prestam. e se eu te disser que as grandes gravadoras quebraram por causa disso, você não acredita. sabes porque? você vai na loja comprar um vinil, hoje um cd, no valor de 40, 50 reais, enquanto nós preparamos uma coletânea com os melhores cantores que você quiser por 10 reais. é crime? eu acho que não. o computador tá lá pra se vender. a gravadora vende pra você gravar.

e pra finalizar, uma das minhas músicas preferidas do tecnobrega paraense, "rubi" do dj maluquinho.


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