segunda-feira, 30 de novembro de 2009

o de cima sobe e o de baixo desce

ah, que saudades do axé de protesto d'as meninas! o grupo liderado por carla cristina estourou com "xibom bombom", faixa que abriu o disco as meninas (universal, 1999), o primeiro dos três discos das moças. o resto é história.


As Meninas - Xibom, Bombom
Enviado por Verdegaio. - Buscar outros videos de Musica.

na página desse video no dailymotion, um usuário português disse o seguinte: "se ouvir com atenção e reflectir sobre os versos desta melodia interpretada pelas "Meninas", encontrará certamente muitas semelhanças com a actual realidade portuguesa. e mais não digo... Quim". quem há de duvidar?

domingo, 29 de novembro de 2009

guernica sempre

por essas coincidências que a gente tem que respeitar, o quadro guernica de pablo picasso (1881-1973) apareceu em vários momentos por esses dias. entre diversos torrentes baixei o mistério de picasso (1956), documentário de henri-georges clouzot, e veio como extra o curta guernica (1950), de alain resnais e robert hessens, também documental, mas do tipo poético, com versos de paul eluard e tal. ok, tá aqui. aí vi uma cópia do quadro na casa de amigos (um salve aí pro risoto, dani e davi, diliça!). volto pra casa e me deparo com um link no twitter pr'uma animação que é uma viagem tridimensional pelo quadro. linda, ao som de manuel de falla (1876-1943). direção de leni gieseke. link via fábio fernandes pro blog ambiente de aprendizagem, de ricardo néspoli.



e achei no youtube o curta de resnais e hessens. tá aqui, em duas partes, pra gente nunca esquecer (nem do painel, de 1937, e nem do horror). é meio cabeçudo, mas é bonito.



domingueira

flávio basso, ou melhor júpiter maça, ou melhor jupiter apple, ainda é uma incógnita pra mim, como boa parte do historicamente intenso rock gaúcho (flávio foi integrante do tnt e do cascavelletes). talvez pela minha velha questã com o próprio rock (tenho preguiça do rock'n'roll, dessa coisa toda). mas tô aprendendo, tô me dedicando, e já faz uns anos que algumas das músicas de jupiter entraram no meu repertório afetivo ("um lugar do caralho", "as mesmas coisas" e "síndrome de pânico"). a mais recente, "modern kid", ganhou um clipe divertido dirigido por andré peniche em uma loja de decoração perto aqui de casa (artemobilia). saca só a psicodelia do rapaz.



flávio/jupiter está morando em são paulo no presente momento - é vizinho, cruzei com ele ontem - e com uma banda interessante com luiz thunderbird, astronauta pinguim, dustan gallas e felipe maia. ah, tem fotos da gravação do clipe aqui (fotos de edu césar) e o making of do clipe...

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

lázaro & selton, paralelos

foi em junho de 2007 que, lá pela monet, saiu uma matéria minha sobre o encontro de lázaro ramos e selton mello. a idéia era falar com os dois, e tirar retratos (a cargo de eduardo monteiro do fotonauta), para tratar das novas temporadas de seus programas, espelho e tarja preta, e falar do canal brasil e tal. a conversa rolou mais tranquilamente do que esperava, porque apesar de serem colegas de profissão e de grade, selton e lázaro não são da mesma turma, tem pouca intimidade. mas tudo aconteceu redondinho no apartamento de lázaro no leblon. pena que na época não rolou de colocar no texto um pequeno causo em meio a entrevista. é que não tinha nada a ver com a pauta. senão vejamos...

lázaro pergunta a selton se este já tinha visto o recém-lançado ó pai, ó. não, ainda não, doido pra ver. lázaro mostra um dvd. olha só isso aqui que achei em são paulo. e na tv surgem imagens do pelourinho, gente dançando, música. mas já tem o filme pirata? aí lázaro explica que não só é pirata, como é pirata de uma cópia não finalizada. não custa lembrar que isso aconteceu logo após o fenômeno tropa de elite nos camelôs do país. e entre surpreso e maroto (e também orgulhoso, porque não?), o baiano conta que estava passeando na liberdade, bairro central de são paulo, quando viu numa banquinha de dvd o seu filme. não pensou duas vezes: me dê o meu filme, rapaz! e que o camelô, entre surpreso e envergonhado, lhe deu as três cópias que tinha. cai o pano.

acabei não atualizando o texto, mas de lá pra cá, selton fez bastante sucesso nas bilheterias com
meu nome não é johnny e a comédia a mulher invisível, além de ter protagonizado a erva do rato (de júlio bressane) e sofrido um bloqueio criativo após a filmagem de jean charles (de henrique goldman), que o fez pensar em desistir de atuar. dirigiu em 2008 seu primeiro longa, o drama feliz natal. tem mais coisa pela frente, inclusive o citado federal. já lázaro ramos se dedicou à tv, com direito a uma novela (duas caras) e duas séries (ó pai, ó, inspirada no filme homônimo de 2007, e decamerão, a comédia do sexo). selton e lázaro ainda não trabalharam juntos.

UM GRANDE ENCONTRO

Uma segunda-feira de sol e céu azul no Rio de Janeiro foi o cenário para um encontro inédito de dois dos melhores atores da nova geração do cinema brasileiro. Inédito porque, surpreendentemente, Lázaro Ramos e Selton Mello ainda não foram vistos juntos na telona, nem na televisão e muito menos nos palcos, o que é, claro, apenas uma questão de tempo (suas participações afetivas e em cenas distintas de
Nina de Heitor Dhalia, obviamente, não contam). Mas os dois têm em comum o fato de serem orgulhosos destaques - ou habitantes como preferem - da programação do Canal Brasil. O mineiro Selton está há quatro anos com seu Tarja Preta, enquanto o baiano Lázaro, mais novo na casa, acabou de começar o segundo ano de Espelho. Entre águas, cafés e sucos de acerola, a dupla acabou descobrindo muitas outras semelhanças.

A chegada de Selton Mello ao canal aconteceu há pouco mais de quatro anos quando houve uma reviravolta na programação. “A direção que entrou na época queria dar uma arejada na grade. Eles tinham um grilo de que o canal era taxado por passar só filme brasileiro, só cinema, e não ter programas ou entretenimento. Houve então uma abertura de espaços que acabou dando uma cara forte para o canal, que hoje é cinema, mas também é música, fotografia, artes plásticas, teatro e muito mais”, afirma. Porém, antes do
Tarja Preta, Selton passou por uma espécie de batismo ao assinar um episódio do programa Retratos Brasileiros dedicado ao cineasta Afonso Brazza (1955-2003). “Ele era bombeiro em Brasília e adorava filmes de ação, era fã do Stallone. Ele filmava, atuava, editava, escrevia, fazia efeitos, vendia bala no quartel para conseguir dinheiro. Enfim, tinha uma história linda, chapliniana”. Após a morte precoce de Brazza, o Canal Brasil embarcou no projeto e bancou mais entrevistas e a finalização do documentário. Assim, dando voz a uma figura pouco lembrada pela história da sétima arte brasileira, nasceu o Tarja Preta. “É um painel pessoal do cinema nacional”, disse Selton, que em quatro anos de programa já entrevistou mais de cem personalidades, entre atores, atrizes, cineastas e técnicos.

E o
Espelho, Lázaro? “Entrei nessa por causa do sucesso do Tarja, mas enquanto não chegava a uma idéia própria para um programa fiz um Retratos Brasileiros sobre o ator e cantor Toni Tornado. Meio que para saber se sabia fazer, afinal não é a experiência de ator que determina se você sabe dirigir ou contar uma história. Depois veio a inspiração de um programa baseado em uma peça do meu grupo, o Bando de Teatro Olodum, que tratava de questões raciais de uma maneira muito democrática, sem dar respostas e buscando reflexões”. Esquetes teatrais, entrevistas, música e papo furado se misturam em uma tentativa nada ortodoxa de se entender o Brasil. “É um programa sem formato e a única coisa que une os episódios é a vontade de falar sobre certas coisas que não vejo serem ditas na TV, mas com leveza e diversão”.

Tanto Selton quanto Lázaro concordam que o aprendizado sobre a produção de uma atração de TV caminha lado a lado com o dinamismo da realização, um alimentando o outro. “Fazer o programa tem sido uma faculdade de cinema porque pude ouvir histórias de mais de uma centena de pessoas, cada uma delas com sua onda e representando uma época no cinema brasileiro. Ouvi e vi coisas incríveis, lindas mesmo”, explicou Selton. Após uma pausa, Lázaro disparou, também visivelmente emocionado: “Toda vez que penso sobre isso acho muito grande, muito especial. Estou junto com amigos para contar uma história que é meu desejo. Porque, nós atores, sempre estamos contando as histórias dos outros e defendendo como se fosse nossa. E agora estou defendendo o meu sonho. Nunca tive esse espaço antes”. De uma hora para outra, dois dos mais disputados e inquietos atores brasileiros pareciam crianças emocionadas por ganharem um brinquedo que jamais imaginariam ter.

Tudo isso acontece no terreno vasto do Canal Brasil que é um espaço, segundo Selton, que “está crescendo junto com o cinema brasileiro; aos poucos a gente vai ganhando público, pois um espectador vê um filme, gosta, quer ver outros e agora tem o Lázaro que dá uma baita visibilidade para o canal. A gente está construindo um espaço e é um barato participar disso. Era impensável há alguns anos”. A produtora das fotos que estampam estas páginas interrompe para perguntar se a dupla está pronta. Só mais um minutinho e Lázaro aproveita para educamente dar um toque: “a TV aberta ganharia muito se tivesse programas como os que tem no Canal Brasil. Daria uma renovada e traria um sabor muito bacana”. E lá se vão os dois, que fazem questão de não se maquiarem, para a primeira bateria de fotos.

Entre um clique e outro, Lázaro e Selton seguem conversando entre si. Falam de programas do Canal Brasil que gostam, entre eles a impagável sessão de pornochanchadas, os making of, o
Cine Jornal, os musicais Zoombido (de Paulinho Moska) e Faixa Musical, os recém-nascidos Todos os Homens do Mundo (de Domingos de Oliveira e Priscila Rozenbaum) e Retalhão (de Zéu Britto) e, claro, os próprios (Lázaro Ramos, aliás, fez questão de frisar que a equipe técnica do Espelho é formada por alunos da Central Única das Favelas, a CUFA).

“Atualmente, em termos de formato e conteúdo, é o canal que mais me interessa. A programação está arejada e dialogando com mais gente. Tem de tudo e para todo mundo”, explica Lázaro, que volta à telona ainda este ano em
Saneamento Básico, o Filme de Jorge Furtado. “Eu me identifico muito com o canal e é muito bom ter todo o acervo da nossa história cinematográfica reunido, vivo e 24 horas no ar”, diz Selton que espera a estréia dos longas Meu Nome Não é Johnny de Mauro Lima, Os Desafinados de Walter Lima Jr. e Federal de Eryk de Castro.

Selton retoma a palavra para dizer que “nós somos um pouco aquilo que interpretamos e acredito que pessoas que gostam do nosso trabalho identificam nos nossos personagens as nossas personalidades. Mas os programas são um bom lugar para que conheçam o homem por trás daqueles personagens. Saber, por exemplo, o que o Lázaro pensa da vida, o que ele gosta, quais são suas referências”. Mas o tempo é implacável, principalmente quando a conversa é boa, e é chegada a hora de levantar o acampamento. Algo mais? Lázaro Ramos dá um sorriso e solta: “Ó, lembrei de uma coisa... a gente se encontra no Canal Brasil”. Anotado, Seu Lázaro.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

letra/música #6

roberto carlos, e seu parceiro-irmão-camarada erasmo carlos, já fizeram tantas coisas boas e belas, principalmente no fim da década de 1960 e início dos anos 1970, que fica difícil fugir do óbvio. na recente votação que a rolling stone fez sobre as maiores canções brasileiras, a dupla emplacou "detalhes", "as curvas da estrada de santos", "sentado à beira do caminho" e "quero que vá tudo para o inferno" (a lista completa aqui). na lista que mandei pra eles acabei escolhendo o roberto como intérprete (de "como dois e dois" do caetano veloso). em comum nas duas listas, o disco roberto carlos (cbs, 1971), o meu preferido pessoal que traz, além de "como dois e dois" e "detalhes", petardos como "todos estão surdos", "traumas", "debaixo dos caracóis dos seus cabelos", "amada amante", "de tanto amor", "se eu partir" (fred jorge), "eu só tenho um caminho" (getúlio cortês) e a lindinha "i love you". canção romântica e bem humorada, com roberto impostando a voz como um vicente celestino encostado em um balcão de salloon, "i love you" mostra uma outra face da dupla de compositores-amigos e do maior cantor da música popular brasileira.

i love you
(roberto carlos e erasmo carlos)

eu queria um passarinho ser
pra levar um bilhetinho pra você
e nas mal traçadas linhas revelar
minha paixão e o meu amor, meu grande amor
no meu radinho de pilha sempre escuto
melodias que me lembram de você
cafonice talvez possa parecer
vou me modernizar você vai ver

uma calça lee agora vou comprar
vou ficar moderninho pra chuchu
vou até aprender falar inglês
pra lhe dizer: i love you, i love you

vou falar gíria e dançar o rock’n’roll
e do castelinho vou ficar freguês
e se tudo isso não adiantar
eu vou vestir meu terno branco outra vez


p.s.: procurando saber o que foi o "castelinho" citado na música - afinal, apesar de ter morado no rio na década de 1980, não sou carioca, muito pelo contrário - dei uma procurada na internet e achei o fotolog saudades do rio, capitaneado por luiz darcy. mandei um email pra ele que acabou de me responder: "há duas opções: a primeira, mais provável, é que iria frequentar o trecho da praia de ipanema conhecido como castelinho, entre o arpoador e a praia de ipanema propriamente dita (entre as ruas rainha elizabeth e francisco otaviano). neste trecho havia um castelo em estilo mourisco que deu nome ao lugar. foi o "point" da praia nos primeiros anos da década de 60 (a partir de 66 o "point" já passou para defronte da rua montenegro, hoje rua vinicius de moraes). a segunda, menos provável, é que iria frequentar o bar castelinho, que ficava também neste trecho, na av. vieira souto 100, onde se tomava um chope maravilhoso. as mais belas cariocas frequentavam os dois pontos: o bar e a praia". muito obrigado, luiz!

terça-feira, 24 de novembro de 2009

uns brasileiros, uns gringos e as cadelinhas

projeto manada é o grupo do mano oga mendonça. tive a honra de escrever o texto que apresenta o disco de estreia do caras, urbanidades (independente, 2008), uma das boas revelações do rap nacional nos últimos tempos. em um trecho escrevi - o texto, na íntegra, tá no myspace - que as treze faixas do disco "distribuem sopapos, reflexões, críticas, areia no olho e um tanto de carinho em rimas velozes. é que eles também sabem que a cidade é cheia de gente e tem muita gente boa por aí. cidade grande é assim, amor e ódio e não necessariamente nessa ordem. (...) é desse jeito que leco, macário, prizma e venom colocam novos tijolos na construção de um moderno rap brasileiro. porque rap é vida real, pulsante, um rio caudaloso cheio de vozes. aí chegam esses quatro paquidermes e colocam suas "patinhas" na água. pense nas ondas bagunçando a superfície. pense no barulho. projeto manada é mais, muito mais rimas, bumbo e caixa do que você imagina". e aqui segue a participação dos caras no programa radiola com a faixa "estouro".



já os cultuados americanos do vampire weekend fazem um indie rock cheio de camadas, e com algumas pitadas africanas, e estão prestes a lançar seu segundo disco, contra (xl recordings, 2010). "cousins", do clipe bacana logo abaixo, é a primeira música de trabalho. a estreia dos quarteto saiu em janeiro de 2008 e trouxe, entre outras, a excelente "cape cod kwassa kwassa".



pra encerrar com chave de ouro, o engraçadíssimo clipe de "melô da cadelinha", de outro quarteto, as apimentadas, filmado em pleno centro de são paulo. é forró eletrônico pra dar e vender, tá ligado? mas não vá achando que o clipe é uma puta idéia porque foi "inspirado" no video de "baby baby baby", dos franceses do make the girl dance (que, claro, é muito melhor, as garotas dublam a música e os transeuntes franceses não ficam causando por causa de umas peladas na rua - apesar que isso é uma graça bem brasileiro pro clipe).

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

transversão #27

outro daqueles clássicos imortais do cancioneiro popular nacional, "impossível acreditar que perdi você" (márcio greyck e cobel) foi lançado em compacto no final de 1970. quase um ano depois foi a música que encerrou o quarto disco do compositor mineiro, corpo e alma (cbs, 1971). a partir daí, sucesso total. foi gravada por gente como jerry adriani, lafayette, trio ternura, fábio jr, verônica sabino, rita ribeiro, jussara silveira e teresa cristina. mas separei aqui três gravações muito diferentes entre si. antes, a genial capa desse disco do márcio greyck.

ok. no ano de 1971, na esteira do sucesso nas rádios, wilson simonal pegou a música e a balançou suavemente para colocar em jóia, jóia (odeon, 1971), disco lançado no mesmo ano em que a carreira e a vida do grande simona foram por água abaixo (mais detalhes, aqui). aliás, não custa lembrar que está sendo lançado em dvd o documentário simonal - ninguém sabe o duro que dei (biscoito fino, 2009), enquanto as livrarias estão recebendo a vida e o veneno de wilson simonal (globo livros, 2009), biografia definitiva assinado por ricardo alexandre, e o relançamento da caixa wilson simonal na odeon (1961-71) (emi, 2009) com seus doze primeiros discos (seu auge). overdose das boas.



anos voaram e essa composição de márcio e cobel (irmão de márcio) ganhou fôlego novo nos anos 2000. tanto que entrou no seleto repertório do tributo
eu não sou cachorro, mesmo (allegro disco, 2006), uma ótima reunião de artistas independentes dos quatro cantos do país com um repertório de clássicos "bregas". lula queiroga e china foram os responsáveis por essa versão roqueira e levemente psicodélica.



no mesmo ano desse encontro de pernambucanos, o carioca toni platão (ex-hojerizah) lançou o excelente
negro amor (som livre, 2006) e fez "impossível acreditar..." se transformar em um blues à meia luz.


atualização em 15 de janeiro de 2011: e navegando lá pelo original pinheiros style me deparei com uma versão linda, delicadíssima, feita pelo trio esperança da música de greyck. tá no disco trio esperança (odeon, 1971), o sétimo do grupo, e que ainda tem belchior ("na hora do almoço"), luis vagner ("moro no fim da rua") e guarabyra ("dr. bom humor").


domingo, 22 de novembro de 2009

entre 1953 e 2009, o humor

numa new york magazine de junho, uma que traz woody allen e larry david na capa, li uma reportagem excelente de mark harris sobre as raízes, a evolução e as transformações do humor judaico nos estados unidos (o texto está aqui). um monte de assuntos interessantes, várias descobertas e entre elas "the clock", um número clássico do comediante sid caesar em seu programa de televisão, lá nos idos de 1953. ah, um dos quatro atores desse sketch é ninguém menos que carl reiner, que mais tarde dirigiu filmes como cliente morto não paga (1982) e um espírito baixou em mim (1984). divirta-se.



nessa mesma reportagem conheci o genial site old jews telling jokes (cujo nome é auto-explicativo), que poderia muito bem ser "copiado" por aqui. copiado no bom sentido, claro, porque ia ser divertido ter um site brasileiro com videos de gente comum contando piadas sob um fundo neutro (precisaria pensar em algum recorte, talvez). no mais, woody allen e larry david (seinfeld e curb your enthusiasm) estão juntos no filme tudo pode dar certo (2009), que tá chegando agora nos cinemas brasileiros. é uma nova e neurótica comédia novaiorquina de woody allen, e imperdível como todas as outras. ó o trailer.

domingueira

eles são eletrônicos, mas são limpinhos. é o pessoal do hot chip, grupo inglês formado por alexis taylor e joe goddard. os conheci em 2006, época de lançamento de seu segundo disco, o excelente the warning (parlophone/emi, 2006, que inclusive saiu aqui também), e fiquei de cara com a delicadeza de "colours". a música que fez mais sucesso no disco foi "over and over", uma das melhores contribuições pra pista de dança nos anos 2000, mas "colours", porra, "colours" é muito bonitinha. aí fui atrás do clipe, nem lembrava mais como era, e dei de cara com aquela mensagem adorável das grandes gravadoras (no caso, emi): "a incorporação foi desativada mediante solicitação". tudo bem porque encontrei esse clipe amador feito em nova york por mark-adam fareri.



mas depois achei o canal oficial do hot chip no youtube e uma versão incorporável do clipe (aqui), mas era tarde demais. peguei amor por essas imagens feitas em super 8 que acabaram esquentando essa música tão doce.

sábado, 21 de novembro de 2009

raul de souzabone

esse texto deveria ter saído na continente multicultural. teria sido minha terceira contribuição na revista pernambucana (fiz lirinha pra lá e também itamar assumpção, que já postei aqui, ali pelos anos de 2005 e 2006). mas houve uma confusão por lá e acabou não rolando. pena, porque quando esse texto sobre o raul de souza foi feito a entrevista que ele deu ao gafieiras e sua biografia ainda estavam bem fresquinhas na cabeça ("tá muito moderno, menino!" aconteceu em uma noite de outubro de 2005 lá no palco do museu da imagem e do som, e graças a amiga teresa benassi). o texto ficou guardado no meu baú pessoal esse tempo todo. agora vai, toca raul!
esta e as outras três fotos desse post são do amigo henrique parra e fazem parte da entrevista para o gafieiras

UM HOMEM CHAMADO TROMBONE 

A história da música brasileira é repleta de talentosos artistas totalmente ignorados pelas gravadoras, pela imprensa e, consequentemente, pelo público. A lista é extensa e cresce geração após geração, salvo raras exceções como a recente “descoberta” do grande Moacir Santos. O maestro pernambucano faz parte de uma turma de músicos brasileiros que durante a década de 1960 saiu do Brasil somente com passagem de ida para os Estados Unidos, um tanto pelo grande sucesso mundial da bossa nova, e de sua vertente instrumental, o samba-jazz, e outro tanto pelo golpe militar de 1964. Dessa turma despontam nomes como Astrud Gilberto, Flora Purim, Eumir Deodato, Oscar Castro-Neves, Airto Moreira, Sérgio Mendes, Bola Sete, Dom Um Romão e Raul de Souza. Mas de todos estes, Raul é uma história à parte por ser referência viva de um dos instrumentos mais importantes da sonoridade musical brasileira, o trombone. 

Filho de um pastor protestante e carioca do subúrbio de Campo Grande do ano de 1934, Raul ainda era João José Pereira de Souza quando levou a nota máxima por três vezes seguidas no programa de Ary Barroso. O próprio Ary o expulsou do programa que, afinal de contas, era para calouros, mas não sem antes dizer que João José não era nome de trombonista. E João José foi expulso já como Raulito, nome dado por Ary. Mais tarde, Raulito se transformou em Raulzinho e depois em Raul de Souza. Sempre de trombone ao lado, pelo menos desde os 16 quando aprendeu a tocar o instrumento na banda da Fábrica de Tecidos Bangu após tentar a tuba. Depois da banda da fábrica caiu na noite e tocou em inúmeras gafieiras cariocas onde ouviu os mestres Nelsinho, Astor e Edson Maciel, o Maciel Maluco. 

Começou assim, na noite, a surgir seu estilo rápido e cheio de balanço que foi registrado pela primeira vez em 1957 no LP Samba em Hi-Fi do grupo Turma da Gafieira (turma de músicos como Baden Powell, Edison Machado e Sivuca). Esta união de mestres em seus instrumentos foi apenas o começo e Raul de Souza iria muito mais longe ao levar seu trombone de gafieira para grupos menores, sendo um dos pilares sonoros do samba-jazz no início da década de 1960. Com a palavra o jornalista e produtor musical Arnaldo DeSouteiro, dono do selo internacional Jazz Station Records: “Considero o Raul de Souza, como escrevi ao produzir o relançamento de À Vontade Mesmo [disco de estréia solo de Raul em 1965], o mais completo, versátil e expressivo trombonista brasileiro. Qualquer pessoa com o mínimo de conhecimento musical o reconhece como um dos dez melhores trombonistas do mundo em todos os tempos”.


O Brasil parecia que ia dar certo antes do golpe militar e o Rio de Janeiro fervia no caldeirão da bossa nova. Raul de Souza fez parte do grupo Bossa Rio que acompanhou Sérgio Mendes em shows e no disco Você ainda não ouviu nada! (1963) e tocou com Paulo Moura, João Donato e os grupos Trio 3D (de Antônio Adolfo) e Os Cobras (de Tenório Jr. e Milton Banana). No final da década de 1960, pouco antes de sair do Brasil e já sobre o autoritarismo dos militares, Raul se juntou ao grupo A Turma da Pilantragem ao lado de Zé Roberto Bertami e Márcio Montarroyos e chegou a participar da banda que acompanhava Roberto Carlos em apresentações na TV (o Rei, segundo o trombonista, lhe deve dinheiro até hoje). 

No início de 1969, logo após o decreto do AI-5, Raul de Souza aproveitou o convite de Airto Moreira e Flora Purim e saiu do país rumo ao México para uma série de shows. De lá foi para os Estados Unidos onde morou em Boston para depois fixar residência em Los Angeles, onde começou a tocar com artistas como Sarah Vaughan, Sonny Rollins, Cannonball Adderley, Freddie Hubbard, Frank Rosolino, Jimmy Smith, Chick Corea, Ron Carter, George Duke e Lionel Hampton. Durante a década de 1970 aconteceu um pouco de tudo com Raul de Souza, desde álbuns elogiados como Colors (1975) e Sweet Lucy (1977) até equívocos como um mergulho na disco music em ‘Til Tomorrow Comes (1979), passando por um acidente que quase lhe custou a carreira, a invenção de um trombone elétrico com quatro válvulas (o souzabone) e o título de cidadão honorário de Atlanta, Geórgia. Segundo DeSouteiro, o auto-exílio de Raul “ampliou seus horizontes estéticos e o fez aprender que a música de qualidade é universal e não tem fronteiras. Sem a ida para os EUA o Raul não teria sido incluído, por exemplo, na Encyclopedia of Jazz in the Seventies, escrita por Leonard Feather e Ira Gitler, os dois principais historiadores do jazz”.

A democracia e Raul voltaram ao Brasil na década de 1980, mas a música brasileira havia mudado muito e aos trancos e barrancos o trombone do carioca passou a acompanhar artistas como Tom Jobim, Egberto Gismonti, Ná Ozzetti e Luiz Melodia. No final da década de 1990 um novo auto-exílio, desta vez na França. “Existem diferenças, infelizmente. Aqui na França tem Universidade tanto para formação de música clássica quanto para o jazz. O músico brasileiro não tem esse privilégio, mas ganha de qualquer maneira pela musicalidade que ele próprio possui”, afirmou Raul de Souza, por e-mail, de Paris. Casado atualmente com uma francesa, Yolene, o trombonista divide seu tempo entre o jazz, a música instrumental brasileira e um recente projeto de fusão de jazz com música eletrônica e funk. Um desses encontros resultou no disco Elixir (2005) que contou com o acompanhamento dos franceses do Claire Michel Group. 

Mesmo que sua música não toque em rádios brasileiras e que só consiga lançar seus mais recentes trabalhos, e consequentemente fazer shows, com certa dificuldade no país, Raul não se sente desprestigiado. “O Brasil não trata mal seus artistas. O que acontece é que qualquer um pode dizer que é músico ou artista, mesmo sem ter talento, e a partir daí vem uma falta de respeito com os músicos ou artistas de talento”, diz. De um modo geral, Raul foge de qualquer questão que lide com palavras como dificuldade, ressentimento ou problema. Seu lema parecer ser que tudo está ótimo enquanto puder fazer sua música, mas esta aparente alienação se dissolve quando se toca mais fundo. “Gostaria muito de passar mais tempo no Brasil, espero que isso possa acontecer um dia”, revela discretamente saudoso. A tristeza revelada em uma frase rápida como esta não é por não tocar em rádios ou fazer sucesso comercial, e sim por ter encontrado condições de trabalhar somente no exterior, longe da família, dos amigos e de suas raízes.

Raul de Souza gosta de dizer que a cor do seu som é azul, como está registrado no documentário Viva volta (2005) de Heloísa Passos - mesmo nome do disco que lançou em 1986 para comemorar sua volta ao Brasil depois do primeiro auto-exílio: azul da tristeza do blues, pai e mãe do jazz. Mas contrariando todas as leis da física é um azul quente o que sai de seu trombone. Novamente é DeSouteiro que coloca os pingos nos is ao afirmar que “mesmo que algumas pessoas passassem a vida toda no Brasil, acabariam esquecidas neste país altamente esquisito. Se o artista passa a ter sucesso e visibilidade real no exterior, recebe em troca o ódio e a inveja dos seus compatriotas. Mas, em compensação, ganha o mundo e coloca seu nome na história da música. E, ao contrário do que as pessoas pensam, na hora da peneira da história, o que conta é a notoriedade, não a popularidade”. Ao fundo, o trombone de Raul de Souza teima em gargalhar ruidosamente. 

p.s.: de quando esse texto foi feito pros dias de hoje (2009), raul de souza lançou os ótimos jazzmim (biscoito fino, 2006) e bossa eterna (biscoito fino, 2008), este em parceria com joão donato. lá no allmusic também é citado um disco chamado soul & creation (pao, 2007).

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

fluxo de consciência (negra)



do grande, do gigantesco fela kuti (1938-1997) em video feito pelo baterista/percussionista inglês ginger baker (o barbudão maluco que aparece no início). era o ano da graça de 1971 na cidade de calabar, litoral sudeste da nigéria. a música é "je'nwi temi (don't gag me)" que tá no disco afrodisiac (regal zonophone, 1973). tinha chovido muito. mas quem pararia fela? via @ritchieguy. é desse mesmo disco, aliás, uma das preferidas da casa, "alu jon jonki jon". e tente parar fela...



uma dica. tirar o som do video e deixar rolando "alu jon jonki jon". outra experiência, tá ligado? outro fluxo.

barra funda embriagada

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é que fomos deixar, eu e carolina, a mãe desta última (irene, minha sogra) lá no terminal rodoviário da barra funda. aí fui tirando umas fotos. mas tava sóbrio e tal.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

ele fez até o que não queria fazer

eu não sei o que dizer sobre álvaro cantor (ou álvaro junior ou alvert noris). diz, lá no twitter dele, que é de sorocaba e se autodefine como "ex-trovertido, engrasado, amigo nota 10. já fui canto e compositor mas hoje largei". já no blog diz que "sou poeta, sou cantor, sou homem, sou pai, sou ex marido, sou de tudo um pouco" (mas lá, a última atualização é de junho e, sabemos todos, em cinco meses muita coisa pode mudar). ele também tem um canal no youtube com 6 videos tão absurdos quanto... absurdos. não sei o que tem de verdade nisso ou se é um personagem - e o humor também é verdade, né não? -, então... e daí? com vocês, a abertura da novela global viver a vida ao som da música "fica comigo (porque não?)", uma legítima pérola alvariana.



ah, o título desse post é referência a um dos versos de suas mais recente composição. aqui, ó. e outra,
conheci álvaro via @ibere. e tem uma entrevista com o alvaro lá no vai trabalhar, vagabundo.

é devagar, devagarinho

conversei com martinho da vila um ano trás por causa da estreia, no canal brasil, do especial o pequeno burguês, uma espécie de retrospectiva comentada de sua própria carreira (e que saiu em cd e dvd pela mza). de lá pra cá, o septuagenário sambista não lançou nada de novo, mas segue fazendo shows sem parar sempre com aquele seu bom humor inabalável.

martinho em foto de eric garault

Como surgiu esse projeto de O Pequeno Burguês?
Fui convidado a fazer uma série de shows no FECAP, em São Paulo, que é um teatro mais íntimo, pequeno. Quis fazer um show diferente e pensei em uma espécie de conversa musicada, uma história musicada em que falo da minha carreira e da minha música. Cito uma música que faz parte da minha vida e canto essa música. E assim por diante. Além do especial no Canal Brasil este show também está saindo em cd e dvd. É isso.

Foi você que escreveu o roteiro do show? O que pretendeu contar nele?
Fui eu sim que escrevi. Olha, quis dar uma panorâmica da minha carreira e da minha vida. Quer dizer, é autobiográfico. Mas como tenho muitos anos de carreira e vida dividi tudo em blocos para se ter uma idéia geral. Tem um pouco do começo lá no Festival da Record [em 1967, quando lançou a música “Menina Moça”], depois tem algumas histórias minhas nas escolas de samba, um pouco da carreira mais recente, de alguns sucessos, e vai por aí.

Mas tinha alguma coisa que você achava importante contar para seus fãs e que, talvez, eles não soubessem?
Exato. Queria explicar de que jeito nasceram algumas músicas como as que falam da vila isabel. Então conto histórias do bairro, dos desfiles da escola de samba, e as pessoas vão entendendo melhor a história. Não sinto necessidade de passar mais nada [sobre minha vida pessoal], mas ainda existe muita gente que não me conhece bem. Tenho uma carreira longa, mas também possuo fãs mais jovens com muita curiosidade sobre minha história. Esse especial é quase um talk show, sabe? Não tem nada parecido no Brasil.

Existe alguma diferença entre fãs seus antigos e novos?
Não, parece que todo mundo é igual. É engraçado isso. A maioria dos artistas trabalha em setores mais definidos com um público mais definido. Não eu. Estou em todas as faixas etárias e classes sociais. Não sou um sambista que canta para sambistas porque meu repertório é muito variado. Por isso fui criando um público diversificado. Também faço o mesmo show, independente do lugar, tanto faz ser em uma casa de shows mais privilegiada ou numa quadra de escola de samba. E dá sempre certo.

O título do especial é o mesmo de um de seus primeiros sucessos. Teve alguma razão específica para essa escolha?
É, foi um de meus primeiros grandes sucessos, lá em 1969. Mas tem outra coisa. 'Pequeno burguês' é todo mundo que conseguiu sair da base da sociedade e emergiu. Sou também um símbolo disso, sou pequeno burguês [risos]. É uma música que tem a ver com tudo isso, o começo da minha carreira musical e a minha condição social.

Você sempre manteve uma regularidade na carreira, mas a última década está sendo particularmente movimentada. confere?
É, todo ano um disco. Sempre tem uma coisa ou outra, mas alguns períodos são mais sossegados que outros. Às vezes gravo um disco e não faço shows, nem divulgo. Só lanço e pronto. Em outras ocasiões faço vários shows. É que como já tenho muito tempo de vida não posso ficar sempre na mesma batida. Uma hora estou na escola de samba, em outra escrevo livros ou dou palestras. Isso tudo é ótimo porque na minha profissão as coisas precisam, ou devem, ser feitas com vontade. Por exemplo, ainda essa semana vou a São Paulo para gravar um programa de TV e depois farei shows em Luanda, Angola. Tenho que fazer tudo isso com disposição, não dá para ser pela metade. Artista depende de muita energia. Por isso não posso correr muito [risos].

O que te motiva a continuar produzindo?
É uma idéia, um pensamento. Penso em fazer um disco sobre tal assunto, vou lá e faço. O público também me motiva porque quando um disco, ou um projeto, dá certo dá vontade de fazer outro. É uma troca de energia.

Como está o samba nesse início do século 21?
Nossa, precisariam páginas e páginas para falar sobre isso [risos]. Difícil definir isso numa frase. Mas o samba está bem, sempre esteve bem. Às vezes está mais na moda, em outras menos, mas nunca ficou de fora. Em geral está em primeiro lugar porque todos os grandes artistas acabam cantando sambas. É isso, o samba taí!

segue abaixo um trecho do show com martinho mandando ver em "pra que dinheiro" e na sempre atual "o pequeno burguês".

terça-feira, 17 de novembro de 2009

dois clipes e uma animação

wale é um jovem rapper de washington, filho de pais senegaleses (seu nome de batismo é olubowale akintimehin) e que ganhou fama estados unidos afora a partir de 2007 com as mixtapes 100 miles & running e the mixtape about nothing. agora no início de novembro saiu seu primeiro disco, o bom attention deficit (allido/interscope, 2009), que tem produções de mark ronson, dave sitek (tv on the radio), the neptunes e best kept secret, além de participações de k'naan e lady gaga. mas o clipe aqui é de "w.a.l.e.d.a.n.c.e.", retirada de 100 miles & running, e que é uma versão remixada de wale sobre "d.a.n.c.e." dos franceses eletrônicos do justice.



agora é a vez de mala rodriguez, provavelmente a rapper com o trabalho mais consistente em todo esse planeta. com três discos na bagagem, sendo que o último é malamarismo (machete music, 2007), la mala tem algumas canções geniais, como essa "nanai", justamente desse disco.



e pra finalizar uma sensacional animação em stop motion com uma batalha de dois b-boys (del mak e tommy franzen). chama-se "break dance stop motion" e é de autoria do inglês ben wheatley.

Break Dance Stop Motion from ben wheatley on Vimeo.

p.s.: vi essa animação numa excelente compilação de 50 curtas do gênero feitas por mike smith pro site canadense spyre studios (via @carmattos e @mariliamartins).

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

letra/música #5

para quem como eu que só conseguia imaginar os incríveis naquele cenário ingênuo e jovem guardista é uma surpresa ouvir seus trabalhos do início da década de 1970, principalmente mingo, nenê e risonho (rca victor, 1972), um das raridades do grupo em um tempo que eles já estavam praticamente esquecidos. é desse disco que pincei "estou a perigo", funk genial com letra tão bem humorada quanto crítica. em tempo: mingo é domingos orlando (voz e guitarra), nenê é lívio benvenuti junior (baixo) e risonho é waldemar rozema (guitarra), e esse disco foi feito sem os outros incríveis, manito (sax, teclados e vocais) e netinho (bateria).

estou a perigo
(nêne)

eu queria comprar um carro bacana
eu queria
sair de motoca, ficar numa boa
eu queria

like, nóis like [ou laika, nóis laika]
mas money que é bom, nóis num have

eu queria sair toda noite
eu queria
eu queria frequentar todas boites
eu queria

mas a grana encurtou
meu amor se mandou
estou a perigo

like, nóis like
mas money que é bom, nóis num have

money, money, tutu

eu queria, quem sabe um dia, ganhar na loteria
daí então eu ia ter tudo que falei que eu queria

like, nóis like
mas money que é bom, nóis num have

money, money, tutu



atualização: nenê benvenuti, baixista d'os incríveis e autor dessa música morreu na manhã de 30 de janeiro de 2013. tinha 65 anos.

domingo, 15 de novembro de 2009

"tem que saber o que é que vai pra onde"

direto de berlim pra revista moviola, o cineasta karim ainouz (madame satã, o céu de suely e a minissérie alice, esta co-dirigida por sérgio machado) deu uma excelente entrevista para ariane mondo (e muito bem filmada e editada, aliás). mesmo com tantos anos de frança e estados unidos, o sotaque fortalezense é inconfundível e é assim que fala sobre formação, cinema, improvisação, busca, o recente viajo porque preciso, volto porque te amo (co-dirigido com marcelo gomes), ficção documental, o próximo longa (praia do futuro), novas mídias, etc.

Entrevista com Karim Aïnouz from ::: Ariane Mondo ::: on Vimeo.

p.s.: mais sobre ariane no blog memórias do muro.

domingueira

uma combinação 100% inglesa pra esse domingo ligeiramente abafado (mesmo pós uma baita chuva na madrugada aqui em são paulo). senão vejamos... música do grupo the stranglers lá dos idos de 1977, regravação do dub pistols datada de 30 anos depois, com participações do rapper rodney p. e do lendário terry hall (the specials). ah, a música se chama "peaches" e os pistoleiros do dub a registraram no disco speakers and tweeters (sunday best recordings, 2007), que inclusive, coisa rara, foi lançado no brasil pela st2 music.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

falam que eu sou bela patrícia...

de volta ao baú, dessa vez da monet. em abril deste ano saiu na revista uma entrevista que fiz com a atriz patrícia pillar por causa de sua estreia como diretora do documentário waldick soriano - sempre no meu coração. muito simpática, apesar de um gripe que a fazia tossir regularmente, pillar falou com carinho sobre waldick soriano (1933-2008) e a descoberta de um brasil que lhe diz muitas coisas.

waldick e patrícia durante as gravações do documentário

como foi a decisão de assumir a direção de um filme?
comecei fazendo teatro de grupo. e ali a gente fazia um pouco de cada coisa. fui criada tendo essa noção do espetáculo como um todo. e quando fui fazer cinema continuei com essa mesma maneira de trabalhar. não colocando meu trabalho de atriz como mais importante, e sim inserindo no todo. então sempre me interessei por todos os aspectos de uma produção, até dos mais técnicos, e tudo que puder ajudar a contar a história. essa minha vontade de dirigir veio de uma maneira natural, depois de tantos anos trabalhando e tendo uma visão minha sobre as coisas. agora, o assunto waldick soriano veio movido pela minha própria curiosidade.

e a curiosidade pelo waldick soriano?
o waldick é um personagem... tem a questão do homem do interior que fala de um brasil que tenho a maior ternura. falar desse homem do interior que uma vez foi ao cinema e viu um episódio do durango kid e se identificou por esse personagem americano, vestido de preto, meio justiceiro. ao mesmo tempo ele era cantor e compositor e escreveu canções que são muito comoventes. são músicas de uma poesia muito simples, brasileira, e que me falam muitas coisas. e a história dele... de uma homem que foi lavrador, garimpeiro, sanfoneiro, depois foi para são paulo e trabalhou como faxineiro, engraxate e pedreiro. ele teve que sair de sua terra em busca de um reconhecimento, um espaço, para fazer sua arte.

e como foi pra você lidar com um personagem machista? ele era assim?
é engraçado porque quando se presta mais atenção nas letras dele dá para perceber que na maioria ele não é nada machista. pelo contrário, o waldick era quase servil, era um escravo da paixão e da mulher, um poeta mesmo. acho que ele criou essa persona machista como uma saída. esses aspectos dúbios da personalidade dele também me interessaram muito.

mas houve alguma dificuldade nesse encontro de mundos tão diferentes como o seu e o dele?
quando conheci o waldick ele era mais defendido. ele sofreu muito, até por fragilidades como a bebida, e teve relações complicadas com algumas pessoas, o que o fez optar pela solidão. mas posso dizer que aos poucos viramos grandes amigos. ele era um cavalheiro, gentil e muito inteligente. sempre tinha alguma coisa interessante para falar. muito diferente do estereótipo que passava. tentei no filme buscar o homem velho e foi esse homem velho que conheci
[waldick morreu em setembro de 2008]. mas a despeito de falar da solidão e da velhice é um filme divertido. traz um pouco do humor do waldick que era um sujeito valente.

é interessante que sendo você uma atriz sua primeira experiência na direção foi com um documentário e não com ficção...
mas acho que é porque essa minha curiosidade é mais de uma pessoa que por acaso trabalha com cinema do que propriamente uma vontade de dirigir filmes. foi pessoal mesmo. e o meu material de trabalho, o que sei fazer, a minha experiência, passa pelo cinema. é a linguagem que conheço, que estou acostumada. talvez se tivesse outra formação essa minha curiosidade pudesse ter se transformado em um livro.

e a experiência de fazer um documentário?
foi minha primeira vez e busquei ter um compromisso com a verdade. a verdade dele, um tanto em respeito a ele, mas também aos espectadores e a mim mesmo. a verdade foi uma coisa que me norteou e, ao mesmo tempo, foi muito dura. porque, às vezes, não era bem aquilo que ele gostaria que fosse e em outras ocasiões eu mesma gostaria que fosse diferente do que estava registrando. é complicado falar da vida de uma pessoa e tentei tratar tudo com delicadeza, mas sem abrir mão do principal que é a verdade. tenho também vontade de dirigir uma ficção, mas não agora porque o filme também vai ser exibido nos cinemas, em circuito digital, e preciso descansar.

antes do documentário, pillar já tinha gravado um show de waldick em fortaleza e que resultou no cd/dvd waldick soriano ao vivo (som livre, 2007). foi gravado no lendário cine são luiz, escrevi uma resenha lá no gafieiras e peguei uma das faixas pra colocar aqui. a música é "carta de amor" que foi lançada em 1970 e foi um de seus maiores sucessos.