quinta-feira, 31 de maio de 2012

yahoo #43

coincidência boa que na semana que estive em fortaleza por motivos familiares saíram sons novos do meu conterrâneo don l, vocalista do grupo costa a costa, e o disco de estreia dos baianos d'oquadro. era o nordeste me chamando atenção mais uma vez e saiu esse "a hora e a vez do rap nordestino". já o texto mais recente no yahoo"fã, essa coisa louca", trata do quebra-pau virtual envolvendo o tributo à legião urbana com o ator wagner moura fazendo os vocais.


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A HORA E A VEZ DO RAP NORDESTINO

Uma das muitas coisas boas da democracia digital é que produção de qualidade (se é boa ou ruim de fato é outra história) não é mais sinônimo de ter que se mudar de mala e cuia para o Eixo Rio-São Paulo. Daí que mais gente, vozes e sotaques são ouvidos, principalmente em um país tão grande e diverso como o nosso, e todo mundo sai ganhando, pode acreditar. Mas por exemplo, o rap é um dos gêneros musicais que vem amadurecendo mais rapidamente no Brasil e na última década uma nova geração apareceu com força (Emicida, Lurdez da Luz, Criolo, Kamau, Ogi, Savave, Karol Konká, tanta gente). E é interessante de ver e ouvir que o Nordeste também vem contribuindo para esse amadurecimento.

Lembro agora de memória dos pernambucanos Zé Brown e Inquilinus (mas acho que o grupo acabou), dos cearenses RAPadura Xique-Chico (ver e ouvir video abaixo) e Costa a Costa e dos baianos Risco 88 e OQuadro, mas tem gente da Paraíba, do Rio Grande do Norte, etc. No entanto, a deixa para essa coluna foram os lançamentos do disco de estreia d’OQuadro e das primeiras músicas do trabalho solo de Don L, o principal vocalista do Costa a Costa.

Comecemos com Don L, que já no Costa a Costa se mostrava um rimador diferente com jeitão de produtor e atento para sonoridades não usuais no rap nacional. Vida Premium é o nome de seu disco solo e dele saíram “Enquanto acaba” (com base de piano jazz, citação a Chico Buarque e participação da brasiliense Flora Matos) e “Cafetina seu mundo” (mais pesada, pop e com letra bastante atual).




“Perguntar o que tem do Ceará na minha música é perguntar o que tem do Ceará em mim. Tenho certeza de que encontrarão a alma de um cearense na minha música e acho mais interessante do que um chapéu de palha. No Criolo, por exemplo, que é filho de cearenses, percebo uma melancolia tipicamente cearense nas letras, uma coisa que você pode ver nos primeiros discos do Belchior por exemplo. Não sei se tenho isso. Talvez sejam outras características cearenses, as minhas. Não sei dizer. Sei que não forço. Não me importo. Me interesso por coisas do mundo todo, tanto quanto, ou até mais do que me interesso por coisas do Ceará. Por que motivo não poderia? Sou um cidadão do mundo. Agora uma coisa que não posso deixar de ser é cearense. Isso eu sempre serei, com todo prazer e orgulho”, disse Don L em conversa por email.

Já quando questionado sobre o que existe de Bahia no rap d’OQuadro, o baixista Ricardo Santana, ou Ricô, falou que “olhamos pro mundo a partir daqui, afinal é o lugar onde moramos. É a maior concentração de negros do mundo depois da África. É um estado onde a cultura pulsa numa diversidade infinita de ritmos, passando pela literatura, teatro, cinema e etc. Somado a isso temos grandes problemas sociais que se refletem nas desigualdades, na violência, nos lamentos e nas formas de celebrar desse povo. E tudo isso nos influencia direta ou indiretamente. Seria impossível afirmar que não sofremos influências de nomes como Os Tincoãs, Edgar Navarro, Adonias Filho, dentre outros tantos. As influências são muitas, mas não nos limitamos a elas. Na verdade não há fronteiras pra arte e hoje em dia grandes artistas podem surgir dos lugares mais improváveis, surpreendendo a todos e quebrando estereótipos. Mas cada estado, cada cidade, tem o seu contexto. Eles versam sobre as verdades deles, nós cantamos as nossas.”

Em ambos os casos, as raízes são importantes, mas não podem e nem devem prender. E o excelente disco OQuadro tem seus pés firmes no rap (tem participação de Lurdez da Luz, por exemplo), mas com rimas que ganham novos sentidos ao som de dub, samba, ijexá, afrobeat, jazz, afrosamba e o diabo a quatro. Essa multiplicidade (liberdade) de sonoridades, misturas, diálogos e sotaques de grupos ou artistas estão fazendo do Nordeste um dos lugares mais férteis para o rap brasileiro. Afinal, em se rimando, tudo dá.


p.s. 1: OQuadro é formado pelas vozes de Rans, Freeza e Jef, o guitarrista Rodrigo Dalua, o baixista Ricô, o baterista Victor Santana e o percussionista Jahgga.

p.s. 2: toquei no assunto da democracia digital em outro texto do Yahoo, “Faça você mesmo”.


esses papos com don l e ricô aconteceram no facebook e por email. seguem abaixo outras perguntas e respostas que não entraram no texto do yahoo.

DON L

qual a diferença do rap do don l? existe essa preocupação (em soar diferente)? e qual a diferença entre teu trabalho solo e no costa a costa?
não existe essa preocupação porque não existe esse problema. eu faço música pensando num conceito de álbum, em termos de produção e em termos de ideias sobre as quais quero falar. na verdade faço as músicas muito no instinto, só depois que tenho algumas prontas cai a ficha do álbum, do conjunto da obra. daí pra frente as coisas ficam mais claras, e as músicas vêm mais ainda dentro do conceito que começa a se desenvolver pro disco na minha cabeça. mas é muito natural porque a música é só uma forma de expressar minha busca e minhas experiências com o mundo, comigo mesmo, e a relação entre as duas coisas. minhas aspirações, meus amores, meu ódio. minha versão da vida em 2012. na mixtape do costa a costa, em 2007, o momento era completamente diferente. mesmo musicalmente, se em 5 anos você não vier completamente diferente, não é verdadeiro, você parou no tempo, ou tá tentando repetir uma fórmula. eu não uso livros de receita.

o que você acha do rap feito fora do eixo rio-sp? como você se encaixa nele? o que tem de mais interessante?
acho que não existe mais uma característica de escola de acordo com o local de onde vem a música. as diferenças que você pode classificar por cidade, são muito mais mercadológicas. mas se a música que você faz tem o que ela precisa ter pra estar entre o que é considerado relevante e influente nacionalmente ou até internacionalmente, mais cedo ou mais tarde ela vai chegar a esse ponto. acho que nesse momento sou um artista relevante e influente pro rap brasileiro. mas isso não quer dizer retorno financeiro. quer dizer que você conseguiu alguma visibilidade por mérito do seu trabalho. hoje você pode chegar a esse ponto sem ir pro eixo. a partir daqui, a partir desse ponto, já é outra história. gosto muito de flora matos que é de brasília, e karol konká que é de curitiba, mas estão no sudeste agora. alguns que considero promessas são gasper, de goiânia, zudzilla, de pelotas, e risco 88 de salvador. mas tem muitos outros, não sou o cara mais bem informado, tô muito concentrado no meu próprio disco a um bom tempo.

RICÔ (OQUADRO)

qual a diferença do rap d'oquadro? existe essa preocupação (em soar diferente)?
o rap é um gênero musical onde cada artista, cada grupo, faz de seu jeito, de acordo com suas experiências de vida, com suas influências e referências culturais. isso torna o rap rico e diversificado. com oquadro, ainda podemos somar o fato de ser feito com instrumentos convencionais, o que torna, naturalmente, o nosso rap mais orgânico. mas nada disso foi premeditado ou programado para soar diferente. nossa música é resultado dos recursos e dos acessos que tínhamos até então. hoje, depois da obra pronta, podemos perceber nessa estética que criamos uma série de conceitos interessantes. mas tudo isso vem acontecendo espontaneamente.

o que você acha do rap feito fora do eixo rio-sp? como vocês se encaixam nele? o que tem de mais interessante?
quando começamos a nossa caminhada, ainda enquanto adolescentes, lá pelos meados dá década de 90, os únicos grupos que faziam rap e que tínhamos acesso no brasil, eram do rio, são paulo e de brasília. agora estamos no século 21, onde as informações estão aí pra quem busca. grandes artistas podem surgir dos lugares mais improváveis, surpreendendo a todos e quebrando estereótipos. agradecemos a mrn, câmbio negro, athalyba e a firma e etc., por nos influenciarem. a identificação foi e sempre será muito grande. mas, cada estado, cada cidade tem o seu contexto.

terça-feira, 29 de maio de 2012

esforçando o instagram #05

edição especial: empurra empurra + marcha da maconha

"surubão do ibira #01"

"surubão do ibira #03"

"surubão do ibira #04"

"surubão do ibira #05"

"surubão do ibira #06" 

"concentração"

"4h20"

"branca de neve veio"

"reta final com fumacê"

"quem avisa amigo é"

segunda-feira, 28 de maio de 2012

um antônio na dança

e meu encontro com antônio nóbrega rendeu dois frilas. o da revista brasileiros de maio, que já postei aqui, e esse para o site revista de dança, das colegas flávia fontes e marcela benvegnu (agradecimentos também a alexandre staut que editou o texto). o texto que segue vai mais fundo nas questões que antônio nóbrega vem pensando e trabalhando no universo da dança.




CONSTRUINDO UMA DANÇA BRASILEIRA


Antônio Nóbrega está prestes a dar um passo e tanto. Em momento particularmente especial em sua vida - no qual comemora 60 anos de vida, 40 de carreira e 20 de seu Teatro e Instituto Brincante -, o multiartista olha para o quintal de sua casa em São Paulo e orgulhoso revela que um de seus muitos projetos para 2012 é a criação da Companhia Antônio Nóbrega de Dança. “Vai ficar esse nome mesmo”, e ri ligeiramente acabrunhado da, digamos assim, pouca originalidade do nome da companhia.


Pela primeira vez o pernambucano não dançará sozinho ou com alguém da família (a mulher e parceira Rosane Almeida ou a filha Maria Eugênia), e sim com outros dez homens e mulheres. “Estou agora ampliando a formação desses bailarinos no universo popular brasileiro e isso me cobra uma pedagogia, um método para codificar uma linguagem”, explica. Será, finalmente, o seu mais completo laboratório para a criação de uma Dança Brasileira, com letra maiúscula mesmo, junto de um espetáculo inédito com estreia prevista para meados de 2013.


Apesar de ter ficado conhecido como instrumentista, nos tempos do Quinteto Armorial na década de 1970, e depois também como ator e cantor, foi na dança que Nóbrega mergulhou mais profundamente no decorrer dos anos. “Só conheci e passei a me interessar pelo universo da cultura popular quando o Ariano Suassuna me chamou para fazer parte do Quinteto. Curiosamente comecei a me entender, a me deixar seduzir também pelo universo da dança do frevo, do caboclinho. Esse processo todo nasceu de um encantamento.”


Desde seus primeiros espetáculos solo - Figural e Brincante, ambos do início da década de 1990 -, a dança tem um papel fundamental na costura entre as manifestações culturais celebradas por Nóbrega. Mas foi a partir de meados dos anos 2000, principalmente com a série Danças Brasileiras (feita para a TV Futura) e o show Nove de Frevereiro, que o pernambucano colocou-a no centro de seu palco, o que culminou em 2009 no espetáculo Naturalmente – Teoria e Jogo de uma Dança Brasileira. Disso para a vontade (necessidade?) de uma companhia de dança para poder experimentar à vontade foi um pulo.





Só que Antônio Nóbrega é o tipo de artista que pensa bastante sobre o próprio ofício e para ajudar-lhe nessa tarefa conta com uma vasta biblioteca com tudo que alguém possa imaginar sobre a formação do Brasil. “A dança de nossos palcos ainda é de extração ocidental. Você não vê alguma coisa que traga uma representação simbólica do Brasil e quando traz é de uma maneira muito frágil. Não é assim com a música de Villa-Lobos ou a literatura de Guimarães Rosa, por exemplo. Além d’eu ter me sentido chamado corporalmente pela dança também me senti compelido a fazer essa reflexão, talvez até por conta dessa ausência.”


E desanda a falar sobre dança clássica e seu eterno viés academicista, tudo que foi norma no mundo até o fim do século 19. Sua cabeça não para. “O que não fazia parte desse universo a dança não acolhia. Em termos práticos, se a dança promove movimentos retilíneos... o que é curvo ou grotesco fica de fora. Mas isso é humano! O humano comporta um e outro. Mas isso era solapado por essa visão ocidental, cartesiana, tecnicista, cerebral.” Então faz uma pausa dramática no raciocínio, tambores invisíveis rufam ao longe e completa que “por isso no século 20 vem o rock, a dança moderna, a contemporânea, e tudo com muita força, a força do recalque. Os roqueiros são os bárbaros que não tiveram vez na cultura europeia.”


Cita alguns roqueiros bárbaros da dança, gente como Isadora Duncan (1877-1927), Marta Graham (1894-1991), Maurice Bejárt (1927-2007) e Pina Bausch (1940-2009), artistas que admira profundamente, mas que por serem norte-americanos ou europeus não enfiaram totalmente o pé no recalque (ou popular, torto, grotesco, subalternizado pela cultura hegemônica, etc.) “Existem pessoas tentando isso, procurando no Oriente e na África, mas acho que nós – e aí vai meu elogio ao nosso país – e as nações jovens do mundo temos as melhores oportunidades porque isso está entranhado na gente.” 


Claro que essa imagem “roqueira” é muito distante do discreto, austero e ágil pernambuco-paulistano pai de dois adultos (Gabriel tem 28, Maria Eugênia 25) e também avô. “Não estou dizendo com isso que sou melhor que os outros porque não sei se vou conseguir, não sei se tenho capacidade pra isso. Mas com essa Companhia de Dança espero trazer notícias. Pode ser uma doidice minha, mas também pode ser uma reflexão sensata.” Pausa para respirar.


É um passo e tanto esse da busca pela criação de uma linguagem (brasileira) na dança. Qualquer outra pessoa estaria em pânico. Mas o sereno e metódico Antônio Nóbrega ainda este ano protagoniza um show em homenagem a Luiz Gonzaga e um longa inspirado no espetáculo Brincante (em sua quarta colaboração com o cineasta Walter Carvalho), além de uma série de eventos em seu teatro na Vila Madalena paulistana.


“Sou otimista e acho que a gente tem que ser assim. Porque, como ser humano, já temos de saída elementos pra gente ser pessimista: a morte, o corpo que é frágil, uma psique cada vez mais atormentada. Pra encarar tudo isso é preciso ser conscientemente otimista e acreditar que essa experiência pode até se acabar, mas que pelo menos tem que ser produtiva no seu dia a dia. Sou um otimista por compulsão”, e pede licença para ver quem está tocando a campainha. Ainda não é o terapeuta corporal que está esperando para uma aula logo mais.


“Não sei se a minha prolixidade vai te confundir”, confessa ao voltar. Digo para não se preocupar e ouço atentamente enquanto mais uma vez retorna ao passado para falar que durante os três primeiros séculos do “fazimento” do Brasil as heranças negras, indígenas e ibéricas se miscigenaram livremente pelas ruas, senzalas e arraiais do país. E que esses encontros ganharam um novo impulso com a chegada da Família Real (a cultura hegemônica) em 1808. Porém, segundo ele, “até hoje esses encontros são inferiores às suas potencialidades.” Em outras palavras, a cultura mestiça da rua pode e deve invadir ainda mais esse universo branco ocidental.


“Agora, das duas uma, ou não há um dimensionamento hiperlativo dessa cultura ou eu a dimensiono hiperlativamente”, e solta uma gargalhada daquelas sinceras. De repente, o rosto volta a ficar sério como se um pensamento muito importante estivesse sendo formulado naquele exato momento. Na mosca. “A arte não vai mudar a ordem das coisas, mas tem o papel de ajudar a gente a ter uma consciência um pouco mais completa das coisas para fazer a mudança”, diz Nóbrega, muito certo de seus próprios passos. 


domingo, 27 de maio de 2012

yahoo #41 e #42

caramba, o festival sónar são paulo já aconteceu tem duas semanas! foi correria boa, muitos shows, várias coisas interessantes e nenhum grande problema (fora o som aqui e ali). e ainda encontrei amigos (oga mendonça, dudu tsuda, igor fediczko e o pessoal da gang do eletro) e pessoas que só conhecia virtualmente (chico dub, pedro pinhel, lauro mesquita, bruno yutaka saito, lorena calábria e felipe cordeiro). essa cobertura nada objetiva foi dividida em duas partes/dias no yahoo, mas aqui seguem juntas e com alguns videos oficiais do festival (o da gang do eletro já coloquei no post "eletro sónar") e fotos que tirei. o texto mais recente no ultrapop é "a hora e a vez do rap nordestino", sobre as novas rimas e sons da bahia (oquadro) e ceará (don l).


O primeiro dia

Festival criado em Barcelona lá pelos idos de 1994 unindo “música avançada” e tecnologia, o Sónar começou a se espalhar pelo mundo a partir dos anos 2000 e inevitavelmente chegou ao Brasil, mais precisamente São Paulo. A edição 2012 no país teve ontem seu primeiro dia (noite) e foi bastante movimentado. Com dezenas de atrações divididas em três palcos espalhados pelo Parque Anhembi, o Sónar São Paulo começou pontualmente às 20h com apresentações do duo catalão Za! e discotecagem do músico Maurício Fleury nos palcos Sónar Hall e Sónar Village, respectivamente. Enquanto os primeiros criaram uma atmosfera barulhenta e pretensamente engraçada (vocais esganiçados, por exemplo), Fleury, que é da banda Bixiga 70 e toca com músicos como Lucas Santtana e Pipo Pegoraro, soltou um setlist delicioso e totalmente afrolatinofunkbrasileiro. Pena que no início da noite só alguns gatos pingados tiveram a sorte de ouvi-lo.

Após o Za! foi a vez do brasileiro Ricardo Donoso no Sónar Hall – nada menos que o célebre palco do Anhembi que recebeu shows históricos de Elis Regina, Doces Bárbaros e o festival Phono 73 – e a situação não melhorou muito pelas bandas de lá. Etéreo e vazio poderiam definir o show, mas como geralmente tenho preguiça de música eletrônica ao vivo não sou uma fonte confiável. No mais, era tempo de ver a primeira apresentação do principal palco do festival, o grande Sónar Club. Quem abriu os serviços foi o elogiado músico e produtor inglês James Blake, mas nessa primeira noite usando a capa de DJ (ele se apresenta com banda no segundo dia). Não funcionou. Arrastado, o setlist de Blake foi um enfileiramento de dubsteps tanga frouxa e sua cara de paisagem não ajudou muito a esquentar a entrada para uma das grandes atrações da noite, os alemães do Kraftwerk.

Enquanto isso no Sónar Hall, a veterana pianista Clara Sverner lutava ao lado do filho, o designer gráfico Muti Randolph, contra problemas de som e barulhos externos. O repertório erudito-popular de Clara foi sendo paulatinamente soterrado por essas questões e as intervenções gráficas de Randolph no telão (sincronizadas e inspiradas pela música) pareciam datados a olhos mais jovens. Seria uma ótima apresentação em outro lugar, ali ficou deslocado e foi prejudicado. Ao lado, no Sónar Village, o produtor norte-americano Cut Chemist deu o primeiro e enérgico sinal que a noite iria esquentar. Ex-integrante do lendário Jurassic 5, Chemist tocou o terror nas picapes de uma forma vibrante e divertida.

Então, por volta das 23h e já com um público bem maior, o festival recebeu o Kraftwerk. Impressionante com os sons eletrônicos quarentões criados por Ralf Hutter e sua turma germânica (ele é o único membro original presente) continuam soando modernos. Talvez a explicação seja porque a música do Kraftwerk continua carregando a surpresa da descoberta, a alegria da experimentação, e isso a fazer ser muito mais que eletrônica (sem desmerecimento nenhum ao gênero, claro). O público urrava a cada hit que aparecia, tais como “The Robots”, “The Model”, “Autobahn” e “The Man-Machine”. E o público também urrava com a ótima projeção 3D. Lá no palco os quatro homens eletrônicos permaneceram estáticos e silenciosos e ainda assim fizeram um show mais pesado e totalmente atual (além de melhor que o da última vez que estiveram aqui, em 2009).

Do outro lado do Anhembi, no Sónar Hall, Criolo enfrentou a pesada concorrência com sua habitual energia, humor, balanço e politização (sem falar na sua afiadíssima banda). Apesar de problemas com o som – que apareceram em todos os shows, com maior ou menor ênfase, mas nada que chegasse a fatalidade -, o MC paulistano mandou todos os seus sucessos de crítica e público e não teve dificuldade alguma em ganhar o público. Ali perto, o lendário DOOM, um dos mais importantes nomes do rap underground norte-americano, tocou fogo no público do Sónar Village. Rappers brasileiros que estavam ali como Rodrigo Ogi, Macário, Kamau e Max B.O. vibravam a cada porrada sonora de seu ídolo e já era possível ter certeza que a noite teria motivos de sobra para ser lembrada por muito tempo.

Zegon, DJ que era do Planet Hemp e depois partiu para uma excelente carreira de produtor, teve a dura tarefa de manter o pique pós-DOOM e conseguiu se utilizando de variedade e alguns convidados. O primeiro foi RAPadura, jovem rimador do Ceará que cruzou Luiz Gonzaga com velocidade e impressionou muito quem ouviu. Depois entrou um sujeito da Indonésia, mestre do talk box, mas era hora de Little Dragon, outro dos shows muito esperados da noite. Foi a primeira vez que o quarteto sueco pisou no Brasil e a vocalista Yukimi Nagano fez questão de frisar o fato, mas nada disso foi problema para uma plateia cheia (ainda mais que a do Criolo) e que conhecia várias músicas dos três discos da banda e principalmente do último Ritual Union. Quem esperava uma apresentação mais tranquila foi presenteado com um Little Dragon mais roqueiro e a bela Nagano dançando muito, toda a vontade.

é a nagano (little dragon) ali no centro

Duras horas da manhã e o gás acabando. Rumo à última grande atração da noite, a dupla Chromeo, passo pelo show do Emicida e tudo está muito bem, obrigado. O rapper paulistano não para de crescer e dominar seu ofício, além de conseguir um fato raro entre artistas brasileiros: seu amadurecimento artístico-pessoal é compartilhado com seu público, que acaba amadurecendo junto. Maravilha. Mas lá vou conhecer esse tal de Chromeo, a união de Dave 1 e P-Thugg, enquanto uma leve garoa surge sem cerimônia.

É fácil entender o apelo do som da dupla e tinha bastante gente lá para comprovar isso. Pop esperto, espírito retrô, algum humor e muita energia são combinados em uma hábil montanha russa de estímulos. Muita gente gostou, considerou o show da noite e coisa e tal. Só achei bem feito, mas não me pegou porque parecia programado demais. De qualquer forma, uma ótima primeira noite, sem grandes frilas, bastante espaço, muita variedade.


O segundo dia

O batidão começou às 16h no sábado do Sónar São Paulo. E quem deu início aos trabalhos do dia foi Dago, DJ da Avalanche Tropical, com um setlist divertido e pesadão, guettotech e outras bossas, no Sónar Village. Cheguei ao final, o clima estava bom e tinha mais gente que no início do primeiro dia. No palco ao lado, o ótimo Sónar Hall, algum problema de origem desconhecida fez com que o primeiro show, do Psilosamples, atrasasse uma hora e meia. Teve um lado bom nisso porque consegui assistir o show do mineiro, da Gang do Eletro (no Village) e do SILVA (também no Hall), que no horário original iriam brigar.

Então o festival começou realmente (pra mim) com a Gang do Eletro, que conheço de outros carnavais e até protagonistas de um perfil que escrevi para a Vice Brasil (“Duas cabeças, uma levada”). Sou muito fã dos paraenses, portanto opinião suspeita, mas eles e ela estavam particularmente inspirados. Com figurinos meio tribais meio Tron, e tudo pintado com tinta fosforecente, Marcos Maderito, Keila Gentil, William Love e o DJ Waldo Squash estavam naquela eletricidade de quem está com muita vontade de fazer um showzão. Conseguiram, apesar de alguns problemas de som e o microfone de Keila teimando em cair.

Agora, quase tão bom quanto ver a energia e a música deles ao vivo é presenciar a reação de quem não conhecia ou não tinha visto ao vivo. Começa como espanto do tipo “O que é isso que está acontecendo na minha frente?” e depois vira sorriso besta, nada percebido racionalmente, pois desde o primeiro beat você já está dançando, jogando a mãozinha pro ar, compartilhando de toda a cultura das aparelhagens. E dá-lhe “Galera da Laje”, “Sinhá Puresa”, “Panamericano” e uma ótima participação do conterrâneo Felipe Cordeiro, cantor e compositor dessa nova onda paraense, colocando guitarrada no eletromelody (mais tarde, na sala de imprensa, Maderito anunciou que uma parceria entre eles estará no disco de estreia da Gang).

ao som de psilosamples

No Sónar Hall, Psilosamples finalmente subiu ao palco e fez uma apresentação intimista, bonita e cheia de camadas, mas talvez o Auditório Celso Furtado fosse grande demais para sua música. De qualquer forma, esse mineiro de Pouso Alegre continua fazendo um dos melhores e mais brasileiros sons eletrônicos do momento. Daí, na sequência, veio o capixaba Lúcio da Silva Souza, ou SILVA, que conseguiu cumprir as altas expectativas que surgiram ano passado com apenas as cinco músicas de seu EP. Suas delicadezas eletrônicas e acústicas sobreviveram a novos problemas de som e ainda estava genuinamente feliz e orgulhoso de tocar “12 de maio” exatamente um ano após a música ser composta e como atração de um festival importante como o Sónar. SILVA promete muito mais.

Não consegui entender o metal progressivo do anglo-norte-americano KTL, também no Sónar Hall, e só voltei ao recinto para testemunhar o grande show de Ryuichi Sakamoto e Alva Noto. Não esperava que estivesse tão cheio e muito menos que aquele tanto de gente fosse conseguir se comportar durante o show minimalista (piano, programações e o excelente telão acompanhando graficamente a música), mas deu tudo muito certo entre o japonês, o alemão e o público brasileiro. Até o som ajudou numa bela viagem sonora-visual.

Hora de tomar um ar no caminho para o gigantesco galpão do Sónar Club e acompanhar o primeiro show de Cee Lo Green no Brasil. Em termos gerais foi divertido, mas sabemos que o inferno está no detalhes. O som estava um horror, o grave muito alto embolando todos os instrumentos e sufocando no vozeirão de Cee Lo. Muito baseado no disco The Lady Killer, de 2010, o repertório do show não é dos mais vibrantes e só cresceu mesmo quando surgiram os hits “Fuck You” e “Crazy” (Gnarls Barkley, seu projeto com Danger Mouse).

Do outro lado do Anhembi, os escoceses do Mogwai promoveram um festival de distorções em altos volumes. Teve gente que achou que pedaços do teto iam cair. Outros sentiram instantâneos problemas de audição. Muitos amaram de paixão. Uma palavra (“progressivo”) martelava em minha cabeça música após música e sentia que aquela viagem não ia a lugar nenhum, parecia mais exibicionismo. Quer dizer, mas vai da viagem de cada um, né não? E falando nisso, de volta ao caixotão Sónar Club, o Justice rapidamente tomou conta de todos os muitos espaços e fez uma festa grande, muito bem iluminada, intensa. Entre Cee Lo e os franceses tocaram os niteroienses do The Twelves, baita responsa, mas vi muito pouco para falar qualquer coisa.

Nessa briga de gigantes peguei só um pedacinho do Flying Lotus e lamentei profundamente não tê-lo ouvido mais (escolhas, escolhas). Daí que minha maratona pessoal pelo Sónar São Paulo, para o Yahoo! Brasil, acabou no bom show do inglês James Blake. Entre melancolia e ruídos, paredes tremendo, destaque para uma longa versão de “Limit to Your Love” (Feist). E então o gás (definitivamente) acabou.

terça-feira, 22 de maio de 2012

esforçando o instagram #04

ou coisas que acontecem quando se está na rua...

"lesma é tu"

"máscara, nada mais"

"vidro e nuvens, drama"

"de cima pra baixo tudo é telhado"

 "sem título #22"

"uma noiva baixo augusta"

"ocorrência"

"natureza morta #19"

"luz(es)"

"sombra, fios e vice-versa"

quinta-feira, 17 de maio de 2012

antônio nóbrega, 60 anos

e as coisas continuam rolando na revista brasileiros. agora na edição de maio saiu um perfil que fiz do antônio nóbrega sobre esse ano de 2012 cheio de novidades e comemorações. a entrevista aconteceu em sua casa perto da praça do pôr do sol, aqui em são paulo, e teve pouco mais de uma hora. como esse texto da brasileiros era mais genérico sobre o momento e seus planos ficou muita coisa de fora de uma conversa que tivemos sobre a dança brasileira, seus questionamentos, etc. acabei utilizando esse material bônus para um outro frila, dessa vez para o site revista de dança. e a caravana segue...


EM NOME DA DANÇA NACIONAL

Em momento no qual comemora 60 anos de vida, 40 de carreira e 20 de seu Teatro Brincante, Antônio Nóbrega coloca sua energia na criação de uma linguagem brasileira para a dança

Pouca gente imagina, mas antes de ser chamado, quatro décadas atrás, por Ariano Suassuna para integrar o lendário Quinteto Armorial, o músico, dançarino e ator Antônio Nóbrega não tinha interesse algum por cultura popular. Na verdade era mais desconhecimento do que qualquer outra coisa. “Meu pai me colocou para estudar violino ainda criança, aos 10 anos, e três anos depois montei um grupo com minhas irmãs. Mas a gente tocava músicas que ouvíamos na rádio e TV: Roberto Carlos, Beatles, a MPB dos festivais, canções francesas e latinas. O folclore não fazia parte da minha história, sequer de minha visibilidade”, explicou em entrevista na sua casa, em São Paulo. No entanto foi sua formação erudita na Escola de Belas Artes de Recife que chamou atenção de Suassuna.

Nóbrega, que já vivia na dicotomia clássico-popular, passou a conhecer e se encantar por zabumbas, rabecas, caboclinhos, bumba-meu-boi e quetais. “Curiosamente comecei a me entender e a me deixar seduzir também pelo universo da dança, pelo frevo. Na época não tinha preocupação em compreender esse me encantamento, simplesmente o vivia”. E lá se foi o pernambucano mergulhando profundamente nesse novo mundo ao mesmo tempo em que ficava conhecido Brasil afora nos shows e discos do Quinteto Armorial, entre eles Do Romance ao Galope Nordestino (1974) e Aralume (1976). “Teve momentos dessa jornada em que eu era quase um nacionalista inveterado... como assim nós brasileiros não dançamos a nossa música, não cantamos e tocamos a nossa música?! Eu devia ser muito chato nessa época [risos]. Só depois coloquei esse brasileirismo na prateleira adequada”.

A mudança para São Paulo no início da década de 1980 com a recém-esposa, dançarina e parceira Rosane Almeida ajudou nessa adequação entre brasileirismos e universalismos (sem contar o nascimento dos filhos Gabriel e Maria Eugênia). Mas foi somente uma década depois, com a fundação do Teatro Brincante e a ótima recepção dos espetáculos-discos Na pancada do ganzá (1996) e Madeira que cupim não rói (1997), que o projeto cultural de Nóbrega começou a andar de espinha ereta.


Pouco a pouco, a dança foi ganhando mais destaque em seus trabalhos posteriores e Nóbrega tem a explicação na ponta da língua: “A dança de nossos palcos ainda é de extração tipicamente ocidental. Mas você não vê alguma coisa que traga uma representação simbólica do Brasil. Quando traz é de uma maneira muito frágil. Não é assim com a música de Villa-Lobos ou a literatura de Guimarães Rosa, por exemplo. Além d’eu ter me sentido chamado corporalmente pela dança também me senti compelido a fazer essa reflexão, talvez até por conta dessa ausência”.

Por essas e outras que entre seus muitos projetos futuros o que lhe é mais caro é a criação da Companhia de Dança Antônio Nóbrega, no qual tem a missão de ampliar a formação brasileira e popular de dez bailarinos junto com a criação de um espetáculo inédito previsto para meados de 2013. No entanto, o incansável artista quer ainda esse ano estrear um show em homenagem a Luiz Gonzaga e um longa inspirado no espetáculo Brincante (em sua quarta colaboração com o cineasta Walter Carvalho), além de uma série de eventos em seu teatro-instituto na Vila Madalena.

Com tudo isso na cabeça, o ágil Nóbrega chegou à conclusão que “a arte não vai mudar a ordem das coisas, mas tem o papel de ajudar a ter uma consciência um pouco mais completa para fazer a mudança”. E é dançando que ele quer chegar lá.




p.s.: e olha aqui como o texto ficou na página da revista.


quarta-feira, 16 de maio de 2012

eletro sónar

olhaí 13 minutos da gang do eletro no começo do segundo dia do sónar são paulo 2012. foi o melhor e mais animado dos três shows que já assisti do quarteto paraense (tudo bem, sou fã, portanto não muito confiável). de qualquer forma, endoida irmão!


e aqui duas fotos que tirei do show (foco sempre em keila gentil e sua grande presença de palco, mas um salve também para maderito, waldo squash e william).



fiquei sabendo do video lá no avalanche tropical.

terça-feira, 15 de maio de 2012

yahoo #40

virada cultural já é coisa do passado, mas o texto que escrevi no yahoo ("um centro vivo e no virote") é mais sobre o centro de são paulo em si do que sobre o evento, portanto... e como de qualquer forma esse ano não consegui ver absolutamente nada... e veio o intenso festival sónar são paulo e sua maratona de dois dias ("o primeiro dia" e "o segundo dia"). vida que segue.





UM CENTRO VIVO E NO VIROTE

Todas as grandes cidades brasileiras possuem, em maior ou menor grau, um problema em comum. São mais que um, obviamente, mas ficarei aqui com o pecado capital: o abandono de seu centro. Os culpados são muitos, desde o poder público até a especulação imobiliária, passando pela miopia de uma sociedade que não quer ser responsável pelos rumos urbanos.

Em poucas palavras, o centro de uma cidade não pode ser deixado exclusivamente para o comércio. Tem que ter gente morando dia e noite, sempre. Tem que ter vida e qualidade de vida, mais que qualquer outro bairro ou região. Simplesmente porque o centro é o começo e a essência de uma cidade, sua história, memória, presente e futuro.

Copiado de um evento francês, a Virada Cultural, que acontece desde 2005 em São Paulo, tem sido um jeito interessante, mesmo que tímido em meras 24h, de injetar vida no belo, louco e abandonado centro paulistano (o evento também ganhou uma versão carioca e outra pelo interior de São Paulo). Talvez tenha sido um dos poucos projetos realmente públicos da dobradinha PSDB/DEM (ou, para os mais íntimos, Serra e Kassab) na gestão de São Paulo, pois esse pessoal costuma segregar mais que democratizar (isso mesmo, hoje em dia quem mais se diz democrata é quem menos quer democratizar). Falei sobre São Paulo e cidades em outros dois textos aqui para o Yahoo, “São Paulo, velha e louca” e “Arte que desmancha no ar”).


Já fui a várias edições, inclusive na de 2007 no meio do campo de batalha do não-show do Racionais MCs na Praça da Sé (e só virou batalha por causa da PM que mais uma vez fez “uso de força excessiva”). E em todas logo percebi que o mais bacana não era a variada infinitude de (algumas muito boas) atrações gratuitas e abertas, e sim ver aquela quantidade de gente indo a pé de um lugar para o outro no centro, mapinhas em mãos, procurando diversão e ocupando o espaço. Gente de tudo que é lugar, de tudo que é jeito, fazendo a cidade sua.

Claro que ainda falta muito, tanto pelo lado da Prefeitura de São Paulo quanto pela população, para esse idílio acontecer. Enquanto os números de frequentadores da Virada Cultural aumentam em termos de milhões, os problemas com lixo, higiene pública e segurança só pioram. Falta olhar mais para o lado, para os outros, porque só assim deixaremos de ser essas ilhas tristes dentro de nossa próprias casas.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

yahoo #39

me enchi da ana de hollanda e sua patota fazendo bobagens (pra dizer o mínimo) lá no ministério da cultura. e não sei o que é pior: as bobagens ou a nulidade dessa gestão. enfim, mas acabei escrevendo "banditismo por necessidade", mais um texto sobre o caso, e espero que seja o último. não quero mais saber desse assunto. o texto mais recente, "um centro vivo e no virote", chegou lá com um dia de atraso e trata da virada cultural e da relação de seu público com o centro. algo assim.





BANDITISMO POR NECESSIDADE

E a batalha continua. No mês passado, em 22 de março para ser mais preciso, escrevi aqui no Ultrapop o texto “Estamos perdidos?” que repercutia as primeiras denúncias de uma relação muito esquisita, para dizer o mínimo, entre o Ministério da Cultura (gestão Ana de Hollanda) e o famigerado ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição). Em nome de uma pretensa defesa dos direitos autorais de artistas brasileiros contra a malévola internet, o MinC vem assinando embaixo de tudo o que mestre manda (ECAD, gravadoras multinacionais, etc.) e quem for contrário é bandido, pirata da perna-de-pau.

Curiosamente (ou não?), a grande imprensa que gosta de denunciar malfeitos do governo federal mesmo quando são notícias plantadas com segundas intenções (vide caso Demóstenes Torres e Carlinhos Cachoeira) se fez de cega, surda e muda nesse caso do MinC/ECAD. E olha que ontem foi o dia que saiu o relatório final da CPI do ECAD com direito a um pedido de indiciamento de 15 pessoas muito próximas a atual gestão do MinC por apropriação indébita de valores, fraude na realização de auditoria, formação de cartel e enriquecimento ilícito. Como se não bastasse, o relatório também propõe uma grande reforma no sistema de direito autoral brasileiro (atualmente, o 5º pior do mundo) e que a partir de agora a fiscalização seja feita mais duramente pelo Ministério da Justiça.

Se isso vai dar em algum resultado concreto só o tempo dirá, mas em casos assim é sempre bom ficar atento quais interesses estão em jogo. Ontem, por exemplo, a Editora Terceiro Nome divulgou no Facebook que todo o conteúdo do DVD que vem junto com o recém lançado livro Iconografia do Cangaço tinha vazado na internet. São preciosos 14 minutos de imagens de Lampião, Maria Bonita e sua gente filmados em 1937 (algumas delas tinha sido usadas no longa O Baile Perfumado, de 1997, mas quatro minutos desse material são inéditos). O pessoal da editora ficou babando de raiva? Tentaram derrubar o vídeo no YouTube? Nada disso, estavam felizes. Olha o vídeo abaixo (originalmente ele não tem áudio, então é recomendável colocar um som para acompanhar essas imagens históricas).


Agora, me deixa escrever na lousa. O pirata da perna-de-pau que subiu o vídeo não está ganhando dinheiro com isso. A editora não está deixando de vender seu (belo, aliás) livro por causa disso. E todos podem sair ganhando com o fato: o pirata por compartilhar (que é diferente de lucrar) e a editora por ter seu produto divulgado gratuitamente na rede. E olha que o mercado livreiro brasileiro, que também vem se mostrando descontente com o descaso do MinC (olhem esse abaixo-assinado), é um dos que mais sofrem em um país/sociedade que não estimula a leitura. Mas o pessoal da Terceiro Nome adorou a pirataria (e nem mencionei Paulo Coelho, um dos maiores vendedores de livros do mundo, que adora ver seus livros em download). E aí?

Em recente reportagem sobre ensino através de celulares e tablets que assinei na Revista Continuum, do Itaú Cultural, o editor Martin Restrepo afirmou que “não é justo que em um mundo em rede tenhamos que aprender com as metodologias de sempre”. Essa declaração pode muito bem ser ampliada para o mundo da cultura, afinal não somos consumidores passivos (nunca fomos na verdade, só nos faltavam os meios) porque também produzimos conteúdo (bom ou ruim é outra história). O MinC, bem como todas as secretarias de cultura municipais e estaduais, precisa entender de uma vez por todas que é um disparate defender organizações particulares em detrimento do bem comum em um mundo descentralizado e sem fronteiras. Quem é mesmo o bandido?

quinta-feira, 3 de maio de 2012

esforçando o instagram #03

mais uma leva. sem mais palavras.

"quando a noite cai"

 "bença"

 "rogério trentini e daniel almeida"

 "natureza morta #01"

"natureza morta #02"

 "it's a man's man's man's world"

 "natureza morta #03"

"dudu tsuda na loja do estilista joão pimenta"

"dudu tsuda e juliana r na loja de joão pimenta"

"olho direito & luz"