sábado, 17 de setembro de 2011

pra desanuviar

depois de uma semana de muitas emoções - jornalistas musicais em chamas, yahoos de ontem e hoje, a estreia do gafieiras no mundo das twitcams e mais um fechamento da monet -, saio de férias. darei notícias e continuarei ali pelas quebradas do twitter e facebook, porque não consigo ficar longe. quem sabe até coloco nesse meio tempo umas descobertas, umas imagens, videos, sei lá. mas por enquanto tiro o pé do acelerador, abro a janela... porque nesse setembro eu resolvi fazer algo de diferente... resolvi ir para o litoral gaúcho!


brincadeira. "a última estrada da praia" é a faixa que encerra o excelente e instrumental música pra ouvir sentado (independente, 2011), de arthur de faria e seu conjunto, e foi originalmente feito para a trilha do longa a última estrada da praia, de fabiano de souza.

então... porque nesse setembro eu resolvi fazer algo de diferente... resolvi sair de rolê por pernambuco com um careca!


não é isso. "setembro" é música nova de junio barreto. tem disco novo aí pra chegar.

vamos lá, outra vez... porque nesse setembro eu resolvi fazer algo de diferente... resolvi cair no ziriguidum do mundo.


"ziriguidum" é mais um clipe e música fodásticos de lurdez da luz.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

yahoo #14

até agora, "drogas? tô dentro" foi a coluna mais comentada, curtida, votada de todas que fiz até agora no ultra pop. números muito legais, fiquei bastante feliz e acho que o pessoal lá no yahoo curtiu também (um salve pros manos michel blanco e rafael alvez), mas é claro que uma grande porcentagem não entendeu patavinas do texto. a partir de um clipe-campanha constrangedor que o rock in rio fez ("eu vou sem drogas") apontei uma série de hipocrisias da campanha, de alguns artistas, enfim... mas é que como coloquei um título provocativo boa parte das pessoas acharam que eu estava fazendo uma apologia às drogas e aí rolaram uns xingamentos e coisa e tal. portanto, diversão garantida nos comentários. enquanto isso, tem texto novo por lá: "meu fraco é subcelebridade".

DROGAS? TÔ DENTRO

Poucas coisas nesse planeta são tão prejudiciais a saúde quanto a hipocrisia. Intolerância e ódio, com certeza, e ignorância estão em pé de igualdade. Mas a hipocrisia vai se espalhando silenciosamente pelas sinapses da sociedade fabricando falsas verdades, bagunçando o coreto, jogando para debaixo do tapete o que realmente precisa ser mudado e que tememos encarar (nós mesmos). Acho que provavelmente essa questão – autoreflexão, assumir responsabilidades e quetais – é uma das mais recorrentes aqui nos textos do Ultra Pop. Talvez por ser muito atual. Talvez seja uma encanação pessoal. Vai saber.

É que voltei a pensar nisso após assistir a um clipe feito pelo Rock in Rio para uma campanha chamada “Eu vou sem drogas” (ao evento, pelo menos). Em clima de “We are the world”, músicos, atores e atrizes nacionais cantam em um estúdio versos sem sentido como “Eu tenho escolhas / Só vou nas boas / Às vezes nem tanto assim” ou de contrapropaganda como “Também não aceito / Que as pessoas digam / O que é melhor pra mim”. A música, aliás, foi composta pelo veterano Eduardo Souto Neto, o mesmo do “Tema da vitória” (aquele do Senna), o tema do próprio Rock in Rio e de uma infinidade de jingles que grudaram na cabeça de gerações.

Como se não bastasse ser mais uma música ruim no mundo, “Eu vou sem drogas” ainda deu uma queimadinha no filme de alguns grandes artistas. Quer dizer, não ligo para o que fazem ou deixam de fazer Rogério Flausino, Toni Garrido, Di Ferrero, Claudia Leitte, Eduardo Falaschi (Angra), ou Rodrigo Santos (Barão Vermelho). Muito menos Marcos Frota, Paola Oliveira e Thiago Lacerda (queria muito saber como chegaram a esse elenco). Mas não foi legal ver Herbert Viana, Ivo Meirelles, Sandra de Sá e principalmente Milton Nascimento e Emicida nessa barca errada.

Cada um tem suas motivações para participar dessa paradinha (contrato, identificação, um chamado amigo) e quem sou eu para julgá-las, mas me incomoda a hipocrisia demagoga dos envolvidos numa campanha para proibir algo “que faz mal” sendo que o evento que começa em 23 de setembro é patrocinado pela cerveja Heineken - pense nas brigas e na quantidade de motoristas bêbados saindo lá dos cafundós da Cidade do Rock – e que em suas lanchonetes provavelmente estarão disponíveis aqueles saudáveis sanduíches de microondas da Sadia. Quer dizer, onde está a droga? Sem falar que algumas dessas pessoas conscientes e maravilhosas já deram, dão ou darão algum tapa na pantera. Tudo soa falso demais, da boca pra fora demais. E vazio, acima de tudo vazio.



Só que para minha felicidade, e como um sinal que a humanidade não está perdida, das poucos mais de 700 avaliações do vídeo na página do YouTube (até a manhã desta quarta, dia 31.08), 600 eram negativas. Podem ter achado a música apenas chata e nem atentado para a hipocrisia em cada nota, mas na página oficial do Rock in Rio alguns comentários chamam atenção: “Fácil, tira o NX Zero”, concordaram Yago e Luh; “Eu não uso drogas apenas tomo cerveja, mas cada um sabe o que quer para si e cada um é responsável pelos seus atos. Vocês não vão chegar a lugar nenhum com isso”, desabafou Adriano; “Drogas pra quê? Já nasci doidão”, disse Leo Simmons; já Eduardo e Chernob apontaram para o calcanhar de Aquiles do evento (“Porque estão vendendo bebidas alcoólicas então?”); Paulo Muchon e André enxergaram a hipocrisia; e Diego, na maior sinceridade, declarou que “Ah, na boa eu dou um tapinha no baseado, não mata ninguém... e é bom!!!”

Por essas e outras que concordo com Jeane do Brega, paraibana da cidade de Bananeiras, que no épico e rural vídeo de “É tão fácil chorar” faz uma defesa sacolejante de seus vícios e limites. Ela também não aceita que as pessoas digam o que é melhor pra ela.

gafieiras ao vivo

quarta-feira, dia 14 de setembro de 2011, o gafieiras fez sua primeira entrevista com transmissão via twitcam. o protagonista da vez foi o grande violonista heraldo do monte que no dia seguinte declarou em seu facebook: "nunca me desnudei tanto numa entrevista como a de ontem". foi a primeira ação comemorativa dos dez anos de existência do site e até o fim do ano sobe o sítio de cara totalmente nova. e fora as muitas entrevistas de arquivo, quatro inéditas estão na fila para chegar ao público. tem sérgio ricardo, nasi, luiz tatit e gaby amarantos. a quinta é essa do heraldo, que já está na íntegra em video logo abaixo, mas que ganhará sua versão transcrita no site novo



som, imagem e transmissão rolaram muito bem. e a entrevista foi excelente, como de costume. assisti metade das poucos mais de duas horas de conversa boa por motivos de força maior (trabalho, trânsito), mas o que vi honrou a tradição.

bateu também uma tristezinha, afinal fazem uns três meses que me desliguei oficialmente do gafieiras após quase dez anos de serviços prestados, e acompanhar a entrevista de longe (via twitcam, oras) dava um aperto no coração. mas fiquei muito feliz em ver como as coisas deram certo. e felicidade é o que importa, né não? vida longa ao gafieiras.

ah, e se você não faz ideia quem é o velhinho falante da janela acima - mais informações sobre sua longa, discreta e sensacional carreira no dicionário cravo albin - saiba que ele integrou um dos grupos instrumentais mais interessantes, e de vida mais breve, da história da música brasileira, o quarteto novo. eram heraldo (viola e guitarra), théo de barros (violão e contrabaixo), hermeto pascoal (flauta) e airto moreira (bateria e percussão) e um disco saiu desse encontro, quarteto novo (odeon, 1967). clique na imagem e divirta-se.

fica mal com deus? como pode?

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

fela kuti vs. de la soul

cortesia de amerigo gazaway, que juntou o nigeriano pai do afrobeat e o grupo americano de rap no disco fela soul, disponibilizado em streaming e também para download gratuito. saca só o peso (e com direito a participações especiais de redman, mf doom, yummy e gorillaz).

e aqui uma espécie de video-release-amostra-grátis.



segunda-feira, 12 de setembro de 2011

jornalismo musical, esse desconhecido

foi nos meus tempos de gafieiras que comecei a perder o interesse em fazer crítica musical. geralmente gosto de ler, e mesmo quando não concordo acho interessante, mas comecei a achar bobo (eu) falar se um trabalho era bom ou não. em um mundo tão cheio de opiniões - os críticos, na maioria das vezes e em todas as áreas, disfarçam opiniões pessoais com objetividade jornalística - achei que era mais interessante falar com o artista, tratar de suas referências, de seu trabalho, e deixar para o leitor ter suas próprias opiniões em vez de sair adjetivando por aí. claro que minhas opiniões também apareciam aqui e aqui, nas entrelinhas do texto (não existe objetividade, pronto), mas aquilo já não era crítica musical. e assim meu coração acalmou. muito bem.

umas duas semanas atrás fui convidado, e nem lembro mais por quem, a participar de uma comunidade da bizz (a falecida revista da abril que colaborei uma vez em sua última encarnação; foi o texto 'conexão entre o morro e o asfalto') no facebook. sabia que a comunidade da bizz no orkut era (e acho que ainda é) bastante intensa, mas depois de uns três dias nessa do facebook simplesmente desisti e saí. muita egotrip de jornalista, papinho furado, polêmica vazia, briga de turminhas, fofoca. "brinquedo de menino", segundo bia abramo (@biawabramo). "ufc de jornalistas musicais" nas palavras de nina lemos (@ninalemos).

mais ou menos ao mesmo tempo, o pedro alexandre sanches escreveu no farofafá o texto "criolo, o esqueleto do hype" e o circo de jornalistas musicais pegou fogo. para quem não é desse mundo (99,999% do brasil), uma breve contextualização. nó na orelha, o segundo disco do mc paulistano, foi saudado por muita gente como o disco do ano e seu autor, criolo, começou a aparecer em tudo que é lugar. com o hype veio seu irmão gêmeo, o antihype. ambos apaixonados, assertivos, totais. e nesse texto, o pedro tentou entender o fenômeno, o que era e o que não era "moda", para então chegar à música (que, segundo ele, e concordo com isso, quase sempre foi esquecida nas avaliações; apenas ser pró ou contra bastava).
daniel ganjaman (@danielganjaman), co-produtor do disco do criolo e um dos linhas de frente dessa história, elogiou o texto do pedro (@pdralex) e os dois começaram um diálogo interessante no twitter, mas fernanda couto (@sete8), assessora de imprensa do artista (e de tulipa ruiz, marcelo jeneci, etc) acabou atravessando o samba e alfinetou o jornalista ao afirmar que ele não podia julgá-lo sem também ter visto sua performance no palco. nas entrelinhas desse quiprocó, nos ditos e não-ditos, a velha rixa entre imprensa e artistas. mas nesse caso específico do criolo era uma briga que vinha acontecendo nos bastidores (hype X antihype) e que acabou vindo a tona a partir desse texto.

o bicho pegou lá no facebook e foi exatamente nessa hora que saí da comunidade. não queria saber. já tinha lido muitas resenhas, reportagens e avaliações sobre o nó na orelha. algumas entrevistas também. fora inúmeras conversas (reais e virtuais) com gente de dentro e fora da cena rapper paulistana. gosto imensamente do disco. não sei se o criolo vai emplacar como artista (e não é uma capa da serafina, suplemento descolado da folha de s. paulo, ou um dueto com caetano veloso no vmb que fará isso acontecer), mas tenho certeza que nó na orelha é um disco que vai entrar para a história. a versatilidade vocal, o carisma e as letras fortes e lotadas de referências de criolo, a produção e os arranjos inspirados de ganjaman, marcelo cabral e banda. é um grande disco de gênero indefinido porque não é rap, mas é do rap que vem toda sua essência. é ótima música popular (negra, branca, índia) brasileira. mas isso sou apenas eu dizendo, cê tá me entendendo?

mas quando achei que tinha saído, "eles" me puxaram de novo. foi no sábado que @igordisco (que também escreveu sobre aqui) me passou o link para um texto do daniel ganjaman espinafrando o jornalismo musical brasileiro a partir da comunidade da bizz no facebook. ele compilou uma série de frases polêmicas, quase todas de josé flávio jr. (bravo) e algumas poucas de alex antunes, tirou algumas fora de contexto, deu aquela generalizada e desceu o pau. algumas de suas críticas são bastante pertinentes, principalmente quando fala de leviandade de certas avaliações (polêmica gera audiência, todo mundo sabe), mas seu jeito irônico-agressivo acaba deixando transparecer uma dificuldade para lidar com críticas (negativas). sem falar no velho chavão, pretensamente deslegitimador, de que todo crítico é um artista frustrado ou então de que ele "apenas" escreve, não cria.

logo depois, o marcelo santiago (@meiodesligado) postou no blog meio desligado sua avaliação pessoal (bastante ponderada) do evento e uns printscreens com a continuação desse bate-boca, agora com as principais partes envolvidas (ganjaman, alex antunes e flávio jr.), lá no facebook. tiroteio pra lá, tiroteio pra cá e se de alguma forma eu também não estivesse envolvido nessa história (ossos do ofício) teria uma preguiça desgraçada de entendê-la, principalmente por questões escancaradamente pessoais entre ganjaman e flavio jr. isso me fez lembrar uma frase do livro de anthony bourdain (ao ponto) que estou lendo: "usar a função de crítico para resolver pendências pessoais o coloca no mesmo pântano interesseiro de seus colegas que usam o poder para obter vantagens pessoais". isso vale para ambos os lados e dá pano pr'algumas reflexões.

não acredito que o jornalismo musical - essa "especialização" criada no final da década de 1960 - no brasil vá mal. acho que estamos passando por uma entressafra. os "revolucionários" das décadas de 1980 e 90 já andam meio barrigudos, mal humorados e ocasionalmente perdidos nesse mundo novo descentralizado, sem certezas. a garotada dos anos 2000 ainda precisa descobrir que música não é tudo. mas também existem pessoas de gerações distintas que já se ligaram nisso e que mesmo assim mantém aquele tesão, aquela curiosidade pelo que é produzido ontem e hoje, aqui e no mundo, e pra além de seus gostos pessoais. agora, pra mim, curiosidade e tesão são diferentes de deslumbramento e tendência. e sinceridade é mais interessante que cinismo. no mais, tem espaço pra tudo nesse mundo e é assim que tem que ser. e cada um que faça o seu filtro, que busque sua turma. como eu nunca fui de turmas...

também não acho que artistas independentes (e sua entourage) sejam coisinhas puras de deus e nem os jornalistas demônios armados de iphones. a coisa não funciona assim. todo mundo pode ser alvo de críticas ou piadas. resta saber se são boas ou não, e se você aí sabe lidar com isso. "se nem jesus agradou a todos", diria algum comentarista ululante de grandes portais.

agora, pra encerrar, que esse texto já ficou mais longo que deveria, gostaria de falar um pouquinho sobre uma das acusações do antihype criolo: a do lobby na imprensa. acho que já passou da hora de encararmos o lobby como uma coisa natural do sistema. e quando digo lobby não me refiro a jabá. tentar vender seu peixe é uma coisa. empurrá-lo contra a vontade de outrem é diferente. quer dizer, é tão imaturo fingir indignação com a existência de algo que efetivamente existe (e que, a princípio, não é errado), fora que é ingênuo achar que a grande mídia e interesses privados estão criando um monstro-produto. a grande mídia não consegue nem mais eleger presidentes, um assunto que lhes interessa diretamente, quanto mais artistas pop. fora que o tal sucesso de criolo é totalmente entre aspas. 95% do país não sabe que ele existe e ainda mais pessoas não estão nem aí para o que o andré forastieri pensa dele.

falta humildade. falta interesse. falta voltar pra rua e abrir os ouvidos. falta discutir com pessoas diferentes. sobra se esparramar na redação à espera dos discos mandados pelas assessorias ou de link exclusivos. sobra a correria para ser o primeiro a falar da novidade da hora nas redes sociais. nesse universo umbigo quem mais perde são os jornalistas que, pouco a pouco, se vêem escrevendo para seus 13 amigos de cerveja e por alguns míseros 'curtir' no facebook. exatamante como talvez eu esteja fazendo agora...

damn!

atualização em 20 de setembro: e fernanda couto e daniel ganjaman fizeram ressalvas e comentários sobre o texto na janela de comentários, mas resolvi colocar aqui também pra enriquecer a discussão e não deixar "escondido" na janela de comentários. seguem...

fernanda couto: "oi Dafne, só corrigindo, não "atravessei" nenhuma conversa entre PAS e Ganja, até porque quando direcionei uma pergunta ao PAS no sábado de manhã, Ganja não estava nem online. questionei se PAS já tinha assistido a um show e ele respondeu que não."

daniel ganjaman: "Olá, Dafne. Gostei do seu texto e apesar de discordar de certos pontos, fico feliz de ver o assunto sendo discutido assim, abertamente. Gostaria de incluir algumas ressalvas, se me permitir.

A Fernanda Couto tem toda razão de fazer a correção, já que a conversa entre ela e o PAS foi "atravessada" por mim, e não o contrário. A discussão no caso tinha foco muito mais na capa da Serafina do que um confronto entre hype X antihype. Achei pertinente dar essa atravessada pois percebi que haviam outros pontos na conversa dos dois, em função do envolvimento da Fernanda com o trabalho e a posição "antifolha" que o Pedro faz questão de ressaltar sempre que tem a oportunidade. Na minha opinião, isso de certa forma deslegitimava um pouco os discursos, mas achei tudo super saudável e natural.

Em relação ao meu texto, gostaria só de deixar claro que não disse em momento algum que "todo crítico é um artista frustrado". É fato que um trabalho depende do outro, mas acho que essa forma comum de encarar o assunto diminui (e muito) a discussão. Críticas construtivas são sempre bem vindas e os textos que mais gostei sobre o trabalho do Criolo foram também os únicos que apontaram os defeitos do disco, escritos pelo próprio PAS (para o portal ig) e pelo Arthur Dantas (para a revista +Soma). O que eu questiono ali não são críticas. São todos os pontos também apontados por você no texto, como "egotrip de jornalista, papinho furado, polêmica vazia, briga de turminhas, fofoca".

No mais, concordo com oque você falou e aceito também suas críticas ao meu texto de forma construtiva, como deve ser. Abs! Daniel Ganjaman"

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

laerte da semana #30

uma edição comemorativa em dose dupla de laerte.

das racist relaxando

saca só o clipe novo da música nova do disco novo do pessoal do das racist. relax, que sai ainda este mês, é o nome do trabalho de estreia do trio, um ano após duas mixtapes da pesada (shut up, dude e sit down, man), e a música se chama "michael jackson".


Das Racist Michael Jackson por le-pere-de-colombe

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

pode fragmentar, pode rir de mim

"não precisamos botar abaixo tudo o que for velho, como em muitas revoluções. se isso for o início de um 'movimento', ele prosseguirá, ao contrário de ondas anteriores, em muitas direções - algumas opostas. chegou a grande fragmentação, reflexo do que anda acontecendo com a audiência na televisão, com o público de música e com a mídia impressa, já faz algum tempo. torço para que o ramo de restaurantes, ao contrário dos conglomerados de mídia, esteja mais bem preparado e seja mais rápido para lidar com os novos imperativos históricos. serão impelidos a isso", de anthony bourdain, em ao ponto - uma carta de amor sangrenta ao mundo da culinária (cia. das letras, 2011, pagina 97, tradução de celso nogueira).

fragmentou?

sábado, 3 de setembro de 2011

adorável. chaplin. vagabundo.

começa hoje no telecine cult e se estenderá pelos sábados de setembro um festival com os principais longas de charles chaplin, o homem, o ator, o cineasta, a lenda. só filmão da pesada, com destaque para o irônico monsieur verdoux (dia 10, 22h) e o melancólico luzes da ribalta (dia 17, 22h). lembro de assistir chaplin pela primeira vez ainda criança e gostar dele logo de prima (e quem não gosta?), mas quando bem mais tarde descobri buster keaton, o posto de heroi mudo rapidamente mudou de cara. é que os filmes que buster fez durante os anos 1920 sempre me pareceram mais cinematográficos que os de chaplin, sem contar o fato nada corriqueiro que não existe espaço para o sentimentalismo em seu trabalho. mas chaplin é maior, é um pioneiro, um desbravador, e um sujeito com uma vida absurdamente interessante. foi isso que descobri mais a fundo ao pesquisar para esse texto que saiu na revista monet deste mês. e um livro que me ajudou muito foi chaplin - uma vida (larousse), que acabou de sair e que é uma espécie de biografia psicológica que dá bastante ênfase aos primeiros e miseráveis anos do grande artista.

cartazes poloneses de o grande ditador, o garoto e tempos modernos

CLÁSSICOS - CHARLES CHAPLIN

Três meses após a morte de Charles Spencer Chaplin de causas naturais no Natal de 1977, um grupo de mecânicos suíços o levou para um passeio contra sua vontade. Queriam um resgate, não conseguiram e todos foram presos. Onze semanas depois, o corpo foi novamente enterrado no cemitério de Vevey, cidadezinha na Suiça que acolheu a família Chaplin desde o início da década de 1950. Essa absurda comédia de erros foi uma coroação e tanto para a vida nada ordinária de um dos maiores artistas do século 20, um dos grandes criadores cômicos da história da humanidade.

Agora, mais impressionante que essa inusitada ação post mortem é como sua infância definiu e influenciou sua arte. É que, nascido em 16 de abril de 1889 em Walworth, área pobre no sul de Londres, Chaplin é fruto da brevíssima relação entre um ator e cantor alcoólatra (Charles Chaplin Sr.) e uma atriz e cantora com problemas mentais (Hannah Chaplin), que tinha um filho de uma outra relação. Sem condições financeiras e psicológicas para cuidar dos dois, Hannah os deixou em uma instituição para menores carentes. Tal abandono, que durou cerca de dois anos, marcou a vida de Chaplin para sempre tanto que sempre dizia que sua infância acabou aos 7. Essa tristeza foi ainda o ponto central da trama de
O Garoto (1921), o primeiro longa do personagem Carlitos, e a fome que geralmente sentia foi relembrada com contornos delirantes no segundo longa do adorável vagabundo, Em Busca do Ouro (1925).

“Qual o papel que o encontro de Chaplin com ‘o sistema’ teve posteriormente na definição de sua visão cômica? Deu a ele (...) uma sensação de ardente indignação com a autoridade estabelecida”, disse Stephen Weissman em
Chaplin – Uma Vida. Carlitos é a resposta de Chaplin a essa mundo cruelmente estratificado que via quando criança na Inglaterra. O homem do chapéu-coco, fraque puído, bengala e bigodinho zomba, luta e mantém sua dignidade mesmo sob as maiores adversidades e é também uma mistura muito pessoal de características de seu pai, do andar trôpego de um vizinho e de artistas que assistia no movimentado teatro de variedades londrino.

O garoto Chaplin era uma impressionante esponja e absorvia com fervor tipos e trejeitos de qualquer um que passasse pela sua frente (a mãe foi a assumida primeira grande influência com sua facilidade para imitar pessoas). Quando voltou a se encontrar com ela e o irmão, e até brevemente com o pai, tinha quase 10 e já tinha sido picado pelo bichinho do show business - é que cinco anos antes, na fatídica noite que a mãe perdeu a voz no palco, ele havia substituído-a improvisando umas palhaçadas. Mas Chaplin aperfeiçoou-se na dança, no canto e na música ao entrar na companhia juvenil Eight Lancashire Lads, que lhe deu a oportunidade de viajar pelo Reino Unido. Foi também nessa época que descobriu que tinha mais talento para o silencioso humor físico dos palhaços que homenagearia com muita graça em
O Circo (1928).

No começo do século 20, após perder a mãe definitivamente para a loucura e o pai para a cirrose hepática, Chaplin mergulhou de vez no teatro de variedades (com alguma relutância no início, pois queria ser um ator “sério”) e seguiu de trupe em trupe até embarcar no grupo liderado pelo empresário Fred Karno em sua primeira visita aos Estados Unidos em 1910. Nessa ocasião dividiu quarto com Stan Laurel, que mais tarde seria conhecido na dupla O Gordo e o Magro. Certa vez, Laurel declarou sobre Chaplin que “ele tinha olhos que obrigavam você a olhar para eles. (...) Essa é uma parte do grande sucesso dele – olhos que fazem você acreditar nele, em qualquer coisa que ele faça.”

No final de 1913, Chaplin fixou residência em Los Angeles e assinou contrato com o produtor Mack Sennett, um dos pioneiros da comédia pastelão de Hollywood que descobriu talentos como Fatty Arbuckle e Buster Keaton. Os primeiros curtas protagonizados pelo inglês foram lançados em 1914 e no mesmo ano nasceu Carlitos. O sucesso veio como em um rastilho de pólvora e não demorou nada para Chaplin conseguir autonomia para dirigir seus próprios filmes com liberdade total.

“O extraordinário público que Chaplin, por seu gênio, conseguiu conquistar, deu-lhe uma enorme responsabilidade; ele não se acreditou investido de uma missão, ele tinha realmente uma missão e, em minha opinião, poucos homens públicos ou geradores de idéias desempenharam a sua com tal probidade e eficiência”, escreveu François Truffaut no livro
Os Filmes de Minha Vida. Difícil falar se Chaplin tinha uma missão clara, um objetivo em mente, mas numa entrevista em 1931 para um jornal francês ele confirmou a relação complexa entre criador e criatura: “Na verdade, essa figura, tão parecida comigo como um irmão, mas que não sou eu, é para mim uma terrível responsabilidade.”

Segundo Olivier-René Veillon, em
O Cinema Americano dos Anos Trinta, Carlitos “carrega o fardo por demais pesado da interpretação de uma época que digere mal os conflitos que gera e de cuja crise a ascensão dos fascismos traduz a amplitude”. Após o fim da violenta Primeira Guerra Mundial, da euforia moderna e libertária dos anos 1920, do qual Chaplin foi autor e grande estrela, e da chegada do cinema falado estava bastante claro que o mundo estava mudando rapidamente e que Carlitos não cabia mais nele. Mas o vagabundo ainda tinha mais algumas coisas a (não) dizer sobre si (Luzes da Cidade) e sobre essa nova era (Tempos Modernos).

THE END - A arte proletária de Chaplin, com suas raízes na pantomima e no teatro popular inglês que floresceu após a Revolução Industrial, buscava a igualdade e o humanismo, o que muitas vezes foi taxado de comunismo, principalmente nos Estados Unidos a partir da década de 1930. O ciclo estava se fechando, mas Chaplin fazia questão que Carlitos não falasse e dessa magia ele não abria mão. Foi isso que o levou a transfigurar sua grande criação nos protagonistas de
O Grande Ditador (1940) - filme que foi um grande sucesso, mas lhe trouxe grandes dissabores com o governo americano, pois debochou e criticou Hitler antes dos Estados Unidos entrar em guerra -, e Monsieur Verdoux (1947), no qual Chaplin criou um personagem que era ao mesmo tempo um “cidadão de bem” e um assassino serial de viúvas.

Uma das falas de Verdoux ficou famosa e deixou muita gente irritada (“Guerras, conflitos, é tudo negócio. Um assassinato cria um vilão; milhões, um herói. Os números santificam, meu caro”), o que fez com que essa comédia de humor negro fosse um retumbante fracasso de bilheteria. A vida não seria mais fácil para Chaplin nos Estados Unidos e quando ele foi lançar na Inglaterra o belo, melancólico e autobiográfico
Luzes da Ribalta (1952) seu retorno não foi permitido (daí o exílio suíço) e até sua pegada/assinatura na Calçada das Estrelas em Hollywood desapareceu.

No fundo ele não se importou muito e manteve-se fiel a uma das máximas de Marie Lloyd, atriz de teatro e influência nos seus tempos de criança-artista: “A verdadeira comédia é quase como chorar.” No caso de Chaplin, quem há de duvidar?


p.s.: segue abaixo na íntegra um dos curtas mais famosos de chaplin, o imigrante (1917).

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

yahoo #13

pois então, minha gente. o décimo terceiro texto da ultra pop marcou uma volta da boa e velha polêmica ao meu cantinho no yahoo, mas jamais imaginaria que o seguinte, "drogas? tô dentro", causaria um rebuliço ainda maior. mas esse aqui trata de misturas nacionais, mashups e um tal de funknejo.

BASTARDO É A MÃE

Misturar ritmos diferentes em uma mesma música não é novidade nem aqui e nem na China. Não é coisa dos dias de hoje e exatamente por isso já foi chamado por vários nomes, de ‘mash mixed’ a ‘bastard pop’, de ‘crossover’ a ‘mashup’. Mas é deste último jeito, em inglês mesmo, que essa mistura ficou conhecida no mundo todo. E é um tanto diferente do bom e velho remix, seu meio-irmão. Enquanto no remix uma música ganha novas roupagens a partir de intervenções de batidas e efeitos criados por DJs e produtores, o mashup é o encontro-colisão de duas músicas já existentes, de preferência o vocal de uma com o instrumental de outra

Quando ainda não existia asfalto para chegar aos mashups, as misturas eram feitas ao vivo, com instrumentos, na raça mesmo. Mas a partir dos anos 1980, e mais radicalmente nos anos 2000, inúmeras ferramentas tecnológicas deixaram tudo mais acessível. E assim surgiram os primeiros fenômenos pop do gênero, com destaque para The Grey Album (2004), no qual o produtor Danger Mouse liquidificou Beatles (The White Album, 1968) e Jay-Z (The Black Album, 2003), e Collision Course (2004) com uma mescla de Linkin Park e Jay-Z feita pelos próprios. O poderoso rapper e maridão de Beyoncé, aliás, é figura fácil nos mashups e mais recentemente foi co-protagonista de Jaydiohead (2009), uma mistura feita pelo produtor Max Tannone de suas rimas com os instrumentais do Radiohead.

E o que isso tem a ver com o Brasil? É que fiquei sabendo que uma coisa chamada “Sou Foda 2” tinha sido feita e era nada menos que uma nova versão de “Sou Foda”, hit malicioso assinado pelos jovens funkeiros do Avassaladores que agora ganhou o apoio da dupla neosertaneja Cácio & Marcos. Nada disso havia me preparado para a música que saiu daquele vídeo e muito menos para o termo ‘funknejo’. Alguns podem achar que “Sou Foda 2” é um crossover, mas eu acho sinceramente que é um mashup “ao vivo”.



Ainda não sei muito bem o que pensar disso. É muito bizarro? É o futuro? Uma coisa não tem nada a ver com a outra? A verdade é que a nova geração que tem revitalizado comercialmente a música sertaneja é a mesma que, ao invés de criar novas canções, apenas recria hits de outros gêneros a seu modo (“Minha Mulher Não Deixa Não” é um das mais disseminadas). Resultado? O feitiço pode muito bem se virar contra os feiticeiros.

Porque essa coisa de misturar, como diria o sábio e saudoso Vicente Matheus, é “uma faca de dois legumes”. Às vezes funciona, noutras desanda. Por exemplo, o pioneiro da cena mashup nacional é o carioca João Brasil que em 2010 se meteu no ousadíssimo projeto “365 mashups” (Isso mesmo! Um por dia!). Ninguém no mundo tentou isso – e muito menos com tantas referências e artistas diferentes - e João Brasil saiu-se muito bem, mesmo com alguns escorregões aqui e acolá. Impossível, em um projeto desse tamanho, chegar ao 100% de aproveitamento. De qualquer forma, quinze dias atrás Brasil reuniu Guilherme de Arantes com Gaiola das Popozudas no divertido “Charme de Dar” e a alquimia funcionou.

Outro artista brasileiro dos mashups e remixes, o enigmático DJ Cremoso vem fazendo fama ao pegar sucessos internacionais dos anos 1980 para cá – de Nirvana a R.E.M., de Major Lazer a Joy Division, etc. - com o objetivo de mergulhá-los no caldeirão do tecnobrega. Já o pessoal da festa Criolina fez um bando de europeus sacolejarem ao som de mashups como “Mosca na Cerveja” (Raul Seixas vs. Chico Science & Nação Zumbi), “Nega do Bebo Sim” (Elizeth Cardoso vs. Marcelo D2) e “Manos e Molhados” (Racionais MCs vs. Secos & Molhados). Bastardos ou não, o que é brega hoje pode ser cult amanhã, e o que é cult hoje pode ser datado ou esquecido depois de amanhã. Só o tempo para julgar se experiências assim sobrevivem e se a posição da rã é um lance e não um romance.