sábado, 31 de outubro de 2009

transversão #25

essa edição do transversão começou com grand magneto, outra dica certeira de edson franco. não consegui achar grandes coisas sobre o pessoal, a não ser que são franceses e só lançaram dois compactos em vinil no ano de 2007. em um compacto, david bowie ("let's dance") e blondie ("heart of glass"), e no outro gloria jones/soft cell ("tainted love") e bee gees ("saturday night fever"). no mais, nenhum site ou myspace, quiça um blog. nada. e som é muito bom, entre o reggae e um funk acústico. depois que o edson me mostrou o que tem do grand magneto lá na dusty groove fui correr atrás pra ver o que conseguia em mp3. achei "tainted love" e "heart of glass", que acabei escolhendo porque a regravação é tão boa quanto a original, além de garantir outras transversões. vamos lá, então.

capa de um compacto americano de "heart of glass"

lançada em 1978, "heart of glass" é da dupla debbie harry e chris stein - vocalista e guitarrista da banda blondie, respectivamente -, e é quarta faixa do lado b do disco parallel lines (chrysalis/emi, 1978), o terceiro da banda (e pra muitos, o melhor, sob produção de mike chapman). é mistura permanentemente interessante entre rock, new wave e pop, o que horrorizou os mais "puristas". saca só o clipe original com debbie harry, toda gatinha e misteriosa.



pouco depois, em 1981, o guitarrista chet atkins (1924-2001), figura totalmente ligada aos sons country de nashville e cercanias, gravou uma versão instrumental e muy delicada da música no disco country after all these years (rca victor, 1981).

Chet Atkins -Heart of Glass by dafnesampaio

muito anos depois e novamente no terreno instrumental, o trio the bad plus entortou a canção em seu excelente disco de estreia, these are the vistas (columbia, 2003).

The Bad Plus - Heart of Glass by dafnesampaio

então, em 2007, vem o pessoal do grand magneto.

Grand Magneto - Heart of Glass by dafnesampaio

agora, pra encerrar, uma versão ao vivo de 2007, em plena nova york, com o pessoal do blondie e lily allen.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

minha paz quer trégua

o tempo das coisas... não sei se vocês ficaram sabendo de uma história acontecida da uniban de são bernardo do campo na semana passada (fiquei sabendo lá no boteco sujo): uma garota de 20 anos, estudante de turismo, foi hostilizada por outros universitários, homens e mulheres, por trajar roupas sumárias, "de puta" (tipo um vestido curto, algo assim), e precisou de escolta policial para sair da faculdade (ela deu uma entrevista hoje no vírgula). troço tenebroso e mais frequente do que se imagina nesse admirável mundo de novo de falsas aparências e moralismos disfarçados. aí, agorinha via twitter do URBe, fiquei sabendo de um clipe novo dos pernambucanos do eddie. a música se chama "eu tô cansado dessa merda" (fábio trummer), tá no disco carnaval no inferno (independente, 2008), e tem muito a ver com o incidente da uniban e tantas outras coisas nossas.

letra/música #3

ederaldo gentil é baiano da turma de batatinha e riachão. também é autor de um dos sambas mais belos e tristes de todos os tempos, "o ouro e a madeira", mas vou colocar aqui uma outra composição sua que conheci faz pouco tempo. foi no som barato que me deparei com identidade (nosso som gravações e produções, 1983), um de seus raros discos, e sua maviosa faixa-título. crítica social e melancolia em doses cortantes.

identidade
(ederaldo gentil)

05342635 é o meu número, meu nome
minha identidade
mínimo salário é meu ordenado
12 horas de trabalho, que felicidade
que felicidade

acordo sem dormir
faço pelo sinal
ouço o radinho de pilha
pra saber do horário
preparo quase nada
e levo na marmita
vou dependurado e os sinais fechando
chego atrasado, é cortado o dia
são tanto os descontos
que nem mesmo sei
me falam de vantagens que eu jamais ganhei

é o inps, fgts
irss, o seguro e o pis
com 30 de trabalho
estou aposentado
e com mais de 70
eu penso em ser feliz

Ederaldo Gentil - Identidade by dafnesampaio

atualização: ederaldo gentil morreu em 30 de março de 2012, uma sexta-feira. tinha 68 anos.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

CORJA #5

houve uma mudança de ares na quinta edição do muy querido corjacast. saímos do cafofo de edson franco, descemos algumas quadras e viramos a esquerda na rua onde mora douglas "oga" mendonça. tudo ali em perdizes. nos instalamos na bela sala do recinto, espalhamos os salgados pela mesa e abrimos umas cervejinhas. só que agora eu me comportei, juro. o valtinho é que tava todo animadão. ah, houve uma ligeira mudança no roteiro do programa, mas a espinha dorsal continua a mesma e dessa vez rolou gente como marta topferova, o trio bk-one, benzilla & hypnotic brass ensemble, um dueto entre otto & céu, o encontro de princesa & rancho mc, massilia sound system e, ao fundo, bossa nostra.

pra quem prefere o corjacast no formato mp3, o link está AQUI. mas aguardem que nos próximos dias, o nosso podcast ganhará um um sítio próprio. quem viver, verá. e ouvirá.

ê ê ê fumacê, á á á fumaça

terça-feira, 27 de outubro de 2009

fora de si

"skhizein" é o segundo curta animado dirigido pelo francês jérémy clapin (o primeiro, "une histoire vertebrale", está aqui). em 13 delicados minutos acompanhamos a jornada de henry, sujeito solitário que é atingido por um meteorito e, consequentemente (?), fica a 91 cm de si mesmo. o traço de clapin me lembrou muito o do mano daniel bueno. no mais, vi esse video no blog boo monster bop da babee.

Skhizein (Jérémy Clapin,2008) from Josef K. on Vimeo.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

a lista, a lista

achei hoje, lá no blog vermute com amendoim, a lista completa das "100 maiores músicas brasileiras" que saiu na rolling stone brasil. quando fiz o post abaixo, nada de arrombar a festa, fui atacado pela preguiça e acabei não transcrevendo a lista. sorte que existem almas boas como a de fel mendes, um dos cabeças do referido blog. valeu! e ele ainda tem o link com a lista que a bravo fez em 2008. agora, é brincar de comparar.

1 - construção - chico buarque (chico buarque)
2 - águas de março - elis e tom (tom jobim)
3 - carinhoso - pixinguinha (pixinguinha e joão de barro)
4 - asa branca - luiz gonzaga (luiz gonzaga e humberto teixeira)
5 - mas que nada - jorge ben (jorge ben)
6 - chega de saudade - joão gilberto (tom e vinicius)
7 - panis et circensis - os mutantes (gil e caetano)
8 - detalhes - roberto carlos (roberto e erasmo)
9 - canto de ossanha - baden e vinicius (baden e vinicius)
10 - alegria, alegria - caetano veloso (caetano veloso)
11 - domingo no parque - gilberto gil e os mutantes (gilberto gil)
12 - aquarela do brasil - francisco alves (ary barroso)
13 - as rosas não falam - cartola (cartola)
14 - desafinado - joão gilberto (tom jobim e newton mendonça)
15 - trem das onze - demônios da garoa (adoniran barbosa)
16 - ouro de tolo - raul seixas (raul seixas e paulo coelho)
17 - o mundo é um moinho - cartola (cartola)
18 - sinal fechado - chico buarque (paulinho da viola)
19 - quero que tudo vá pro inferno - roberto carlos (roberto e erasmo)
20 - preta pretinha - novos baianos (luiz galvão e moraes moreira)
21 - tropicália - caetano veloso (caetano)
22 - da lama ao caos - chico science & nação zumbi (chico science)
23 - inútil - ultraje a rigor (roger moreira)
24 - eu sei que vou te amar - vinicius (tom e vinicius)
25 - país tropical - wilson simonal (jorge ben)
26 - roda viva - chico buarque & mpb4 (chico buarque)
27 - garota de ipanema - pery ribeiro (tom e vinicius)
28 - pra não dizer que não falei das flores - geraldo vandré (vandré)
29 - nanã (coisa nº5) - moacir santos (moacir santos e mario telles)
30 - baby - gal costa (caetano veloso)
31 - travessia - milton nascimento (milton nascimento e fernando brandt)
32 - ovelha negra - rita lee (rita lee)
33 - pérola negra - luiz melodia (luiz melodia)
34 - brasil pandeiro - novos baianos (assis valente)
35 - trem azul - lô borges (lô borges e ronaldo bastos)
36 - o bêbado e o equilibrista - elis regina (joão bosco e aldir blanc)
37 - primavera - tim maia (cassiano e silvio rochael)
38 - eu quero é botar meu bloco na rua - sérgio sampaio (sérgio sampaio)
39 - metamorfose ambulante - raul seixas (raul seixas e paulo coelho)
40 - sanque latino - secos e molhados (joão ricardo e paulinho mendonça)
41 - manhã de carnaval - luiz bonfá (luiz bonfá e antônio maria)
42 - sampa - caetano veloso (caetano)
43 - como nossos pais - elis regina (belchior)
44 - azul da cor do mar - tim maia (tim maia)
45 - carcará - maria bethânia (joão do vale e josé candido)
46 - ponteio - edu lobo e maria medalha (edu lobo e capinam)
47 - me chama - lobão e os ronaldos (lobão)
48 - maracatu atômico - chico science & nação zumbi (jorge mautner e nelson jacobina)
49 - os alquimistas estão chegando - jorge ben (jorge ben)
50 - ando meio desligado - os mutantes (arnaldo baptista, rita lee e sérgio dias)
51 - disparada - jair rodrigues (geraldo vandré e théo de barros)
52 - diário de um detento - racionais mc's (jocenir e mano brown)
53 - brasileirinho - waldir azevedo (waldir azevedo e ruy pereira costa)
54 - sabiá - cynara e cybele (tom jobim e chico buarque)
55 - balada do louco - os mutantes (arnaldo baptista e rita lee)
56 - a lua e eu - cassiano (cassiano e paulo zdanowski)
57 - conversa de botequim - noel rosa (noel rosa, vadico e francisco alves)
58 - apesar de você - chico buarque (chico buarque)
59 - minha namorada - carlos lyra (vinicius de moraes e carlos lyra)
60 - na rua, na chuva, na fazenda - hyldon (hyldon)
61 - chão de estrelas - silvio caldas (silvio caldas e orestes barbosa)
62 - luar do sertão - luiz gonzaga (catulo da paixão cearense e joão pernambuco)
63 - alagados - paralamas do sucesso (herbert vianna, bi ribeiro e joão barone)
64 - as curvas da estrada de santos - roberto carlos (roberto e erasmo)
65 - br-3 - toni tornado (antonio adolfo e tibério gaspar)
66 - clube da esquina nº2 - milton nascimento (milton, lô borges e márcio borges)
67 - a banda - nara leão (chico buarque)
68 - comida - titãs (arnaldo antunes, marcelo fromer e sérgio britto)
69 - rosa de hiroshima - secos e molhados (gerson conrad e vinicius de moraes)
70 - ronda - inezita barroso (paulo vanzolini)
71 - como uma onda (zen surfismo) - lulu santos (lulu santos e nelson motta)
72 - gita - raul seixas (raul seixas e paulo coelho)
73 - wave - tom jobim (tom jobim)
74 - sentado à beira do caminho - erasmo carlos (roberto e erasmo)
75 - foi um rio que passou em minha vida - paulinho da viola (paulinho da viola)
76 - samba de verão - marcos valle (marcos valle e paulo cesar valle)
77 - insensatez - tom jobim (tom e vinícius)
78 - cálice - chico buarque e milton nascimento (gilberto gil e chico buarque)
79 - maria fumaça - banda black rio (oberdan magalhães e luiz carlos batera)
80 - vapor barato - gal costa (jards macalé e waly salomão)
81 - que país é este? - legião urbana (renato russo)
82 - sossego - tim maia (tim maia)
83 - ideologia - cazuza (cazuza e roberto frejat)
84 - rosa - orlando silva (pixinhuinha e otávio de souza)
85 - o barquinho - maysa (ronaldo bôscoli e roberto menescal)
86 - nervos de aço - paulinho da viola (lupicínio rodrigues)
87 - meu mundo e nada mais - guilherme arantes (guilherme arantes)
88 - sá marina - wilson simonal (antonio adolfo e tibério gaspar)
89 - a flor e o espinho - nelson cavaquinho (nelson, guilherme de brito e alcides caminha)
90 - 2001 - os mutantes (tom zé e os mutantes)
91 - felicidade - caetano veloso (lupicínio rodrigues)
92 - tico-tico no fubá - ademilde fonseca (zequinha de abreu e eurico barreiros)
93 - casa no campo - elis regina (zé rodrix e tavito)
94 - o mar - dorival caymmi (dorival caymmi)
95 - último desejo - aracy de almeida (noel rosa)
96 - disritmia - martinho da vila (martinho da vila)
97 - você não soube me amar - blitz (evandro mesquita, ricardo barreto, guto e zeca mendigo)
98 - a noite de meu bem - dolores duran (dolores duran e tom jobim)
99 - rua augusta - ronnie cord (hervé cordovil)
100 - anna júlia - los hermanos (marcelo camelo)

domingo, 25 de outubro de 2009

domingueira

rápido e rasteiro. wax tailor é o nome do projeto de música eletrônica, rap e beats variados do produtor francês jean-christophe le saoût. conheci o sujeito faz pouco tempo ao ouvir seu trabalho mais recente, in the mood for life (leplan music, 2009), disco gostoso de ouvir, cheio de camadas, scratches e boas orquestrações. a música no caso é "say yes". lá no blog difusor de som tem um pouco mais (o disco, por exemplo) sobre wax tailor.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

feito em casa, novamente

foi em maio que fiz o primeiro exercício de edição. coisa caseira mesmo. juntei umas fotos, alternei, tudo toscamente no movie maker, e coloquei uma música ("durango kid", do rockers control). voltei ao programa, agora com imagens em movimento (pena que o celular novo filma porcamente como o antigo). é um plano só lá no bosque que tem entre os prédios da geologia e letras, na usp de são paulo capital. filmei hoje mesmo, lá pelas 17h30. o video tem uns 2 minutos e 30 segundos. ok. aí fui atrás de uma música e achei uma ligeiramente mais curta, mas o título era imperdível (pessoalmente falando) e cabia direitinho com as imagens. nem foi preciso editar. joguei e pronto. a parte sem música no final até funcionou. pena que as imagens são de baixíssima qualidade. ah, a música se chama "uma viagem pro reino encantado" e é do paraense pio lobato. sobre o título: esse bosque é O BOSQUE que deu nome a turma de malucos - "a galera do bosque", amigos até hoje - com quem andei durante o curso de ciências sociais, entre 1994 e 1999. se essas árvores falassem...

uma balada, um frevo e uma animação

primeiro clipe do novo, e totalmente excelente, disco de arnaldo antunes (iê iê iê). a música se chama "longe" e é parceria de arnaldo com marcelo jeneci e betão aguiar. pegue o lenço e aumente o som.



os moleques d'a banda de joseph tourton são de recife e finalmente estão preparando a estreia em disco (sob produção do pessoal do mombojó), após muito buchicho na internet e shows disputados em são paulo. a maioria de suas músicas (rocks?) é instrumental, mas essa aqui, "frevo do preguiçoso", é cantada e com muito bom humor. cortesia do pessoal do música de bolso.



e pra encerrar, uma bela animação que vi lá no URBe. se chama "the meaning of life" e é de um tal de vytautas alechnavicius (russo?). a música é do malucão do aphex twin.

the Meaning of Life - stop motion from Vytautas Alechnavicius on Vimeo.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

nada de arrombar a festa

pela segunda vez fui convidado a integrar, sempre trajando credenciais gafieiras, um júri na rolling stone brasil. dessa vez a revista quis elencar “as cem maiores músicas brasileiras” e pediu a cada um dos oitenta e poucos envolvidos uma lista com vinte músicas (e suas respectivas gravações), sem ordem de preferência. pense numa angústia! pinçar apenas esses poucos peixes do oceano caudaloso que é a música brasileira! quer dizer, gosto de listas. de ler e, eventualmente, fazer (fora o fato que convites assim são sempre uma honra). mas o melhor delas é que sempre dão o que pensar, tanto pelos acertos quanto pelas ausências. com essa não seria diferente (e as dez primeiras da lista estão aqui).

bem, após a angústia da escolha veio um questionamento, digamos assim, filosófico-conceitual-pessoal: escolheria racionalmente (pensando em importâncias históricas, hinos de uma geração, canções icônicas, etc. e tal) ou jogaria tudo para o alto e mandaria ver na subjetividade. optei por um equilíbrio. algumas músicas simplesmente não poderiam deixar de aparecer, nem mesmo por birra (“garota de ipanema” nunca me disse nada, mas seria um descalabro não tê-la na lista). também não queria limar músicas que me são muito caras. e daí que só teriam o meu voto? enfim, cheguei a essas vinte músicas (p.s.: coloquei links de videos pras músicas, dica de ana aranha, mas claro que não consegui as versões originais de todas).

a flor e o espinho”, por nelson cavaquinho
águas de março”, por tom jobim & elis regina
ando meio desligado”, por mutantes
augusta, angélica, consolação”, por tom zé
back in bahia”, por gilberto gil
como dois e dois”, por roberto carlos
construção”, por chico buarque
da maior importância”, por gal costa
dama tereza”, por sabotage & instituto
danada”, por eddie & erasto vasconcelos
diário de um detento”, por racionais mc’s
doralice”, por joão gilberto
ela partiu”, por tim maia
laser”, por josé miguel wisnik
maracatu atômico”, por chico science & nação zumbi
milágrimas”, por itamar assumpção
o bem do mar”, por dorival caymmi
o homem da gravata florida”, por jorge ben
para um amor no recife”, por paulinho da viola
rua real grandeza”, por jards macalé

faltou gente? claro. cometi injustiças? óbvio. listas são assim, retratos (imperfeitos) de um momento. sei também que das minhas vinte apenas seis entraram na lista de cem. são elas, e suas respectivas colocações, “construção” (1), “águas de março” (2), “maracatu atômico” (48), “ando meio desligado” (50), “diário de um detento” (52) e “a flor e o espinho” (89). de resto, escolhi músicas menos conhecidas de medalhões ou fiz outras combinações entre compositores e intérpretes. e ainda, claramente em quatro, fiz escolhas estritamente pessoais: “dama tereza”, “danada”, “laser” e “milágrimas”. mas gostaria de lançar aqui alguns pensamentos avulsos sobre a lista final.
o gênero, sempre ele – maioria esmagadora de homens por todos os lados. dos cento e quatro compositores mencionados, apenas duas mulheres (rita lee e dolores duran). dos setenta e dois intérpretes treze são mulheres, número que pode aumentar um pouco se forem consideradas baby consuelo (novos baianos) e a dupla fernanda abreu e márcia bulcão (blitz). nesse último caso, pelo menos, elis regina é uma das mais mencionadas. claro que esse machismo não é novidade, afinal somente após o final da década de 1970 é que as mulheres conseguiram espaço para se mostrar como compositoras, e só agora nos anos 2000 esse número deixou, definitivamente, de ser traço nas estatísticas.
ah, no meu tempo – listas assim costumam refletir a geração de votantes. meu chute é que a faixa etária varie entre 20 e tantos até 40 e trilili (tenho 35), com devidas exceções, o que já confere um certo ar nostálgico, conservador, pra coisa toda. das cem músicas, apenas doze foram feitas da década de 1980 pra cá (contando com “maracatu atômico”, na versão de chico science, que é na verdade de 1974), e a mais nova, “anna júlia”, já tem dez anos. no entanto, é inegável que a lista deixe claro, mais uma vez, a força das três décadas mais cruciais e absurdamente produtivas da música popular brasileira: 1930s, 1960s e 1970s. é muita coisa boa junta. por outro lado, na minha lista, coloquei duas músicas dos anos 2000 (“danada” e “dama tereza”) e tenho certeza que exemplos não faltam. mas ainda é preciso dar tempo e com isso fica a pergunta: será que uma lista dessas, dez anos para frente, muda pouco ou muito?
absurdum – dorival caymmi aparecer somente na rabeira é tipo um crime hediondo (“o mar” está em 94). acho péssimo não ter itamar assumpção e tom zé surgir via “2001” com os mutantes. nenhum dos grandes compositores/intérpretes populares (os bregas) entrou. nada de odair josé, waldick soriano, paulo sérgio, fernando mendes, lindomar castilho e afins. nem beth carvalho, clara nunes e alcione, por exemplo. nem egberto gismonti, hermeto pascoal ou qualquer outra coisa puramente instrumental. claro que tem muita gente por aí, dá pra entender que nem todos entrarem, mas o que não dá pra perdoar é “anna júlia” ter entrado (mesmo que no 100). qual a importância dessa música? a não ser como marco do lançamento de uma das bandas mais importantes dos anos 2000, mas que se tornou referência após ter “renegado” seu primeiro sucesso comercial (e camelo & amarante possuem uma boa coleção de canções interessantes). quer dizer...
tiro certo – bom saber que roberto e erasmo carlos solidificaram, de uma vez por todas, sua importância na música brasileira (milhões já sabiam, mas faltavam alguns “especialistas”). a inseparável dupla emplacou “detalhes” (8), “quero que vá tudo para o inferno” (19), “as curvas da estrada de santos” (64) e “sentado à beira do caminho” (74). bom ver também o hitmaker guilherme arantes (“meu mundo e nada mais”, 87), o instrumental black power da black rio (“maria fumaça”, 79) e o choro pop de waldir azevedo (“brasileirinho”, 53), e ainda ultraje a rigor (“inútil”, 23), lobão (“me chama”, 47), paralamas (“alagados”, 63), titãs (“comida”, 68), lulu santos (“como uma onda”, 71) e blitz (“você não soube me amar”, 97). racionais e chico science entraram de vez no cânone, o que é ótimo e mais que merecido. o resto era de se esperar. ah, diferente do zeca camargo, não esperei que por levar o selo rolling stone a lista fosse ter uma pegada mais jovem, mais pop rock. aliás, esse é um dos grandes achados da lista, o de colocar todo mundo junto no mesmo espaço (como a gente no gafieiras faz desde o início em 2001). afinal de contas, o rótulo mpb é (e deve ser) coisa do passado.

pra finalizar, um material bônus. entre idas e vindas na minha escolha deixei separado uma segunda lista, uma espécie de banco de reservas com mais cinquenta opções (?!). algumas dessas entraram na lista da rolling stone brasil e estão devidamente sinalizadas.

“a vida é doce”, por lobão
“bananeira”, por joão donato
“banzo”, por rumo
“boa noite, cinderela”, por costa a costa
“caio no suingue”, por pedro luís e a parede
“canto de ossanha”, por baden powell & vinicius (9)
“carolina”, por seu jorge
“chorando no meio da rua”, por cristina buarque
“conselheiro”, por batatinha
“coqueiro verde”, por erasmo carlos
“de alegria raiou o dia”, por carlos dafé
“disritmia”, por martinho da vila (96)
“espelho”, por joão nogueira
“eu quero é botar meu bloco na rua”, por sérgio sampaio (38)
“eu, você e a praça”, por odair josé
“fita amarela”, por aracy de almeida
“incompatibilidade de gênios”, por clementina de jesus
“jaçanã picadilha”, por relatos da invasão
“jacarandá”, por luiz bonfá
“maria fumaça”, por banda black rio (79)
“me acalmo danando”, por ângela rô rô
“na rua, na chuva, na fazenda”, por hyldon (60)
“não creio em mais nada”, por paulo sérgio
“ninguém”, por clara nunes
“o céu, o sol, o mar”, por mombojó
“o ouro e a madeira”, por conjunto nosso samba
“o percurso”, por nervoso
“o pior é esperar”, por fernando mendes
“podes crê, amizade”, por tony tornado
“poema rítmico do malandro”, por sônia santos & zito righi
“pra dizer adeus”, por tom jobim & edu lobo
“quase 6 de misticismo”, por hurtmold
“rebelde sem causa”, por ultraje a rigor
“retalhos de cetim”, por benito di paula
“rio de janeiro”, por picassos falsos
“rumo”, por parteum
“segura a nega”, por bebeto
“semáforo”, por vanguart
“sobre a gente”, por rômulo fróes
“sonífera ilha”, por titãs
“swing de campo grande”, por novos baianos
“taí”, por carmem miranda
“te encontra logo”, por cidadão instigado
“tempos modernos”, por lulu santos
“tributo a wes montgomery”, por egberto gismonti
“um dia útil”, por mauricio pereira
“uma vida”, por união black
“v.v.”, por bnegão & os seletores de frequência
“volta por cima”, por maria bethânia
“zamba ben”, por marku ribas

p.s.: o bruno natal, outro a participar da lista, colocou as suas vinte músicas lá no URBe.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

letra/música #2

já faz um tempinho que saiu o ótimo o retrato do artista quando pede (desmonta, 2009), disco de estreia do duo moviola, e ele segue impávido colosso entre os melhores do ano. projeto criado por kiko dinucci e doulas germano, o duo veio com um disco onde o samba é ponto de partida e base para tudo, mas está longe de ser uma camisa de força. muito pelo contrário. vocais, violões e percussões são entortados pelas melodias com bom humor, poesia e um sofisticado sentimento popular. a faixa-título, e a última do disco, dá medida exata da pegada da dupla. é marchinha debochada que joga luz sob as armadilhas da produção cultural em são paulo (e trocando uma instituição aqui e outra ali, de todo o país).

o retrato do artista quando pede
(kiko dinucci e douglas germano)

pra sobreviver de arte em são paulo
tenta o sesc, tenta o sesc
mas se o programador não for com a tua cara
esquece, esquece

pra sobreviver de arte em são paulo
tenta o pac, tenta o pac
mas se acaso, no projeto, faltar cep
se estrepe, se estrepe

você gasta o que não tem no xerocão
e a tiazinha sempre diz que está faltando
um carimbinho de uma data esquecida,
assinatura com firma reconhecida

pra sobreviver de arte em são paulo
lei mendonça, lei mendonça
mas se não tiver contra-partida social
babáu, a água bebe a onça

pra sobreviver de arte em são paulo
vai e tenta a rouanet
mas se o empresário fala em custo/benefício
manda ele se pentear


segunda-feira, 19 de outubro de 2009

transversão #24

edição especial do transversão com aspas exclusivas! e uma nova participação de karine alexandrino. é que nos dois discos que a cearense já lançou - solteira producta (independente, 2002) e querem acabar comigo, roberto (tratore, 2004) - foram regravadas duas músicas pouco lembradas de um compositor/instrumentista/artista ainda menos lembrado: robertinho do recife (ou robertinho de recife, vai saber). com a palavra, karine: "lembro do robertinho no [programa do] chacrinha. adorava "baby doll de nylon" e "o elefante". me faziam muito feliz e ele parecia um personagem de anime". muito anos depois, karine já grandinha decidiu, entre composições próprias, regravar essas músicas. "sempre penso em gravar o que gosto, o que toca fundo mesmo. memória da infância. a melhor. aquela memória que salva a gente das maiores deprês. e essas eu decidi muito rápido". comecemos então com "baby doll de nylon" que karine registrou no disco solteira producta.



"baby doll de nylon" é música de robertinho do recife com letra de caetano veloso e foi gravada originalmente no disco ah! robertinho do mundo (ariola, 1983). escuta só.



karine voltou a robertinho em querem acabar comigo, roberto e gravou duas versões de "o elefante", uma eletrônica e outra mais crua.



infantil na aparência e psicodélica na forma, "o elefante" é música de robertinho com letra de fausto nilo, registrada em dueto com emilinha no disco satisfação (new disc/polydor, 1981).



nada mais transversão que karine vs. robertinho, né não? mas voltando a karine. aconteceram muitas coisas com a moça nesses últimos três anos, com direito a um filho (fausto) e um trabalho de diretora de conteúdo de uma tv (tv união), fatos que a fizeram voltar ao ceará. no momento está finalizando seu terceiro disco, mulher tombada, mas ela mesmo explica melhor, ou não. "todo encerramento de disco meu é sempre uma novela, mas esse é um filme. bem tragicômico. acabo de decidir junto com o meu produtor terminar finalmente em novembro. mas antes disso rolou briga de amor, gravidez, separação e mil surtos. sou uma coleção de coisas, mulher almodovariana mesmo. quando entro num negócio, causo reações. sempre é assim. sou MUITO apaixonada e passional. minha cabeça está se normalizando agora, mas estive em todos os níveis de loucura, stress, muita informação e muito sofrimento também. mas resolvi dar uma trégua para o amor e felicidade". 

fugindo dos trilhos

o mais legal do mundo dos torrents é ter acesso a filmes que, por um motivo ou outro, não nos chamariam atenção. já tinha visto o nome de o sequestro do metrô (1974) na filmografia de walter matthau - como passar batido pelo título original, the taking of pelham 123? -, mas parecia um daqueles filmes menores na carreira de um grande ator. qual o quê? drama policial cru e seco, mas com interessantes e bem colocadas pitadas de humor, sobre um grupo de bandidos que toma um vagão de metrô novaiorquino em troca de um milhão de dólares, o longa é dirigido pelo faz-tudo joseph sargent. cineasta que começou na televisão, dirigindo episódios de séries como lassie, gunsmoke, the man from u.n.c.l.e. e star trek, sargent só tem outro longa conhecido, macarthur (1977), com gregory peck. e agora, o trailer original desse filmes sem firulas e/ou apelos sentimentais.



outra característica interessante de
sequestro do metrô - que foi refilmado para TV em 1998 e agora, novamente para o cinema, com denzel washington e john travolta, sob a direção do picareta tony scott - é seu aspecto de filme-coral, como os de robert altman e orson welles, no qual vários personagens colaboram com falas sobrepondo umas a outras. fora que todos são banhados por uma fotografia absurdamente realista/documental assinada pelo mestre owen roizman (operação frança, o exorcista, rede de intrigas, três dias de condor, etc.), além de uma trilha sonora genial e funkee assinada por david shire, ex-cunhado de francis ford coppola e autor das músicas de a conversação, todos os homens do presidente, norma rae e zodíaco. sente o soco que é a faixa de abertura dos créditos.



nada mais distante de um
action hero que walter matthau, profissional e rabugento que só ele, e o filme acompanha a tensa negociação que mantém com mr. blue, o lider dos bandidos representado pelo ótimo robert shaw, em tempo real. essa comunicação remota é outro ponto curioso do filme, afinal as pessoas pouco se veem e estão mais em contato via telefones e rádios, o que facilita certas confusões de identidades e vários acertos narrativos. mas é nos pequenos detalhes, alguns aparentemente supérfluos, que vemos quando um filme é grande (mais um de uma das décadas mais interessantes para o cinema & etc). em sequestro do metrô, o prefeito de nova york está muito gripado e em uma das cenas ele toma uma injeção na bunda; uma das passageiras do vagão sequestrado dorme bêbada durante toda a ação e só acorda no final; o histórico mal humor novaiorquino aparece em muitas cenas; a impagável cara de walter matthau no final do filme; e o fato que os bandidos usam pseudônimos como mr. blue ou mr. green que anos mais tarde influenciaram o jovem quentin tarantino a nomear os personagens de seu filme de estreia, cães de aluguel (1992).

cartaz original do filme, idos de 1974

domingo, 18 de outubro de 2009

domingueira

la mc malcriado não é apenas um mc. são quatro: stomy bugsy, jacky brown, izé e jp. e são de caboverde (mas acho que moram em paris ou são de paris, mas de família caboverdiana). os conheci na mesma época de mayra andrade e por causa dela. é que no primeiro disco do grupo, nos pobréza ke nos rikéza (lusafrica, 2006), ela participa na faixa "mas amor", um reggaeton dolente, meio triste, africano em tudo. em tempo: os malcriados estão em estúdio para o segundo disco e mayra acabou de lançar o segundo, stória, stória (rca victor/sony music, 2009).

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

realizado sem dinheiro público

fazer documentário não é difícil, mas fazer documentário bom não é pra qualquer um. tem os que são bons porque o tema é forte, outros são pela pela pesquisa minuciosa e outros ainda possuem uma narrativa original. tem os, mais raros, que conseguem reunir tudo isso. o excelente brega s/a, da dupla vladimir cunha e gustavo godinho, não possui grandes pretensões a não ser a de esquadrinhar o movimentadíssimo cenário tecnobrega paraense e talvez exatamente por isso seja tão instigante. aliás, ele já foi mencionado aqui no início do mês no post download s/a (que anunciava a liberação de seu download gratuito pela produtora greenvision).

logo no início, um aviso ("este filme foi realizado com recursos próprios e sem dinheiro público") deixa claro que o filme de pouco menos de uma hora é produção de guerrilha. cunha e godinho vão atrás de figuraças como dj dinho, beto metralha, maderito, marlon branco, dj maluquinho e dj mauro classe a, além de um professor de arquitetura e um jornalista, mais velhos e com diploma, que funcionam como contraponto crítico e elitista sobre todo o movimento tecnobrega. ao redor de tudo, o movimento entre artistas, rádios, aparelhagens e camelôs. vale ler uma entrevista que gustavo godinho deu ao portal mtv que, aliás, colocou o documentário na íntegra, em quatro partes, lá no site. ah, e pra baixar o filme é só ir no pirate bay. e pra saber mais sobre música do pará vale (e muito) visitar o blog música paraense, do pesquisador edvaldo souza, e o site brega pop.

voltando ao filme. duas ótimas sequências dão o tom de singela ousadia formal de brega s/a. na primeira, pra exemplificar as diferenças entre o velho brega e o novo brega, a tela se transforma em karaokê com a letra correndo e todo o resto. a diferença é que pro velho brega o fundo é de natureza, enquanto pro "barulhento" e "comercial" tecnobrega surgem carrões e mais carrões. já a segunda sequência é um balé visual que acompanha o processo veloz de cópias de cds e da criação de uma capa de coletânea, desde sua criação em algum programa tosco até a impressão. é interessante ainda a escolha da trilha incidental do filme com artistas independentes de fora do pará como pata de elefante, guizado, hurtmold e a dobradinha detetives & jupiter maça. afinal, música popular brasileira é mundão grande sem porteiras.

aparelhagem em fúria!

separei aqui trechos de depoimentos de duas figuras-chave do documentário:

dj maluquinho - a música popular de hoje, de massa mesmo, comercial que eu digo... ela foi feita pra ser descartável. então a gente deve sugar o que puder sugar dela, entendeu?

dj maluquinho - a música da massa sempre vai existir. e ela sempre vai ter problemas. talvez de baixa qualidade. daquela letra um pouco mais sentimental, daquela letra sarcástica. vai ter sempre essa situação. mas a periferia vai ter sempre sua música.

dj maluquinho - quando a gravadora empurrava na garganta da galera a música tava tudo bonito. empurrava os polegares da vida, os "dá pra mim", o dominó, tava tudo bonito. mas quando a galera da periferia teve a opção pra querer sua própria música ficou complicado. essa música não teve espaço nas gravadoras, a verdade é essa. essa música de periferia não teve um espaço na gravadora. então ela arrumou outra opção. e a pirataria veio, no caso do tecnobrega, pra suprir essa necessidade de distribuição.

dj mauro classe a - a gente não copia um cd de roberta miranda, zezé di camargo & luciano, roberto carlos, porque são coisas que não vendem mais. principalmente aqui na região metropolitana de belém são poucos desses que vendem. porque? porque é uma ou duas músicas que prestam. e se eu te disser que as grandes gravadoras quebraram por causa disso, você não acredita. sabes porque? você vai na loja comprar um vinil, hoje um cd, no valor de 40, 50 reais, enquanto nós preparamos uma coletânea com os melhores cantores que você quiser por 10 reais. é crime? eu acho que não. o computador tá lá pra se vender. a gravadora vende pra você gravar.

e pra finalizar, uma das minhas músicas preferidas do tecnobrega paraense, "rubi" do dj maluquinho.


quarta-feira, 14 de outubro de 2009

trailer de vinil

coisas da gringolândia, mais precisamente do selo secret stash records. fiquei sabendo via corjaman edson franco que tem lá suas taras pelo bolachão. mas esses dois lançamentos são coisas muito finas. e aí? como fazer? é só vinil e azul! tiragem limitada! o lance é torcer pra uma alma boa digitalizar logo. primeiro esse: a reggae interpretation of 'kind of blue', gravado originalmente em 1981 com músicos jamaicanos sob a direção musical do professor jeremy taylor. que morreu logo depois das gravações e deixou tudo dentro de alguma gaveta por todo esse tempo (a história toda tá no video). salivei.



e tem também o funk setentista de porno groove: the sound of 70s adult films. e num vinil rosa?!

letra/música #1

mais uma seção fixa pro blog e uma espécie de exercício pessoal. faz um tempo, não sei bem quanto, que deixei de prestar atenção nas letras das músicas (brasileiras, mais precisamente). pra mim, o vocal virou um outro instrumento e a letra deixou de ser um fator decisivo pruma música ser boa ou não (se a letra for boa, tanto melhor, é um plus a mais, tá ligado). mas é claro que letras boas continuam existindo, persistindo, e quando uma me chamar atenção - independente de sua idade ou procedência - colocarei aqui. só não esperem aqueles clássicos de sempre. todo mundo tá careca de saber que paulinho, tom, vinicius, caetano, tom zé, chico, noel, caymmi e outros quetais são fodões para toda eternidade. seguirei pelos lados b, c, d... e começo com uma jovem conterrânea, karine alexandrino, e uma música passional de seu segundo disco (querem acabar comigo, roberto, 2004).tenho febre, mas vou buscar nosso dinheiro
(karine alexandrino e dustan gallas)

voce diz: vai demorar
desaprendi
como era antes de você
como era antes de você chegar

caminho tanto
corro tanto querido
não temas
se devoro, rasgo, quebro, destruo
eu só estou un poco confusa

minha calamidade - sua ausência
minha fortuna é um sonho seu que faço crescer

não durmo há dias
deitada em minha cama
tenho febre
penso no dinheiro
que vou buscar
para comprar suas horas
suas horas


dois raps e uma animação

1) "international", segunda faixa do disco fish outta water (decon, 2009), o primeiro solo de chali 2na (jurassic 5). participação do jamaicano beenie man.



2) "trippin' at the disco", quinta faixa do disco carried away (om hip hop, 2009), o sétimo disco dos californianos do people under the stairs. que farão, aliás, dois shows em são paulo nos dias 24 e 25 de outubro, no espaço mais soma.



3) "videogioco" é animação em stopmotion assinada pelo italiano donato sansone.

VIDEOGIOCO by Donato Sansone from Enrico Ascoli - Sound Design on Vimeo.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

favela alienígena

alive in joburg (2005) é o curta que deu origem a distrito 9 (2009), que estreia essa semana no brasil. ambos são dirigidos pelo sulafricano neill blomkamp, um novo e talentoso protegido de peter "senhor dos anéis" jackson. distrito 9 é ficção científica tensa e surpreendente, repleta de subtextos em torno de exclusão, preconceito, falta de comunicação, alteridade e o diabo a quatro. o curta logo abaixo segue a mesma toada.



e numa campanha pra divulgação do filme (pelo que vi, mais ou menos a mesma usada em todas as praças) foi criado um site de uma tal de união multinacional que acolhe denúncias sobre a "presença" de alienígenas no brasil. marketing-deduragem é isso aí.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

domingueira

foi em julho, na edição 17 do transversão, que falei do disco novo do wado (atlântico negro) e já naquele texto mencionei "pavão macaco". música linda e louca da porra. em agosto, a tal canção foi minha escolhida no corja #3. e agora, numa domingueira ligeiramente atrasada pois já é madrugada de segunda, é a vez dela reaparecer na forma de um clipe. continuo sem entender que história é essa de pavão macaco, mas é uma das melhores do ano, certeza.



via URBe e bloody pop.

atualização em 6 de janeiro de 2010: achei agora uma excelente versão ao vivo de "pavão macaco" (ou "macaco pavão"?) com wado acompanhado apenas do bróder junior boca nas guitarras e vocais.



atualização em 17 de novembro de 2011: e recentemente, no show de lançamento do disco samba 808 (independente, 2011), wado contou com a participação de marcelo camelo em uma nova versão de "pavão macado".

sábado, 10 de outubro de 2009

os the best, los mejores

foi no segundo semestre do ano passado que fui chamado por zé ruy gandra pra fazer uma reportagem pra revista do fantástico nº6 (que foi descontinuada logo depois e que promete voltar, anualmente, em edições especiais). o assunto era humor, mais precisamente o humor popular da cia. os melhores do mundo. conhecia o grupo apenas de cartazes de suas peças em jornais e só pouco antes de entrevistá-los fui saber que eles também fazem parte do elenco do zorra total. lembro que pesquisando na internet sobre o grupo não achei uma mísera linha, nada, a não ser sinopse das peças ou links de videos, o que acabou me deixando com ainda mais vontade de escrever sobre. mas para minha grande frustração (e imagino que pra eles também), a reportagem acabou caindo, na última hora, da versão impressa e só saiu no site da revista. paciência.

bem, o humor salva a gente e as horas que passei com o sexteto brasiliense-goiano-carioca foram impagáveis (mais ou menos duas horas de entrevista e depois uma hora e meia de peça, no caso, a "bíblica"
hermanoteu na terra de godah). o humor deles não é bem o que mais gosto, mas e daí?! eles são muito bons no que fazem e ponto. sente o drama, quer dizer, a comédia. p.s. em dezembro: a peça ganhou uma boa versão em dvd com cenas de bastidores, o curta à espera da morte, etc. no site da cia. dá pra comprar.

pipo interpreta hermanoteu e welder faz o que bem entende

CHULOS, GROSSEIROS & ETC.
Unindo escolas de humor que vão de Chico Anísio a Monty Python, os integrantes da Cia. Os Melhores do Mundo estabeleceram um novo patamar de sucesso para a comédia popular nacional

A bagunça do camarim parece domada, tranquila, adulta. Frutas, salgados e água mineral não foram tocados em uma mesa de canto e a televisão está sintonizada em um jogo de bocha para atletas com deficiência física. Não faz nem cinco minutos e a primeira piada surge rápida e incorreta. Esse é o camarim da Cia. Os Melhores do Mundo, sexteto de comediantes formado em Brasília que passou por São Paulo para apresentar, com casa cheia a duas sessões por dia, a peça
Hermanoteu na Terra de Godah. Lá do lado de fora, uma fila começa a se formar duas horas antes do espetáculo começar.

Agora, no presente momento, quatro dos seis integrantes dão as caras. Todos estão beirando a casa dos 40 anos. O goiano Jovane Nunes, o mais falante, o carioca Victor Leal e os brasilienses Ricardo Pipo e Adriana Nunes, a única mulher do grupo. O marido de Adriana, o carioca Adriano Siri, está tirando um cochilo em outro cômodo da casa de shows, enquanto o brasiliense Welder Rodrigues, quando aparece, mantém-se calado. Logo ele, um dos mais conhecidos do grupo por participações no programa Zorra Total e por interpretar Joseph Klimber, esquete mais conhecido do espetáculo
Notícias Populares, que chegou ao DVD e vendeu surpreendentes 25 mil cópias. “É que falo muita merda, por isso sou treinado para não dar entrevistas”, confidencia gaiatamente antes de dar no pé mais uma vez. Podemos começar?

O grupo surgiu em 1995, confere? “É, estamos com essa formação desde abril de 1995. 21 de abril de 1995. Mas eu, o Pipo e o Welder já trabalhávamos em outras companhias”, explica Adriana, ao que Jovane interrompe e dispara: “Sabe que esse dia é feriado em Brasília?”. Todos caem na gargalhada. Aliás, todos são responsáveis por tudo nas produções do grupo, desde o texto até o figurino, passando pela sonoplastia, músicas, cenários e até a arte gráfica dos cartazes. “Quando o Siri entrou a gente logo percebeu que ia dar certo. Nossas opiniões batiam, bem como o que cada um acha e quer do humor, fora o talento de um que complementa o do outro. No começo, a gente lotava casas de cento e poucos lugares em temporadas de três ou quatro semanas. No meio do caminho já preparávamos a próxima peça e assim por diante. Teve ano que fizemos nove”, relebra Jovane e Pipo completa que “sem querer criamos rapidamente um grande repertório, e que é patrimônio nosso”.

Ele tem razão. O repertório da Cia. já possui cerca de 30 peças, sendo que metade foi escrita entre os anos de 1995 e 98. Atualmente, em turnês nacionais, apresentam apenas duas:
Notícias Populares e Hermanoteu. A última que escreveram foi América, em 2004. “A gente parou de fazer peça nova, pelo menos por enquanto. Temos que usar o nosso repertório. Aconteceu também que algumas peças foram canibalizadas. Piadas boas de peças antigas, que a gente não monta mais ou não gosta, foram colocadas em outras. Aprendemos isso com a [extinta companhia aérea] VASP que fazia aquele negócio com as peças reutilizadas de aviões antigos”, e Jovane ri da própria piada.

Então, do nada, aparece uma garrafa de uísque. “Agora essa matéria sai!”. É Jovane puxando mais um coro de gargalhadas. “Olha, é que sempre fomos ambiciosos. Queremos mostrar nossas peças em todas as capitais brasileiras, criar peças para montar no exterior, usar mais a internet e fazer filmes. Com isso queremos marcar nosso nome na história da comédia brasileira. Queremos virar referência”. Modéstias à parte, o sexteto planeja transformar Hermanoteu em longa, principalmente após a experiência com o curta
À Espera da Morte, produção caprichada feita em 2004, totalmente falada em russo e disponível na internet. Aliás, falando na rede. “Sempre deixamos filmar nossos espetáculos porque esses vídeos na internet são um auxílio gigantesco de divulgação”, diz Jovane, o homem que já foi frentista de posto de gasolina, ajudante de pedreiro e beneficiador de arroz até passar no vestibular de Artes Cênicas sem nunca ter visto uma peça na vida. “Por exemplo, fizemos o esquete do Joseph Klimber no Programa do Jô e esse vídeo já foi visto umas 20 milhões de vezes no YouTube. Na época, a gente já viajava o Brasil, mas depois passamos de teatros para casas de shows”, agora quem fala é Victor, que também é baterista, formou-se em Administração de Empresas e já foi dono de açougue.



A partir de 2001, quando a Cia. saiu do eixo Brasília-Rio de Janeiro-São Paulo para ganhar o Brasil, os números foram aumentando exponencialmente até chegar a 300 comunidades no Orkut, recordes de venda no Canecão e aos 220 mil espectadores de suas peças no ano de 2008. Por todo esse sucesso, o sexteto sempre estranhou um certo silêncio a seu respeito. “A gente gosta da imprensa”, diz Victor abafando o próprio riso, “mas é que vivemos à margem. Não somos cult. Não somos a Banda Calypso. Ninguém reconhece a gente na rua e, ao mesmo tempo, lotamos qualquer casa de show ou teatro em todo o país”. Coincidência ou não, o contra-regra chega calmamente com uma arma e mostra para alguém. “Aquilo é objeto de cena, viu? Fique calmo”, tranquiliza um debochado Jovane. “Tá tudo bem, viu? É a imprensa. Daqui a pouco a gente chama você de novo”, e o contra-regra some rapidamente. Do outro lado da sala, Pipo, que já foi secretário de uma escola de alfabetização e locutor de rádio, faz exercícios vocais, preparando a garganta e a voz para interpretar Hermanoteu, uma paródia bem brasileira de Jesus Cristo. “Nós somos os famosos não-famosos”, conclui Jovane. Falta menos de uma hora para a peça começar.

Abre parênteses para um caso revelador da dificuldade que instituições, públicas e privadas, têm de rir de si mesmas na Pátria Mãe Gentil. Com a palavra, Victor. “Fomos processados por uma faculdade privada de São Paulo porque uma vez no esquete “Assalto a Gramática”, que é do
Notícias Populares, o bandido falava assim: ‘Eu quero um carro blindado, a imprensa reunida e um advogado que não seja formado pela...’, tal faculdade. O mais engraçado é que no dia da audiência, o nosso advogado era formado pela tal faculdade e o deles era formado por uma outra, mais tradicional. Adivinha? O nosso perdeu!”. Para não ter que pagar uma quantia que nem imaginavam existir optaram por um acordo. Estão proibidos de mencionar o nome da faculdade e de outras 80 instituições. Fecha parênteses, enquanto Siri, originalmente formado em Arquitetura, aparece na porta do camarim com uma indisfarçável cara amassada.

Pouco depois quem surge é o produtor da Cia. chamando para a sessão de fotos. Todos vão ao palco e se enfiam entre as cortinas, enquanto canções do Padre Zezinho, escolhidas pelo próprio grupo como música ambiente, e os garçons aguardam a abertura das portas da casa. Vários cliques depois confessam orgulhosos que Bárbara Heliodora, respeitada crítica de teatro, os chamou de “chulos, grosseiros e politicamente incorretos”. Ainda querem colocar a frase como recomendação para algum futuro cartaz do grupo. “A gente respeita os clássicos, mas fazemos peças que tenham a ver ou que façam sentido para o nosso público. E o nosso texto fala deles”, e Jovane abre caminho para refletir sobre o duro ofício de comediante. Após a bola lançada para a grande área, Victor cabeceia: “As pessoas riem de si próprias através da gente. Somos a válvula de escape da sociedade. Levamos torta na cara pelo nosso público”. São comediantes populares no sentido mais cristalino do termo, pois não?

Em espetáculos que combinam observação do cotidiano, crítica social e improviso, a Cia. Os Melhores do Mundo gosta de elencar uma ampla variedade de referências. Estão lá, piada após piada, figuras como Mel Brooks, Casseta & Planeta, Irmãos Marx, Woody Allen, Monty Python, Trapalhões (“Na época que o Didi tinha costeleta”, relembra Pipo com carinho) e o maior de todos, Chico Anísio (“Ele representa muito para gente, é o maior humorista brasileiro de todos os tempos e não é a toa que faz a voz de Deus em Hermanoteu”, é Pipo novamente).

Alheio a gêneros ou subgêneros humorísticos, Pipo chama para si a responsabilidade e assume que para o grupo “existem apenas dois tipos de comédia: a que é engraçada e a que não é”. Assim mesmo, sem rodeios, e faltando cerca de meia hora para o espetáculo ter início. Nada parece estudado nas falas do grupo e a paixão pelo teatro também soa intensa e sincera. “A gente sempre pensou no teatro pelo teatro e não como um meio para se chegar à televisão. O trabalho lá é que serve como um meio de chamar mais gente pro teatro, de popularizar nossas peças”, resume Victor para completar na mesma toada que “na TV é mais difícil fazer piada porque tem mais limites, tem departamento jurídico, porque vive de publicidade e ninguém quer desagradar ninguém. A gente entende isso. Agora, no teatro a gente faz a piada que quer, do jeito que quer e na hora que quiser”.

Como era de se esperar, essa liberdade os deixa particularmente suscetíveis ao patrulhamento do politicamente correto. “Isso mata a comédia porque, afinal de contas, não existe humor a favor de coisa alguma”, sentencia Jovane. Mas o que acha a menina do grupo? Aliás, Adriana, o que uma mulher como você faz entre tipos suspeitos como esses? “Foi acontecendo desse jeito. Mas não estou em todas as peças porque nesse mesmo período tive três filhos. O único problema de ser a mulher do grupo é que ouço muita barbaridade. Eles até aliviam quando vêem que estou chegando. Mas ultimamente nem isso mais acontece. Mas nunca tive problemas com o tipo de humor que a gente faz”. Adriana, que já trabalhou em shoppings e bancos, orgulha-se dos laços de amizade, do respeito e do humor rápido que o grupo criou e cultivou em solo brasiliense para exportação nacional. Faltam dez minutos e todos estão vestidos, maquiados e com os microfones ligados. Um pouco antes do contra-regra avisar que está na hora, Adriana é acometida por um daqueles lampejos de mãe. “Desculpa, acho que a gente falou muito, né? É que é tão raro a gente dar entrevista. É verdade! Não estamos acostumados”, e sorri ligeiramente envergonhada. “Olha, ninguém sabe o trabalho que dá”, desabafa antes de sair pela porta rumo ao palco. Não faz nem cinco minutos e já se ouvem as primeiras gargalhadas. A noite é uma comédia e está apenas começando.