sexta-feira, 1 de março de 2024

visão além do alcance

foi ali por agosto do ano passado que reativei contato com Décio Galina, jornalista gente boa que conheci pouco mais de dez anos atrás quando ele estava nas customizadas da Trip (ele editava a Audi Magazine e fiz uns três frilas pra lá nessa época). descobri que ele estava editando a Forbes Brasil e fui lá em seu Instagram oferecer meus serviços, mesmo sabendo que essa área de business nunca foi muito minha praia. mas sei fazer jornalismo, sei escutar pessoas e sei pegar o que elas sabem pra explicar algo que eu mesmo não sei (e, talvez, o leitor também). 

ele logo me passou um frila da pesada, muita responsabilidade mesmo: um panorama de consultorias de negócios com direito a 5 empresas gigantes, 5 entrevistas, muitas expectativas, muito vai e vem de perguntas e respostas. deu um trabalho danado, mas o resultado ficou ótimo e saiu na edição 112 (setembro/outubro). 

de lá pra cá fiz outros três frilas pra Forbes Brasil: textos pr'um especial sobre empresas inovadoras, textos pra categoria 'terceiro setor/empreendedorismo social' do especial anual com lideranças abaixo de 30 anos (Under 30) e, mais recentemente, uma matéria sobre novos investimentos da Disney em seus parques.

p.s.: o texto abaixo é o que mandei originalmente, sem edição. acho que Décio não mexeu quase nada no texto, só separou as consultorias em blocos (o texto aqui segue corrido), e mudou o título/linha fina.

o abre da matéria na edição 112 da Forbes Brasil

CONSULTORIAS EM TRANSFORMAÇÃO

O mercado de consultorias se reinventa e cresce com ajuda da tecnologia

Num mundo de negócios em constantes mutações, tudo que é sólido corre o sério risco de se desmanchar no ar. Então, para evitar estes e outros desastres, grandes empresas invariavelmente precisam dos serviços de consultorias e auditorias. É um jeito de se organizar, se atualizar, tirar excessos e seguir em frente. 

Foi com esse objetivo que, em meados do século 19, na esteira da Revolução Industrial, surgiram os primeiros escritórios de contabilidade na Inglaterra, o marco originário de algumas das maiores consultorias ainda atuantes no mundo. Muito distante dos cadernos vitorianos repletos de números, as consultorias hoje em dia precisam constantemente se reinventar oferecendo novos e melhores serviços. E cada vez mais digitais.


A DELOITTE, por exemplo, foi fundada por Willian Welch Deloitte em 1845 e seu ofício de contabilidade ficava na Basinghall Street, coração da City londrina. Atualmente conta com um time de 457 mil profissionais espalhados por cerca de 150 países e no mais recente fechamento de ano fiscal, em junho de 2023, apontou receitas globais de US$ 64,9 bilhões e um crescimento de 14,9%. No Brasil há 112 anos, a Deloitte chegou para auditar companhias ferroviárias britânicas e hoje em dia possui 7 mil funcionários e 300 sócios e sócias em 17 escritórios pelo país.

Os negócios das Deloitte estão divididos em cinco grandes frentes: Auditoria & Assurance, Consultoria Empresarial, Risk Advisory, Consultoria Tributária e Financial Advisory. Mas a maior parte de suas receitas, à exemplo da evolução de todo setor, vêm dos serviços de consultoria, com destaque para Consultoria Empresarial e Risk Advisory que tiveram crescimento no último ano fiscal de 19,1% e 17,5%, respectivamente.

“O mercado está oferecendo - e os clientes querendo - cada vez mais serviços de ponta a ponta. Antes você comprava contabilidade de um, financeiro de outro, sistemas de um terceiro. Com o avanço da tecnologia o dado é único e se você compra separado acaba saindo mais caro. Nossa estratégia então é ser cada vez mais multidisciplinar abrindo nosso portfólio de serviços para oferecer soluções completas para o cliente. Conseguimos isso porque temos parcerias com empresas de tecnologia que nos ajudam a oferecer esse pacote completo. Essa é uma grande e recente mudança de modelo de negócios”, diz João Maurício Gumiero, líder de Clients & Industries e Market Development da Deloitte.

A pandemia acabou acelerando algumas iniciativas em transformação digital que já caminhavam dentro da empresa. “Durante a pandemia nossa área de consultoria em implantação de tecnologia e segurança das informações teve um boom de crescimento. Mas agora, resolvendo esse problema de dados e informações, de agilidade nas comunicações, nos voltamos a novas tecnologias como inteligência artificial e cloud, a nuvem. Estas novas áreas é que estão impulsionando a Deloitte para virar também uma consultoria em tecnologia e de estratégia de negócios”, explica Gumiero.

Só que a tecnologia em si não é a resposta para tudo, pois como Gumiero faz questão de frisar, “as pessoas são a maior riqueza de uma empresa e é preciso constantemente treiná-los, melhorá-los. Eu, originalmente, sou administrador e contador. Seu soubesse calcular e contabilizar o imposto eu já era um grande profissional. Agora estou aqui, com 28 anos de empresa, conversando sobre TI. Depois de velho fui aprender tecnologia. Então queremos ajudar nossos profissionais a não ter apenas uma formação. Porque só uma formação não basta, e isso também é uma tendência de mercado”. 

Também nascida em Londres, só que em 1849, a PWC é outra grande consultoria global, que se espalha por 160 territórios, conta com 350 mil colaboradores e receitas que superam US$ 50 bilhões. Tal como a Deloitte e outras empresas do mercado, a PwC possui um portfólio cada vez mais amplo e diversificado de serviços “que vão dos trabalhos de asseguração às capacidades de consultoria de negócios e tributária, bem como um braço dedicado à consultoria estratégica, sempre com o propósito de construir confiança na sociedade”, como afirma Hércules Maimone, sócio-líder em Consultoria Empresarial (Advisory). 

“A combinação dessa variedade de habilidades nos ajuda na resolução de projetos complexos, desde a estratégia à implementação, execução e operação. Esse é o conceito que chamamos de ‘One Firm’ e que explica nossa expansão em um cenário cujos desafios de mercado evoluem de modo constante. Estamos atentos às perspectivas trazidas pela pluralidade da sociedade, pela necessidade de governança, pela observação de mudanças importantes como os desafios do clima e dos aspectos relacionados à sustentabilidade, em um contexto de avanços tecnológicos vigoroso e crescente que expandem os alcances da busca de soluções exequíveis, confiáveis, competentes e sempre com inovação”, diz Maimone.

A pandemia também serviu para a PwC como um momento importante para rever prioridades e acelerar processos digitais. “A PwC colaborou ativamente em projetos globais e locais com o objetivo de atenuar os impactos da pandemia, oferecendo suas habilidades e apoio a entidades de pesquisa, governos e associações comprometidas com ações solidárias no resgate das condições mínimas de convivência e cidadania em um momento tão disruptivo”, reflete Maimone.


Outra consultoria cuja origem remonta a Londres de 1849 é a EY, a terceira maior do mundo. Em números globais, a EY possui 395 mil colaboradores em mais de 150 países, e registrou receitas de US$ 49,3 bilhões no ano fiscal de 2023 com crescimento de 14,2% em moeda local (sendo que as Américas responderam por quase metade desse faturamento). Só na EY Brasil são cerca de 8700 funcionários em 13 cidades focados em quatro linhas de serviços integradas: Auditoria, Consultoria, Estratégia e Transações/Impostos.

“Com nosso profundo conhecimento dos principais segmentos econômicos de mercado, ajudamos nossos clientes a capitalizar novas oportunidades e a avaliar e gerenciar riscos para proporcionar um crescimento responsável. Atendemos assim uma grande variedade de empresas da indústria financeira, de consumo e varejo, agronegócio, tecnologia, mídia e telecomunicação, saúde, bem-estar, energia, mineração, óleo e gás, utilities, infraestrutura, educação, governo, real estate, entre outros”, enumera Luiz Sergio Vieira, CEO da EY Brasil. 

Seguindo a mesma tendência do mercado, a EY vem alternando serviços tradicionais de auditoria e consultoria com a transformação digital de processos e sistemas que oferece aos seus clientes. “Nos últimos anos, as empresas mudaram muito. Começaram a usar dados para tomar decisões e a dar seus primeiros passos utilizando tecnologias que hoje são maduras como Cloud, Big Data e Analytics. Hoje, as empresas estão em uma nova onda digital, buscando entender e implementar a Inteligência Artificial Generativa e integrar a tecnologia e a sustentabilidade, trazendo mais transparência para as métricas socioambientais”, diz Vieira 

Para o CEO da EY Brasil, sustentabilidade não pode ser mera fachada, nem para a própria consultoria nem para os clientes que representa. “É importante entendermos que o desenvolvimento econômico e a sustentabilidade ambiental andam de mãos dadas. E o Brasil, nesse aspecto, tem uma posição privilegiada, pois cerca de 87% da nossa produção de energia elétrica vem de fontes renováveis. Temos uma oportunidade incrível de, ao perseguir a sustentabilidade ambiental, conseguir atingir o desenvolvimento econômico duradouro e sustentável”.

Também não é fachada o estímulo que a empresa tem dado para diversidade e inclusão. Vieira orgulha-se ao falar que é “nosso dever moral e ético criar oportunidades para que mulheres, afrodescendentes, pessoas com deficiência, membros da comunidade LGBTQIA+ e de outras minorias ingressem na empresa, se qualifiquem continuamente, sejam promovidos e expressem suas crenças sem receio - que sejam como desejarem ser. Afinal de contas seremos mais fortes e inovadores quanto mais diversos formos”. 

Quarta maior consultoria do mundo, a multinacional KPMG tem sede em Amsterdã e é resultado de uma fusão feita em 1987 de três consultorias cujas origens remontam à virada do século 19 para o 20, com raízes na Holanda, Inglaterra e Estados Unidos. Presente em 145 países e territórios e com mais de 265 mil sócios e profissionais atuando nas firmas-membro em todo o mundo (sendo que quase 6 mil apenas no Brasil), a KPMG faturou US$ 34,64 bilhões globalmente após o fechamento de seu mais recente ano fiscal.

Tal como suas principais concorrentes, a KPMG presta serviços nas áreas de Audit, Tax e Advisory, e também notou mudanças radicais e desafiadoras no mercado. “A maior delas, pelo menos nos últimos dez anos, foi a entrada da tecnologia muito mais forte. As consultorias operavam muito, e ainda operam um pouco, no modelo de conselho. Ser alguém que orienta, que aponta caminhos, que tem metodologia. Com mais uso de tecnologia o cenário de consultoria mudou muito, o que nos fez avançar para um nível mais de execução, de implementação”, diz André Coutinho, sócio-líder de Advisory da KPMG no Brasil.

“Qualquer trabalho nosso hoje em dia envolve algum tipo de tecnologia. Ou ela é um meio, isto é, a KPMG tem uma tecnologia pra entregar um melhor serviço para o cliente. Mas também tem a tecnologia fim, ou seja, você vai instalar uma tecnologia para transformar o processo e o negócio do cliente”, complementa. “A gente também percebeu que hoje em dia as empresas não dão mais a chave nas mãos da consultoria, elas acompanham mais de perto tudo. Existe uma simbiose maior entre executivos e consultores. Pensando bem, é até meio absurdo o modelo antigo, como se o consultor soubesse mais que executivo. Esse modelo atual, essa simbiose, é muito mais inteligente”.


A mais nova das consultorias desta reportagem e cuja origem não tem relação com contabilidade e auditoria, a BAIN & COMPANY é americana do ano de 1973 e atualmente possui mais de 18 mil funcionários – sendo 800 no Brasil – em 65 escritórios distribuídos por 40 países. “Diferentemente das consultorias tradicionais, que têm foco em operações ou processos específicos, a Bain oferece uma visão sistêmica do negócio e do mercado para que seu cliente entenda as tendências no longo prazo e possa tomar decisões tempestivas e adequadas aos seus objetivos”, afirma Alfredo Pinto, Office Head da Bain & Co. América do Sul.

Com foco em consultoria estratégica destacando segmentos como ambientes de negócios sustentáveis (ESG), entregas com inteligência artificial, consultoria sobre transações de M&A, especialmente em integrações de grandes fusões, e projetos de Enterprise Technology, a Bain tem atualmente 60% da receita na América do Sul ligada a novos projetos relacionados a transformação digital. 

As perspectivas de futuro para o mercado de consultorias são tão desafiadoras quanto lucrativas, e Pinto acredita que “há um enorme potencial em projetos que ajudam a definir os caminhos futuros das empresas, seja em tecnologia, arquitetura organizacional, iniciativas ESG, fusões e aquisições, e tantos outros serviços”. Mas conclui que não se pode perder de vista o fator humano, “pois temos visto uma mudança significativa no comportamento dos colaboradores, que buscam com razão qualidade de vida no trabalho. Com isso, as empresas e a própria Bain têm investido amplamente em iniciativas de diversidade, inclusão e equidade para atrair e reter os melhores talentos”.

todas as mulheres de kate

o assunto do mês na minha colaboração pra Revista Monet é a atriz Kate Winslet, e seu novo trabalho, a minissérie The Regime pra HBO. não consegui ver, pois não liberaram antecipadamente, mas pelos trailers pareceu divertida e interessante e Winslet brincando muito à vontade com uma personagem que não lhe é comum.

Uma chanceler muito louca

TODAS AS MULHERES DE KATE

Ao interpretar uma chanceler na sátira política The Regime, Kate Winslet coloca mais um quadro na sua galeria de mulheres fortes

Aos 48 anos de idade, e com pouco mais de 30 de carreira, Kate Winslet não precisa provar nada para ninguém já faz um bom tempo. Mas nem sempre foi assim, e o problema foi justamente o fato de a atriz britânica ter feito muito sucesso logo no começo da carreira. “Depois de Titanic fiz escolhas que deliberadamente iam contra o que era esperado de mim. Porque certamente eu não estava pronta pra ser uma pessoa famosa e foi muito assustador ser tão famosa, tão rapidamente, tão da noite pro dia”, confessou Winslet ao podcast Happy Sad Confused, em dezembro de 2022. 

Prestes a lançar The Regime, sua terceira minissérie pela HBO, Winslet segue buscando o que é inesperado. Tanto é verdade que ela, conhecida e premiada por papéis intensos e dramáticos, agora pôde se divertir ao interpretar Elena Vernham, uma chanceler populista e vaidosa em um país fictício na Europa central no turbilhão de uma grande crise. 

Criada por Will Tracy – que foi roteirista de Last Week Tonight with John Oliver e escreveu o longa O Menu e alguns episódios de Succession –, a minissérie em seis episódios é uma sátira política que poder ser definida como o encontro de The Great com Veep. Mas pouquíssimo material foi distribuído para a imprensa e dois teasers de pouco menos de 2 minutos cada esconderam a trama enquanto deixaram claro que será um trabalho com direção de arte opulenta, texto afiado e atuações comicamente intensas. 

Além de Winslet, o elenco principal conta com Matthias Schoenaerts como um militar desconhecido que é alçado à braço direito da chanceler, Andrea Riseborough como a gerente do palácio e braço esquerdo da chanceler, Guillaume Gallienne como o marido humilhado da chanceler, Martha Plimpton como a Secretária de Estado dos EUA e Hugh Grant como o líder da oposição cuja prisão dá início a uma grande crise no país. Filmada na Áustria e na Inglaterra, a minissérie teve a direção dividida entre Stephen Frears (Ligações Perigosas, Alta Fidelidade e A Rainha) e Jessica Hobbs (The Crown). 

Se The Regime seguir o mesmo padrão de sucesso das duas minisséries anteriormente protagonizadas por Kate Winslet para a HBO, a próxima temporada de premiações será uma festa para a atriz. Em 2011, sob direção, roteiro e produção de Todd Haynes, Winslet estrelou Mildred Pierce e ganhou Emmy e Globo de Ouro de Melhor Atriz. Os prêmios se repetiram cerca de dez anos depois com sua atuação na ainda mais elogiada Mare of Easttown, criação do roteirista e produtor Brad Ingelsby. 


UM ROSTO, MUITAS VIDAS

A chanceler ególatra em The Regime, a policial fragilizada em Mare of Easttown e a mãe superprotetora em Mildred Pierce, encontraram em Winslet a forma mais intensa de ganhar vida. E a atriz sempre foi assim, desde quando apareceu para o mundo, aos 18 anos, como uma adolescente perdida em um perigoso mundo de fantasias e repressão. O filme? Almas Gêmeas. O diretor? Um iniciante Peter Jackson.

As jovens mulheres de uma jovem Kate Winslet seguem se equilibrando e desequilibrando entre a fantasia, a paixão e a tragédia. É assim com sua Marianne Dashwood em Razão e Sensibilidade (1995), de Ang Lee; com Sue Bridehead em Jude (1996), de Michael Winterbottom; com sua Ofélia em Hamlet (1996), de Kenneth Branagh; e, finalmente, com sua Rose, a jovem rica que deseja mais da vida, em Titanic (1997), de James Cameron.

Nos anos 2000, após o nascimento de dois dos seus três filhos (Mia é de 2000 e Joe de 2003), um novo e poderoso ingrediente potencializou as escolhas da atriz: a angústia. Foi assim com sua Iris Murdoch em Iris (2011), de Richard Eyre; sua Clementine em Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças (2004), de Michel Gondry; com Sarah Pierce em Pecados Íntimos (2006), de Todd Field; com Hanna Schmitz em O Leitor (2008), de Stephen Daldry; e com April Wheeler em Foi Apenas Um Sonho (2008), de Sam Mendes. Winslet ganhou um Globo de Ouro e um Oscar por sua atuação em O Leitor e um Globo de Ouro por Foi Apenas Um Sonho, filme que marcou a única vez que foi dirigida pelo seu então marido, o cineasta Sam Mendes, e o reencontro com Leonardo DiCaprio pouco mais de dez anos após Titanic.

Em uma entrevista em 2014, Winslet afirmou que se conecta com “mulheres que estão buscando a saída para uma situação difícil, procurando por amor, tendo alguma luta dentro do amor, ou questionando as grandes coisas da vida”. Esses interesses continuaram direcionando a escolha por trabalhos da atriz, mas a década de 2010 foi a mais irregular de sua carreira, um tanto porque também priorizou a família (seu terceiro filho, Bear, nasceu em 2013).

Dentro desse turbilhão ainda saíram uma doutora em tempos de pandemia em Contágio (2011), de Steven Soderbergh; uma mulher frustrada no casamento e com problemas alcóolicos em Deus da Carnificina (2011), de Roman Polanski; uma mãe solteira apaixonada por um fugitivo em Refém da Paixão (2013), de Jason Reitman; uma líder tirana em um futuro distópico nos filmes Divergente (2014) e Insurgente (2015), os dois primeiros de uma trilogia; uma executiva de marketing nos primórdios da Apple em Steve Jobs (2015), de Danny Boyle; e uma mulher que queria ser atriz e agora precisa se contentar com um casamento falido e um amante que a traí com a própria enteada em Roda Gigante (2017), de Woody Allen.

Em outra entrevista de 2014, Winslet confessa que as mulheres que interpreta entram em sua vida e não largam fácil. “Ainda tenho dificuldade em me livrar delas”, diz sobre suas personagens. “Eu sei que é apenas um trabalho. Mas é um trabalho que usa suas emoções, todas elas têm que vir de algum lugar, e é difícil simplesmente deixar passar. Eu sei que deveria, mas não consigo. Não posso simplesmente aprender minhas falas e fazê-las, mas talvez seja porque não quero atuar, quero ser. E acho que há uma diferença grande aí”.

Nos últimos anos, com mais tempo pra si, afinal de contas já tem dois filhos adultos, Winslet pôde ser dar ao luxo de produzir e mergulhar na pesquisa para a minissérie Mare of Easttown (2021), fazer narração de documentários, ser uma rainha Na’vi no reencontro com James Cameron em Avatar 2 – O Caminho da Água (2022) e, então, brincar de ser má, inconsequente, irresponsável e criminosa em The Regime. Existem muitas em Kate Winslet e outras tantas virão.