sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

revista pesquisa fapesp

tem sido um grande prazer voltar a escrever (isso foi em 2021, pós Cebrap), e ainda mais com o rigor de apuração e costura narrativa exigida pela Revista Pesquisa Fapesp. minha primeira colaboração aconteceu em março de 2022, mas infelizmente acabou caindo aos 45 do segundo tempo. segue o fio com o que veio depois (e vou atualizando conforme as publicações). 

decidi colocar link direto pro site da revista porque, nesse caso, o meu "texto final" não é o que entrego de primeira e sim um trabalho colaborativo de edição e checagem. não tem director's cut rsrsrs. então é mais legal deixar o texto lá, onde pertence.

"O lugar da mulher na economia" - Pesquisa revela o abismo da sub-representação feminina nas faculdades e como é importante mudar esse cenário (maio 2022)
ilustração de Catarina Bessel


"Atlas interativo do Rio de Janeiro" - Mapa da cidade mostra as transformações geográficas e urbanas desde 1500 (junho 2022)
foto de Augusto Malta (1865-1957)


"De selo em selo, um país" - Pesquisa dimensiona a contribuição dos Correios para a formação do Estado brasileiro (junho 2022)
 

"Doutorado na maturidade" - Os desafios, obstáculos e ganhos de quem decide fazer uma pós-graduação depois dos 40 anos (julho 2022)
ilustração de Mariana Zanetti


"Crescimento na adversidade" - Projetos de pesquisa propiciam a troca de experiências científicas entre brasileiros e estrangeiros que vivem em países conflagrados (setembro 2022)
ilustração de Manuela Eichner


"A vida mostra os caminhos" - As escolhas que conduziram a cardiologista Maria Cristina Izar de volta à investigação científica (novembro 2022)
foto de Léo Ramos Chaves

"Do laboratório ao campo" - O encontro com uma comunidade no interior de Goiás que transformou a visão do biólogo Carlos Menck sobre genética (janeiro 2023)
foto de Léo Ramos Chaves


"Amor à última flor do Lácio" - texto-reportagem-obituário da escritora e ensaísta Cleonice Berardinelli (fevereiro de 2023)
foto de Guilherme Gonçalves/ABL


"Investigação solidária" - A psicóloga Raquel da Silva Barros conta como o contato com pessoas em situação de vulnerabilidade contribuiu para a criação de uma nova metodologia de acolhimento (março de 2023)
foto de Léo Ramos Chaves

sábado, 7 de janeiro de 2023

se eu quiser falar com gil

começando 2023 com novo frila pra querida Revista Monet, minha antiga casa (de 2006 a 2011). dessa vez foi uma reportagem sobre a nova temporada do talk show de Gilberto Gil para o Canal Brasil. infelizmente não consegui falar com octagenário mestre (final de ano, ele viajando, agenda cheia, etc) e as aspas que estão aqui vieram via assessoria de imprensa do canal. mas valeu, porque quando o material é bom (independente da procedência) a costura vai melhor. 


NA QUALIDADE RARA DE CONVERSA

Gilberto Gil festeja a terceira temporada de seu talk show ao lado de convidados como Fernanda Montenegro, Liniker, Marcelo Adnet e a filha Bela Gil


Gilberto Gil não tem medo da morte, mas sim de morrer. Do alto de seus 80 anos, completados em 26 de junho do ano passado, Gil dribla esse e outros medos ao seguir criando, cantando, refletindo, tocando e conversando. Vivendo, enfim. Recentemente, por exemplo, estreou na França sua primeira ópera, Amor Azul, onde tocou e foi acompanhado por 150 músicos da Orquestra da Radio France. E agora, neste mês, comemora a estreia da terceira temporada de seu programa no Canal Brasil, Amigos, Sons e Palavras.

“Os perfis das pessoas que estão vindo, dessa vez, são muito delineados e muito ligados a campos importantes de atuação de vida e eu, de certa forma, tenho tido mais interesse em outros aspectos na vida das pessoas do que propriamente questões existenciais”, explica Gil sobre os convidados desta temporada do programa. Daí que o baiano conversa sobre grandes e pequenas questões com pessoas como a física Gabriela Barreto Lemos, os sociólogos Laymert Garcia dos Santos e Demétrio Magnoli, o advogado Ronaldo Lemos, a cantora Liniker, o antropólogo Hermano Vianna, as atrizes Fernanda Montenegro e Glória Pires, os humoristas Marcelo Adnet e Gregório Duvivier e a filha e culinarista Bela Gil.

“Escolhemos os convidados, como sempre, sentando e compartilhando sugestões, ideias, nomes, aspectos, temas, fazendo uma lista longa de nomes, de onde exatamente tirar os entrevistados finais. Foi assim, com a equipe toda sugerindo, levando em consideração o perfil do programa, de entrevistas. E por outro lado, o que me interessa no meu radar, o que eu mesmo gosto de conversar”, diz sobre o programa que estreou em 2018, mesmo ano que lançou seu último disco de inéditas, o premiado OK OK OK

Em agosto daquele ano, Gil deu o pontapé inicial deste novo projeto fazendo uma tabelinha com o amigo-irmão Caetano Veloso. Nas semanas seguintes, e na segunda temporada que estreou em 2019, tudo pré-pandemia, as conversas giraram viajantes e afetuosas com pessoas tão diferentes quanto Xuxa e Fernando Henrique Cardoso, Zé Celso Martinez Corrêa e o Dr. Roberto Kalil, Lilia Cabral e Fernando Haddad, Flávia Oliveira e Dráuzio Varella, Alfredo Sirkis e Ivete Sangalo, Alex Atala e Lázaro Ramos, mas também muito familiares, como foi o caso com os filhos Preta e Bem Gil. As duas primeiras temporadas tiveram 25 episódios ao total, todas disponíveis no Globoplay, e a atual possui 13 (existem alguns episódios completo no YouTube do Canal Brasil, enquanto no Globoplay são exclusivos para assinantes).

Gil e Adnet, um dos episódios da 
terceira temporada de Amigos, Sons e Palavras

TEMPO REI – Figura fundamental da música e da cultura brasileira desde meados da década de 1960, Gilberto Passos Gil Moreira é autor de canções clássicas como “Domingo no parque”, “Aquele abraço”, “Cérebro eletrônico”, “Expresso 2222”, “Back in Bahia”, “Realce”, “Andar com fé”, “Se eu quiser falar com Deus”, “Toda menina baiana”, “A novidade” e “Vamos fugir”, entre dezenas de centenas de outras espalhadas por mais de 50 discos em cerca de seis décadas de carreira. E ainda teve oito filhos de três casamentos. E ainda foi vereador em Salvador (1989-1992) e Ministro da Cultura (2003-2008). E ainda compôs para cinema (Eu, Tu, Eles, por exemplo) e televisão (é dele, apenas, o tema de Sítio do Pica-Pau Amarelo). Tudo sempre com calma e balanço, firmeza e poesia. Com o envelhecer, claro, não seria diferente.

“Eu fiquei uma pessoa, por um lado muito simples, por outro muito complexa, ainda muito tímido, ainda muito temeroso em relação a muitas coisas, ainda aflito em relação a muitas questões sobre estar nesse mundo, de compartilhar esse mundo com outras pessoas. Simples nesse sentido de ter feito escolhas muito ‘normais’, digamos assim, para o preenchimento dos meus desejos, das minhas ambições, das minhas vontades, mas ao mesmo tempo, tomado por essa complexidade que é a vida. Porque me vi como um adepto da bondade radical. Sou um arauto da bondade, gosto das coisas que são identificadas com o bem, que são vistas como sendo do mundo do campo da bondade”, reflete de um jeito que só Gil conseguiria. 

Pouco mais de quatro anos atrás, na estreia de Amigos, Sons e Palavras, Gil também puxou o assunto do envelhecimento com Caetano Veloso (ambos possuem a mesma idade, um de junho e o outro de agosto de 1942). Entre muitas digressões, Gil disse que “o envelhecimento dá essa possibilidade dos distanciamentos e a aproximação da saudade como elemento próprio seu, saudade de si mesmo, além da perspectiva da finitude cada vez mais perto e a necessidade de se livrar de um sentido ameaçador que isso pudesse ter”. E sorriu bem resolvido com a morte (mas não com o medo de morrer, afinal de contas, e se ele tiver dor ou uma vontade de fazer xixi ali bem na hora?).

Enquanto isso não acontece, e Gil não tem pressa nenhuma, o baiano segue ativo na vida e cada vez mais perto de sua grande família. Ano passado todos foram protagonistas de uma série documental chamada Em Casa com os Gil. Em junho deste ano estreia no Brasil Nós, a Gente, show com filhos, filhas, netos e netas que começou pela Europa e foi transformado em Viajando com os Gil, docusérie produzida pela Conspiração Filmes e dirigida por Andrucha Waddington. E como se não bastasse tudo isso, Gil virou, também em 2022, um “imortal” da Academia Brasileira de Letras.

“O que tenho de perspectiva daqui pra frente é essa continuidade do trabalho como artista e essas contribuições laterais que vão sendo dadas, como é o caso da Academia Brasileira de Letras, onde a gente tem sempre uma participação, da tematização das coisas a serem tratadas lá, dos seminários a serem feitos, dos estudos a serem feitos ali. Essa participação ampla na sociedade, com entrevistas, com projetos feitos com as comunidades, palestras que são feitas ali, um prefácio de um livro que se escreve acolá, tudo isso. E isso vai seguindo até o dia de desaparecer do mundo”. E virar super-homem, Gil, transformando as velhas formas de viver.