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quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

e o albino Hermeto não enxerga mesmo muito bem

Hermeto Pascoal, o homem, a lenda, o bruxo. ele foi o assunto do meu mais recente frila pra Revista Monet. dessa vez conversei com três músicos amigos pra saber mais sobre um dos artistas mais originais da música brasileira. com vcs, Hermeto por Dudu Tsuda, Thiago França e Meno Del Picchia.

Hermeto por Bob Wolfenson

O BRUXO DOS MIL SONS 

Do alto de seus 88 anos, o músico Hermeto Pascoal mostra toda sua energia e originalidade em documentário inédito no canal Curta!

Hermeto Pascoal é um mistério em muitos sentidos. Não se sabe de onde vem tanta energia e muito menos tanta originalidade e inquietação musical. Não se sabe nem em qual localidade de Alagoas nasceu há 88 anos: algumas fontes dizem Canoa da Lagoa (é, inclusive, o nome de um seus mais famosos discos, Lagoa da Canoa, Município de Arapiraca, de 1984) e outras afirmam que é Olho d´Água Grande (35 km separam uma da outra). Os cineastas Lírio Ferreira e Carolina Sá optaram pela segunda e assim nasceu O Menino d'Olho d'Água, premiado e inédito documentário sobre o músico que estreia este mês no canal Curta! 

O longa traça um perfil de Hermeto a partir de três frentes: uma performance recente; suas lembranças de infância no sertão de Alagoas; e uma conversa sobre música e processo criativo. E a vida e obra do alagoano é um mar sem fim de histórias. Tem o encontro aos 7 anos com o acordeão do pai e os muitos forrós e festas de casamento que tocou ao lado do irmão José Neto. Tem os sons da natureza, os bichos, os instrumentos feitos com plantas e objetos. Tem a mudança para Recife aos 14 anos, o encontro com o igualmente albino e acordeonista Sivuca e as muitas rádios que tocou. Logo após completar 18 anos casou-se com Ilza, a origem de um casamento de 46 anos e 6 filhos, e descobriu o piano. 

Sempre a procura de trabalho, Hermeto foi com a família para João Pessoa atrás da Orquestra Tabajara e depois, em 1958, para o Rio de Janeiro para tocar na Rádio Mauá e também em boates e hotéis refinados. Então, no início da década de 1960, Hermeto se mudou para São Paulo e a flauta foi tomando o lugar do acordeão e do piano. Aos 25 anos, músico e pai de família, seguia tocando de tudo, mas começou a compor mais e sempre injetando Nordeste no samba jazz que fazia sucesso na época. Esteve no Som Quatro, no Sambrasa Trio e nos especialmente cultuados Quarteto Novo (o grupo que acompanhou Edu Lobo em “Ponteio”, a grande vencedora do Terceiro Festival de Música Popular Brasileira, produzido pela TV Record em 1967) e Brazilian Octopus. 

Então o percussionista Airto Moreira, seu companheiro no Quarteto Novo, o chamou para gravar nos Estados Unidos no final da década de 1960 e por lá Hermeto ficou cerca de quatro anos. Nesse período gravou dois discos com Airto e sua esposa, a cantora Flora Purim, atuando como compositor, arranjador e instrumentista. Também conheceu Miles Davis e chegou a trocar sopapos com o trompetista numa brincadeira de boxe (diz a lenda que Hermeto acertou um cruzado no rosto de Miles). O brasileiro albino e estrábico impressionou tanto o norte-americano que gravou duas de suas composições, “Nem um talvez” e “Igrejinha”, em seu disco Live-Evil (1971) com direito a participação de Hermeto tocando vários instrumentos. De volta ao Brasil em 1973, gravou seu primeiro disco solo (A Música Livre de Hermeto Pascoal) e deu início a uma das jornadas mais originais da música instrumental brasileira. 

TUDO É COISA MUSICAL

“Me lembro de escutar Hermeto pela primeira vez quando eu tinha uns 16 anos, em meados dos anos 1990. Um amigo baixista que tocava comigo na época me apresentou a música ‘Bebê’. Logo depois ouvi outras músicas dele e, claro, o seu famoso solo de chaleira que mudaria minha vida pra sempre. Parei e pensei: opa, que troço é esse? Mal sabia que alguns anos mais tarde, em 2002, seguiria nesse caminho que ele abriu e começaria minhas pesquisas em música experimental”, afirmou Dudu Tsuda, músico paulistano que participou de bandas como Cérebro Eletrônico, Jumbo Elektro e Trash Pour 4 e mais recentemente tem se dedicado a trilhas de espetáculos de dança e performances. 

O músico, professor e antropólogo Meno Del Picchia ouviu Hermeto pela primeira vez mais ou menos com a mesma idade que Tsuda. “Devia ter uns 13 ou 14 anos. Foi um disco chamado Hermeto Pascoal & Grupo, que é de 1982. Eu já estava tocando porque comecei a estudar piano ainda pequeno e depois, com 12, fui tocar instrumentos de corda, baixo e violão. E quando ouvi esse disco do Hermeto, eu pirei, achei maravilhoso, e comecei a tentar tirar umas músicas porque mexeu muito comigo. E uma das coisas que mais me impressionou, especificamente nesse primeiro álbum que ouvi, foi a capacidade do Hermeto de transportar a gente pra aquela sonoridade das bandas de coreto e seus instrumentos de sopro e percussão. Mas, ao mesmo tempo que o Hermeto me jogava em pracinhas do interior de Alagoas, ele também compunha músicas que remetiam para um jazz contemporâneo completamente experimental, e sempre com uma brasilidade muito forte”. 

Já Thiago França, criador da Espetacular Charanga do França e integrante do Metá Metá, nunca tinha ouvido nenhum disco de Hermeto até se deparar com o “bruxo” ao vivo no Sesc Campinas no final da década de 1990. “Foi uma loucura o show, porque o Hermeto tocou mais de 3 horas, e o povo do Sesc desesperado pedindo pra ele parar e ele não parava. Até uma hora que tiraram da tomada o teclado que ele estava tocando e ele catou um instrumento de percussão. O povo do Sesc subindo em cima do palco pedindo pra ele parar, pelo amor de Deus, e ele não parava. Então, essa é uma coisa que me identifico e pratico numa seara diferente, que é essa paixão, essa necessidade de tocar, essa coisa de começar a tocar e não querer parar nunca mais. É uma coisa que nunca vi em nenhuma outra pessoa, essa coisa da dedicação absoluta à música”. 

Esses três músicos, com suas sólidas carreiras próprias, não foram influenciados diretamente pela música de Hermeto, mas sim pelo jeito de fazer música de Hermeto e isso é coisa que não se esquece. “Ele é um farol para muitos jovens, pois vê-lo tocando, mesmo sabendo que são peças dificílimas, parece fácil e divertido. Ele aproxima as pessoas da música, as convida a querer também experimentar, a querer também inventar seu próprio modo de tocar. Seu ímpeto em experimentar novas linguagens e sons, por exemplo, formou meu espírito curioso e em constante interesse pela associação ainda não realizada, pelo novo formado a partir do encontro de diferentes. Ao mesmo tempo em que sua jovialidade me traz muita esperança no nosso fazer, não na esperança de ficar rico ou essas coisas banais, mas de que tudo vale à pena, mesmo que, por vezes, tenhamos a sensação que é o caminho mais difícil”, explicou Tsuda. 

Do seu jeitinho, Hermeto foi se espalhando e ganhando o mundo, principalmente Europa e Japão, lugares que nunca deixou de tocar desde os anos 1970. Montou também bandas que revelaram instrumentistas do naipe de Jovino Santos Neto, Carlos Malta, Itiberê Zwarg, Márcio Bahia, Nivaldo Ornelas, Nenê e Vinicius Dorin, que tocaram ao seu lado por anos a fio (uns ainda tocam). “Ele é um dos poucos artistas que consegue manter a mesma banda ao longo dos anos e isso faz toda diferença numa performance ao vivo, porque eles se conhecem muito, um já sabe o que o outro vai fazer e, sendo assim, o som tem uma força ainda maior”, disse Del Picchia. 

Thiago França concorda em gênero, número e degrau. “Ele é um cara que sabe valorizar as pessoas com quem ele toca, e tem essa magia de fazer todo mundo florescer junto. Mas o melhor de tudo é que na música de Hermeto tem frevo, choro, baião, samba, e tem coisas que a gente não consegue identificar direito o que são. Tem coisas super melódicas, outras super complexas, tem coisa muito suingada e tem tempos compostos dificílimos de tocar. Acho que ele foi em todos os lugares, e mapeou todas as possibilidades da música instrumental, e isso dele ter reunido dentro de um trabalho é o que o torna tão relevante. Ele é o cara que nos diz, e não só diz, mas mostra, que todos os caminhos são possíveis na música instrumental”.

domingo, 15 de dezembro de 2024

56 músicas e 50 discos brasileiros de 2024

neste 2024 que está acabando o esforçado completa 15 anos ininterruptos de retrospectivas musicais (desde a criação do blog, em 2009). acho que no começo tentei manter um número fixo de músicas e discos e depois, com o tempo, fui vendo que muita coisa ia ficando de fora e que era muito mais interessante ter um panorama maior e mais diverso do que ouvi no ano. a partir daí, o número de músicas e discos mudou de ano em ano. muito mais legal.

em alguns anos cheguei a fazer a playlist de músicas também no spotify, mas a preguiça que tenho com a plataforma é tão grande que o bom e velho youtube me basta (tanto para a playlist quanto para os links dos discos na íntegra).

como sempre tem gente nova, novos e velhos veteranos, instrumentais e pop, remixes e tradição, de um tudo. escuta só...


Agnes Nunes – “As ruas não te amaram como eu”
Alessandra Leão & Sapopemba – “Exu Ajuô”
Alice Caymmi – “O amor (El Amor)”
Alvaro Lancellotti – “Maneira de ver”
Arrigo Barnabé & Trisca – “Fico Louco”
ÀTTØØXXÁ & Baco Exu do Blues – “Tranca rua”
Áurea Semiseria – “Big Mama”
Bruna Alimonda – “Estado febril”
Céu – “Raiou” [part. Ladybug Mecca]
Chico Bernardes – “Motivo”
Conjunto Boi de Piranha – “Dançando no escuro” [Ramiro Galas Remix]
Criolo, Dino D'Santiago & Amaro Freitas – “Esperança”
Curumin – “Paixão faixa preta”
Davi Nadier – “MaPeople”
Deize Tigrona – “Prazer sou eu” [feat. Larinhx]
Dom Salvador, Adrian Younge & Ali Shaheed Muhammad – “Os ancestrais”
Don L - Bem alto
Duda Beat – “Desapaixonar”
Duda Brack – “Cumbia Mel” [part. Gaby Amarantos]
FBC, Djonga & Pepito – “Rap bom”
Felipe Cordeiro – “Revolú” [part. Ariel Moura e Victor Xamã]
Giovani Cidreira – “O ouro e a madeira”
Grelo da Seresta – “Vida loka”
Iara Reluxx & Juçara Marçal – “Iroko (Axé que vem do Pé)”
João Gomes & Pabllo Vittar – “Vira lata”
Jup do Bairro, Maria Alcina & Pagode da 27 – “Amor de carnaval”
Karina Buhr – “Poeira da luz”
Liniker – “Ritmada Caju” [Mulú remix]
Lucy Alves & Rachel Reis – “Melaço”
Lurdez da Luz – “Ben Bella”
Maria Beraldo – “Minha missão”
Marina Sena – “Numa ilha”
Marujos Pataxó & Tropkillaz – “A força dos encantados” [Tropkillaz Remix]
MC Reino – “Bom dia princesa/Dono do Porsche”
Melvin Santhana – “Zara” [part. Luedji Luna & Zudizilla]
Meno Del Picchia – “Fogo bom”
Mombojó – “Romance da Bela Inês”
MOMO – “P​á​ra” [part. Jessica Lauren]
Moreno Veloso – “A donzela se casou” [part. Maria Bethânia, Caetano, Tom e Zeca Veloso]
Mulú & Carmen Miranda – “Pra Você Gostar de Mim” [Remix]
Nego Gallo – “Catedrais”
Pabllo Vittar & Duda Beat – “Ai que calor”
Péricles – “Bem que se quis” [Reggae Remix prod. Rincon Sapiência]
Rei Lacoste & Juçara Marçal – “Sem contrato”
Rincon Sapiência – “Jogo de cintura”
Rocha Ishi – “Respira”
Rodrigo Campos & Thiago França – “Gamei”
Russo Passapusso – “Dora” [part. Karina Buhr]
Saulo Duarte – “Canção do Povo”
Thiago França – “Dor elegante” [part. Juçara Marçal]
Verônica Ferriani & Áurea Martins – “Cochicho no silêncio vira barulho, irmã”
Vitor Ramil – “Teu vulto”
Yago Oproprio – “Catedrais”
Zé Manoel – “Malaika” [part. Luedji Luna]
Zeca Baleiro & Wado – “Alma turva”
Zécarlos Ribeiro, Ná Ozzetti & Tulipa Ruiz – “Bem humorado”
  

e agora vamos aos discos... como sempre tem gente que emplacou disco e música, gente que só emplacou música, gente que só emplacou disco e assim que a banda toca por aqui. mas gosto sempre de fazer alguns destaques nessa lista porque dentre esses 50 tem alguns que ouvi muito mais que outros. são aqueles discos que pegaram mais, tais como os poderosamente instrumentais Y'Y do pianista pernambucano Amaro Freitas e Canhoto de pé do saxofonista mineiro/paulistano Thiago França. tem o samba baiano de Ederaldo Gentil na voz do jovem Giovani Cidreira em Carnaval eu chego lá. tem o samba carioca de Zé Keti entortado por Jards Macalé e o Sergio Krakowski Trio em Mascarada. tem toda a beleza do cancioneiro de Milton Nascimento no encontro com a cantora, baixista e fã norte-americana Esperanza Spalding em Milton + esperanza. tem excelentes novos trabalhos de jovens ídolos da casa como Novela da Céu, Pedra de selva do Curumin e Digital Belém de Saulo Duarte. tem o estreante paulistano Yago Oproprio, uma espécie de herdeiro de Criolo (tanto nas rimas quanto no canto), em Oproprio. e, por último, o lindo lindíssimo Coral do cantor, compositor e pianista pernambucano Zé Manoel. mas lista completa tá aqui...
 
Álvaro Lancellotti - Arruda, alfazema e guiné
Amaro Freitas - Y’Y
ÀTTØØXXÁ - Summer Groove
Boogarins - Bacuri
Bruna Alimonda - Estado febril
Céu - Novela
Chico Bernardes - Outros fios
Clube do Balanço - Cadê Tereza
Curumin - Pedra de selva
Davi Nadier - Profundhi
Deize Tigrona - Não tem rolê tranquilo
Duda Beat - Tara e tal
Erasmo Carlos - Erasmo Esteves
FBC - Feito à mão
Felipe Cordeiro - Close, drama, revolução & putaria
Filarmônica de Pasárgada - Música infantil para crianças malcriadas
Giovani Cidreira - Carnaval eu chego lá
Hermeto Pascoal - Pra você, Ilza
Josyara - Mandinga multiplicação
Juçara Marçal - DEB RMX
Jup do Bairro - In.corpo.ração
Kamau - Documentário
Liniker - Caju
Maria Beraldo - Colinho
Mascarada: Zé Keti por Sergio Krakowski Trio & Jards Macalé
Matéria Prima - novidadedasantiga
Meno Del Picchia - Maré cheia
Milton + esperanza       
Mombojó - Carne de caju
Momo - Gira
Moreno Veloso - Mundo paralelo
Ná Ozzetti & Luiz Tatit - De lua
Nabru - Desenredo
Nego Gallo - Yopo
Negro Leo - Rela
Orquestra Frevo do Mundo, Pupillo & Davi Moraes - Moraes é frevo
Rashid - Portal
Rodrigo Campos - Pode ser outra beleza
Saulo Duarte - Digital Belém
Silva - Encantado
Slipmani - Até aqui, Slip nos ajudou
SPVIC & Síntese - Olímpico: Fora do Tempo
Tássia Reis - Topo da minha cabeça
Thiago França - Canhoto de pé
Verônica Ferriani - Cochicho no silêncio vira barulho, irmã
Vitor Ramil - Mantra concreto
Yago Oproprio - Opropio
Zé Manoel - Coral
Zeca Baleiro & Wado - Coração sangrento
Zudizilla - Le FauVe 

sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

70 músicas e 55 discos brasileiros de 2023

música brasileira é aquela coisa bonita, cada vez mais diversa e territorialmente vasta. e todo ano aparece gente nova, tem povo amadurecendo e veteranos inquietos. mas foi em 2023 que teve Barbara Eugênia cantando Wando, Céu cantando Pitty, DJ Múlu remixando Tetê Espíndola, Martinho da Vila e Chico César cantando Zé Ketti, Valério tocando Luiz Gonzaga e Xande de Pilares cantando Caetano.

também foi em 2023 que finalmente gostei de Ava Rocha e fui surpreendido pelo improvável (a ex-atriz Cleo e Johnny Hooker, a ex-skatista Karen Jonz e o Cansei de Ser Sexy). falando em primeiras vezes, surgiram por aqui a potiguar Sarah Oliver, a mineira Sara Não Tem Nome, os gaúchos Ian Ramil e Duda Brack, o paraibano VictoRAMA, o cearense Mateus Fazeno Rock, o pernambucano Luiz Lins, o carioca Jonathan Ferr e o paulista MC Pedrinho.

também foi em 2023 que precisei quebrar mais uma vez a regra de não colocar mais de uma música por artista. Aleatoriamente de Rodrigo Ogi é tão porrada pulsante de um rapper cronista cada vez mais afiado que foi difícil fechar em apenas uma música (teria colocado mais que duas, aliás), e assim entraram “Chegou sua vez” e “Valha-me” (uma com Juçara Marçal, a outra com Siba, ambas produzidas por Kiko Dinucci). também não fui capaz de escolher entre “Madrugada maldita” e “Estante de livros” (essa com participação certeira de Don L), os dois pontos altos do excelente disco O Amor, o Perdão e a Tecnologia Irão Nos Levar Para Outro Planeta do FBC.

dessas 70 músicas vieram, obviamente, trampos novos & massa de gente já querida pela casa. gente que já sai com uns corpos de vantagem. é o caso de Aíla, Alice Caymmi, Jaloo, Ju Dorotea, Lurdez da Luz, Lucas Santtana, MC Tha, Síntese, Vitor Ramil, Baiana System, Duda Beat, Marcelo D2, Tatá Aeroplano, Xis e sempre sempre a filha Iara Rennó e a mãe Alzira E. mas já tá bom de blábli né. segue a playlist com 70 músicas brasileiras de 2023 segundo os ouvidos da casa.


70 MÚSICAS BRASILEIRAS DE 2023

A Espetacular Charanga do França - “Chevette azul”
Academia da Berlinda - “Bandoleiro”
Afrocidade - “Tá fod*”
Aíla & Jáder - “Me beija”
Alaíde Costa - “Ata-me”
Aldo Sena - “Meu vovô” [part. Saulo Duarte]
Alice Caymmi - “Las brujas”
Alzira E - “Filha da mãe” [part. Ney Matogrosso]
Ana Frango Elétrico - “Insista em mim”
Arquétipo Rafa - “Feito ladeira” [part. Alessandra Leão]
ÀTTØØXXÁ - “Dejavú” [part. Liniker]
Ava Rocha - “Longe longe de mim”
BaianaSystem & Duda Beat - “Borogodó”
BaianaSystem, Gilsons & Tropkillaz - “Presente”
Bárbara Eugênia - “Gosto de maçã”
Bixiga 70 - “Na quarta-feira”
Céu - “Emboscada”
Clarice Falcão - “Chorar na boate”
Cleo - “Seu fim” [part. Johnny Hooker]
Coruja BC1, MC Luanna & Febem - “Versão brasileira”
Djonga - “Coração gelado” [part. Tz da Coronel]
Domenico Lancellotti - “Quem samba” [part. Ricardo Dias Gomes e Marcia]
Don L - “Tudo é pra sempre agora” [part. Luiza de Alexandre]
Duda Brack - “Víbora ligeira”
Eddie - “Máscara negra” [part. Karina Buhr e Isaar]
FBC - “Estante de livros” [part. Don L]
FBC - “Madrugada maldita”
Felipe Cordeiro, Illy & Barro - “Todo céu azul”
Giovani Cidreira - “Dois lados” [part. Russo Passapusso e Melly]
Ian Ramil - “Macho-Rey”
Iara Rennó - “Orí axé”
Iza & MC Carol - “Fé nas maluca”
Jaloo - “Tudo passa”
Jards Macalé - “A foto do amor”
Jonathan Ferr - “Correnteza”
Ju Dorotea - “Raven”
Juliano Gauche - “Nos cânticos de lá”
Karen Jonz - “Coocoocrazy” [part. CSS]
Karol Conká, Tasha & Tracie - “Negona”
Letrux & Lulu Santos - “Zebra”
Lucas Santtana - “What's Life”
Luiz Lins - “Midas”
Luisa e os Alquimistas & Getulio Abelha - “Caninga”
Luiza Lian - “Homenagem”
Lurdez da Luz - “Devastada”
Marcelo D2 - “Povo de fé”
Marina Sena - “Me ganhar”
Martinho da Vila & Chico César - “Acender as velas”
Mateus Fazeno Rock - “Melô de Aparecida”
MC Pedrinho - “Gol bolinha, Gol quadrado 2”
MC Tha & MahalPita - “Coisas bonitas”
Moreno Veloso - “Mundo paralelo”
Mulú - “Escrito nas estrelas” [remix]
niLL - “3.0” [part. Amiri]
Paulo Ohana & Bruna Alimonda - “Um pedido de desculpas”
Rico Dalasam - “Tarde d+”
Rodrigo Campos - “Japonego” [part. Juçara Marçal]
Rodrigo Ogi - “Chegou sua vez” [part. Juçara Marçal]
Rodrigo Ogi - “Valha-me” [part. Siba]
Sara Não Tem Nome - “Nós”
Sarah Oliver - “Redinha”
Síntese - “Éter, dom & maldição”
Tatá Aeroplano - “Canto mistério”
Valério - “Asa Branca”
VictoRAMA - “AfroRobot”
Vitor Ramil - “Acordei sonhando” [part. Alunas e Alunos da Escola Projeto]
Xande de Pilares - “Muito romântico”
Xis - “Cutuco di bituca” [part. Elena Diz, Kami Cruz e Chico Chagas]
YMA & Jadsa - “Meredith Monk”/ “Mete Dance”
Zudizilla - “Groove ou caos” [part. Tuyo]

João Gilberto por Speto (próximo ao Mercadão de São Paulo)

55 DISCOS BRASILEIROS DE 2023

como já disse lá em cima, Aleatoriamente do Rodrigo Ogi e O Amor, o Perdão e a Tecnologia Irão Nos Levar Para Outro Planeta do FBC são dos maiores frutos do ano. discos que são tanto 2023 quanto o futuro. tem balanço e sujeira, esperança e desigualdade, cidade e amor.

outros grandes discos deste ano são o Coração Bifurcado de Jards Macalé, Iboru de Marcelo D2, a Negra Ópera de Martinho da Vila, O Paraíso de Lucas Santtana, a volta de Xis em Invisível Azul, a revelação de Mateus Fazeno Rock em Jesus Ñ Voltará, a delicadeza de Xande de Pilares ao cantar Caetano Veloso e a dobradinha de Rodrigo Campos (com o próprio Pagode Novo e a parceria com Romulo Fróes em Elefante), além do absurdo talento de mãe (a Mata Grossa de Alzira E) e filha (o Orí Okán de Iara Rennó).

seguem os 55 discos brasileiros do ano com link pra ouvir os respectivos na íntegra.

A Espetacular Charanga do França - Baile Espetacular
Aldo Sena - Jamevú
Alzira E - Mata Grossa
Ana Frango Elétrico - Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua
Arquétipo Rafa - Pisa de Conversa
Ava Rocha - Néktar
Banda Del Rey - O Disco
Barbara Eugênia - Foi Tudo Culpa do Amor
Bixiga 70 - Vapor
Cabezadenego, Leyblack e Mbé - Mimosa
Clarice Falcão - Truque
Coruja BC1 - Versão Brasileira, Vol. 1
DJ K - Pânico no Submundo
Djonga - Inocente
Domenico Lancellotti - Sramba
Eddie - Carnaval Chanson
Elza Soares - No Tempo da Intolerância
FBC - O Amor, o Perdão e a Tecnologia Irão Nos Levar Para Outro Planeta
Gaby Amarantos - PiraruCool
George Belasco & O Cão Andaluz - O Trabalho Mortifica
Ian Ramil - Tetein
Iara Rennó - Orí Okán
Iza - Afrodhit
Jaloo - Mau
Jards Macalé - Coração Bifurcado
Jonathan Ferr - Liberdade
Juliana Calderón - Primeiro Ato: Tectônica
Juliano Gauche - Tenho Acordado Dentro dos Sonhos
Letrux - Letrux Como Mulher Girafa
Lirinha - Mêike Rás Fân
Lucas Santtana - O Paraíso
Luiza Lian - 7 Estrelas
Mahmundi - Amor Fati
Marcelo D2 - Iboru
Marcelo Jeneci - Caravana Sairé
Mariana Cavanellas - DNA
Marina Sena - Vício Inerente
Martinho da Vila - Negra Ópera
Mateus Fazeno Rock - Jesus Não Voltará
MC Carol - Tralha
Meno Del Picchia - Pompeia Lo-Fi
Ná Ozzetti - Ná canta Zécarlos Ribeiro
Rico Dalasan - Escuro Brilhante, Último Dia no Orfanato Tia Guga
Rodrigo Campos - Pagode Novo
Rodrigo Campos & Romulo Fróes - Elefante
Rodrigo Ogi - Aleatoriamente
Sara Não Tem Nome - A Situação
Sarah Oliver - Manha
Tatá Aeroplano - Boite Invisível
Totonho e Os Cabra - Canções Pra Macho Chorar e Roer Unhas
Urias - Her Mind
Vários Artistas - Admirável Chip Novo (Re)Ativado
Xande de Pilares - Xande Canta Caetano
Xis - Invisível Azul
YMA & Jadsa - Zelena

terça-feira, 4 de novembro de 2014

notas aleatórias sobre um grande show

foi uma grande e longa noite no teatro municipal. a terceira edição do 'casa de francisco em concerto' pareceu uma peça do teatro oficina: cinco horas, dois intervalos, um monte de artistas no palco; só faltou gente pelada.

dividido em 3 partes, o show começou com um bloco levado por benjamin taubkin. foi o mais longo e, pra mim, o único com momentos chatos. ótimas participações de felipe cordeiro com o pai manoel cordeiro, marcelo pretto, pau brasil e mani padmé trio. teve também renato braz, que é um sujeito que me dá vontade de morrer, e alaíde costa que fez uma versão muito falha e só no gogó de villa-lobos. 

o segundo bloco, capitaneado por arrigo barnabé, teve uma cara de vanguarda paulistana. rolaram grandes momentos com cida moreira, zé miguel wisnik, cacá machado, ná ozzetti, celso sim, isca de polícia e maurício pereira com daniel szafran [que lindo foi ouvir "um dia útil" no teatro municipal]. 

o terceiro, mais atual e interessante, veio com kiko dinucci. e lá vieram os amigos romulo froés, rodrigo campos e marcelo cabral [passo torto], thiago frança e juçara marçal [metá metá], a juçara detonando solo, etc. e ainda teve alessandra leão cantando a música mais bonita da noite ["pedra de sal"] junto com rodrigo caçapa e manu maltez. o encerramento épico veio com o trio emicida, rodrigo campos e thiago frança [do espetacular show que já falei aqui] e então o metá metá se juntou.


emicida + metá metá

lá pelo final, antes do metá metá se reunir a emicida, kiko dinucci fez um breve discurso pra casa de francisca e agradeceu a presença do prefeito fernando haddad, que foi muito ovacionado.

ao fim & ao cabo, a noite foi ótima, apesar do cansaço de cinco horas, da confusão de algumas passagens de um artista pro outro, do roteiro também ocasionalmente confuso e da falta de um mestre de cerimônias que apresentasse os músicos e preenchesse os vazios.


uma parte do elenco do show agradecendo ao final

de qualquer forma, vida longa a casa de francisca! que venham novos, grandes e pequenos shows.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

rap esquema novo

sem medo de adjetivos e afirmações categóricas: emicida, thiago frança e rodrigo campos criaram na casa de francisca um dos melhores, mais intensos, surpreendentes e divertidos shows do brasil, quiçá do mundo. é algo entre gil scott-heron e adoniran barbosa. é o experimentalismo do sax, flauta e pocket piano de thiago com o da guitarra, violão e cavaquinho de rodrigo fazendo cama para a velocidade urgente das rimas de emicida [e que com esse acompanhamento acabaram ganhando novas e surpreendentes densidades junto a um flow mais relaxado]. 


quase no final, antes de um engraçadíssimo momento freestyle que uniu emicida a grupo raça, padeirinho, bezerra da silva e paulinho da viola, thiago frança disse o seguinte: "ó, todo mundo aqui é sambista, viu?". e é a mais pura verdade porque o rap é também uma outra forma de sambar. só que o que aqueles três fizeram na pequenina casa de francisca já está além. tem algo muito novo surgindo desse encontro [idealizado por thiago]. que sorte a nossa.

setlist do show


- “ngoloxi” [thiago frança] / “ubunti fristili” [emicida]
- “crisântemo” [emicida]
- “outras palavras” [emicida]
- “sol de giz de cera” [emicida]
- “ela diz” [emicida]
- “rua augusta” [emicida]
- “fim da cidade” [rodrigo campos]
- “beco” [rodrigo campos]
- “saudosa maloca” e “despejo na favela” [adoniran barbosa]
- “hino vira-lata” [emicida]
- momento freestyle que teve “favela” [padeirinho], “eu sou favela” [noca da portela e sérgio mosca], “eu e ela” [grupo raça], “meu mundo é hoje” [wilson batista e josé batista] e “timoneiro” [paulinho da viola e hermínio bello de carvalho]
- “triunfo” [emicida]

atualização: o programa manos e minas [tv cultura] fez uma matéria sobre o show e a gravação foi justamente nesse dia que fui. 

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

yahoo #64

em março rolarão novidades no yahoo e por causa disso a minha coluna no ultrapop voltou a ser quinzenal. essa aqui saiu na quarta-feira de cinzas e tratou, obviamente, de carnaval, mas de carnaval em são paulo, mais precisamente em cima do minhocão. posso dizer, sem medo de exagerar, que foi um daqueles dias que vou me lembrar pra sempre. alegria, sintonia, amor, suor e festa, muita festa, numa cidade que precisa muito voltar a se divertir. sem falar em um lindo batman mirim em seu primeiro carnaval de rua.



QUANDO O MINHOCÃO BALANÇOU DE ALEGRIA

Existem os carnavais de rua profissionais do Rio de Janeiro, Salvador e Recife/Olinda e existe o de São Paulo, franzino, tímido e motivo de deboche nacional. Por enquanto. É que ninguém fica na cidade. É que São Paulo não gosta de folia. É que sempre chove no carnaval. Nada disso é desculpa, muito menos verdade, e a festa pagã deste ano pode ser um momento de virada nessa história. Não é à toa que é o primeiro carnaval após os oito anos restritivos, burocráticos e caretas da gestão Serra-Kassab. Deu pra sentir nas ruas um eufórico espírito de retomada, mesmo que ainda um tanto caótica, afinal a cidade não está acostumada a ser feliz.

No final do ano passado foi criado o Manifesto Carnavalista, uma reunião de blocos e cordões independentes com interessantes reinvindicações: direito à alegria; direito à folia; valorização e afirmação da tradição cultural paulistana; ocupação do espaço público como exercício da cidadania; e identificação do potencial econômico do carnaval de rua. Daí que a nova gestão da Prefeitura de São Paulo, na figura do Secretário de Cultura Juca Ferreira, estabeleceu um diálogo com os blocos e foi assim que a história da folia paulistana ganhou novas caras e um novo futuro.

E as ruas foram tomadas tanto pelos tradicionais Bloco dos Esfarrapados (66 anos) e Vai Quem Quer (33 anos) quanto por blocos jovens ou estreantes como Bloco Afro Ilú Obá de Min, Cordão Kolombolo Diá Piratininga, Acadêmicos do Baixo Augusta, Ó do Borogodó, Nois Trupica Mais Não Cai, Bloco Soviético, Confraria do Pasmado, Cordão Cecília, Jegue Elétrico, Pimentas do Reino, João Capota na Alves, Zé e Maria, Vaca das Galáxias e Bando dos 7.


Mas o caso do Agora Vai, que saiu no final da tarde de ontem (terça gorda), é bastante revelador desse novo espírito. Fundado em 2005 na Barra Funda, o bloco sai do Largo Padre Péricles e anda um tanto bom pelo Minhocão até voltar ao largo, com direito a hino próprio, marchinha inédita todo ano, duas vocalistas em um carrinho de som improvisado, estandarte e uma pequena e aplicada bateria que faz até breques de funk.

E tinha de tudo por lá, casais e solteiros(as), homos e heteros, crianças e velhos, gente fantasiada e malucos à paisana, todos cantando e dançando por uma cidade que seja boa para quem a faz. Perto da concentração aconteceram ainda divertidas intervenções em placas e, de uma hora pra outra, a feia Marginal Tietê se transformou numa esfuziante Marginal Paetê.

Mas o auge do bloco aconteceu quando as cerca de 3 mil pessoas presentes começaram a pular e fazer o Minhocão balançar. Construído por Paulo Maluf e com nome de ditador militar (Costa e Silva), o Elevado felizmente já é usado para fins recreativos nos finais de semana, mas nesse Carnaval ele virou uma grande passarela para alegrias das mais diversas. Desde um cadeirante com cabelos lotados de confete até um menino de 4 anos vestido de Batman que abriu os braços e sorriu ao ter seu nome de herói gritado por centenas de pessoas. Esse é o tecido de que são feitos os sonhos carnavalescos de uma cidade.

p.s.: falando em Carnaval de São Paulo, nada melhor que encerrar esse post ao som d’A Espetacular Charanga do França.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

charangas me mordam

nos últimos tempos, o pobre e esquecido carnaval de rua paulistano vem ganhando um fôlego novo. a cada ano surgem blocos novos - agora em 2013, por exemplo, tem o bloco soviético (dia 2, 16h) - e projeto especiais como a espetacular charanga do frança. big band liderada por um dos homens que mais trabalha na música de são paulo, o saxofonista thiago frança (sambanzo, criolo, metá metá, marginals, etc.), a charanga tem se apresentado às quartas no centro cultural rio verde e é um das maiores delícias de ouvir e ver (olha aqui o poder deles ao vivo). tem show hoje, dia 30, e na quarta que vem, dia 6 de fevereiro. o repertório vai de marchinhas clássicas como "taí" até versões inusitadas de canções como "cheia de manias" (raça negra), "lama" (mauro duarte) e "retalhos de cetim" (benito di paula), passando por composições próprias da pesada como estas três que o frança disponibilizou em seu canal no youtube.







o grupo é formado por thiago frança (sax alto), anderson quevedo (sax barítono), amílcar rodrigues (trompete), didi machado (trombone), emerson bernardes (cavaquinho), samba sam (surdo), tony gordin (reco) e pimpa moreira (bateria). e aqui abaixo fotos dos shows que fui nos dia 16 e 30 de janeiro, e 6 de fevereiro, respectivamente.