quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

banksy sobre publicidade

"Há pessoas tirando onda com sua cara diariamente. Elas se metem na sua vida, dão um golpe baixo e logo desaparecem. Elas te espreitam de cima de edifícios altos, fazendo com que você se sinta pequeno. Elas te provocam de dentro do ônibus, insinuando que você não é suficientemente sexy, e que toda diversão está rolando em outro lugar. Elas estão na televisão, fazendo sua namorada se sentir insegura com suas imperfeições. Elas têm acesso à mais sofisticada tecnologia que o mundo já viu, e te intimidam com isso. São elas os “Anunciantes”, e estão rindo de você.

Você, contudo, é proibido de tocá-las. Marcas registradas, direitos de propriedade intelectual e leis de copyright significam que anunciantes maldosos podem dizer o que quiserem, onde quiserem, com total impunidade.

Quem se fodam. Qualquer anúncio em espaço público, que não dê a você a opção de vê-lo ou não vê-lo, lhe pertence. É todo seu, para pegar, reorganizar e reutilizar. Você pode fazer o que quiser com ele. Pedir permissão é como pedir para guardar uma pedra que alguém acabou de jogar na sua cabeça.

Você não deve nada às empresas. Deve menos do que nada; em especial, vocês não lhes deve gentileza alguma. Elas devem a você. Elas reorganizaram o mundo para se colocarem na sua frente. Nunca lhe pediram permissão; nem pense em lhes pedir a sua."

tradução: Kika Serra e Francisco Corrêa. o original aqui ó...


sábado, 25 de fevereiro de 2012

yahoo #29

semana louca essa. não consegui escrever a coluna do yahoo pra quarta-feira (de cinzas) porque estava em trânsito, vindo do retiro carnavalesco, passando por são paulo e indo ao rio de janeiro a trabalho. "o espírito tosco do abadá" acabou subindo no começo da noite de quinta e trata de uma frase infeliz de daniela mercury. segue aqui então a coluna anterior, "arte que desmancha no ar", sobre a "polêmica" do mural d'osgêmeos que foi sumido do mapa em são paulo.

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ARTE QUE DESMANCHA NO AR


A notícia correu durante o dia de ontem como fogo morro acima. Um gigantesco painel-mural feito pela dupla Os Gêmeos em 2009 tinha sido apagado. Ficava na lateral de um prédio que era a sede do Sindicato dos Comerciários e era um oásis de beleza no Vale do Anhangabaú, centro de São Paulo. Mas a justa indignação pelo sumiço de mais um exemplar de arte urbana numa cidade tão carente de cores em espaços públicos acabou levando muita gente a colocar a carroça (no caso de São Paulo, o carro) à frente dos bois. Em tempos que “exigem” de todos opinião sobre tudo e que esta, ainda por cima, precisa ser gritada aos quatro ventos, uma coisa básica foi esquecida: checar a história. Ah, e antes que me esqueça, não, não é preciso ter opinião sobre tudo como muito bem refletiu Alexandre Matias no Estadão.


Mas enfim, quando repercuti a notícia ontem tive o cuidado de não sair culpando ninguém, a não ser o espírito destrutivo da própria cidade, afinal ainda não sabia direito da história. Escrevi isso: “e quando São Paulo pode se orgulhar de ser a terra natal d'Os Gêmeos, alguns dos artistas mais importantes mundiais do mundo, a cidade lhe retribui assim”. No entanto, e com algum motivo, a maioria saiu tacando pedra na prefeitura, em Gilberto Kassab, na política higienista do PSDB e quetais, na falta de cultura do brasileiro e assim por diante. Só que não demorou muito para que recebesse uma mensagem de Pedro Busko desvendando um pouco dos bastidores do acontecido.

Sim, o painel foi apagado porque o prédio será demolido, Os Gêmeos sabiam disso desde o início e “parece que” tinham pedido para apagar o grafite antes da demolição para evitar o pouco investigado, mas muito rentável, mercado negro de arte urbana (uma obra dos irmãos Gustavo e Otávio Pandolfo vale muito, principalmente na Europa). Posteriormente, numa reportagem na Folha de S. Paulo, quase tudo isso foi confirmado oficialmente. A única informação que ficou faltando foi se os irmãos pediram para apagar o painel antes da demolição. O assunto não foi tocado em comunicado publicado no site deles hoje de manhã.

A partir daí a maré virou e os artistas, que há pouco eram vítimas, foram criticados por alguns por essa, digamos assim, “mesquinharia”. “A arte urbana não é efêmera?”, perguntavam. Claro que é, ainda mais em São Paulo, cidade que se canibaliza todo santo dia. Os Gêmeos sabem disso, bem como outros grafiteiros famosos da cidade como Nunca, Nina Pandolfo, Bugre, Vitché, Alexandre Orion, Titi Freak, Speto, Zezão e Herbert Baglione. Tanto sabem que todos estão aliados a fotógrafos que registram suas obras, caso a cidade, tanto na figura da administração pública quanto da iniciativa privada, as engula em nome do progresso.

Em 2006, Gustavo Pandolfo me disse o seguinte, em entrevista para um perfil publicado na extinta TAM Magazine: “Acho que [nossos personagens amarelos] podem sim [melhorar a cidade], mas a cidade precisa ser organizada primeiro. São Paulo é a cidade mais desorganizada que conhecemos. É uma cidade que ao mesmo tempo tem lei, mas não tem lei.” Como se vê, pouca coisa mudou de lá para cá e essa combinação de uma prefeitura que não liga para a população e uma população que só se interessa pelo próprio umbigo despreza uma arte cuja finalidade não é ganhar dinheiro (por isso, falar de “mesquinharia” não procede).

Numa cidade como São Paulo e em tempos bicudos como esses, a arte solitária do grafite (entre outras intervenções urbanas) é o único de jeito de colorir o invisível, mesmo que por alguns instantes.

35 minutos de história

foi em 2005 que a universal finalmente lançou phono 73 (em dois cds e um dvd), o célebre show que a então gravadora polygram promoveu em são paulo, entre 11 e 13 de maio de 1973, com os artistas de seu casting. se você ainda não viu os 35 minutos de filmagens que sobraram daquelas noites separe um tempinho em sua vida atribulada e divirta-se com grandes encontros, loucuras mil e um pouco do melhor da música brasileira (de então e de sempre).


quase impossível conceber uma gravadora (que mais tarde se transformaria na philips e depois em universal) com um elenco absurdamente excelente como esse. e dá-lhe ronnie von, hermeto pascoal, nara leão, mpb-4, odair josé, jair rodrigues, wilson simonal, maria bethânia, gal costa, dominguinhos, toquinho, vinicius de moraes, caetano veloso (pirando progressivamente em "a volta da asa branca", afinal o baiano estava em sua fase araçá azul), jorge ben (suingando loucamente ainda no violão e também com gilberto gil em "jazz potatoes", por exemplo), raul seixas (em performance endiabrada), elis regina (toda em ritmo de tango), sérgio sampaio (sensualizando "eu quero é botar meu bloco na rua"), chico buarque e gilberto gil (que fazem a mais radical versão de "cálice", com direito a microfone de chico cortado pela censura dos milicos, a letra trocada, o escambau).

sábado, 18 de fevereiro de 2012

caetano por ivan cardoso

pouco antes de sair pro retiro carnavalesco, naquela última olhadinha no facebook, vejo que o mano ricardo tacioli (gafieiras) postou um lance e avisou: "segure-se na poltrona! ensaio fotográfico do araçá azul (1972)!". e lá estavam 44 fotos tiradas (e disponibilizadas) por ivan cardoso em uma sessão que resultaria nas fotos de capa, contra-capa e encarte do disco mais experimental de caetano veloso. descompromissadas, cruas e muito boas, as fotos de ivan registram caetano na magreza de seus 30 anos numa praia que não faço ideia qual seja (é na bahia, perto de salvador, com certeza). naquela época ivan cardoso era mais fotógrafo - tanto que tinha feito capa de disco da gal (a todo vapor) e mais tarde faria jorge mautner (pra iluminar a cidade), walter franco (respire fundo) e zé ramalho (a peleja do diabo com o dono do céu) -, mas já engatinhava como cineasta (em 1970 tinha feito o curta nosferatu no brasil, estrelando torquato neto). enfim, separei aqui 8 das 44. então, segure-se na poltrona!









e se você já ouviu araçá azul - que não coincidentemente marca o retorno dolorido ao brasil após o exílio em londres - vale saber mais histórias desse disco fundamental. aqui embaixo tem as duas partes do programa som do vinil (canal brasil) sobre o álbum. se não ouviu, bem, ouça.



quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

yahoo #28

ontem rolou coluna nova ("arte que desmancha no ar") sobre o fim de um dos maiores e mais bacanas murais feitos pelos osgêmeos lá no vale do anhangabaú. então aqui vamos com o texto anterior, "eu vou 'popotizar' você", no qual tratei de um vício televisivo recente, o canal off, e sua mistura imbatível de ação/esportes radicais, ótimas filmagens e paisagens de tirar o chapéu do fôlego.


EU VOU “POPOTIZAR” VOCÊ

Gosto de muitas coisas na TV, detesto outras tantas, e não importa se é aberta ou paga, mas sempre tive um fascínio especial pelo caráter hipnotizante de certos programas, geralmente os que tratam de natureza. Ironia ou não, sou do tipo urbano, muito urbano, pé no asfalto selvagem. Acampei uma só vez na vida (e foi a trabalho), tenho medo de altura, nado mal, não como insetos, enfim, uma lástima. E mesmo assim lá ficava eu, olhão aberto, perdido na savana africana em algum programa do Discovery Channel ou babando na gravata (força de expressão, não tenho gravata) por causa de alguma família de tigres em Bandipur no Animal Planet. Na TV aberta o que me pegava era o Repórter Eco, na TV Cultura. Porém nunca, jamais, o Globo Repórter e suas pautas preguiçosas e/ou requentadas.

Virou uma droga esse negócio, vício brabo, e como todo vício chega uma hora no qual ou você precisa de doses maiores ou então muda de entorpecente (essa palavra, aliás, define bem a sensação de contemplar a vida natural, seus tempos e comportamentos, numa tela de TV). É porque a produção do Animal Planet e Discovery começou a ficar repetitiva nesse quesito ou então foi loteando sua grade para atrações com algum espertinho indo a lugares remotos para atormentar animais (claro que, em suas arrogâncias, alguns defensores de animais não acham que atormentam).


Daí que um amigo disse: “Já tentou o Off?”. Já tinha ouvido falar do canal que estreou em dezembro em pacotes de alta definição (527 na Net, 238 na Sky e 538 Via Embratel), mas não, não havia tentado. Fui lá e batata! Paixão à primeira vista. Lá estava novamente a natureza, mas dessa vez acompanhada de ação, muita ação esportiva. E dá-lhe surf, skate, snowboard, alpinismo, ski, base jump, caiaque e o que mais você imaginar de esportes radicais nos lugares mais diversos e lindos desse mundão, alternando boas produções nacionais e material trazido de fora.

A programação do Off acabou funcionando da mesma forma que os do Animal Planet e Discovery. Era um jeito de “fazer” algo que, na vida real, jamais teria coragem ou habilidade (andei um pouco de skate quando criança e só). Claro que existe essa sensação de segurança de estar em casa enquanto o bicho pega lá fora, mas acho que o que mais me estimula nesse escapismo é o fato dessa realidade ser muito diferente da minha. Esse é o fascínio (tanto que já escrevi sobre boxe para a Monet e sobre futebol americano para a Piauí).

E tudo é muito bem filmado, editado e quase sempre tem uma trilha bacana ou que, pelo menos, casa direitinho com as imagens, além de personagens interessantes. Então lá se foram horas e horas, quase sempre na madrugada, hipnotizado por malucos descendo montanhas a uma velocidade assustadora ou enfrentando ondas gigantes. Por outro lado, como o Off é recém-nascido, os programas e as vinhetas se repetem com bastante frequência, o que acaba aborrecendo viciados como este que vos escreve. Mas não há de ser nada, tenho paciência e surpresas sempre acabam pintando. Agora é torcer para que o canal não fique muito tempo nesses pacotes limitados e que mais gente possa vê-lo (é o que também desejo com fervor para o Canal Brasil, um dos melhores canais da TV brasileira). E que também não se transforme em um Multishow com sua infinidade de programas com cariocas (só cariocas) viajando pelo mundo. Nosso planeta é maior que isso.


p.s.: quem tem menos de 30 anos talvez não saiba o que significa “popotizar”. É uma brincadeira com “hipnotizar”, claro, mas foi criada por Renato Aragão nos tempos áureos d’Os Trapalhões. Um dos exemplos clássicos do “eu vou ‘popotizar’ você” está numa divertida cena de Os Saltimbancos Trapalhões (1981).

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

blackberry, o clipe

que puxa, coloquei "samba do blackberry" da banda tono na penúltima coluna do yahoo ("o país da internet moleque") e agora me sai o clipe?! bem divertido, aliás, e com participações especiais de domenico e arto lindsay, dos que reconheci. e dá pra baixar a música gratuitamente aqui.

the horror, the horror

já escrevi um texto sobre o mulheres ricas para o yahoo ("pra que discutir com a madame?") e tenho assistido todos os episódios de um dos programas mais surreais da tv brasileira nos últimos tempos. aliás, durante cada episódio (já foram 7 dos 10) tem rolado no facebook um divertido acompanhamento online de com algumas amigas e amigos. mas olha, não estava preparado para essa iniciativa da bandeirantes: fazer máscaras carnavalescas das cinco e disponibilizá-las para download (arquivo em pdf). quer dizer, é tão bizarro que chega a ser engraçado. o toque de mestre da "produção da band" é que as máscaras são uma porcaria de mal feitas. pegaram uma foto qualquer, fizeram um tracejado para recortar e furaram os olhos das loucas. nem se preocuparam em pegar uma foto que fosse só do rosto, como em qualquer máscara que se preze. o da brunete fraccaroli então... tudo quadrado... dá uma olhada aí embaixo pra ver como elas ficaram e se você for do tipo desprendida(o) basta baixar o arquivo zipado e escolher a sua mulher rica de preferência.






domingo, 12 de fevereiro de 2012

letra/música #26

foi no vídeo de uma festa que conheci a música "carregar". quer dizer, não sabia seu nome, nem de onde vinha e quem cantava (mas as vozes eram familiares e deviam estar próximas porque a festa aconteceu em são paulo). coloquei os versos do refrão no twitter e perguntei, vai saber... não demorou nada pra ter uma resposta e logo de uma das autoras-cantoras, nada menos que lurdez da luz. era uma parceria dela, uma das melhores cantoras e rappers dos últimos tempos e figura recorrente aqui no esforçado, com marietta vital, também conhecida como massarock e a principal voz feminina da cena dub-reggae de são paulo (foi integrante dos grupos afetos e rockers control). 

coincidentemente, as duas lançaram seus excelentes discos de estreia em 2010 e entre mil e um projetos pessoais escreveram "carregar", o primeiro fruto de um projeto chamado mercúrias. a produção é do especialista victor rice (que tocou uma versão mais adubada de "carregar" naquela festa do video). música linda, política e amorosa. confere aí, letra e música.


marietta e lurdez na festa take a ride #6, dezembro de 2010

carregar
(lurdez da luz e marietta vital)

o amor não escolhe cor nem endereço 
não avalia se eu mereço ou se eu deixo a desejar
não escolhe crença, cultura, integra a gente 
mistura e no meu peito 
é o que eu quero carregar (2x)

falo por aqueles que num tem pra onde voltar
que sempre vão seguir sem saber onde vai dar
que pra longe vão ir mas nunca vão chegar
a fincar raíz em terra própria
a história tá gravada na nossa matiz, diz
atravessa a pele é tatuagem cicatriz,
raíz é pé é coração, é mente sã
é retina cristalina sem ter medo do amanhã
inevitável, inexorável, bota cimento e tijolo sobre o vento favorável
invisível é o próximo nível
rude boyz and girls de alma sensível
vão chegar lá

supercapitalismo radical ianque
capaz e perspicaz de atropelar de tanque
raízes e culturas, diversas nuances,
onde mora a origem, onde funde o sangue
amortecimento chega até a própria alma
que esqueceu sua morada de certeza e calma
sentiu quem sabe um dia o impulso, o choque,
mas hoje num arrepia quando ouve o toque

o amor não escolhe cor nem endereço
não avalia se eu mereço ou se eu deixo a desejar
não escolhe crença, cultura, integra a gente, 
mistura e no meu peito
é o que eu quero carregar

atravessa a pele é tatuagem cicatriz,
raíz é pé é coração, é mente sã
é retina cristalina sem ter medo do amanhã
inevitável, inexorável, bota cimento e tijolo sobre o vento favorável
invisível é o próximo nível
rude boyz and girls de alma sensível
vão chegar lá

o amor não escolhe cor nem endereço
não avalia se eu mereço ou se eu deixo a desejar
não escolhe crença, cultura, integra a gente, 
mistura e no meu peito
é o que eu quero carregar (2x)

marietta e lurdez, as mercúrias, em 2014

atualização em 20 de abril de 2015: sim, três anos depois dessa postagem saiu finalmente uma versão oficial dessa lindeza permanentemente atual e agora acompanhada de uma versão instrumental adubada por victor rice.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

com vocês, the skints

são quatro ingleses. três homens, uma mulher. um disco na bagagem (mais um ep e alguns singles) que já tem uns três anos. o próximo será lançado entre março e abril e foi financiado no sistema de crowdfunding em apenas 11 dias. o som é reggae, rock, dub, ska, punk e, mais recentemente, algo de eletrônico (e com um senso pop bem interessante, natural e despreocupado). puta som redondo esse do the skints (algo como 'os pobretões' ou 'os pé rapado'), com muito carinho pelo passado do reggae (que é inegavelmente o motor de tudo), mas sem jamais cair na armadilha do respeito à tradição. marcia richards é uma baita cantora, voz linda e ela idem, e ainda por cima se desdobra em teclados, sax, melódica, flauta e guitarra/violão. o ótimo guitarrista joshua water rudge parece que saiu direto do tempo dos rudeboys ou foi integrante do the specials e é outro cantor/vocalista da banda, além de ser quem mais fala em entrevistas (uma ótima aqui, em video). jonathan doyle é o baixista e baixista que é baixista quase não fala e detona. o baterista jamie kyriakides é muito bom, mas arriscaria dizer que ele é melhor cantor. que voz a desse cara! mas antes, a capa do disco de estréia, live.breathe.build.believe (lançado pela rebel alliance em 2009 e relançado pela bomber music em 2010).




sem mais delongas, os skints começam informal e acusticamente com música própria ("can't take no more").





nessa mesma seção eles fizeram um cover de "ah it mek" (ou "it mek"), um dos muitos clássicos de desmond dekker (a original, que é de 1969, tá aqui).





ainda informalmente, mas em outro pico, três dos quatro (onde estava o baixista de novo?) fizeram esse outro ótimo cover. dessa vez foi dennis brown e sua "lips of wine", outras dessas lindas canções jamaicanas soul do final dos anos 1960 (original aqui).





hora de estúdio, efeitos e outro cover. "on a mission" vem de "katy on a mission", sucessão britânico de 2010 lançado por katy b. originalmente é um dubstep mais pop produzido pelo especialista benga (aqui ó) e com os skints virou um dub acelerado de chorar. marcia richards cantando muito.





e pra encerrar essa apresentação, "ratatat", outra composição própria e acho que o primeiro clipe deles. já é uma das músicas do novo disco, part & parcel. dá pra sentir que tem um peso eletrônico vindo por aí, achei bem bom.




é isso, outra banda da hora pra ficar no radar. outra dica certeira do mano @OgaMendonca.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

nessa montanha russa...

enquanto o segundo disco da tulipa ruiz não chega - tá prometido pra esse ano com patrocínio natura - cai na rede o clipe de "sushi", música de efêmera (yb music, 2010). a direção é da atriz leandra leal e conta com a participação do casal de atores tainá muller e júlio andrade. ficou bonito (e olha que não é uma das minhas preferidas do disco).



Sushi- Clip Tulipa Ruiz from rival+tarde on Vimeo

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

yahoo #27

vamos lá, hoje é quarta, dia de coluna nova no yahoo. a bola da vez é "eu vou 'popotizar' você", sobre meu mais novo vício televisivo, o canal off e sua hipnotizante mistura de natureza e esportes radicais. aqui é a vez da anterior, "o país da internet moleque", uma ligeira reflexão sobre a frutífera relação dos brasileiros com os tumblrs (pedro, o troll, apareceu mais uma vez despejando seu ódio-amor). no mais, o luto abaixo é por causa do grande wando, levado por uma parada cardíaca (só podia ser o coração mesmo). semana passada, quando se submeteu a uma série de cirurgias e já estava mal de saúde, um tumblr de calcinhas foi criado pra dar uma força e é um dos citados no texto. hoje de manhã, elas (as calcinhas e suas donas), o esforçado e todos que gostam da música popular brasileira acordamos mais tristes. e que viva wando, um artista muito maior que fogo e paixão.

LUTO

O PAÍS DA INTERNET MOLEQUE

O nome cheio de consoantes é difícil de falar, ainda mais numa língua repleta de vogais como a nossa: tumblr. Mas pelo jeito os brasileiros não se importam muito com esse obstáculo, afinal o negócio é estar na internet como se não houvesse amanhã. Segundo reportagem no caderno Link do Estadão, o Brasil hoje em dia é o segundo país que mais utiliza o tumblr, perdendo apenas para os Estados Unidos. Já são 4 milhões de páginas criadas por aqui, com usuários muito mais ativos (ficam 32 minutos a cada visita sendo que a média global é de 23 minutos) e que acessam 2 bilhões de páginas do serviço por  mês (em junho do ano passado eram 313 milhões). Uma baita atividade.

Criado em 2007 por David Karp, hoje com 24 anos, o tumblr é um blog para, digamos assim, preguiçosos. Gente que não se sente à vontade, ou não gosta, de escrever, por exemplo. Basta colocar uma imagem ou um vídeo e pronto, tá feito. O restante fica por conta de uma interface simples que permite compartilhamento instantâneo em várias redes sociais e entre tumblrs. O negócio de Karp demorou uns dois anos para pegar nos Estados Unidos e em 2010 começou a se espalhar como rastilho de pólvora por essas bandas. E é fácil de entender porque deu certo: o nosso bom e velho espírito de galhofa.

Bastou surgir uma notícia mais ou menos bizarra, algum acontecimento político ou uma personalidade em destaque que o pessoal rapidamente cria um tumblr para fazer piada. Obviamente, grande parte desse conteúdo tem vida curta, afinal a notícia quente de hoje é coisa velha amanhã (em outras palavras, “jornal ou revista, o destino é limpar bunda ou enrolar peixe”, como canta João do Morro na música “Lado B do jornalista”). Mas o que importa, nesses casos fogo de palha, é a crônica debochada da “notícia”. Como uma charge, exatamente como uma charge.


Vamos então a alguns exemplos de tumblrs intensos, breves e nacionais que pipocaram na rede nos últimos tempos: Lavei pro Wando (fotos de calcinhas para dar força ao cantor que está se recuperando de uma complicada cirurgia cardíaca), Siga Piovani (uma coletânea de impagáveis tweets trocados entre a atriz Luana Piovani e seus seguidores), Criminals Taking Advantage of the Situation (uma crítica à infeliz declaração da ex-vereadora Soninha Francine sobre os moradores expulsos do bairro Pinheirinho, em São José dos Campos), Paulo Goulart Anuncia Isso Bem (uma brincadeira com o ator veterano que participa de muitas propagandas) e, claro, Menos Luisa, que está no Canadá (sobre vocês sabem quem, ou não, deixa pra lá). É isso, nem um destes durará mais que algumas semanas e provavelmente nem era intenção. Se a piada funcionou em seu tempo a missão foi cumprida.

No entanto, existem outros tumblrs que possuem conceito mais amplo e que podem muito bem ter uma vida mais longa (basta o usuário seguir atualizando). Entre milhares destacam-se Classe Média Sofre (coletânea hilariante do pensamento torto da classe média brasileira), Galeria Tosquista (uma compilação das artes mais mal acabadas encontradas na internet), Indie ou Sertanejo (piada sobre as camisas xadrez usadas tanto por indies quanto por sertanejos), Esse Dia Foi Foda (uma lembrança de momentos especiais), Renato Era Chato (tirinhas que debocham, mas com muito respeito, a poesia de Renato Russo), Racionais Para Tudo (uma prova viva e com imagens de que os versos dos Racionais MCs cabem em qualquer situação), Já Sei Namorar (letras de pagode de um lado, imagens malucas de outro), Porra Google Street View BR (registro de flagras improváveis nas ruas brasileiras), Blog de Notícias (intervenções humorísticas nas homes dos grandes portais), Princesas do Busão (título auto-explicativo), Pobregram (versão esculhambada do Instagram, filtro do iPhone que deixa as fotos com um jeitinho bacanudo) e 501 Pagodes Para Ouvir Antes de Morrer (outro título auto-explicativo e mesmo que um limite temporal seja imposto, essa série “501 alguma coisa” é interminável).

Tem de tudo um pouco por aí, mas a picardia é o denominador comum, afinal como humoristas natos que somos (ou achamos ser) perdemos seguidores, mas não a piada.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

profissão? ser outro

taí o primeiro perfil que fiz nessa minha volta ao maravilhoso mundo do jornalismo freelancer: o ator caco ciocler para a revista voetrip. a entrevista rolou em sua própria residência, em são paulo, e durou pouco mais de uma hora. ótimo quando temos tempo, maravilha quando podemos nos perder entre um assunto e outro. a deixa era o lançamento nos cinemas do longa dois coelhos (que, infelizmente, ainda não assisti) e a estreia de seu monólogo adaptado do conto a construção, de franz kafka (é a sua primeira produção no teatro, a partir do dia 10, no sesc pompéia). e pouco antes da entrevista em si rolaram as fotos sob o comando de kiko ferrite, amigo dos tempos da sociais na usp e a primeira pessoa com quem trabalhei, lá em 1999, como assistente de fotógrafo (fazia um tempão que não nos encontrávamos). gente finíssima e grande fotógrafo. no mais, o texto que segue é a versão original, um terço maior da que mandei pra revista.


UM HOMEM DE SORTE


Elogiado pela crítica e querido pelo público, o ator Caco Ciocler revê sua trajetória enquanto encara novos desafios no cinema, o filme de ação Dois Coelhos, e no teatro, o monólogo A Construção


Por muito pouco a carreira de Caco Ciocler não virou outra coisa. Hoje, aos 40 anos, consagrado no teatro, cinema e televisão, o ator sabe que alguns dos trabalhos-chave que fez só aconteceram por coincidências muito loucas do destino. Não sabe explicar a razão, mas agradece. Todos os dias. “Tenho muita sorte. Quer dizer, não sei se é sorte ou se é projeção desse meu plano interno, mas uma coisa foi levando a outra. Alguém me via em um trabalho e me chamava para outro”, relembrou no sofá de sua sala de TV. Durante pouco mais de uma hora de conversa, o paulistano foi listando uma série de encontros que mudaram sua vida, causo a causo. Um pouco de tudo que o fez chegar até aqui.


Judeu de família tradicional, Carlos Alberto Ciocler começou a brincar de atuar na pré-adolescência, mas dos 11 aos 15 anos, o teatro era apenas mais uma das muitas atividades do fim de semana. Disciplinado, o garoto ainda dividia seu tempo com futebol, atletismo, natação e dança folclórica. No entanto, o tablado começou a ocupar mais tempo no sábado, depois no domingo e logo até os dias de semana tinham alguma tarefa. “O teatro na Hebraica era um teatro de formação. Não era uma coisa de montar peças. A peça era uma consequência do trabalho”, e diz que apesar do fascínio por atuar nem passava pela sua cabeça de garoto abraçar o ofício profissionalmente.


De uma forma ou de outra, seguiu atuando e trabalhando em outras funções na escola de teatro da Hebraica até receber um convite para protagonizar uma montagem de Equus [peça de Peter Shaffer]. Tinha 17 anos. “Quem me chamou foi o Moisés Miastkwosky... ele sempre reclama que o nome dele não aparece nas entrevistas, mas também, com um sobrenome difícil desses... enfim, era uma peça muito forte e o personagem também tinha a minha idade. Só sei que ocorreu ali uma catarse qualquer que vi que algo estava acontecendo comigo. E ainda tive a sorte de ter a presença de um crítico da Veja.” Essa foi a primeira coincidência-sorte da carreira de Ciocler, afinal o jornalista ia assistir uma peça com Antônio Fagundes no teatro ao lado. Mas chegou atrasado, e como Fagundes não deixa ninguém entrar após o terceiro sinal, ele foi ver a montagem amadora de Equus. “Saiu uma notinha elogiando a peça e falando pra prestarem atenção no menino Caco Ciocler”, diverte-se o homem Caco Ciocler.


Mas essa notinha não era sólida o bastante para lutar contra pressões familiares e quando completou 18 anos, Ciocler entrou em Engenharia Química na USP. Seria uma outra vida, nada disso de fingir ser outras pessoas. Então veio um novo convite transformador: participar da montagem do musical Um Violinista no Telhado com a participação de não-atores da comunidade judaica de São Paulo. “Durante a temporada, isso em 1993, a [atriz] Riva Nimitz faleceu e o salário dela veio pra mim. Foi a primeira vez que ganhei dinheiro fazendo teatro. Coincidência ou não, o diretor da peça, o Iacov Hillel, também era diretor da Escola de Arte Dramática, e ficou me estimulando a entrar na escola.” No ano seguinte, Ciocler entrou na EAD e durante algum tempo conseguiu manter os dois cursos, mas aí veio 1995 e bagunçou tudo em sua vida.


Vieram as duas primeiras peças profissionais, ambas infantis, e numa delas conheceu e começou a namorar a atriz Lavínia Lorenzon. As peças lhe deram os primeiros prêmios como ator, enquanto Lavínia engravidou de Bruno, hoje com quase 16 anos. Uma semana após saber que seria pai, Ciocler recebeu um convite para fazer um teste para o que seria sua primeira novela, O Rei do Gado (alguém da TV Globo o viu numa das infantis). “Em 1995 aconteceu tudo. Ser pai, sair de casa, constituir família, decidir o que seria profissionalmente. Foi uma época de muita tensão, ainda mais porque depois que acabou O Rei do Gado não fui contratado”, mas volta a falar de sorte, pois as peças infantis que geraram toda essa história eram produções do Sesi, o que garantiu carteira assinada para o jovem casal de atores sem nada nos bolsos e um plano de saúde que cobriu todo o primeiro ano do bebê (o casamento, no entanto, não durou muito).


“Não, não foi natural fazer novela. Nem foi relaxado. Hoje tenho plena consciência disso. Não tinha noção alguma, nunca tinha feito televisão. Não foi natural me ver pela primeira vez. Mas fazia parte de um projeto de vida que tinha que dar certo”, e tinha mesmo porque a família de Ciocler não gostou nada dessa história do caçula com uma não-judia e a relação ficou estremecida por anos.


Nessa correria de começo de carreira, Ciocler lembra que foi Herval Rossano, veterano diretor de TV, que fez com que, pouco mais tarde, a Globo lhe oferecesse o primeiro contrato de três anos. Lembra também de alguns episódios do programa Você Decide, umas peças de teatro, aulas, nada de cinema, e uma sensação de que as coisas não iam para frente. Então, nova virada do destino em 1999: “A Denise Saraceni estava vendo os testes de maquiagem de O Rei do Gado para um novo trabalho e me viu passando no corredor. Disse que ficou pensando de onde me conhecia e quando lembrou que era da novela me chamou para fazer o Bento Coutinho na minissérie A Muralha. E esse foi personagem que me lançou. A partir dele tudo mudou. Também foi uma sorte.”


Mais ou menos na mesma época, a atriz Maria Zilda Bethlem estava produzindo um longa, Minha Vida em Suas Mãos, e ainda não tinha o protagonista. Uma certa noite sonhou com o nome ‘Caco Ciocler’, acordou com esse nome na cabeça, mas não sabia quem era. Saiu perguntando para amigos que acabaram por lhe dizer que era um ator que estava no ar em A Muralha. Começou então a assistir a minissérie e teve certeza que seu protagonista estava ali. “Pelo menos foi essa história que ela me contou”, e dá uma risada. Minha Vida em Suas Mãos foi seu primeiro longa a chegar aos cinemas e pouco depois saiu Bicho de Sete Cabeças, de Laís Bodanzky, cujo convite veio até antes, mas que acabou sendo lançado posteriormente. Pronto, Caco Ciocler já podia se orgulhar de trabalhar em teatro, televisão e cinema. A partir daí tudo começou a andar mais rápido.


Vieram novelas como Chocolate com Pimenta, América, Páginas da Vida, Duas Caras e Caminho das Índias; as minisséries Quinto dos Infernos, JK e A Cura; e filmes como Desmundo, Olga, Quase Dois Irmãos, Quanto Valeu ou é por Quilo? e Sexo, Amor e Traição. E teatro sempre, obviamente. “Aprendi com o tempo a ter prazer na TV e cinema. Isso demorou um pouco. Sofria pra fazer televisão no começo, sofria muito pra fazer cinema. Sofria no sentido de ingenuidade mesmo. Porque na minha escola, que era do teatro, tinha essa história do processo, né? A televisão não tem esse tempo. Por outro lado, aprendi a exercitar rapidez de raciocínio e como você consegue se ver dá tempo de consertar uma coisa ou outra.”


montagem caseira das páginas da reportagem na voetrip de fevereiro


E então, depois de tudo isso e agora nesse início de 2012, o ator só tem cabeça para duas coisas: o lançamento do longa Dois Coelhos, filme de estreia do diretor Afonso Poyart, e a estreia em São Paulo do monólogo A Construção, baseado em conto de Franz Kafka e sua primeira produção em teatro. Fora isso, Ciocler cita dois filmes já prontos (Meu Pé de Laranja Lima e Disparos), dois que serão filmados ainda esse ano (De Menor e o novo de José Eduardo Belmonte, ainda sem título), e um negócio fora dos palcos e estúdios, o restaurante Biondi, no qual é sócio com o cunhado Bruno Previato (Ciocler está casado há quatro anos com a vídeo-artista Marina Previato). Enfim, muita coisa na cabeça.


“O que me cativou no Afonso foi que ele é muito cheio de paixão, de uma ingenuidade gostosa. Gosto de fazer filmes de diretores estreantes porque encontro essa possibilidade de um diálogo maior. Odeio quem vem com filme pronto na cabeça, desenhadinho. E o roteiro era muito interessante, exigia uma atenção, uma participação do leitor. Não era um roteiro passivo. É um filme que exige uma não-passividade do público. Se o público ficar comendo pipoca não vai entender. Gosto disso”, diz sobre Dois Coelhos de ação com muito tiroteiro, efeitos especiais, traições e um clima pop raro de se ver no cinema brasileiro. No filme, ao lado de Ciocler, também estão Alessandra Negrini, Fernando Alves Pinto e Marat Descartes.


A Construção não poderia ser mais diferente. “Foi na análise, uns três anos atrás, que descobri esse texto do Kafka. Eu estava trabalhando há tempos em um assunto íntimo e meu analista me indicou o texto. Fiquei louco.” A princípio pensou em adaptá-lo para cinema, mas a tarefa pareceu impossível. Depois pensou em unir teatro e cinema com ajuda do amigo, também diretor e ator, Gero Camilo, mas as agendas não bateram. Então pensou em Roberto Alvim que o havia dirigido em outro monólogo, 45 Minutos. “A Construção é a história de um bicho, uma toupeira, de um rato, ninguém sabe direito o que é, e que vive em um buraco cavando alguma coisa. Eu faço o Kafka no escritório no momento em que está escrevendo A Construção. A criação desse texto é a própria metamorfose do Kafka nessa criatura. Acho que a gente acertou nessa escolha.”

De todo esse caminho, de tudo que fez de certo e errado, Ciocler aprendeu, com ajuda da análise, que era preciso “deixar de atender a demandas alheias. Não tenho mais que me preocupar com a construção de uma carreira. Estou tranquilo. E isso é muito gostoso.” Volta então a pensar em A Contrução, trabalho que cada vez mais parece ter sido feito sob encomenda para esse momento do ator. “O fato de estar sozinho no palco é também um sinal de maturidade, estou chamando pra mim a responsabilidade do risco. É um tremendo salto no abismo e é o que me restava fazer. Pode dar errado, posso me esbotecar... não sei se existe essa palavra [risos]... posso me esborrachar no chão, mas o salto já valeu a pena.”


e alguns instântaneos dos bastidores da sessão de fotos

nelson rodrigues não descansa em paz

e sabe por que? porque a certa altura do video abaixo ele diz, dramático como um chicabom derretendo no verão, "o morto esquecido é o único que realmente descansa em paz". e ele não foi esquecido, felizmente (pra nós) jamais será, ainda mais agora com a descoberta desse documentário de 1968 antes considerado perdido. olhem só a descrição: "trechos do filme fragmentos de dois escritores, com nelson rodrigues. este filme, bastante raro, foi feito pelo dramaturgo joão bethencourt (que chegou a lamentar que o filme estivesse perdido), patrocinado pelo consulado dos eua. joão entrevistou nelson e o dramaturgo norte-americano edward albee [quem tem medo de virginia woolf?]. depoimento e cenas de nelson rodrigues tomando o famoso mingau contra a úlcera, escrevendo, assistindo pelé no maracanã e gravando a mesa-redonda sobre futebol na tv a grande revista esportiva facit. a versão integral foi localizada no arquivo nacional dos eua por carlos fico e será divulgada em breve pelo brasil recente". fiquei sabendo pela fernanda ezabella (@ferezabella).

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

+ 2 resenhas

dois livros que saíram no final do ano passado acabaram se transformando nas minhas primeiras colaborações para o site da +soma. fazia um tempo que não escrevia resenhas grandes assim e foi divertido voltar a esse batente, ainda mais com dois livros da pesada: tóquio proibida, de jake adelstein, e quando meu pai se encontrou com o et fazia um dia quente, de lourenço mutarelli. saca só.


adelstein-san e sua obra

TÓQUIO PROIBIDA (Cia. das Letras) 


“Aqui é Kabukicho, não é Pokemon”. Mais que uma paródia, esse verso tungado dos Racionais serve como uma rápida descrição de uma das áreas mais criminalmente ativas da cidade de Tóquio. Principalmente durante a segunda metade da década de 1990 e começo dos anos 2000, época no qual o jornalista Jake Adelstein andou por lá como repórter policial para o Yomiuri Shimbun. Judeu e norte-americano, Adelstein foi o primeiro estrangeiro a trabalhar em um grande jornal japonês (e escrevendo na língua nativa) e sua experiência pelo submundo do país, entre 1993 e 2005, lhe deu a munição pesada para escrever Tóquio Proibida.


Lançado originalmente em 2009, o livro é uma revisão cronológica de tudo que o jornalista viu, ouviu e sentiu nesses muitos anos por algumas das quebradas mais estranhas do Japão. Escrito de forma direta, sem firulas, e com uma sinceridade suicida, Tóquio Proibida trata não apenas de casos como roubos de caixas eletrônicos, assassinatos seriais, pornografia, tráfico de pessoas, extorsão e lavagem de dinheiro, mas principalmente das complexas relações entre a imprensa e a polícia, a polícia e a Yakuza (a lendária máfia nipônica), e a Yakuza e o poder público. Tudo se mistura em um perigoso e subterrâneo caleidoscópio poucas vezes testemunhado por estrangeiros e até pelos próprios japoneses. Não existe certo ou errado, só existe o que é.


Porém, quando Adelstein começou a trabalhar em 1999 na área de Kabukicho, conhecida por suas boates e casas de prostituição, e soube de um intenso tráfico de mulheres, principalmente do Leste Europeu, sua objetividade jornalística foi para o beleléu (e ele mesmo assume que aí começou sua derrocada como profissional no país). Sim, ele se envolveu pessoalmente na pauta e acabou, sem querer, descobrindo o segredo de um famoso chefe yakuza (Tadamasa Goto) que pôs sua vida em risco e o obrigou a voltar aos Estados Unidos com sua mulher e dois filhos.


Ele logo viu que era preciso escrever o mais rapidamente possível toda a história que sabia. Jogar tudo no ventilador. Aí ele se tornaria um alvo importante demais para que sua morte não chamasse atenção. Sem entregar muito dessa parte crucial da trama é possível dizer que envolve um transplante de fígado nos Estados Unidos e um acordo com o FBI. Durante esse processo ainda conseguiu uma confissão de que o suicídio do cineasta Juzo Itami em 1997 pode ter sido forjado por capangas de Goto. Itami, de sucessos nos anos 1980 como Tampopo - Os Brutos Também Comem Spaghetti, já tinha sido espancado e tido o rosto retalhado por homens do chefão pouco antes da estreia, em 1992, de Yakuza - A Arte da Extorsão, uma comédia que satirizava os mafiosos.


Apaixonado e imerso na cultura japonesa desde a adolescência, Adelstein sabe que a culpa judaica impressa em seu DNA, entre outras coisas como a própria cara, sempre lhe colocam na posição de estrangeiro. Procura não esconder isso no texto e invariavelmente o faz com bastante humor. No entanto, ao final, moído pela falta de ressonância de suas denúncias acaba deixando transparecer certo travo amargo na boca. Nossos amores podem ser muito destrutivos, não é mesmo, Adelstein-san?


Mais informações sobre o trabalho de Jake Adelstein no site Japan Subculture Research Center.




QUANDO MEU PAI SE ENCONTROU COM O ET FAZIA UM DIA QUENTE (Quadrinhos na Cia.)


Foi com agradável surpresa que lá pelos meados dos anos 2000 descobrimos que Lourenço Mutarelli era mais que um dos melhores desenhistas da história brasileira. Vieram romances como Jesus Kid e Miguel e os Demônios, adaptações cinematográficas de seus livros O Cheiro do Ralo e O Natimorto, trabalhos como ator, peças para teatro, etc. Mas quem é fã mesmo gosta de vê-lo desenhar e, fora uma curta série feita para o Estadão (Ensaio Sobre a Bobeira), seu último trabalho na área tinha sido Caixa de Areia, de 2005. 


Agora, com o lançamento de Quando Meu Pai se Encontrou com o ET Fazia um Dia Quente, é possível acalmar a ansiedade. Pelo menos momentaneamente. É que Mutarelli já deixou claro que desenhar tem dado mais trabalho que nunca, ainda mais com o nível de rebuscamento que chegou a partir da trilogia-em-quatro-livros O Dobro de Cinco, e isso lhe causava uma angústia extrema.


Mas o atual livro não é bem uma história em quadrinhos no esquema clássico e está mais para uma sequência de ilustrações de página inteira. A outra diferença para a grande maioria de seus trabalhos é que este foi feito em cores e com tinta acrílica. O resultado é de encher os olhos. Mutarelli está desenhando melhor que nunca, é uma coisa assustadora de ver (no que isso tem de bom, claro), e seu uso de cores surpreende em cada textura de todas as 91 páginas ilustradas do livro.


E para compensar tudo o que escreveu, só escreveu, nesses 6 ou 7 anos, a história do livro é contada com uma invejável economia de palavras. Ou uma fartura reveladora de silêncios, o que preferir. O protagonista é o triste pai-com-cara-de-William-Burroughs do narrador. Homem que perdeu a mulher em um acidente sem sentido, mistura fotos antigas da família com de desconhecidos, desmonta máquinas de escrever, se perde, vê um ET e é colocado em um asilo. E existe o narrador que não entende o que está acontecendo e, no fundo, não quer saber de coisa alguma sobre esse pai triste. Seria humanizá-lo, e o negócio é ir em frente, sempre em frente (pra onde ele também não sabe, nem pensa nisso).


O clima, como era de se esperar, é melancólico, mas tem algo mais. Quer dizer, menos. O texto está enxuto no osso, bem diferente de seus livros de quadrinhos, deixando o sentimentalismo torturado & punk de Mutarelli abrir mais espaço para o leitor fazer suas próprias associações entre texto e imagem. Ainda mais com um sutil embaralhamento de idas e vindas no tempo.


Mas o paulistano não seria o autor que é sem um tanto de seu humor surreal. No livro isso acontece na participação decisiva de dois personagens, com as caras do dramaturgo Mário Bortolotto e do ator Paulo de Tharso (amigos e parceiros de Mutarelli no teatro), dentro de um barco atolado no leito seco de um rio. 


Diferente de seus quadrinhos anteriores e também dos livros, Quando Meu Pai se Encontrou com o ET... pode ser o começo de uma nova fase ou então uma ponte, ou um esboço, para outra mais nova ainda e igualmente diferente. Ou pode ser apenas mais um livro de Mutarelli, e tão belo e triste quanto tudo de melhor que já fez. É isso que importa. Ir em frente. 


domingo, 5 de fevereiro de 2012

domingueira

foi lá no original pinheiros style que fiquei sabendo que o francês blundetto tinha soltado uma mixtape com pouco mais de 55 minutos repletos de lindos sons jamaicanos. também estão presentes algumas composições do produtor, como por exemplo um remix adubado da sensacional "voices", gravada originalmente em bad bad things (heavenly sweetness, 2010), e a novíssima "warm my soul", faixa que dá título ao segundo disco que está prestes a sair (o mais aguardado do ano pela diretoria). dá para ouvir tudo abaixo e no mesmo player é possível baixar a mixtape.




Voices Of Jamaïca by heavenlysweetness


intro with don camillo
"warm my soul" – blundetto with courtney john
"love" – junior delahaye 
"i’m the one to blame" – john holt
"you just got to be in love" – boris gardiner
"lonely soldier" – gregory isaacs
"the race" – the gladiators
"mongo walk" – the in crowd
"you’re not good" – ken boothe
"won’t come easy" – seeny & the wailers
"be thankful" – donovan carlos
"lucky man" – courtney john
"we people"  –  nicky thomas
"when the lights are low [blundedit] " – joya landis
"mr. wind" – ken boothe
"reform institue [version]" – gregory isaacs
"adis abab" – wackies all stars
"rocky road" – blundetto dubplate with don camilo
"voices [re-dub-a-dub]" – blundetto with hindi zahra


e ouça e veja aqui um video promocional de warm my soul (heavenly sweetness, 2012). certeza que será um dos melhores do ano.





e, para finalizar, mais duas músicas do disco que já estão rodando por aí: "hercules" [cover de aaron neville, participações de hugh coltman e shawn lee] e "rocroy" [participação dos metais da banda akalé wubé].








atualização em 7 de fevereiro de 2012: o selo heavenly sweetness disponibilizou duas novas músicas de warm my soul, a afrobeat "crowded places" [outra com participação dos metais da akalé wubé] e "it's all about" [com aqeel].





atualização em 12 de fevereiro: mais quatro músicas de warm my soul, incluindo a faixa-título que antes estava apenas na mixtape acima. linda demais essa "warm my soul" e seu vocal derramado de courtney john (achei essa música tão bonita que me deu aquela impressão que ela sempre existiu). já "i'll be home later" é outra música com participação da metaleira da akalé wubé, enquanto "final goodbye" traz a lenda do skate e músico de mão cheia e carreira sólida tommy guerrero e "treat me like that" marca outra colaboração com courtney john.













caramba, foi só atualizar o post com essas quatro músicas que blundetto jogou outra na rede. mais eletrônica, "walk away now" tem participação de jaddan blakkamoore.





atualização em 16 de fevereiro: hora das faixas 10 e 11 do disco, a instrumental soul "since you've been gone" e uma versão dub toda climática de "hercules".





sábado, 4 de fevereiro de 2012

cinema em neon

michael whaite, ou @MrWhaite, é um ilustrador, animador e designer gráfico de manchester, inglaterra. oito meses atrás ele começou a misturar neon com outra de suas paixões, o cinema, e daí surgiram gifs animados sensacionais. dentre os muitos que já fez escolhi meus preferidos, mas em seu tumblr existem ainda de volta para o futuro, os caça-fantasmas, star wars, this is spinal tap, a origem, capitão américa, king kong, jurassic park e superman.


pacto sinistro (1951), de alfred hitchcock

It’s the Wimbledon finals this weekend, so I thought this would be a suitable neon poster to mark the occasion. It’s the creepy scene from Strangers on a Train where Guy Haines (Farley Granger) is being stalked by Robert Walker’s murderous Bruno.</p><p>At a tennis match the crowd watch the ball play back and forth while Bruno remains motionless, staring menacingly across the court at Guy.</p><p>A classic Hitchcock moment - can you spot him in the crowd?

intriga internacional (1959), de alfred hitchcock

North By Northwest in neon.

psicose (1960), de alfred hitchcock

neon movie poster

o iluminado (1980), de stanley kubrick

A neon poster for The Shining.

tubarão (1975), de steven spielberg

Jaws was released 36 years ago today and I still won’t get back in the water.</p><p>For this design, I initially tried animating the classic Jaws poster with the swimmer and shark. Unfortunately it looked like the girl was swimming on the spot and the shark was chewing gum - not very menacing!</p><p>Instead, I’ve gone for a pair of shapely female legs treading water - it evokes a sleazy strip-club neon sign but with added danger. Also, the ripples are a neat link to the previous Spielberg neon poster, Jurassic Park. 

batman (1989), de tim burton

neon movie poster

os fantasmas se divertem (1988), de tim burton

A neon poster for Beetlejuice. Beetlejuice. BEETLEJUICE!

as grandes aventuras de pee-wee (1985), de tim burton

A neon poster for Pee-wee’s Big Adventure. Tequila! http://youtu.be/BodXwAYeTfM

o pecado mora ao lado (1955), de billy wilder

A neon poster for The Seven Year Itch.

pulp fiction (1994), de quentin tarantino

neon movie poster

help! (1965), de richard lester

A neon poster for HELP!</p><p>The semaphore actually spells NUJV! According to cover photographer Robert Freeman, “I had the idea of semaphore spelling out the letters HELP, but when we came to do the shot the arrangement of arms with those letters didn’t look good, so we decided to improvise and ended up with the best graphic positioning of the arms.”