quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

yahoo #28

ontem rolou coluna nova ("arte que desmancha no ar") sobre o fim de um dos maiores e mais bacanas murais feitos pelos osgêmeos lá no vale do anhangabaú. então aqui vamos com o texto anterior, "eu vou 'popotizar' você", no qual tratei de um vício televisivo recente, o canal off, e sua mistura imbatível de ação/esportes radicais, ótimas filmagens e paisagens de tirar o chapéu do fôlego.


EU VOU “POPOTIZAR” VOCÊ

Gosto de muitas coisas na TV, detesto outras tantas, e não importa se é aberta ou paga, mas sempre tive um fascínio especial pelo caráter hipnotizante de certos programas, geralmente os que tratam de natureza. Ironia ou não, sou do tipo urbano, muito urbano, pé no asfalto selvagem. Acampei uma só vez na vida (e foi a trabalho), tenho medo de altura, nado mal, não como insetos, enfim, uma lástima. E mesmo assim lá ficava eu, olhão aberto, perdido na savana africana em algum programa do Discovery Channel ou babando na gravata (força de expressão, não tenho gravata) por causa de alguma família de tigres em Bandipur no Animal Planet. Na TV aberta o que me pegava era o Repórter Eco, na TV Cultura. Porém nunca, jamais, o Globo Repórter e suas pautas preguiçosas e/ou requentadas.

Virou uma droga esse negócio, vício brabo, e como todo vício chega uma hora no qual ou você precisa de doses maiores ou então muda de entorpecente (essa palavra, aliás, define bem a sensação de contemplar a vida natural, seus tempos e comportamentos, numa tela de TV). É porque a produção do Animal Planet e Discovery começou a ficar repetitiva nesse quesito ou então foi loteando sua grade para atrações com algum espertinho indo a lugares remotos para atormentar animais (claro que, em suas arrogâncias, alguns defensores de animais não acham que atormentam).


Daí que um amigo disse: “Já tentou o Off?”. Já tinha ouvido falar do canal que estreou em dezembro em pacotes de alta definição (527 na Net, 238 na Sky e 538 Via Embratel), mas não, não havia tentado. Fui lá e batata! Paixão à primeira vista. Lá estava novamente a natureza, mas dessa vez acompanhada de ação, muita ação esportiva. E dá-lhe surf, skate, snowboard, alpinismo, ski, base jump, caiaque e o que mais você imaginar de esportes radicais nos lugares mais diversos e lindos desse mundão, alternando boas produções nacionais e material trazido de fora.

A programação do Off acabou funcionando da mesma forma que os do Animal Planet e Discovery. Era um jeito de “fazer” algo que, na vida real, jamais teria coragem ou habilidade (andei um pouco de skate quando criança e só). Claro que existe essa sensação de segurança de estar em casa enquanto o bicho pega lá fora, mas acho que o que mais me estimula nesse escapismo é o fato dessa realidade ser muito diferente da minha. Esse é o fascínio (tanto que já escrevi sobre boxe para a Monet e sobre futebol americano para a Piauí).

E tudo é muito bem filmado, editado e quase sempre tem uma trilha bacana ou que, pelo menos, casa direitinho com as imagens, além de personagens interessantes. Então lá se foram horas e horas, quase sempre na madrugada, hipnotizado por malucos descendo montanhas a uma velocidade assustadora ou enfrentando ondas gigantes. Por outro lado, como o Off é recém-nascido, os programas e as vinhetas se repetem com bastante frequência, o que acaba aborrecendo viciados como este que vos escreve. Mas não há de ser nada, tenho paciência e surpresas sempre acabam pintando. Agora é torcer para que o canal não fique muito tempo nesses pacotes limitados e que mais gente possa vê-lo (é o que também desejo com fervor para o Canal Brasil, um dos melhores canais da TV brasileira). E que também não se transforme em um Multishow com sua infinidade de programas com cariocas (só cariocas) viajando pelo mundo. Nosso planeta é maior que isso.


p.s.: quem tem menos de 30 anos talvez não saiba o que significa “popotizar”. É uma brincadeira com “hipnotizar”, claro, mas foi criada por Renato Aragão nos tempos áureos d’Os Trapalhões. Um dos exemplos clássicos do “eu vou ‘popotizar’ você” está numa divertida cena de Os Saltimbancos Trapalhões (1981).

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