O PAÍS DA INTERNET MOLEQUE
O nome cheio de consoantes é difícil de falar, ainda mais
numa língua repleta de vogais como a nossa: tumblr. Mas pelo jeito os
brasileiros não se importam muito com esse obstáculo, afinal o negócio é estar
na internet como se não houvesse amanhã. Segundo reportagem no caderno Link
do Estadão, o Brasil hoje em dia é o segundo país que mais utiliza o tumblr,
perdendo apenas para os Estados Unidos. Já são 4 milhões de páginas criadas por
aqui, com usuários muito mais ativos (ficam 32 minutos a cada visita sendo que
a média global é de 23 minutos) e que acessam 2 bilhões de páginas do serviço
por mês (em junho do ano passado eram
313 milhões). Uma baita atividade.
Criado em 2007 por David Karp, hoje com 24 anos, o tumblr é
um blog para, digamos assim, preguiçosos. Gente que não se sente à vontade, ou
não gosta, de escrever, por exemplo. Basta colocar uma imagem ou um vídeo e
pronto, tá feito. O restante fica por conta de uma interface simples que
permite compartilhamento instantâneo em várias redes sociais e entre tumblrs. O
negócio de Karp demorou uns dois anos para pegar nos Estados Unidos e em 2010
começou a se espalhar como rastilho de pólvora por essas bandas. E é fácil de
entender porque deu certo: o nosso bom e velho espírito de galhofa.
Bastou surgir uma notícia mais ou menos bizarra, algum
acontecimento político ou uma personalidade em destaque que o pessoal
rapidamente cria um tumblr para fazer piada. Obviamente, grande parte desse
conteúdo tem vida curta, afinal a notícia quente de hoje é coisa velha amanhã (em
outras palavras, “jornal ou revista, o destino é limpar bunda ou enrolar peixe”,
como canta João do Morro na música “Lado B
do jornalista”). Mas o que importa, nesses casos fogo de palha, é a crônica
debochada da “notícia”. Como uma charge, exatamente como uma charge.
Vamos então a alguns exemplos de tumblrs intensos, breves e
nacionais que pipocaram na rede nos últimos tempos: Lavei pro Wando (fotos de calcinhas
para dar força ao cantor que está se recuperando de uma complicada cirurgia
cardíaca), Siga Piovani (uma
coletânea de impagáveis tweets trocados entre a atriz Luana Piovani e seus
seguidores), Criminals
Taking Advantage of the Situation (uma crítica à infeliz declaração da
ex-vereadora Soninha Francine sobre os moradores expulsos do bairro Pinheirinho,
em São José dos Campos), Paulo
Goulart Anuncia Isso Bem (uma brincadeira com o ator veterano que participa
de muitas propagandas) e, claro, Menos Luisa, que está no
Canadá (sobre vocês sabem quem, ou não, deixa pra lá). É isso, nem um
destes durará mais que algumas semanas e provavelmente nem era intenção. Se a
piada funcionou em seu tempo a missão foi cumprida.
No entanto, existem outros tumblrs que possuem conceito mais
amplo e que podem muito bem ter uma vida mais longa (basta o usuário seguir
atualizando). Entre milhares destacam-se Classe Média Sofre (coletânea hilariante
do pensamento torto da classe média brasileira), Galeria Tosquista (uma compilação das
artes mais mal acabadas encontradas na internet), Indie ou Sertanejo (piada sobre
as camisas xadrez usadas tanto por indies quanto por sertanejos), Esse Dia Foi Foda (uma lembrança de
momentos especiais), Renato Era
Chato (tirinhas que debocham, mas com muito respeito, a poesia de Renato
Russo), Racionais Para Tudo
(uma prova viva e com imagens de que os versos dos Racionais MCs cabem em
qualquer situação), Já Sei Namorar
(letras de pagode de um lado, imagens malucas de outro), Porra Google Street View BR
(registro de flagras improváveis nas ruas brasileiras), Blog de Notícias (intervenções
humorísticas nas homes dos grandes portais), Princesas do Busão (título
auto-explicativo), Pobregram (versão
esculhambada do Instagram, filtro do iPhone que deixa as fotos com um jeitinho
bacanudo) e 501 Pagodes Para Ouvir Antes
de Morrer (outro título auto-explicativo e mesmo que um limite temporal
seja imposto, essa série “501 alguma coisa” é interminável).
Tem de tudo um pouco por aí, mas a picardia é o denominador
comum, afinal como humoristas natos que somos (ou achamos ser) perdemos
seguidores, mas não a piada.
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