sexta-feira, 25 de outubro de 2013

lugar de arte é na rua

essa hora ia chegar, claro. sobre street art só tinha feito um perfil (osgêmeos, 2006) e tratado do assunto numa coluna do yahoo ("arte que desmancha no ar", 2012). então veio o convite da audi magazine para o terceiro frila pra revista e a ideia era falar de quatro cidades que são referências na street art mundial: nova york, são paulo, londres e berlim. e falar com algumas pessoas. e fazer um painel histórico. acho que ficou divertido. agradecimentos a décio galina (que me passou mais uma ótima pauta) e edmundo clairefont (que editou o texto na revista), e também a alex senna, ignacio aronovich e william baglione pelas aspas alcançadas. aqui, como sempre, vai o texto que mandei, sem revisões e edições (daqui pra lá, a única grande diferença está na parte de nova york, que edmundo editou muito bem e ficou mais completo).


QUATRO CAPITAIS DA ARTE DE RUA NO MUNDO

O que é preciso para uma cidade se tornar referência na street art? Saiba um pouco das histórias de Nova York, São Paulo, Londres e Berlim, e alguns de seus personagens

Banksy e Osgêmeos em Nova York

NOVA YORK

No princípio era Nova York, cidade que deu régua, compasso e muitos motivos para que, nos anos 1970, a arte de rua surgisse como uma colorida expressão de revolta contra a degradação urbana e a falta de perspectivas. Um dos pilares do igualmente nascente movimento hip hop, o grafite apareceu primeiro em pichações nos muros, metrôs e trens. Eram jovens como Tracy 168 e Kase 2 afirmando seus próprios nomes em versões estilizadas (tags) diante de uma cidade que não lhes dava a mínima e também sobre rivais de outros bairros e turmas.

Na virada para a década de 1980, a pichação foi se sofisticando a partir do trabalho de artistas como Lee Quiñones, Dondi e Fab 5Freddy. Difundidos por eles, novos tipos de letras (“wild style”) e usos de sprays variados fizeram com que o grafite cruzasse fronteiras e começasse a influenciar artistas que não vieram das ruas, tais como Jean-Michel Basquiat e KeithHaring. Apadrinhados pelo papa da pop art Andy Warhol, Basquiat e Haring foram então os pioneiros a entrarem no circuito das galerias de arte, mas suas mortes precoces, em 1988 e 1990 respectivamente, interromperam um ciclo de reconhecimento que estava apenas começando (e que só voltaria, dessa vez com força total, em Londres nos anos 2000).

A partir dos anos 1990, novas técnicas (adesivos, lambe-lambes e estêncil) se uniram aos incontornáveis sprays atraindo novas gerações para as ruas. “Por sua importância histórica para a arte urbana, Nova York continua recebendo grafiteiros do mundo inteiro e apesar da repressão existe uma cena muito forte com lugares que viraram pontos turísticos”, explica Ignacio Aronovich, fotógrafo, jornalista e criador do site Lost Art. Um dos pontos turísticos mais célebres é o Five Pointz, localizado em Long Island, e que está sendo ameaçado de demolição pela voraz especulação imobiliária. Outras áreas procuradas estão no SoHo, Chelsea, Harlem e Brooklyn.

Nos anos 2000, os artistas de rua nascidos ou baseados em Nova York viram a cena ser incorporada pelo mainstream e o que era considerado vandalismo em outros tempos passou a ilustrar capas de discos, posters de filmes de Hollywood, roupas e até campanhas presidenciais (“Hope”, arte feita por Shepard Fairey, que ficou conhecido por seu “Obey”, foi usada pela campanha de Barack Obama em 2008). As ruas continuam sendo o palco ideal para artistas falarem, das formas mais diversas, sobre o mundo de hoje, e o complexo tabuleiro de Nova York ainda é uma de suas melhores traduções.

Rui Amaral em São Paulo

SÃO PAULO

Cidade feia, cinza, degradada. A gigantesca São Paulo pode ser tudo isso à primeira vista, mas basta dar um pouco de atenção a suas quebradas para ver que é exatamente essa sujeira, essa exclusão do humano nos espaços públicos, que a torna uma das mais instigantes galerias de arte de rua do mundo. Essa história não é de hoje, e vem lá desde os anos 1980 com o surgimento de artistas como Osgêmeos, Speto, Vitché, Rui Amaral e Binho, todos com algum tipo de ligação com a pichação e as cenas de rap e skate da cidade. Em comum, muitas cores e figuras humanas estilizadas.

Na década seguinte veio mais uma leva, dessa vez capitaneada por figuras como Herbert Baglione, Onesto, Zezão, Nunca e Stephan “Calma” Doitschinoff. Foi o tempo de novas experimentações que iam do expressionismo de Baglione ao abstracionismo azulado de Zezão. Também é dessa época Eduardo Kobra que, com o passar do tempo, tornou-se um dos muralistas mais pops da cidade.

A evolução de estilos e a variedade de propostas deram mais um salto nos anos 2000 com a proliferação da internet e a possibilidade de compartilhar rapidamente os registros das intervenções (é sempre bom lembrar que uma das essências da arte de rua é seu curto tempo de vida). Então se juntaram ao grupo jovens artistas como Crânio, Magrela, Treco, Chivitz, Flip e Alex Senna, com estilos bem diferentes e discursos muito pessoais sobre a cidade. Destoando um pouco, mas da mesma geração, Alexandre Orion passou a criar obras que são fotografias de seus grafites e estêncils se relacionando com as pessoas da cidade. Tudo muito novo e cheio de possibilidades.

O paulistano Senna, por exemplo, começou a desenhar nas ruas apenas em 2006, mas já possui um invejável currículo tanto no Brasil quanto no mundo. “Andar na rua é como estar em uma grande galeria”, diz Senna. Só que o artista que assinou trabalhos para grandes marcas como Nike e Hermés vê uma particularidade nas ruas paulistanas. “Talvez as pessoas não saibam, mas São Paulo é com certeza a meca do grafite. A liberdade, os estilos diferentes e a criatividade que existe aqui não tem em lugar nenhum. São Paulo é cheia de pichações e grafite, a cidade é inteira rabiscada, o que de certa forma mostra o quanto as pessoas sentem a necessidade de se expressar”.

No entanto, William Baglione – criador da Society Under Construction (SUC), produtora que toca trabalhos comerciais e curadorias independentes com artistas de rua brasileiros – faz uma ressalva sobre a cidade. “Temos grandes artistas, com excelente técnica e conteúdo, e temos também muito muro pra pintar. Mas não temos um mercado maduro dessa nova arte contemporânea porque ainda existe preconceito por parte das instituições públicas e privadas”. Sem esse mercado consolidado, os artistas locais aproveitam a cidade como portfolio para emplacarem trabalhos remunerados nos Estados Unidos e Europa. Mas só mesmo em São Paulo existe o Beco do Batman, o Museu Aberto de Arte Urbana e a Bienal do Grafite (que agora, no início do ano, teve sua segunda edição). É que cabe muita cor nessa cidade.

Crânio e Alex Senna em Londres

LONDRES

A ligação íntima e explosiva entre o hip hop, o grafite e uma juventude periférica sem perspectivas que deu origem a arte de rua em Nova York no final dos anos 1970 chegou a Londres no início dos anos 1980. Também como em Nova York (e São Paulo), a cena londrina começou com pichações em muros, metrôs e trens. Só que a repressão do Estado de Sua Majestade foi tão forte no final da década de 1980 que acabou atrasando o crescente movimento da arte de rua inglesa e jogou artistas como Robbo e Mode 2 em um limbo por anos.

Outra cidade muito importante na cena foi, e ainda é, Bristol, terra natal do célebre Banksy, que se mudou para Londres durante os anos 1990. Foi na capital que ele deixou de lado o grafite e as pichações, e passou a se aperfeiçoar na técnica do estêncil porque era mais rápido de fazer e podia ser reproduzido facilmente em outros lugares. O calculado anonimato de Banksy acabou lhe trazendo ainda um grande número de fãs que passaram a acompanhá-lo, registrando e compartilhando febrilmente na internet suas ações pela cidade (e, logo depois, pelo mundo). O sucesso de suas ações guerrilheiras e da crítica sócio-política de sua arte de rua (ácida e pop ao mesmo tempo) começou a chamar atenção no início dos anos 2000 e durante o correr da década mudou para sempre o mundo da arte de rua em Londres e no mundo. O negócio ficou tão sério que paredes com seus grafites passaram a ser retiradas de seu lugar de origem para serem vendidas em leilões ou no mercado negro.

Por causa de Banksy, Londres se tornou o centro mundial da arte de rua nesse início de século 21, com direito a grafiteiros do mundo todo sendo disputados por galerias, como foi o caso dos brasileiros Osgêmeos e Nunca e suas gigantescas intervenções no renomado Tate Modern em 2008.

O paulistano Alex Senna esteve recentemente na cidade e foi só elogios. “A cidade acolhe muito bem os artistas de rua, e as pessoas se esforçam muito e te ajudam pra que você pinte lá. Quando cheguei não tinha nenhum muro na manga e mesmo assim fiz umas 30 pinturas”. Porém, ah, porém, Senna também constatou que a cena londrina é um pouco confusa, e devido ao sucesso de Banksy, existem muitas pessoas envolvidas que não são artistas. “Londres tem gente de todo o mundo querendo pintar. No centro da cidade ou nos lugares mais populares, os trabalhos não duram muito. É diferente de São Paulo. Quando digo que a cena está um pouco confusa é porque pra mim street art é feita de amor, liberdade, atitude e respeito. Estão tirando a atitude e o respeito de lá, então se você quer que seu trabalho dure tem que ir pra fora do centro”.

Mesmo com tanta competitividade, ou talvez exatamente por isso, Londres é uma das poucas cidades do mundo que possui roteiros turísticos exclusivamente sobre arte de rua.

Thierry Noir em Berlim

BERLIM

Durante mais de quatro décadas, Berlim foi uma cidade dividida. De um lado, a parte ocidental, capitalista. Do outro, a oriental, socialista. E, a partir de 1961, um longo, alto e muito vigiado muro de concreto rachou a cidade literalmente no meio. A arte de rua berlinense começou no lado ocidental com muitos grafites e pichações que criticavam em várias línguas a própria existência de tão vergonhoso muro. Não era possível fazer o mesmo no lado oriental.

Mas com queda do muro em 1989, a arte de rua na cidade tomou novos rumos e jovens artistas alemães se mudaram de mala e cuia para o lado oriental da cidade, muito mais barato e um tanto degradado pela crise econômica que ajudou a derrubar o regime socialista. Então, de uma hora para a outra, Berlim se tornou um grande museu de arte a céu aberto, com destaque para o East Side Gallery, uma parte preservada do muro que se transformou em patrimônio da humanidade pelo colorido do francês radicado na cidade Thierry Noir.

No decorrer dos anos 1990 e 2000, uma grande variedade de artistas espalhou seus trabalhos pela cidade, apesar da costumeira repressão policial. Daí que apareceu um tanto de tudo: dos personagens simples e irônicos grafitados por Mein Lieber Prost até os estêncils críticos feitos por Alias e XOOOOX, passando pelos divertidos lambe-lambes de El Bocho, os icônicos Yellow Fists, as instalações do coletivo Bosso Fataka e o enigmático trabalho de um dos pioneiros da arte da urbana de Berlim, Tower.

As coisas melhoraram um pouco em 2005 quando Berlim foi declarada pela UNESCO como a “Cidade do Design”, fato que deu a artistas locais e visitantes um apoio maior contra a vandalização do poder público (como em quase todos os lugares do mundo, o Estado alemão prefere manter a cidade cinza). Surgiram assim grandes obras de artistas como Banksy e o italiano Blu que se tornaram parada obrigatória para um novo e crescente tipo de turismo, o da arte de rua.

“O muro foi um fator importante para a história artística da cidade, mas a explosão de arte urbana após a reunificação foi o que fez Berlim entrar na mira do mundo. Kreuzberg, por exemplo, é o meu bairro favorito para ver arte de rua”, explica o brasileiro Ignacio Aronovich, que participou de uma exposição coletiva na cidade, em 2003, ao lado de Banksy e dos norte-americanos Swoon e Shepard Fairey. Outros bairros famosos por suas artes de rua são Mitte, Prenzlauer Berg e Friedrichshain. Em comum a todos esses lugares e a todos os artistas que passam por Berlim, uma vontade de experimentar e olhar para o futuro.




quarta-feira, 23 de outubro de 2013

o que a vida quer da gente é coragem

outro frila pedido por carol patrocínio para outra revista do grupo dasa. dessa vez foi no esquema 'perfil', o que já é algo mais próximo do que faço, e a personagem foi a santista gilze maria costa francisco, que fundou o instituto neo mama, em santos, após lutar e vencer um câncer de mama seguido de mastectomia. mulher forte, decidida e altruísta. uma grande personagem e um excelente ser humano. aí fica fácil escrever sobre... ah, os retratos de gilze foram feitas por anna carolina negri.



CONVERSAR É PREVENIR

A história de Gilze Maria Costa Francisco, enfermeira santista que superou um câncer de mama e criou um instituto para ajudar outras mulheres com informação, consultas e carinho

“O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”, escreveu Guimarães Rosa em seu Grande Sertão: Veredas. Gilze Maria Costa Francisco sentiu tudo isso na pele em 1999. Casada, mãe de uma filha e porto seguro da sua família, a enfermeira descobriu um câncer de mama em maio, foi mastectomizada em junho e entre julho e dezembro passou por inúmeras sessões de quimioterapia.

Mesmo com o apoio incondicional da família e conhecimento dos procedimentos, Gilze, hoje com 52 anos, passou por todas as fases comuns a quem recebe tamanho baque: negação, raiva, barganha, depressão e, finalmente, a aceitação. Dez meses depois da descoberta, o câncer foi embora. No entanto, a vida de Gilze nunca mais foi a mesma, para sua própria sorte e a de milhares de mulheres atendidas gratuitamente pelo Instituto Neo Mama, entidade que criou em 2002 na cidade de Santos, litoral de São Paulo.


Mas antes do Neo Mama, Gilze já vinha fazendo diferença. “Criei, ainda em 1999, o site cancerdemama.com.br durante minhas noites de insônia causadas pela quimioterapia. Fui colocando nele minhas experiências como enfermeira e como paciente de câncer”. A opção por uma abordagem mais humana e menos técnica veio naturalmente, afinal a internet daquele tempo tinha pouca informação disponível e a que existia vinha exclusivamente do lado médico. “Tudo surgiu com a vontade de fazer a diferença para mulheres que, como eu, passam pelo câncer de mama. Se eu pudesse conversar com cada uma delas, seria ótimo, mas percebi que podia mudar isso na minha região, e hoje contribuo em todo o país dando palestras, na internet e nas redes sociais. Achei que deveria haver um lugar onde fosse um porto seguro para elas, onde encontrassem respostas e, principalmente, exemplos”.

A cada mês, 200 mulheres procuram respostas no Instituto Neo Mama, que possui em sua sede no bairro santista do Boqueirão um cadastro com mais de 2500. “Isso sem falar nos familiares diretos, cuidadores e amigos, que nos procuram para saber como tratar, o que falar, como falar com elas, se suas reações aos tratamentos e situações são normais, assim como seu comportamento”.

Com o passar dos anos, o jeito tranquilo e franco de Gilze criou uma grande rede multidisciplinar de ajuda com o apoio de muitos voluntários e parcerias. O Neo Mama consegue, por exemplo, mamografias gratuitas a partir de um acordo com laboratórios que exibem propagandas em seu site. Já as consultas são batalhadas através de insistência e algumas amizades. A manutenção do Instituto vem de doações e do dinheiro arrecadado em eventos beneficentes.


Conversar, ouvir e trocar informações, muitas e repetidas vezes. É isso que Gilze tem feito desde que o câncer entrou na sua vida, mas uma descoberta pessoal ajudou e muito nesse processo: resgatar-se é fundamental, priorizar-se também. “Muitas mulheres têm medo de se tocar, de procurar médicos, de perder a mama, esquecendo-se que essa omissão pode lhes custar a vida. Ignorar o que pode nos acontecer é o que de pior podemos fazer por nós mesmas”.

Em poucas palavras, é preciso enfrentar a realidade, mas com altas dosagens de afeto. “Câncer se combate com informação, informação certa, não conversa de comadres: realidade e possibilidades, mitos e verdades, tudo preto no branco, pois não ajudamos ninguém omitindo a verdade. Existem muitas formas de falar o inevitável, e a suave, mas firme, sempre é a melhor, e tem como fazer isso. Basta ter experiência, estudo, atualização constante e compaixão pelo momento de quem está à sua frente”.

Mesmo com tanto trabalho e histórias, Gilze seguiu fazendo exames anuais para se prevenir de novos nódulos e em 2010, após uma cirurgia de redução de estômago e a perda de 65 kg, finalmente colocou uma prótese. “Não é fácil, mas cada caso é um caso, somos únicas e temos que fazer a nossa parte no tratamento. Não adianta termos os melhores médicos e hospitais se não colaborarmos e fazer o que nossa família, amigos e quem nos ama esperam de nós: comprometimento, superação e resiliência. E isso todas nós temos no nosso interior, muitas vezes adormecido”.


CÂNCER DE MAMA: CONHEÇA, PREVINA-SE

É o carcinoma mais comum em mulheres e responde por 22% do total de casos novos/ano no Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca). Segundo o Inca houveram 52.680 novos casos da doença apenas em 2012. Os dados mais recentes de óbitos divulgados apontam que, em 2010, morreram no Brasil 12.852 pessoas devido ao câncer de mama, sendo 147 homens e 12.705 mulheres.

Os fatores de risco, tanto para homens quanto para mulheres são histórico familiar, obesidade, sedentarismo e antecedente de patologias mamárias. Estudos afirmam que boa alimentação e atividades físicas podem reduzir em até 28% o risco de a mulher desenvolver câncer de mama.

“Em termos de prevenção não se fala mais em auto-exame, pois quando uma mulher descobre o câncer de mama através dele, o nódulo já tem mais de 1,5 cm. A mamografia é o ideal no rastreamento desta doença (se houver necessidade, associada à ultrassonografia)”, explica Gilze.


fala baixinho só pra eu ouvir

já faz um bom tempo que fiz esse texto a pedido da amiga carol patrocínio, editora de revistas do grupo dasa lá na new content. uma das coisas boas de ser jornalista frila é pode passear por assuntos variados e o desafio desse texto, especificamente, foi o de ser didático e interessante ao mesmo tempo. acho que deu certo e, como sempre, o texto aqui é a minha versão original, sem revisão e edição.


AO PÉ DO OUVIDO

Em tempos de MP3, saiba como se prevenir dos excessos de barulhos e do mau uso de fones

Impossível viver em qualquer cidade, grande, média ou pequena, sem ser bombardeado diariamente por estímulos sonoros dos mais variados: buzinas, carros de som, promoções em lojas populares anunciadas por megafones, sirenes, bate estacas e por aí vai. Mas esses barulhos são externos e apenas parte do problema. E os que criamos para nós mesmos a partir do uso de aparelhos de entretenimento portáteis colados nos ouvidos?

Médicos otorrinos vêm alertando que a diversão em altos brados proporcionada hoje por iPhones, smartphones, tablets e iPads podem facilmente criar sérios problemas auditivos em seus usuários no futuro. Até mesmo perda de audição permanente. “A maneira como esses aparelhos têm sido usados, sem controle e informação, pode realmente criar uma geração de futuros surdos”, afirma sem meias palavras o Dr. Ricardo Ferreira Bento, professor titular de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da USP.


Entre tantos cuidados com a saúde necessários nos dias de hoje, o auditivo parece de menos importância. Porém, segundo relatório divulgado em março deste ano pela Organização Mundial da Saúde (OMS) cerca de 360 milhões de pessoas no mundo sofrem de perda de audição, sendo que aproximadamente 15 milhões apenas no Brasil (uma das três deficiências mais comuns no país). É uma importante questão de saúde pública, certamente, mas os especialistas também concordam que é muito fácil se prevenir. “Os fones de ouvido podem ser usados desde que se escute em um nível sonoro médio de aproximadamente 85 db [decibéis]. Até esse volume é possível usar pelo tempo que quiser. Acima disso o tempo vai decrescendo conforme o nível de exposição. A 100 db, por exemplo, tem que ser no máximo 30 minutos por dia”.

Esse limite de decibéis mencionado pelo Dr. Ricardo equivale a ouvir músicas (ou filmes, programas de TV, etc.) com o volume até a metade. Também é importante nunca ouvir o som tão alto a ponto de não saber o que está acontecendo ao seu redor e jamais dormir com o fone no ouvido. Outra recomendação é que se dê preferência aos modelos supra aurais por serem menos nocivos que os fones de inserção (aqueles que entram no canal auditivo). E, claro, fazer um exame de audiometria pelo menos uma vez por ano.


A regularidade do exame é importante porque a perda auditiva é um problema progressivo e que só é percebido a médio/longo prazo. “Existem cinco sintomas básicos associados a patologias do ouvido. A perda auditiva é um deles, sendo que no início a pessoa passa a ter certa dificuldade de entender as palavras em ambientes com ruído. Mas também é preciso estar atento a zumbidos, tonturas, dores ou sensação de ouvido cheio”.

Todo esse cuidado preventivo poderia ser facilitado se houvesse uma lei no Brasil que regulamentasse o limite máximo de decibéis transmitidos pelos fones (existem aparelhos que chegam a 130 db). O limite europeu é de 100 db, considerado razoável pelos especialistas daqui. “No entanto, um problema adicional é que nem todos os aparelhos têm ajustes iguais, portanto o usuário deve consultar o manual para ver qual o nível de volume. Muitos equivalem ao som de uma turbina de avião em decolagem ou de uma britadeira e, consequentemente, são extremamente prejudiciais ao ouvido”.


Ainda no quesito que mistura entretenimento e volume alto, outro acontecimento preocupa os otorrinos: as baladas em casas noturnas. Tanto os usuários quanto os funcionários desses lugares estão sujeitos, sem perceber, a uma longa e constante agressão sonora. A solução pode parecer frustrante, mas segundo o Dr. Ricardo Ferreira, “não há como se preservar nesses casos. Com o tempo a pessoa que frequenta muito essas baladas terá problema de audição e/ou zumbido. A única medida preventiva é usar protetor auricular nos ouvidos”.

Enquanto regulamentações e controles de gerações de ruídos em equipamentos e ambientes não são postos em prática, o jeito é se cuidar por conta própria para deixar tudo soando bem aos ouvidos.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

e se houvessem gifs na renascença?

quem te responde é jamer kerr, canadense de montreal, no tumblr scorpion dagger. tem gif novo (quase) todo dia.














via @_cecilialara com link para o pêssega d'oro.

domingo, 6 de outubro de 2013

o encontro de banksy com o youtube

o inglês banksy está passando o mês de outubro numa residência artística em nova york intitulada "better out than in" ('melhor fora que dentro') e está usando seu site oficial para divulgar as ações. 




já rolaram stencils-grafites bem irônicos como estes acima, acompanhados no site de engraçadíssimos comentários-guias em áudio, e um caminhão transformado em jardim ambulante. mas neste domingo, 6 de outubro, apareceu esse vídeo que marca a estreia do canal oficial de banksy no youtube.



a zuera de banksy não tem limites.

mais doido é quem me diz

daí que rolou meu retorno à revista monet com a matéria sobre gaby gringa, série da gaby amarantos. então veio uma nova colaboração, uma reportagem sobre a segunda temporada da série sessão de terapia, com direito a uma visita no set de filmagens capitaneado por selton mello e entrevistas com quem estava lá no dia: o próprio selton, os atores andré frateschi e derick lecoufle, e o produtor roberto d'ávila (suas falas acabaram entrando como informações no texto). a conversa com o protagonista, o ator zécarlos machado, acabou acontecendo algumas semanas após término das filmagens. achei o resultado bom, conseguiu pegar um pouco da complexidade humana retratada nessa ótima série (que estreia nesta segunda, 7 de outubro, às 22h30 no canal gnt e com transmissão simultânea pela internet). a nota triste foi o falecimento repentino de cláudio cavalcanti agora no final de setembro, poucos dias antes do lançamento da série (foi o último trabalho do ator de 73 anos). selton mello lhe dedicou um texto emocionado e sua forte e silenciosa atuação poderá ser acompanhada às terças. ah, as fotos do meio do texto são minhas (a do garoto derick, inclusive, foi feita com a minha mamiya, que voltou à vida).



FIQUE À VONTADE (MAIS UMA VEZ)

O palco é um útero. O estúdio é um útero. Coisas são gestadas nesses espaços: vida e metáforas da vida. Animado e prolixo, o ator Zécarlos Machado está ensaiando um monólogo em um teatro do Centro de São Paulo, mas abre um sorriso largo quando o assunto é Sessão de Terapia, série que protagoniza e cuja segunda temporada acabou de ser gravada há poucas semanas. “Tem coisas que você quer que acabem logo. E tem outras que você quer que voltem por vários motivos. Voltar nesse caso foi muito consagrador porque considero um material dramático da maior qualidade e acho que fiquei devendo na primeira temporada. É uma questão pessoal minha, não é nada grave, mas senti que poderia ter ido mais”, e o ator relembra a agenda puxada de gravações no ano passado, principalmente para ele que, como o terapeuta Theo Cecatto, está presente em todos os episódios.


O público, obviamente, não sentiu nada disso e a primeira temporada foi um sucesso muito maior que a expectativa de todos e atraiu cerca de 9,5 milhões de pessoas ao GNT considerando todas as exibições da série dirigida por Selton Mello, que também está de volta no comando. “É um trabalho muito estimulante e uma escola pra mim como diretor. Estou saltando alguns degraus. Porque em cinema você faz um filme depois fica cinco anos pra conseguir dinheiro pra fazer outro e aí vai perdendo a mão. No Sessão de Terapia tenho uma sala pra contar histórias, não tenho pra onde fugir, não tenho flashback. Então é um exercício de concentração, de tom, de ritmo, de linguagem, é uma coisa extraordinária”, explica o ator que recentemente se consagrou também como diretor de longas premiados como Feliz Natal e O Palhaço, e que na série dirigiu todos os 80 episódios das duas temporadas.

Falando especificamente da série, Mello diz que existe um salto de cerca de seis meses entre as temporadas, tempo o bastante para Dr. Theo se separar, mudar de casa e atender novos pacientes. Um deles é o garoto Daniel (Derick Lecoufle), filho do agora ex-casal João (André Frateschi) e Ana (Mariana Lima). Estreante como ator, Lecoufle encantou a todos no set com sua tranquila naturalidade. “Só tinha feito duas figurações em publicidade, aí fui chamado para um teste e passei depois de muitas etapas. Quando vi que era do Selton [Mello] achei que era comédia, mas minha mãe disse que não, que era um negócio bem tenso [risos]”, disse o garoto de 10 anos que antes só tinha interesse por música, mas que gostou muito dessa coisa de atuar, de ser outro. “Meus pais não são separados, mas tenho muitos amigos com pais separados, então entendo o Daniel e ele é gente boa, é um garoto incrível”, completa.



Já André Frateschi, que volta ao papel de João, comemora a “sorte de poder aprofundar um personagem, fato que não é comum na TV”. Mas como acabou de se tornar pai na vida real, o ator viu no texto algumas questões perturbadoras. “Foi difícil ver o filho ser usado como uma peça no jogo deles, e de um jeito irresponsável, pra atingir um ao outro. O moleque está no meio dessa roda viva e começa a mostrar que essas coisas estão lhe afetando”. No entanto também vê alguns avanços no seu personagem, tais como uma relação menos hostil, menos refratária, com o Dr. Theo, e uma interessante troca de papéis com a ex-mulher. “Minha sensação nessa segunda temporada é que o João aprendeu a usar o Theo pra se ajudar e que conseguiu resolver o ciúme que tinha da Ana, que se cansou desse jogo, dessa relação atormentada”.

Em comum a todos os depoimentos destes envolvidos na série foi possível notar como as questões levantadas pelos personagens ressoavam na vida de cada um. “É um trabalho lindo, sabe? Porque é a vida, porque somos nós e nossas fraquezas, sonhos, desejos, desejos não concluídos, são várias qualidades de grandes e pequenos dramas humanos. E em todos os personagens você vê a terapia agindo. É, de certa forma, uma homenagem a profissão do terapeuta. Eu, por exemplo, faço terapia e acho importantíssimo, mas foi muito interessante ter retornos de espectadores que resolveram coisas pessoais só de assistir a série. Sessão de Terapia é uma tremenda viagem emocional, e é um trabalho pra quem não tem pressa, pra quem faz e pra quem assiste”, diz Selton Mello que, no set de filmagens, repetia um mântrico “Suavidade em tudo” tanto para os atores quanto para a equipe técnica.


Para o expansivo Zécarlos Machado, integrante do célebre grupo teatral Tapa, essa história de “suavidade” foi um desafio a mais. “O terapeuta tem uma chave diferente do ator. Um só ouve, enquanto outro só fala. Então precisei de menos tensão e mais atenção para trabalhar essa capacidade de ouvir o outro, enquanto aguçava minha própria investigação sobre a alma humana. Afinal, ver o outro é ver a si mesmo”, relembra o ator para logo depois enumerar algumas leituras que o acompanharam durante as filmagens (Carl Jung, Sigmund Freud e o dramaturgo August Strindberg). 

“O Zécarlos é realmente muito diferente do Theo. Foi um trabalho de contenção e ele detonou! Porque são os outros que solam e ele fica lá ouvindo, mas você percebe um ser delirante através dos olhos dele. É aquela coisa: se atuar muito vira um ator sentado no sofá falando, se não atuar nada vira confissão e aí não é ficção. É um tom muito perigoso, um equilíbrio muito delicado, e a gente encontrou essa cara para a série”, aí é novamente Selton Mello, um dos maiores entusiastas que Sessão de Terapia tenha mais temporadas no Brasil. A versão original israelense teve apenas duas e a norte-americana, mais conhecida, acabou tendo uma terceira. “No Brasil, se bobear, podem rolar cinco, seis temporadas, porque a gente aqui tem o hábito de assistir dramaturgia diariamente na TV por causa das novelas”.


No que depender de Selton, Zécarlos e do resto da equipe, incluindo a produtora Moonshot de Roberto D’Ávila que trouxe a série para o país, Sessão de Terapia terá uma vida longa (a estreia da segunda temporada será acompanhada do lançamento em DVD da primeira e de um livro escrito pela roteirista-chefe Jaqueline Vargas).

“Todo mundo percebeu alguma coisa especial nesse trabalho, alguma coisa pra vida”, conclui Zécarlos diante dessa fascinante e assustadora matéria prima que é o ser humano.


FREUD EXPLICA?
Saiba quem são os novos pacientes do Dr. Theo, lembrando que às sextas ele continua sendo analisado pela sua terapeuta, Dora (Selma Egrei)


SEGUNDA
Carol (Bianca Comparato)
Jovem universitária de 25 anos, Carol procura terapia após descobrir que está com câncer. Ela entra em estado de negação da doença e chega a se recusar a dar início a dolorosa, porém necessária, quimioterapia. A atriz Bianca Comparato raspou a cabeça para dar mais veracidade ao personagem.

TERÇA
Otávio (Cláudio Cavalcanti)
O empresário de 70 anos nunca fez terapia e chega ao consultório do Dr. Theo com o objetivo de resolver rapidamente um mal estar e umas dores no peito que vem sentindo. No decorrer das conversas, Otávio descobre que está sofrendo de ataques de ansiedade e que a saída da sua filha caçula de casa tem mais influência nisso do que imagina.


QUARTA
Paula (Adriana Lessa)
Aos 41, Paula é uma advogada bem sucedida, mas sua vida dá um nó quando decide ser mãe, mas descobre que seus óvulos estão ficando velhos e que seu marido, que já tem filhos do primeiro casamento, não está lhe dando apoio. Um aborto no passado e um pai dominador podem ser as chaves para Theo entender mais sobre Paula.

QUINTA
Daniel (Derick Lecoufle)
Após a separação dos pais interpretados por André Frateschi e Mariana Lima, que estiveram em terapia na primeira temporada, o estudante de 10 anos se vê em crise e se torna um comedor compulsivo. Super protegido pela mãe e cobrado pelo pai, Daniel encontra em Theo tanto um porto seguro quanto uma forma de se entender com os pais.