e o colega @telionavega,
lá do blog gibizada
(hospedado no site d’o globo), me chamou para participar de uma lista com os
melhores quadrinhos publicados no brasil em 2012. apesar de ser um fã antigo de
quadrinhos não costumo fazer retrospectivas como as musicais, não tenho os
lançamentos organizados, mas esse ano, especialmente, já tinha até tratado do
assunto na minha coluna do yahoo (“cada um
no seu quadrinho”) e ficou mais fácil saber o que li durante o ano. télio
pediu que cada um – e participaram ainda arnaldo branco e del rey, entre outros
– classificasse em ordem de preferência. não costumo fazer isso, mas pedindo
com jeito... seguem os meus dez preferidos e alguns adendos.
o pinóquio feio,
sujo e malvado do francês vincent “winshluss” paronnaud (co-diretor da animação
persépolis) realmente me pegou de
surpresa. não esperava uma história tão louca e ousada, e longa e com tão
poucos diálogos. o habibi de craig
thompson também foi surpresa porque gostei do seu livro anterior (retalhos), mas essa história inspirada
nas mil e uma noites tem muita pesquisa e um lirismo arrebatador e adulto. de
resto, qualquer coisa de daniel clowes entra em qualquer lista, bem como do meu
ídolo de outras eras (enki bilal), que fazia tempo não lançava nada de novo
(ele se aventurou no cinema e tals), e do francês david b., que desta vez saiu
do confessional (epiléptico)
e passou a tratar de política global em uma interessantíssima trilogia sobre as
relações dos estados unidos com o mundo árabe.
os brasileiros chegam na segunda metade da lista, começando
com o divertido e afiado a máquina de
goldberg, passando para o humor despachado de adão iturrusgarai (com vários
convidados), o deus gostosamente humana de rafael campos rocha e a ótima ficção
científica v.i.s.h.n.u. no meio
desse pessoal, o canadense chester brown e sua singular relação com o sexo.
neste ano também saíram ótimas e muito bem produzidas
edições especiais como toda a rê bordosa
(angeli), diomedes (lourenço
mutarelli) e os zeróis (ziraldo),
além do relançamento de clássicos como atrilogia nikopol (enki bilal) e oincal
(moebius). mas não custa lembrar outros bons e inéditos quadrinhos lidos por
aqui, tais como guadalupe (angélica
freitas e odyr), monstros! (gustavo
duarte), adeus tristeza – a história dos
meus ancestrais (belle yang) e j.
edgar hoover (rick geary).
p.s.: no mais, acho que o grande lançamento quadrinístico do
ano (mas que ainda não ganhou edição nacional e nem sei se ganhará) foi o
espetacular building stories, de chris ware, uma caixa com 14
histórias em diversos formatos (tirinhas, jornal, tabuleiro, etc) que podem ser
lidos em qualquer ordem e assim traçam um panorama aberto de uma série de
moradores de um prédio.
outro frila deste fim de ano foi um perfil do jogador kléber, o gladiador, para a revista oas. a entrevista foi por email, já que o atacante está morando agora em porto alegre e não houve tempo hábil para rolar o encontro, mas gostei do resultado e o texto virou matéria de capa. agradecimentos a humberto peron, bróder dos tempos da revista monet, que me ajudou com seu conhecimento de causa futebolístico (coisa que não tenho, obviamente).
GLADIADOR DE CARA NOVA
Após conquistar títulos e desafetos pelos times que passou, como São
Paulo, Palmeiras e Cruzeiro, o atacante Kléber vive a serenidade de uma nova
fase ao defender o Grêmio
Kléber
Giacomance de Souza Freitas não aparenta os 29 anos que completou no último 12
de agosto. Muito menos ser pai de três meninas. Talvez por causa da cara de moleque
ou da timidez nas entrevistas. Mas
Kléber se transforma com a bola nos pés e tem sido assim desde que, ainda moleque,
jogava nas ruas de terra do bairro Jardim Novo Osasco, em Osasco, Grande São
Paulo.
“Ele é um
jogador muito voluntarioso que não desiste nunca das jogadas. É um atacante que
os zagueiros não gostam de enfrentar, pois tem força física para resistir aos
encontrões com os defensores e não tem medo de cara feia”, explicou Humberto
Peron, colunista de futebol da Folha.com. Isso porque, entre quatro linhas, ele é o Gladiador, apelido que recebeu na sua vitoriosa
passagem pelo Dínamo de Kiev, o segundo time que jogou profissionalmente.
Nos quatro anos que morou na capital da Ucrânia, país que fica entre a
Polônia e Rússia, Kléber foi figura central nos cincos títulos que o time
recebeu entre 2004 e 2007. “Foi difícil no começo
porque não falava nada. Tinha um tradutor, mas ele só ajudava nos assuntos do
clube. Na rua, a gente tinha que se virar. Na época tinha 20 anos, e só havia
morado com os pais, mas foi uma baita experiência. Não me arrependendo de nada.
Aprendi a dar valor a muitas coisas. Só que o frio é muito intenso”, explicou
Kléber em entrevista exclusiva.
Além dos ucranianos, outros torcedores já exaltaram a raça de Kléber.
Primeiro foram os são paulinos – que o viram nas categorias de base e quando se
profissionalizou em 2003 - e depois os palmeirenses, cruzeirenses e, desde
novembro de 2011, os gremistas. “Nunca pensei em
outra coisa que não fosse jogar futebol. Tentaria até onde desse. Se não
rolasse, aí sim pensaria em outra coisa”, disse com sua habitual sinceridade.
Se a raça é uma das características do jogador em campo, a sinceridade é
uma das mais notáveis extra-campo. Uma sinceridade quase suicida, afinal Kléber
é de uma espécie cada vez mais rara de boleiro: o que pensa e fala o que pensa. Já se indispôs com dirigentes
e técnicos, mas ultimamente ganhou a consciência de que “é o resultado
de campo que prevalece [sobre qualquer crítica]. Sou um cara
bastante esclarecido nesse sentido. Sei que as críticas fazem parte da vida de
um jogador de futebol. Me expresso contrariamente quando vejo necessidade, mas
sempre com respeito. Claro que às vezes isso tem um preço, mas é normal”.
A combinação de
raça e sinceridade ocasionalmente também ganha forma de botinadas e expulsões
durante as partidas. “O grande problema é que o Kléber ainda perde a cabeça e
muitas vezes toma cartões vermelhos bobos que prejudicam a equipe. Também fala
sempre o que pensa, o que muitas vezes, deixa os companheiros ressabiados”,
explicou o jornalista Humberto Peron.
No entanto,
este ano em Porto Alegre acabou lhe dando mais tempo para refletir sobre si
próprio e a carreira. Não foi sua intenção, na verdade, mas a fratura da fíbula
em março e uma consequente cirurgia o tiraram de combate durante o final do
Campeonato Gaúcho e o início do Campeonato Brasileiro deste ano. Resultado:
ficou mais tempo em casa, junto da família e ouviu até um pedido surpreendente
de uma das filhas (“Pai, para de ser
expulso”). Ele ri toda vez que se lembra da frase.
A lesão/afastamento da principal e mais cara contratação de um time no
ano geralmente acarreta mal estar do atleta com dirigentes e torcida, mas
aconteceu o contrário com Kléber, o Grêmio e os gremistas. “Desde que cheguei fui tratado de maneira maravilhosa por todos. A lesão
acabou até fortalecendo o laço, principalmente com a torcida, que esteve do meu
lado durante toda a recuperação. Ficar algum tempo parado prejudicou um pouco
porque o problema não é a lesão em si, mas o pós-lesão. Enquanto os demais
estavam ‘voando’, eu tive que começar do zero. Mas hoje sei que estou ajudando
o grupo em busca dos nossos objetivos”.
E faz questão
de frisar a sintonia com a torcida do Grêmio. “Você tem que ter raça e vontade
para conquistar o torcedor do Grêmio. Essas características são muito
valorizadas aqui. A torcida me apoia muito, o que acaba me incentivando ainda
mais”.
O jornalista
Humberto Peron concorda com a avaliação de Kléber: “Ele fez um bom campeonato
brasileiro e seu estilo guerreiro está agradando a torcida tricolor. Acho que
ele deve ficar um bom tempo no Grêmio. No próximo ano, com o time jogando a
Libertadores, ele deve brilhar mais”.
O Campeonato
Gaúcho e a Libertadores serão os primeiros desafios de Kléber em 2013. O
Brasileirão fica para o segundo semestre. São todos títulos inéditos na
prateleira do jogador, que ganhou o Paulista em 2008 e o Mineiro em 2009. Mas
fora esses títulos inéditos existe uma outra importante lacuna na carreira do
Gladiador, a Seleção Brasileira.
Em 2003, Kléber
esteve, ao lado de Nilmar e Dagoberto, na seleção que ganhou o Mundial Sub-20.
No entanto, por essas obras do destino, nunca foi chamado para a principal. “Ele
é um jogador com bons recursos técnicos e que consegue jogar tanto como um
homem fixo entre os zagueiros ou atuando pelos lados do campo, o que se chama
de segundo atacante - penso até que nessa função ele rende mais. Porém, as
chances deles na seleção são remotas, mesmo tendo condições técnicas para
jogar. Acho que pesa contra ele a concorrência. Hoje ele teria que brigar por
uma vaga com nomes como Neymar e Lucas”, explica Humberto Peron.
Quando o
assunto é a “amarelinha”, o jogador sai pela tangente para evitar futuras
portas fechadas. “Seleção Brasileira é o sonho de todo jogador e comigo não é
diferente. Mas nesse momento não penso nisso. Penso em ser campeão pelo Grêmio
e marcar época no clube nesse momento tão importante de saída do Olímpico e ida
para a Arena”, resume diplomaticamente.
Por isso nem
cogita o que vai fazer quando parar de jogar. Comentarista de TV? Técnico?
Dirigente? Nada disso o interessa no momento. Ao mesmo tempo sabe que uma hora,
pela idade ou por lesões, terá que se aposentar. Pelas beiradas, Kléber tem se
mostrado um versátil homem de negócios com direito a uma pousada no litoral
norte de São Paulo e uma série de lojas em um shopping de sua Osasco natal. “Meu pai é formado em Administração e
meu irmão em
Contabilidade. Tenho estas facilidades. Eles tomam conta de
tudo”.
Enquanto não
pendura as chuteiras, o jogador segue determinado a ganhar títulos com sua raça
de sempre aliada a uma recém-descoberta serenidade. Sabe que sua categoria não
é muito unida e que o dinheiro fala sempre alto, mas que também é preciso
admitir os avanços do futebol nacional na última década. “O futebol daqui
evoluiu bastante. Os clubes também estão se estruturando mais e isso reflete
dentro de campo, pois hoje vemos grandes nomes jogando aqui, algo que não
acontecia há pouco tempo”.
Mas Kléber não
seria Kléber sem deixar de apontar criticamente o que ainda pode melhor. “Temos
um problema com o calendário. Vamos terminar 2012 com quase 80 partidas na
temporada. Isso não existe na Europa, por exemplo”. Então, de repente, quase é
possível imaginar um futuro no qual o jogador seja presidente da CBF. E com a
mesma cara de menino de agora. Quem sabe?
após voltar ao mundo dos frilas uma das primeiras coisas que aconteceu foi uma pauta aceita pela trip. o tema da edição que acabou de chegar às bancas é praia e nela emplaquei uma reportagem sobre a caranguejada, evento tradicional das noites de quinta em fortaleza. quer dizer, originalmente era uma reportagem, mas por causa da dificuldade de encontrar fotos legais do evento (e sem tempo de produzí-las) acabou virando uma nota. de modos que... é uma semi-estreia na trip(agradecimentos a lino bocchini que pegou a pauta e lia hama que editou o texto). segue, portanto, o original.
CARANGUEJAR, VERBO INTRANSITIVO
Nas noites de quinta,
as praias de Fortaleza são o palco de uma inusitada mistura que envolve leite
de côco, coentro, forró, piadas e crustáceos piauienses
Que uma coisa fique clara logo de início. Os caranguejos que
participam de uma das maiores tradições gastronômicas de Fortaleza não são
locais. Nenhum deles. A típica caranguejada é feita com exemplares de Ucides cordatus cordatus – o bom e velho
caranguejo-uçá – pescados no piauiense Delta do Parnaíba e em Belém. É que o
prato ganhou status de atração nobre nas noites de quinta na cidade, tanto nas
barracas da Praia do Futuro quanto em restaurantes, e a demanda passou a ser
tão alta que os mangues da costa cearense não deram conta.
“Essa história começou aqui no Chico do Caranguejo em 1987
por obra do Seu Francisco Quirino, pai do Chico. É que naquela época os
caranguejos chegavam de Parnaíba somente às quintas e era um jeito de comemorar
com os bichos mais fresquinhos”, explicou André Brauna Santos, 24 anos,
subgerente há três anos da barraca, uma das mais conhecidas da Praia do Futuro.
Atualmente os crustáceos só não chegam às segundas e a
logística de seu transporte é quase militar, pois precisam chegar vivos ao
caldeirão, distante pelo menos 500 km de seu habitat natural. “Só aqui na
barraca são consumidos 3 mil caranguejos por noite de quinta e distribuímos
outros 15 mil”, enumera orgulhoso.
Regados a leite de côco, cebola, pimentão, cebolinha e
coentro, os milhares de caranguejos-uçá consumidos nos 6 km da costa da Praia
do Futuro foram, com o passar do tempo, ganhando acompanhamentos pitorescos.
Desde apresentações ao vivo de música até shows de humor, vale tudo para chamar
o cliente nativo (os turistas ainda preferem o dia, o pé na areia).
Agora pense no seguinte cenário: famílias, alguns casais,
grupos de amigos, todos chegando arrumados para ocupar o grande salão aberto da
barraca-restaurante; um vento noturno correndo pela praia; e o barulho incessante
de batidas e patas sendo quebradas e devidamente chupadas. Para se chegar à
caranguejada ideal liquidifique tudo isso ao som de atrações como grupos de
forró pé-de-serra, cantores genéricos de MPB e os comediantes Ciro Santos e
Augusto Bonequeiro (e seu boneco Fuleragi). Afinal, os caranguejos podem não
ser locais, mas as piadas de corno são 100% cearenses.
p.s.: procurando uma trilha pra cá achei essa boa e caseira versão instrumental de "vendedor de caranguejo" (gordurinha) feita por um tal de araújo bossa nova.
não sei se fui eu que prestei mais atenção ou se este ano,
especialmente, houve uma grande e muito boa produção de clipes nacionais. tanto
que alguns que aparecem na lista abaixo foram postados aqui no esforçado no decorrer do ano. e tem de
tudo, caseiros e superproduções, do digital ao super 8, com mais
roteiro ou sem roteiro nenhum, com humor ou sérios pra cacete, de tudo quanto é
canto do brasil, quase todos produzidos na raça. vale destacar ainda o nome de
alguns diretores e diretoras com trabalhos bacanas na área: ricardo spencer, fred
ouro preto, lírio ferreira, vera egito, felipe rocha, daniel lisboa, vivi
amaral, rabu gonsales, del reginato, toddy ivon e a dupla autumn sonnichsen
& erica gonsales (do clipe de “sangue é champanhe”, talvez o melhor do
ano).
mallu magalhães -
“velha e louca” (outras duas músicas
do seu disco de 2011, “sambinha bom”
e “baby i'm sure”, ganharam vídeos,
sendo que o último feito pelo maridão marcelo camelo)
MENÇÃO HONROSA #01. sou fã assumido do letuce e o segundo disco (manja perene) da dupla-casal deixou
marcas profundas em mim e no meu ano de 2012. mas tem outra coisa admirável
neles: seus vídeos caseiros. imagens de viagens, do cotidiano, um ultrassom, coisas
da internet, gif animados, qualquer coisa vira clipe e assim sendo nasceram os vídeos
de “areia fina”, “medo de baleia”, “ninguém muda ninguém”, “sempre tive perna” e “loteria”.
MENÇÃO HONROSA #02. não gosto de funk ostentação
e acho os clipes tão repetitivos quanto as músicas, mas é admirável o trabalho
de konrad “kondzilla” dantas. o cara criou
e ampliou, em apenas dois anos, todo o imaginário visual de um gênero musical crescentemente
popular.
MENÇÃO HONROSA #03. fora os clipes produzidos pelos próprios
artistas também rolam outros que aparecem em séries independentes ou patrocinadas
na internet e em programas de tv. destaco aqui a segunda temporada da série compacto, a estreia da versão
brasileira de meet the
legends (com emicida & wilson das neves, elza soares & garotas
suecas, luiz melodia & karol konká, jards macalé & dorgas, jorge
mautner & tulipa ruiz), o inescapável música de bolso (mesmo que
atualizando menos), o inspirado don’t
touch my karaoke, o projeto
in.casa (com gente como barbara eugênia, pélico e romulo fróes cantando acusticamente
em suas próprias casas) e os programas televisivos cada canto
(canal brasil), cantoras do
brasil (canal brasil) e som
brasil (tv globo).
não é possível que esse sujeito tenha ouvido decentemente
essa ruma de discos e músicas! tá querendo aparecer, só pode! pior (melhor?)
que ouvi. trabalhando, no carro, conversando, fazendo nada, nos mais diversos jeitos
do dia a dia. os que ouvi mais acabam entrando na lista principal, enquanto os
que ouvi menos vão pras secundárias ou acabam emplacando uma música. e ainda
tiveram outros sons que passaram por mim e nem entraram e, claro, não ouvi uma
porrada de outros (nada de grizzly bear, the xx, bat for lashes, godspeed you! black
emperor, dan deacon, liars, swan, ariel pink, essas coisas indie). mas nessas
listas o que acho mais bacana é reunir informações e links em um só
lugar, traçando panoramas pessoais sobre o que está sendo produzindo hoje, mais
do que falar que uma coisa é melhor que outra.
como em 2010,
quando saiu bad bad things, o francês
blundetto é um dos meus destaques do ano. warm
my soul é disco muito lindo porque traz um pouco de tudo que tem mais me interessado ouvir nos
últimos tempos, e com balanço e doçura. nessa mesma onda, só que com vários
discos lançados no ano, entram também o inglês quantic e o americano shawn lee,
sendo que quantic é um dos responsáveis pela minha recente paixão por música
colombiana. outra delícia é novamente ouvir trabalhos muito interessantes de
veteranos como leonard cohen, lee scratch perry, iggy pop, jimmy cliff e patti smith.
e por fim destaco na lista uma jovem turma inglesa que igualmente dominou
meus ouvidos durante o ano: michael kiwanuka, the heavy e the skints. seguem.
O MUNDO É GRANDE PRA CARAMBA – e muito outros sons rondaram
por aí durante o ano. alguns dos discos citados abaixo só não entraram na lista
acima por uma questão de centésimos de segundos. outros emplacaram na lista
de músicas. mas uma coisa é certa: tudo vale ouvir (se puder ou tiver
interesse, claro).
uma outra
classe dessas coletâneas são as dedicadas exclusivamente a um artista ou um
grupo e nesse balaio também rolaram este ano discos/caixas revisionistas de
figuras como o can (the
lost tapes), eddie holland (it moves me: the complete recordings 1958-64), fela kuti (live in detroit 1986), guelewar (touki
ba banjul: acid trip from banjul to dakar), le super borgou de parakou (the bariba sound 1970-76), lee scratch perry & the upsetters (high plains drifter: jamaican 45′s 1968-73),
lou ragland (i travel alone), madness (forever
young: the ska collection), rahsaan roland kirk (spirits
up above: the atlantic years 1965-76), shorty long (here
comes… shorty long: the complete motown stereo masters), sory kandia kouyaté (la voix de la révolution), the funkees (dancing time: the best of eastern nigeria’s afro rock exponents 1973-77),
tunji oyelana (a
nigerian retrospective 1966-79) e wendy rene (after
laughter comes tears: complete stax & volt singles + rarities 1964-65).
desdobramento estratégico da lista de melhores músicas brasileiras do ano publicada aqui, a coluna da semana passada no yahoo foi uma selecta de dez canções que imaginei serem interessantes para mostrar pro leitor de lá. qual não foi minha surpresa quando começaram a rolar vários comentários detonando o gosto dessa "estagiária ridícula"!? o yahoo é isso, um pescotapa no ego.
10 MÚSICAS QUE VOCÊ DEVERIA TER OUVIDO EM 2012
Fim de ano é tempo de listas, só que dessa vez resolvi fazer
algo diferente. Separei 10 músicas brasileiras da lista de 50 que publiquei no meu blog
pessoal, o Esforçado.
Não porque sejam melhores que as outras 40, mas por serem ótimos exemplos para
os comentaristas apocalípticos aqui do Yahoo!
que a música brasileira anda muito bem, obrigado. Quem só consome música
através de TV e rádio pode até achar que o país anda “perdido”, na mesma. Não
existe muita oferta mesmo. É que as coisas do mundo estão na internet, minha
nega. Basta ter um pouco de curiosidade. Escuta só.
Mahmundi é pseudônimo do trio liderado pela cantora e
compositora Marcela Vale, carioca de 25 anos. “Se assim quiser” está em seu
trabalho de estreia, o EP Efeito das
Cores. Tecladinhos saídos diretamente dos anos 1980 se juntam docemente com
programações eletrônicas em clima de fim de tarde. E Marcela só cantando coisa
boa de fazer. Autoajuda deveria ser assim.
Filho do compositor Ivor Lancellotti, parceiro de bambas
como João Nogueira, Paulo César Pinheiro e Leci Brandão, Alvinho começou a
cantar e mostrar suas músicas no grupo Fino
Coletivo e só agora estreou solo em O
Tempo Faz a Gente Ter Esses Encantos. O título do disco, aliás, é um dos
versos de “Alegria da gente”, sambinha espertíssimo, moderno e tradicional, que
só poderia ter sido feito sob o efeito da alegria solar do Rio de Janeiro.
Em quase todas as músicas do Letuce quem canta lindamente é
Letícia Novaes, mas esta, especialmente, traz os vocais do guitarrista Lucas
Vasconcellos, parceiro de Letícia de música, vida e vice-versa. Música de Manja Perene, segundo disco do casal
carioca, “Areia fina” é um rock cheio de climas sobre as descobertas, algumas
doloridas, do amor.
Marchinha dramática sobre amores perdidos, “A carta de amor”
é também uma ótima porta de entrada para o som desse grupo de Aracaju, Sergipe.
Tem também brega na mistura, fator recorrente na nova música feita no
Norte-Nordeste, e a ótima voz de Diane Velôso.
Do alto seus 73 anos, a cantora paraense costuma ser
comparada a Dona Ivone Lara, Clementina de Jesus e Omara Portuondo, mas em seu
disco de estreia (Feitiço Caboclo) é
possível ouvir todo seu brilho próprio. Dona Onete passeia por carimbós
maliciosos como “Jamburana” e lindas
baladas bregas como essa “Poder da sedução”, que é também tango com pitadas
eletrônicas em meio a lamentos de cabaré amazônico.
Uma das revelações do jovem rap paulistano, Flow MC é também
um dos organizadores da tradicional Batalha de MCs do Santa Cruz e “Pode para”
está em sua terceira mixtape, SensaFLOWnal. Os samples de “Abrigo de vagabundos” (Adoniran
Barbosa), em gravação do Demônios da Garoa, são apenas o começo de um
surpreendente e novo cruzamento de rap com samba (paulista). E o sujeito ainda
possui humor e um fraseado afiadíssimo.
Nove anos separam a estreia solo de BNegão em Enxugando Gelo deste recente e
igualmente ótimo disco Sintoniza Lá.
Entre muitas canções cheias de suingue e politização destaque para “O mundo
(Panela de pressão)”, uma mistura de funk, rap, rock e afoxé sobre as
encruzilhadas desse mundão grande sem porteira.
3) “Afoxoque” (Curumin, com participação de
Russo Passapusso)
Música de Arrocha,
um dos melhores discos do ano e o terceiro trabalho solo do
multiinstrumentista, cantor e compositor paulistano. Influências africanas
misturadas com programações eletrônicas dão o tom de uma poética e poderosa
canção de protesto feita em parceria com Russo Passapusso, vocalista do Baiana System.
Otto talvez seja o mais conhecido dessa lista, afinal
começou no Mundo Livre S/A nos anos 1990 e depois construiu sólida carreira
solo (dois anos atrás emplacou “Crua”
em trilha de novela global). “Exu parade” está em seu quinto disco, The Moon 1111, e é uma pedrada das mais
dançantes do cancioneiro do pernambucano. Pop, batuque, música eletrônica e
celebração em alta velocidade.
5) “Piloto de fuga” (Maga
Bo, com participações de Funkero e BNegão)
Disco de estreia do produtor americano que vive desde 1999
no Rio de Janeiro, Quilombo do Futuro é uma impressionante mistura de ritmos
nordestinos, música eletrônica, africanidades e pancadões. Entre as muitas e
ótimas faixas destaque para “Piloto de fuga”, uma prova da relevância e do
poder sonoro do funk carioca. Sem falar na vontade louca que dá de sair
dirigindo pela cidade (qualquer cidade, estrada).
bem, a lista de melhores
músicas brasileiras do ano já trazia indicações de quais discos ficariam
entre os bonzões: as estreias de gaby amarantos, los sebosos postizos, maga bo,
oquadro e alvinho lancelotti, e ainda curumin, tulipa ruiz, lucas santtana,
letuce, gui amabis, siba e bnegão & os seletores de frequência. discos
fortes, variados, alegres, melancólicos e, acima de tudo, repletos de ótimas músicas.
mas acho que dois discos resumiriam o ano pra mim: arrocha, o terceiro do paulistano
curumin, e treme, a estreia de gaby
amarantos.
arrocha por seus
cruzamentos surpreendentes e orgânicos do batuque afro-brasileiro com música
eletrônica, e sem jamais esquecer a necessidade por canções, refrões, pegada,
balanço, amor, experiências. e por músicas como “afoxoque”, “selvage”,
“passarinho”, “treme terra”, “paris vila matilde”, “doce” e “pra nunca mais”,
além da regravação linda de “vestida de prata” (paulinho boca de cantor, 1981)
e da parceria com russo passapusso (baiana system).
treme por suas
gigantescas possibilidades pop. gaby amarantos conseguiu um feito raro no
brasil, pois é, ao mesmo tempo, hype e popularíssima (claro que isso não dura
muito). seu disco de estreia, que começou a ser lançado no final de
2011 com o clipe de “xirley”,
reúne fernanda takai e dona onete, thalma de freitas e zezé di camargo &
luciano, zé cafofinho e veloso dias, kraftwerk e gang do eletro, todo um
tsunami de altas e baixas culturas. ah, se um pedacinho da música pop mundial
tivesse tanta informação como nas músicas cantadas por gaby... exemplos não
faltam, vide “merengue latino”, “eira”, “gemendo”, “pimenta com sal”,
“mestiça”, “coração está em pedaços”, “ex mai love”, “galera da laje” e
“chuva”.
dessa lista gostaria de destacar ainda os excelentes e
densos discos de rap do carioca-paulistano mc shaw (orquestra simbólica) e dos paulistas do síntese (sem cortesia, e ah, paulistas de são
josé dos campos), bem como os novos trabalhos de uma turma muito produtiva de
são paulo, bahia fantástica de
rodrigo campos e metal metal, do
trio juçara marçal, kiko dinucci e thiago frança. este último, saxofonista da
banda do criolo, também lançou o belo instrumental etiópia sob o pseudônimo sambanzo (dinucci incluso). falando em
instrumental, uma ótima surpresa foi interferências,
disco de estreia do improvisado trio (marcelo castilha, meno del picchia e
pedro ito). e pra finalizar, outras três estreias muito felizes, café preto (projeto adubado de cannibal
do devotos do ódio), claridão (do
capixaba indie silva) e le son par lui même (o multifacetado primeiro solo de
dudu tsuda, que foi jumbo elektro, cérebro eletrônico, trash pour 4, etc).
detalhe: os últimos discos a entrar na lista, tipo 43 do segundo tempo, foram abraçaço de caetano veloso e o extraordinário mils crianças do hurtmold.
MENÇÃO HONROSA - não tem como não falar de alguns ótimos
tributos/coletâneas lançados no ano, destacando primeiro os que foram produzidos de forma
independente, tais como o duplo re-trato los hermanos (com bárbara
eugênia, cícero, dan nakagawa, hidrocor, lula queiroga, érika machado,
nevilton, do amor, velhas virgens, tibério azul, banda gentileza, nervoso &
os calmantes, etc.), o variadão brasileiros (com pélico cantando
cartola, mahmundi de rita lee, bazar pamplona de dorival caymmi, etc.) e o
muito excelente jeito felindie (tributo ao raça
negra com lulina, amplexos, letuce, vivian benford, harmada, minha pequena
soundsystem, etc.). menções honrosas também para o multinacional a tribute do caetano veloso(com
beck, chrissie hynde, seu jorge, marcelo camelo, jorge drexler, céu, qinho, momo,
tulipa ruiz, mariana aydar, etc.) e o projeto transglobal paraense terruá
pará vols. 1 e 2 (com gang do eletro, gaby amarantos, mestres da
guitarrada, lia sophia, dona onete, pio lobato, metaleiras da
amazônia, etc.)