sábado, 22 de dezembro de 2012

caranguejo eu, caranguejo tu

após voltar ao mundo dos frilas uma das primeiras coisas que aconteceu foi uma pauta aceita pela trip. o tema da edição que acabou de chegar às bancas é praia e nela emplaquei uma reportagem sobre a caranguejada, evento tradicional das noites de quinta em fortaleza. quer dizer, originalmente era uma reportagem, mas por causa da dificuldade de encontrar fotos legais do evento (e sem tempo de produzí-las) acabou virando uma nota. de modos que... é uma semi-estreia na trip (agradecimentos a lino bocchini que pegou a pauta e lia hama que editou o texto). segue, portanto, o original.



CARANGUEJAR, VERBO INTRANSITIVO


Nas noites de quinta, as praias de Fortaleza são o palco de uma inusitada mistura que envolve leite de côco, coentro, forró, piadas e crustáceos piauienses

Que uma coisa fique clara logo de início. Os caranguejos que participam de uma das maiores tradições gastronômicas de Fortaleza não são locais. Nenhum deles. A típica caranguejada é feita com exemplares de Ucides cordatus cordatus – o bom e velho caranguejo-uçá – pescados no piauiense Delta do Parnaíba e em Belém. É que o prato ganhou status de atração nobre nas noites de quinta na cidade, tanto nas barracas da Praia do Futuro quanto em restaurantes, e a demanda passou a ser tão alta que os mangues da costa cearense não deram conta.

“Essa história começou aqui no Chico do Caranguejo em 1987 por obra do Seu Francisco Quirino, pai do Chico. É que naquela época os caranguejos chegavam de Parnaíba somente às quintas e era um jeito de comemorar com os bichos mais fresquinhos”, explicou André Brauna Santos, 24 anos, subgerente há três anos da barraca, uma das mais conhecidas da Praia do Futuro.

Atualmente os crustáceos só não chegam às segundas e a logística de seu transporte é quase militar, pois precisam chegar vivos ao caldeirão, distante pelo menos 500 km de seu habitat natural. “Só aqui na barraca são consumidos 3 mil caranguejos por noite de quinta e distribuímos outros 15 mil”, enumera orgulhoso.

Regados a leite de côco, cebola, pimentão, cebolinha e coentro, os milhares de caranguejos-uçá consumidos nos 6 km da costa da Praia do Futuro foram, com o passar do tempo, ganhando acompanhamentos pitorescos. Desde apresentações ao vivo de música até shows de humor, vale tudo para chamar o cliente nativo (os turistas ainda preferem o dia, o pé na areia).

Agora pense no seguinte cenário: famílias, alguns casais, grupos de amigos, todos chegando arrumados para ocupar o grande salão aberto da barraca-restaurante; um vento noturno correndo pela praia; e o barulho incessante de batidas e patas sendo quebradas e devidamente chupadas. Para se chegar à caranguejada ideal liquidifique tudo isso ao som de atrações como grupos de forró pé-de-serra, cantores genéricos de MPB e os comediantes Ciro Santos e Augusto Bonequeiro (e seu boneco Fuleragi). Afinal, os caranguejos podem não ser locais, mas as piadas de corno são 100% cearenses.

p.s.: procurando uma trilha pra cá achei essa boa e caseira versão instrumental de "vendedor de caranguejo" (gordurinha) feita por um tal de araújo bossa nova.

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