segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

60 músicas gringas de 2014 [e algo mais]

chegando ao fim da retrospectiva musical deste louco ano de copa e eleições. já passaram por aqui músicas e discos brasileiros, e discos gringos. agora é a vez das músicas gringas em uma lista maior [são 60 e com mais um chorinho massa].

2014 foi o ano de mais uma ótima música pop & fenômeno cultural, “happy” do pharrell williams, que na verdade saiu no final de 2013 como parte da trilha sonora da animação meu malvado favorito 2, mas que estourou esse ano e foi lançada em seu segundo disco solo. 2014 também foi o ano de novos ótimos trabalhos [e, consequentemente, músicas] de veteranos como leonard cohen, snoop dogg, de la soul, neneh cherry, tony allen, wu-tang clam e prince.

no entanto, como tem sido quase uma regra inconsciente de todas as listas que faço desde 2009, grande parte das músicas é de artistas estreantes ou com menos de dez anos de carreira. outra quase regra é a variedade de lugares, pois tem gente de burkina faso [joey le soldat], togo/frança [vaudou game], colômbia [meridian brothers], escócia/libéria/nigéria [young fathers], nigéria [tony allen], austrália [chet faker], canadá [leonard cohen, alejandra ribera e the souljazz orchestra], sudão/inglaterra [sinkane], frança [sebastien tellier e guts], suécia/inglaterra [fatima], inglaterra [sbtrkt, wiley e lily allen], suécia [lykke li], egito [maryam saleh], frança/cuba [ibeyi], portugal [capicua], chile [ana tijoux], holanda [jungle by night], palestina [adnan joubran] e áfrica do sul [nozinja]. então, sem mais delongas, e em ordem alfabética...


a tale of 2 citiez”, j. cole
ailleurs”, ben l'oncle soul – só achei essa versão ao vivo
almost like the blues”, leonard cohen
as the world turns”, guts [com rah digga & akua naru]
burkin bâ”, joey le soldat – clipe
close your eyes (and count to fuck)”, run the jewels [com zack de la rocha]
confessions”, badbadnotgood [com leland whitty]
cool story bro”, people under the stairs
dangerous bees”, vaudou game
day one”, bambu
de mi caballo, como su carne”, meridian brothers
disco/very”, warpaint – clipe
do girls”, theophilus london
fever”, the black keys
flute”, buckshot & p-money [com joey bada$$ & cj fly of pro era]
funk’n’roll”, prince
g’ shit”, t.i. [com young jeezy & watchtheduck]
get a grip”, snoop dogg & tha dogg pound gang
get up”, young fathers – clipe
get urs”, zion I [com mr. lif, kev choise, deuce eclipse, opio & sadat x] – clipe
go back”, tony allen [com damon albarn] – clipe
gold”, chet faker – clipe
hang ten”, hail mary mallon
happy idiot”, tv on the radio – clipe
happy”, pharrell williams – clipe
hold your applause”, reks – clipe
how we be”, sinkane – clipe
idle delilah”, azealia banks
kingdom come”, the souljazz orchestra
l'adulte”, sebastien tellier – clipe
la neta”, fatima – clipe
manchild”, tune-yards
naughty by nature”, kool a.d. – clipe
new dorp. new york”, sbtrkt [com ezra koenig]
next time”, curtis harding
no me sigas”, alejandra ribera – só achei essa versão ao vivo
no rest for the wicked”, lykke li – clipe
nouh al hamam”, maryam saleh
o’ shut up”, de la soul
out of the black”, neneh cherry [com robyn] – clipe
rapid eye movement”, pharoahe monch [com black thought]
river”, ibeyi – clipe
ron o’neal”, wu-tang clam
sanctified”, rick ross [com kanye west & big sean] – ao vivo
sheezus”, lily allen – clipe
skyfall”, travis scott [com young thug]
soldadinho”, capicua [com gisela joão]
somos todos erroristas”, ana tijoux
step 21”, wiley
still shinin’ part 2”, big baby gandhi
tasmatica”, jungle by night – só achei essa versão ao vivo
that bat black licorice”, jack white
that moment when”, adnan joubran
throw it down”, dominique young unique – clipe
tsekeleke”, nozinja – clipe
un poquito mas”, captain planet [com chico mann]
wade in the water”, homeboy sandman
we ain’t gonna die today”, atmosphere – clipe
when the people cheer”, the roots [com greg porn] – clipe

acabei separando parte dessas 60 músicas e fiz uma playlist com 25 das que mais ouvi esse ano. saca só.


tá pouco de música, né? então seguem mais 50, todas bacanas, divertidas ou instigantes; e todas com pegada e, claro, lançadas este ano.

a brain in a bottle”, thom yorke – clipe
all alone”, n.o.r.e.
artificial sweeteners”, fujiya & miyagi
ass drop”, wiz khalifa
ba$$in”, yelle
black woman”, seun kuti & egypt 80
blessed”, sizzla
boom ka boom”, dub colossus [com the dub disciples] – clipe
bulletproof resume”, blueprint [com illogic]
by hook or by crook”, ikebe shakedown
come on to me”, major lazer [com sean paul] – clipe
confidence”, matisyahu [com collie buddz]
crop circles”, frikstailers – clipe
digital witness”, st. vincent – clipe
don't leave me this way”, lee fields – ao vivo
dusty signal”, al’tarba – clipe
everyday robots”, damon albarn – clipe
gangsta”, schoolboy q
george clooney”, transit
great things”, nehruviandoom
herder can dance”, red snapper
hot”, cunninlynguists [com celph titled & apathy]
hot love”, we are shining – clipe
i'm alive”, naomi wachira – ao vivo
killing me”, little dragon – ao vivo
kingdom”, common [com vince staples] – clipe
los angeles international”, king fantastic
love don’t live here no more”, ghostface killah [com kandace springs] – clipe
love thy neighbour”, orlando julius & the heliocentrics
motion sickness”, shabazz palaces – clipe
navigator”, the asteroids galaxy tour
nebulous”, the underachievers – clipe
numbers”, fka twigs
pobre e rico”, batida [com matadidi mario] – clipe
postman”, hollie cook
powerful”, goapele
retro”, childish gambino
road to hana”, rafter
sapiosexual”, ab-soul`
sonny's boogaloo”, sonny knight & the lakers
success”, blitz the ambassador – clipe
super critical”, the ting tings
the g.o.d. father of soul part 3”, amerigo gazaway – mashup
the release”, dubmatix
thuggin’”, freddie gibbs & madlib
u can’t touch this”, wayne krantz
what it’s worth”, black milk – clipe
whoa whoa whoa”, watsky – clipe
woohoo”, eli paperboy reed – clipe
you’ll be lonely”, sharon jones & the dap kings – ao vivo

ah, tem mais essas seis músicas que ouvi bastante durante o ano [algumas continuo ouvindo] e que não consegui achar streaming em lugar nenhum, fato surpreendente nesses tempos de site internet.

“ashes to ashes”, shawn lee [com andrew “the undertaker” cooper]
“collision”, novox
“karadeniz”, karl hector & the malcouns
“the castle”, woima collective
“tu es beau”, deladap
“uranian willy [part 2]”, dub spencer & trance hill [com william s. burroughs]

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

50 discos gringos de 2014 [e algo mais]

já rolaram as listas de músicas e discos brasileiros do ano e agora, com alguma demora, segue a de discos gringos. são 50 também e, como sempre, a variedade é grande. tem umas moça daora na lista. veteranas como sharon jones, que acompanhada de sua banda fiel the dap-kings, lançou um disco com altos níveis de balanço e sentimento [give people what they want], e neneh cherry que, sob produção do four tet, retornou solo com blank project, ótimo disco, ao mesmo tempo pop, eletrônico e experimental. e tem novinhas como azealia banks, rapper veloz, elétrica e cheia de saber o que quer, e seu ótimo broke with expensive taste. ainda no rap, vieram ainda excelentes discos novos da chilena ana tijoux [vengo] e da portuguesa capicua [sereia louca], que seguem ampliando o vocabulário do rap, tanto pela língua que versam quanto pelo jeito de ver e pensar sobre as coisas do mundo.

tem instrumentais bacaníssimos. mais jazzísticos como o da molecada do badbadnotgood [III] e o novo encontro do trio medeski, martin & wood com o guitarrista john scofield [juice] ou de sonoridades africanas de várias partes do mundo como a dos holandeses do jungle by night [the hunt], dos alemães do karl hector & the malcouns [unstraight ahead] e do woima collective [frou frou rokko], dos americanos  da budos band [burnt offering], dos ingleses do red snapper [hyena] e do heliocentrics [que acompanham o mestre nigeriano orlando julius no excelente jaiyede afro].

funk afrobeat do togo. não tem como dar errado.

falando em áfrica, o continente que é início, meio e fim do melhor da música mundial, temos na lista também o rapper ganês blitz the ambassador [afropolitan dreams], o sudanês-anglo americano sinkane [e seu belo disco mean love], o blues rock tuareg malinês do tinariwen [emmaar], o gênio nigeriano, e baterista fundamental da banda de fela kuti, tony allen [film of life] e um dos filhos do fela, sean kuti [a long way to the beginning]. outro som da pesada veio da big band congolesa kasai allstars e a mistura de experimentalismos e tradições do disco beware of fetish. fechando o continente, o grupo vaudou game, formado na frança e liderado pelo togonês peter solo, e o sensacional disco apiafo, certamente um dos que mais ouvi esse ano.

capa de ... and then you shoot your cousin
the roots sempre fino. certeza de sons fora de série.

como disse na lista brasileira, o rap tá cada vez mais presente nas minhas audições e é porque é o gênero mais inquieto musicalmente e o mais radicalmente ligado à realidade. já apareceram aqui ana tijoux, capicua e blitz the ambassador, mas o grande manancial continua sendo os estados unidos. tem azealia banks, já mencionada, mas também a ótima dupla atmosphere [que acertaram mais uma vez grandão em southsiders], a dobradinha freddie gibbs & madlib [piñata], o malucão, e um dos integrantes do das racist, kool a.d. [word ok], o supergrupo the roots [...and then you shoot your cousin], os sempre poderosos wu-tang clam [a better tomorrow], o veterano snoop dogg, que não para de produzir e está cada vez melhor [that's my work 5 é seu novo trabalho com tha dogg pound gang], o jovem j. cole [e o surpreendente 2014 forest hills drive], o projeto hail mary mallon, que tem aesop rock como integrante [o sensacional beastiary é o segundo disco deles], a homenagem do produtor shawn lee ao hip hop [golden age against the machine], as rimas muito políticas de bambu [party worker] e, correndo por fora, o ótimo reks [eyes watching god]. enquanto isso, lá do velho mundo, vieram o produtor francês guts [hip hop after all] e o trio escocês-africano young fathers [dead].

leonard cohen. MESTRE.

alguns medalhões também apareceram muito bem em 2014. destaque para o grande leonard cohen e seu lindão popular problems, prince e o balanço de art oficial age, lee ‘scratch’ perry e a renovada magia do dub em back on the controls, o soul que não envelhece de lee fields em emma jean, beck e seu delicado morning phase. um semi medalhão é damon albarn que finalmente, após tantos projetos excelentes pós-blur, assinou pela primeira vez um disco com seu próprio nome [o resultado foi o bonito everyday robots]. 

capa linda de salvadora robot, trabalho mais recente 
dos colombianos do meridian brothers

pra finalizar esses longos [porém breves] comentários sobre os 50 discos escolhidos pela gerência, uma miscelânea de gêneros e lugares. tem a cumbia digital, fascinante e perturbadora, dos colombianos do meridian brothers [salvadora robot], o soul francês, jovem e elegante, de ben l'oncle soul [a coup de reves], o folk eletrônico do australiano chet faker [built on glass], a bossa pop francesa de sébastien tellier [l'aventura], o pop assumido e muito bem feito de pharrell williams [g i r l], o funk global, mas principalmente latino, do produtor norte-americano captain planet [esperanto slang], e uma jovem revelação do soul, o americano curtis harding [soul power]. sem falar em bandas de rock bem estabelecidas e que mantiveram o alto nível, mesmo que o tv on the radio tenha se saído melhor com seeds que o the black keys com turn blue. opa, opa, já ia esquecendo: o retorno triunfal do soulman e ex sex-symbol problemático d’angelo e seu altamente politizado black messiah. é muita coisa boa, minha gente. segue então a lista em ordem alfabética e com links para encontrar os discos.

ana tijoux - vengo
atmosphere - southsiders
azealia banks - broke with expensive taste
bambu - party worker
beck - morning phase
ben l'oncle soul - a coup de reves
blitz the ambassador - afropolitan dreams
capicua - sereia louca
captain planet - esperanto slang
chet faker - built on glass
curtis harding - soul power
d’angelo & the vanguard - black messiah
damon albarn - everyday robots
guts - hip hop after all
hail mary mallon - beastiary
j. cole - 2014 forest hills drive
jungle by night - the hunt
karl hector & the malcouns - unstraight ahead
kasai allstars - beware of fetish 
kool a.d. - word ok
lee ‘scratch’ perry - back on the controls
leonard cohen - popular problems
meridian brothers - salvadora robot
neneh cherry - blank project
pharrell williams - g i r l
prince - art official age
red snapper - hyena
reks - eyes watching god
sébastien tellier - l'aventura
seun kuti & egypt 80 - a long way to the beginning
sharon jones & the dap-kings - give people what they want
shawn lee - golden age against the machine
sinkane - mean love
the black keys - turn blue
the budos band - burnt offering
the roots - ...and then you shoot your cousin
tinariwen - emmaar
tony allen - film of life
vaudou game - apiafo
woima collective - frou frou rokko
wu-tang clama better tomorrow

e quer saber de uma coisa?! tome mais 45! mas agora vão sem links porque daí acaba o ano e eu não publico esse lance, desculpaê rsrs [nossa, ainda falta a lista de músicas gringas! xô correr].

afro latin vintage orchestra - pulsion
big baby gandhi - nhjic
black milk - if there's hell below
blueprint - respect the architect
brian eno & karl hyde - someday world
de la soul - smell the da.i.s.y.
dub colossus - addis to omega
fantasma - eye of the sun EP
fatima - yellow memories
flying lotus - you're dead!
frikstailers - crop circles EP
fujiya and miyagi - artificial sweeteners
ghostface killah - 36 seasons
ginger baker - why
hollie cook - twice
homeboy sandman - hallways
ikebe shakedown - stone by stone
jack white - lazaretto
khun narin - khun narin's electric phin band
king fantastic - the great man theory
le1f - hey
lily allen - sheezus
little dragon - nabuma rubberband
lykke li - i never learn
matisyahu - akeda
melvin van peebles & the heliocentrics - the last transmission
naomi wachira - naomi wachira
people under the stairs - 12 step program
pharoah & the underground - spiral mercury
pharoahe monch - ptsd [post traumatic stress disorder]
rafter - it's reggae
rick ross - mastermind 
run the jewels - run the jewels 2
sbtrkt - wonder where we land
schoolboy q - oxymoron
shabazz palaces - lese majesty
st. vincent - st. vincent
the bad plus - the rite of spring
the cambodian space project - whisky cambodia
the skints - short change EP
the souljazz orchestra - inner fire
thom yorke - tomorrow's modern boxes
tune-yards - nikki nack
we are shining - kara
wiz khalifa - 28 grams

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

pelas marginais os pretos agem como reis

doze anos separam o atual cores e valores do anterior disco de inéditas do racionais mcs, nada como um dia após o outro dia. o que era caudaloso e prolixo no início dos anos 2000, tornou-se sintético, curto e direto nos impressionantes 32 minutos de duração neste trabalho de agora. densos e afiados eles permanecem.

fui ao show de lançamento, neste sábado 20 de dezembro, do cores e valores no grande, feio e com som péssimo espaço das américas. e foi bem interessante ver e ouvir pela primeira vez esses tempos e músicas diferentes do racionais em uma mesma noite. 


mas antes, um flashback rápido... quando li o texto do andré caramante, o primeiro a sair com mais informações sobre o novo disco, pouco antes de seu lançamento oficial em 25 de novembro, bateu uma frustração. pouco mais de meia hora? faixas de dois minutos ou menos? tanto tempo pra tão pouco? e músicas sensacionais como “mulher elétrica” não ganharão registro oficial?

então, na madrugada deste 25 de novembro, enquanto os estados unidos ferviam em chamas por mais um policial branco sendo inocentado pelo assassinato de um negro [sim, ferguson], veio cores e valores. uma, duas audições depois, a frustração virou euforia [quer dizer, ainda sobrou um pouco de frustração, pois quero mais racionais, mais e mais, e não só eu; por sorte teve disco solo do edi rock no ano passado e ano que vem tem solo de mano brown e outro com ice blue e helião; os caras estão produzindo bastante].

euforia porque é um disco poderoso - mesmo que não tenha canções épicas como “negro drama”, “vida loka”, “homem na estrada” e “capítulo 4, versículo 3”- e acredito que vai melhorar com o tempo. principalmente se for o primeiro capítulo de uma série, ou uma nova fase, como disse mano brown em entrevista a rolling stone [“o álbum não acaba ali. ele só pavimenta o caminho para uma nova estrada”]. é também uma mistura veloz de memórias [de mano brown e edi rock, basicamente], ficções [o lado gangsta dos ladrões de banco da capa/contracapa do disco] e crônicas das mudanças sociais e desigualdades permanentes na periferia paulistana da última década.


então, quase um mês após o lançamento, cores e valores chegou pela primeira vez ao palco. apesar do, repito, som péssimo [acústica idem] do espaço das américas, que prejudicou alguns momentos do show [não dava pra entender algumas partes de edi rock], taí um disco que faz muito mais sentido ao vivo, principalmente pela força cênica do racionais.  estavam lá uma fachada de caixa forte de banco como cenário principal, com direito a torres de vigilância e kl jay e outros dois djs [cia e ajamu] no alto da muralha, motos atravessando o palco, uma caçamba, helião, lino crizz, b-boys mascarados e mano brown, ice blue e edi rock, ríspidos e atentos, sempre com muito o que dizer.

toda a primeira parte do show foi de cores e valores - mas acho que não na ordem do disco - e ao vivo as rimas ganham sempre novas camadas. porque racionais mcs é muita informação reunida, muitas imagens criadas, muitos corações machucados por metro quadrado, e os 32 minutos desse disco costuram isso tudo em um roteiro intricado e moderno. ao vivo ganha suor e dramaticidade.


parte considerável do público - estimativa de umas 7 mil pessoas - já sabia algumas letras de cor: “preto zica”, “finado neguim” [tem vídeo logo abaixo], “você me deve” e “quanto vale o show?”, pelo que me lembro. primeira parte foi intensa com aquele ar de expectativa por testemunhar a primeira apresentação de um trabalho novo de um dos maiores grupos da história musical brasileira.

a segunda parte foi de relaxamento, pois vieram os hits e o bicho pegou de vez. “negro drama”, “homem na estrada”, “eu sou 157” e “vida loka [partes 1 e 2]”, por exemplo, colocam todas e todos para cantar junto, alto, e gesticular muito. gente de tudo que é tipo, certamente o público mais variado que vi nos últimos anos em são paulo. claro que tinha quem estava lá pela “balada” ou que se preocupava mais em filmar e se filmar do que assistir ao show, mas no geral rolou uma entrega coletiva.

e olha que, como quase sempre, eles não facilitaram: o show, que foi precedido por pequenas apresentações do obstinados [grupo da zona sul e não de osasco como escrevi antes; valeu cleiton magnum, nos comentários], dexter e negra li, só foi começar depois de 1 da manhã e acabou lá pelas 3, sem mais ônibus, metrô ou trem. também não teve discurso, nada de mano brown, e tirando ice blue que se jogou pra galera no final, não houveram afagos para o público. não importa. eles são como aqueles mestres orientais, rigorosos e poéticos, e podem muito bem dar uma cajadada em nossas cabeças porque certamente sabem de algo que a gente nem desconfia [e talvez nem eles saibam conscientemente]. somos o que somos.


p.s.: ano passado vi racionais na virada cultural e escrevi um texto sobre o classicão sobrevivendo no inferno para o livro indiscotíveis [lote 42], que foi lançado este ano, que acabou com show do disco novo cores e valores e marcou os 25 anos de carreira do grupo. tá pouco de racionais, manda mais.

sábado, 13 de dezembro de 2014

disney batido no açaí

tão mas tão divertido esse curta ‘encantada do brega’, que nada mais é que uma fábula escrachada e musical ambientada no infinito mundo das quebradas e aparelhagens de belém. a princesa é batedora de açaí, o príncipe é dj e por aí vai. e ainda tem participações de keila gentil e will love, da gang do eletro, gaby amarantos e paulo colucci [a aleijada hipócrita da saga de leona vingativa, igualmente paraense e debochada – leona, aliás, aparece rapidamente ao lado de gaby]. vários momentos impagáveis de zuera tipicamente paraense; escolha o seu preferido.


o curta tem página no facebook. curte lá pra saber mais.

atualização: pouco mais de um dia depois que postei o curta, o pessoal da produção disponibilizou a trilha para streaming e download. saca só.



sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

50 discos brasileiros de 2014 [e mais 25]

estamos aí no segundo capítulo da retrospectiva musical deste ano. já publiquei aqui a lista com 50 músicas brasileiras e agora é a vez dos discos. são 50 com uma lista bônus de outros 25. coisa pra diabo, eu sei, mas é só um pedacinho dos sons que chegaram a mim. dessa ruma alguns merecem destaque, pois me pegaram mais de um jeito ou outro. é mais ou menos assim...


pedra de sal - EP que é o primeiro de uma trilogia  - chegou agora no final e me derrubou rapidamente. é trabalho de várias belezas e muitas inquietações, alguma dramáticas, e mais um encontro forte de pernambuco [alessandra leão e rodrigo caçapa] e são paulo [kiko dinucci e guilherme kastrup]. e alessandra detona muito [“pedra de sal”, porra, o que é “pedra de sal”?!]. já o que vim fazer aqui é disco novo da alzira, o que me ganha de cara porque ela é uma das minhas cantoras/intérpretes/autoras preferidas de todos os tempos. daí que nesse disco ela canta só itamar assumpção, algumas inéditas, e com uma banda ótima. não é só impossível dar errado como ainda por cima dá muito certo. falando em itamar, o segundo disco de sua filha anelis assumpção, anelis e os amigos imaginários, é diversão do começo ao fim, é adulto e pop, é urbano e leve. anelis tá fazendo um carreira muito massa.


convoque seu buda, o disco de criolo após nó na orelha, corria muitos riscos comparativos e saiu-se muito bem. não tem o ineditismo da reinvenção do rapper e do encontro com Daniel ganjaman, mas tem alguns novos caminhos próprios e justas coerências, além de várias grandes canções. ainda na seara do rap, cruz do elo da corrente é mais uma prova da maturidade do gênero. ousado musicalmente, brasileiro e paulistano na medula, extremamente bem produzido, cruz é uma bela duma pancada. igualmente impactante, goma-laca é o disco do projeto de biancamaria binazzi e ronaldo evangelista com músicas afro-brasileiras gravadas entre as décadas de 1920 e 1950 e rearranjadas por letieres leite. e tudo fica ainda melhor com a escolha acertadíssima dos(as) intérpretes que, não coincidentemente, estão nessa lista também com seus excelentes trabalhos solo [juçara marçal, russo passapusso e lucas santtana – e tem ainda karina buhr, mas que não lançou disco novo esse ano].


chegamos então a juçara marçal e seu encarnado. uma das mais discretas e poderosas cantoras brasileiras, juçara fez de sua estreia solo um aperfeiçoamento natural do trabalho quem tem feito no metá metá: tradições afro-brasileiras sendo rasgadas por guitarras, por uma interpretação segura e pelo presente musical brasileiro. disco impressionante de uma artista idem. coisa boa é também a estreia solo oficial de moreno veloso, após a trilogia que fez com os amigos domenico e kassin, e é seu trabalho mais doce, mais bonito. já o novo nação zumbi pode não ter a pancadaria de outrora, mas os pernambucanos seguem criando músicas ótimas, honrando e muito as duas décadas do mangue beat/bit.


e o racionais mcs? após mais de uma década sem um cd de inéditas, o quarteto lançou cores e valores, um disco-conceito lotado de referências e histórias, um tantinho frustrante pela curta duração, mas as vozes e posturas dos caras continua muito impressionante. com 25 anos de estrada, o racionais é, sem sombra de dúvida, uma das coisas mais importantes da história da música popular brasileira.


finalizando os destaques, dois baianos. russo passapusso, vocalista do baiana system, lançou seu primeiro solo, o lindo paraíso da miragem, que tem reggae, ragga, balanço e muito o que falar e mostrar. o veterano na inquietude tom zé veio com vira lata na via láctea, seu melhor disco em tempos, principalmente porque seus arranjos diferentes, formações instrumentais variadas , e muitas participações interessantes [de criolo a filarmônica de pasárgada, de milton nascimento a kiko dinucci, de caetano veloso a o terno]. e, claro, um leque e tanto de ótimas músicas.

peraí, peraí... últimos destaques. juro! como disse na lista de músicas, continua rolando muito rap bom pra cacete. racionais, criolo e elo da corrente não me deixam mentir. mas vale ressaltar que tem ainda, nessa lista de 50, amiri, rincon sapiência, lurdez da luz, haikaiss e zulumbi aqui de são paulo, o pessoal do r93 de volta redonda e os gaúchos tuty e orquestra celestial do livre arbítrio. 

bom também quando somos pegos no contrapé. foi muito bom ser surpreendido pelos excelentes discos de adriano cintra [animal], alice caymmi [rainha dos raios], celso sim [tremor essencial], ian ramil [ian] e márcia castro [das coisas que surgem], além da descoberta do niteroiense salgueirinho e seu animalia, um disco eletrônico-instrumental bacaníssimo.

segue então, finalmente, a lista com 50 discos brasileiros deste ano segundo o gosto da casa, tudo devidamente linkado para ouví-los na íntegra [e ocasionalmente baixá-los]:

adriano cintra - animal
alessandra leão - pedra de sal EP
alice caymmi - rainha dos raios
amiri - antes, depois
anelis assumpção - anelis e os amigos imaginários
banda do mar - banda do mar
barbara eugênia & chankas - aurora
celso sim - tremor essencial
china - telemática
elo da corrente - cruz
estrelinski e os paulera - leminskanções
fábio trummer - trummer super sub america
filarmônica de pasárgada - rádio lixão
fino coletivo - massagueira
gilberto gil - gilbertos samba
gustavo galo - asa
ian ramil - ian
isaar - todo calor
juçara marçal - encarnado
lucas santtana - sobre noites e dias
lurdez da luz - gana pelo bang
m.takara - puro osso
márcia castro - das coisas que surgem
maurício pereira - pra onde eu que tava indo
mombojó - alexandre
moreno veloso - coisa boa
nação zumbi - nação zumbi
nina becker - minha dolores
o terno - o terno
orquestra celestial do livre arbítrio - o.c.l.a.
racionais mcs - cores e valores
rincon sapiência - sp gueto br EP
romulo fróes - barulho feio
rubinho jacobina - andando no ar
russo passapusso - paraíso da miragem
sacassaia - boca da terra
salgueirinho - animalia
saulo duarte e a unidade - quente
silva - vista pro mar
superlage - superlage
tatá aeroplano - na loucura e na lucidez
zulumbi - zulumbi

e aqui uma lista bônus com outros 25 trabalhos bem bons e que também deixaram suas marcas por aqui:

a banda dos corações partidos - a banda dos corações partidos
a fase rosa - leveza
afroelectro - mocambo EP
ceumar - silencia
de leve - estalactite EP
esdras nogueira - capivara
giancarlo rufatto - cancioneiro
graveola - dois e meio
holger - holger
inquérito - corpo e alma
jaloo - insight EP
judas - nonada
lamber vision - lamber vision
léo cavalcanti - despertador
naná rizinni - lá na naná
nego e - autorretrato
os the darma lóvers - espaço
pipo pegoraro - mergulhar mergulhei
rashid & kamau - seis sons EP
tássia reis - tássia reis EP

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

50 músicas brasileiras de 2014

virou rotina pessoal reclamar de mim mesmo pela cada vez maior dificuldade de fechar listas certeiras com as melhores músicas [ou discos] do ano. uma das razões é que é, de longe, o “produto” que mais consumo em qualidade e quantidade, e como tem muita música boa sendo lançada, vou fazer o quê?! quero mais é mostrar a variedade do que é produzido e do que ouço. então, sem mais desculpas, começo a retrospectiva musical de 2014 com as 50 melhores músicas brasileiras conforme o gosto e os limites da casa [tem, por exemplo, discos que não emplacaram música e vice-versa].


nesse ano resolvi agrupar em “gêneros”, ou em blocos, como preferirem [e aí sim as músicas estarão em ordem alfabética]. e começo com o rap, que é o que mais tenho ouvido nos últimos anos e o que mais tem empurrado a música popular brasileira pra frente. neste bloco estão duas das melhores músicas do ano, “plano de vôo” e “sobre o infinito e outras coisas”.

mais atentos(as) notarão a ausência dos racionais mcs, mas é que, pra mim pelo menos, o poderoso disco deles é mais um conceito que um conjunto de canções [e, portanto, estará na lista dos melhores discos]. quase todo rap da lista é de são paulo, mas tem porto alegre ali, curitiba acolá, são josé dos campos também, e por aí vai. ah, os blocos estão agrupados em playlists e quando tiver link na música é porque não achei no youtube.

“a marvada”, tuty [com rodrigo ogi]
“antônimos e sinônimos”, rocha
“até o fim sampa”, projetonave [com emicida]
“beijinho”, lurdez da luz
“cypher”, amiri [com léo supremacya e napalm]
“desse jeito”, mercúrias
“essa é pra você”, zulumbi
“neguim di kebra parte 2”, rincon sapiência
“plano de vôo”, criolo [com síntese]
por onde a fonte brota”, orquestra celestial do livre arbítrio
“r & k”, rashid & kamau
“sobre o infinito e outras coisas”, elo da corrente


e tome mais periferia com pancadões e rasteirinhas. nada de funk ostentação, que isso é coisa do passado e tava na cara que o fôlego era curto. mas tem sacanagem e duplo sentido sim, e tem usos muito novos e divertidos da música eletrônica. “patrão”, “passinho do romano” e “perereca suicida” são os destaques.

“patrão”, omulu
“dom dom dom”, mc pedrinho & mc livinho
“na casa do seu zé”, mc britney
“nega bass”, joão brasil
“passinho do romano”, mc dadinho
“perereca suicida”, mc japa


e a mpb? o que fazer com a mpb? ela ainda existe? essa coisa faz sentido? os dois próximos blocos foram divididos por mera formalidade e não existem medalhões da “chamada mpb” em nenhum. quer dizer, nesse tem tom zé, mas tom zé é sempre inquieto e seu cânone é muito pessoal e sempre foge do esperado. seu disco, aliás, é um daqueles difíceis de escolher apenas uma música [mesmo caso de juçara marçal, russo passapusso, anelis assumpção e moreno veloso]. desse bloco, os destaques são “pedra de sal” e “queimando a língua”, coisas lindas e fortes. ah, essa lista mpbística acabou gerando uma mixtape a pedido do hominis canidae/altnewspaper.

“asa”, gustavo galo [com ava rocha]
“casa vazia”, isaar
“filho de santa maria”, estrelinski e os paulera
“inconcluso”, anelis assumpção
meio dia”, filarmônica de pasárgada
“na menina dos meus olhos”, márcia castro [com mayra andrade]
“não acorde o neném”, moreno veloso
“partículas de amor”, lucas santtana
pedra de sal”, alessandra leão
“queimando a língua”, juçara marçal
retrato na praça da sé”, tom zé [com kiko dinucci]
“rosália”, pipo pegoraro
“sem sol”, russo passapusso [com anelis assumpção]
“tupitech”, celso sim
“vozes invisíveis”, graveola


o último bloco é mais rock, mais pop, mais um lance mpb esquema novo, ou não, já que tem carlinhos brown, guilherme arantes, uma instrumental eletrônica e canção com letra em inglês... enfim, tudo uma grande e brasileiríssima confusão. destaques desse bloco vão para “não vai dominar”, “descompasso” e “mais ninguém”.

“bote ao contrário”, o terno
climb the stairs”, barbara eugênia & chankas
“como é que a gente se ajeita”, fino coletivo
“descompasso”, fábio trummer
feio”, naná rizinni
lobo”, salgueirinho
“mais ninguém”, banda do mar
“não vai dominar”, adriano cintra [com guilherme arantes]
“novas auroras”, nação zumbi
o teu calor”, superlage
“onde somos um”, tatá aeroplano [com barbara eugênia]
“padê digital”, sacassaia
trapaça”, holger
“vc, o amor e eu”, carlinhos brown [com quésia luz]
“vou vagar meu bem”, galego
“zonzon”, saulo duarte e a unidade