terça-feira, 30 de agosto de 2011

dom salvador, 1970

entre o final de sua fase samba jazz em dom salvador (cbs, 1969) e a explosão funky de som, sangue e raça (cbs, 1971), o pianista dom salvador gravou um compacto que já anunciava algumas mudanças em sua sonoridade e a criação da banda abolição (que pouco depois se transformaria na igualmente lendária banda black rio). no lado a do compacto, a política "abolição 1860-1980", e no lado b, uma versão acelerada e black da ultranordestina "juazeiro".

Dom Salvador [compacto, 1970] by dafnesampaio4

a música "abolição 1860-1980" fez parte do 5º festival internacional da canção, que entrou para a história como aquele que revelou ao país o surgimento de uma forte e urbana cena musical negra. ainda estavam presentes, e bagunçando a cabeça dos militares, os revolucionários erlon chaves ("eu também quero mocotó") e tony tornado ("br-3").
todos pagaram caro pela afronta, principalmente erlon e tony, que ainda por cima namoravam mulheres brancas (vera fischer e arlete salles, respectivamente): erlon morreu de infarto em 1974, tony foi obrigado a abandonar a música e se refugiar como ator na tv globo e dom salvador se mudou para os estados unidos, onde vive até hoje.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

barba, cabelo e bigode

meio curta ficcional, meio clipe musical, "subirusdoistiozin" é o primeiro video a sair de nó na orelha, o excelente segundo disco do paulistano criolo. além da música ser uma das melhores do trabalho, o filme dirigido por tom stringhini tem uma produção fina, clima setentista, o sempre ótimo cenário da vila maria zélia, a presença marcante do ator abrahão farc (como o barbeiro) e várias referências a outras músicas do disco, tais como "freguês da meia noite" (que passa rapidamente no rádio) e "bogotá" (quando criolo diz para um garoto, "fica atento, quando alguém lhe oferecer o caminho mais curto, fica atento").



só não entendi direito o que motivou o banho de sangue no final. se alguém souber me jogue uma luz.

p.s.: depois vi essa apresentação do criolo no showlivre. músicas e entrevista, serviço completo.

laerte da semana #29

dá-lhe laerte!

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

rei momo dos sete mares

desde que ouvi marcelo "momo" frota pela primeira vez - mais ou menos na época que o carioca-mineiro estava lançando seu segundo disco, buscador, e participando do fino coletivo - me surpreendeu a densidade melancólica de suas músicas, todas tristes de doer. esqueçam pulinhos, piadas e raios solares porque o lance aqui é cantar a solidão, a busca, o amor, o silêncio, o mar e outras ondas. mas não pense que por causa disso a música é pesada ou, pior ainda, resultado de alguma pose calculada. sincero e com o coração na ponta das notas, o sujeito está lançando seu terceiro disco, serenade of a sailor (pimba noises, 2011), e já conseguiu reservar seu lugarzinho entre os melhores do ano. o disco é tão bonito que até minha habitual reserva quanto a músicas nacionais com letras em inglês desceu pelo cano. agora, se você achar que eu estou exagerando dê uma ouvida no disco que está todo disponível no soundcloud.

Serenade of A Sailor by Momo Serenade of A Sailor

dizem que o momo faz um folk psicodélico. não sei direito o que é isso, mas faz sentido. ah, serenade of a sailor traz as participações de músicos como caetano malta (co-produtor do disco), domenico lancellotti, lucas santtana, régis damasceno, rian batista, max sette, jam da silva e damien seth. só gente fina. e olha aí abaixo o momo em uma recente ediç
ão do cultura livre, programa radiofônico e agora também televisivo, que roberta martinelli apresenta com sua habitual desenvoltura.


quarta-feira, 24 de agosto de 2011

isso não vai ficar assim

pois é, banksy virou um documentarista e tanto. seu longa de estreia, exit through the gift shop (2010) é um tsunami de achados visuais, bom humor, temas urgentes, engajamento político, tudo envolto com um roteiro esperto que bagunça as fronteiras entre realidade e ficção. bastou assistir uma vez (e ainda rolaram outras duas) para o longa entrar na minha lista dos 10 melhores documentários de todos os tempos. mas fiquei sabendo via zupi e trabalho sujo que o artista plástico, grafiteiro, guerrilheiro visual aprontou mais uma. audiovisualmente falando.

feito para a tv, the antics roadshow - an incomplete guide to total anarchy é uma coletânea de ações políticas inusitadas, desde um moicano de grama colocado na célebre estátua de winston churchill até o belga atirador de tortas, passando pelos americanos que fingem dar palestras de autoajuda corporativa, o sujeito que invadiu o palácio de buckingham nos anos 80, e assim por diante. com maior ou menor engajamento político, todas as ações exibidas e comentadas durante os poucos mais de 40 minutos do documentário (algumas bem conhecidas) tem em comum uma indignação bem humorada e um vontade de deixar bastante claro a governos e corporações que autoritarismos oficiais não serão suportados sem alguma reação.

banksy, seu genião.


terça-feira, 23 de agosto de 2011

macro stop-motion

em setembro do ano passado, no post "micro stop-motion", coloquei uma ótima e curta animação produzida pela aardman e que se autointitulava "a menor animação stop-motion do mundo" (e que, ainda por cima, foi feita com um celular nokia). meses depois a produtora inglesa e a empresa finlandesa de celulares voltam com "gulp", "a maior animação stop-motion do mundo", feita em uma praia nos arredores de bristol. saca só a animação...



e aqui o making of.


a felicidade segundo marcelo jeneci

taí o esperado clipe de "felicidade", o primeiro do disco feito pra acabar (slap/som livre, 2010), de marcelo jeneci. filmado em sairé, cidade pernambucana distante 141 km de recife, o video é também um reencontro de jeneci com parte da família que ainda vive na cidade, terra de seus pais e avós, e de férias ocasionais.



jeneci e laura lavieri lançaram o video ontem no mtv na brasa, programa comandado pelo igualmente pernambucano china, e lá afirmaram que desejam exibí-lo na praça central de sairé junto com um documentário que fizeram com a família e que ainda está sendo finalizado.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

yahoo #12

pois então, amiguinhos e amiguinhas, a polêmica está de volta ao ultra pop! a coluna nova, "bastardo é a mãe", trata de misturas mashupeiras entre ritmos bem populares (funknejo, no caso) e o pessoal está surtando com "o baixo nível que tomou a música brasileira". o texto anterior, que segue abaixo, é sobre fofocas, demagogia e internet, o que não deixa de ser uma pensata de boteco sobre a psicologia desse pessoal que não sabe se comportar nas caixas de comentários.

FOFOCA EU, FOFOCA TU

Uma das coisas mais comuns no Brasil é enxergar problemas ou culpas somente nos outros. O sujeito faz uma barbeiragem daquelas de fazer o Vin Diesel corar de vergonha e se alguém o repreeende, mesmo com uma singela buzinada, o tal sujeito xinga, mostra o dedo do meio, puxa o revólver, faz o diabo. Ou então aquele pessoal que fala que a música de hoje em dia não é boa como a do passado e quando se pergunta de quem gostam surgem nomes como Shakira, Jorge Vercilo ou J. Quest (nada contra, são só exemplos). Ou ainda sites e revistas de fofoca, que todos acham uma falta do que fazer ao mesmo tempo que sabem os mexericos mais recentes.

“Que jornalismo é esse que fica dando trela para subcelebridades, mulheres-frutas, etc. É esse país que quer receber a Copa?!”. Basta dar as costas que a pessoa clica na primeira manchete com a Nana Gouvêa ou a Nicole Bahls muito à vontade em alguma praia carioca. Essa hipocrisia de não assumir suas próprias escolhas e/ou responsabilidades, de fingir ser quem não se é, é típico de uma sociedade de aparências. Só o tempo e a educação nos libertará disso (ou não), mas enquanto a iluminação não acontece precisamos assumir nossas baixezas ou pelo menos nosso espírito voyeurístico. E fofocar pode até não ser bom, mas é natural desse pessoal que somos nós.

Veja bem. Os tablóides são uma invenção da imprensa inglesa no século 19 e em suas chamadas espalhafatosas existia uma vontade de esculhambar com a realeza e a classe aristocrática. Trazer o altar pra rua, digamos assim. Em um mundo desigual a palavra era (e ainda é) a única arma disponível para quem não tinha poder. Notícias cheias delas então... Claro que isso também virou poder, mas aí é outra história.



Na década de 1920, os tablóides tomaram outra forma e ganharam novos alvos do outro lado do Oceano Atlântico com o surgimento de um novo tipo de nobreza: os astros e estrelas de Hollywood. Um público novinho em folha estava ávido por saber com quem Greta Garbo dormia ou como era Charles Chaplin por trás do bigode de Carlitos. O espírito de fofoca da rua ganhou ares de jornalismo sério e já não era mais possível saber se essa demanda foi criada pelo público ou alimentada pela própria imprensa. De qualquer forma, sensacionalismo (da mídia) e crueldade (do público) costumam andar de mãos dadas em meio a essa bisbilhotice toda.

Agora, para fazer isso de um jeito que fosse bom para todo mundo foi criado o colunismo social, uma versão chapa-branca do nosso voyeurismo. Domaram e comercializaram nossa curiosidade. E foi esse tipo de tablóide que venceu aqui no Brasil. Só que muito diferente da agressividade fofoqueira inglesa - que fez nascer casos extremos como o do centenário e recém-falecido News of the World que chegou a grampear ilegalmente telefones de astros, políticos, etc. -, a brasileira
é cordial, amiga, “inofensiva”.

Ninguém quer perder as entradas VIPs, a boca livre, o tapete vermelho, a entrevista exclusiva, e por isso o nosso jornalismo de celebridades estampa uma gravidez aqui, uma boa forma acolá, novos e velhos casais explodindo de alegria, um final de semana inesquecível em um castelo ou numa ilha. Nada de traições, filhos fora do casamento, dependências químicas (só se já estiverem no estágio de “superação”), xiliques em gravações, plágios, calotes fiscais e o escambau.

Talvez os ingleses façam uma “fofoca do mal” e os brasileiros sejam “do bem”. Aí vai da opinião de cada um. Só não vale culpar o mensageiro. Somos nós que mexemos no lixo e é lá que desejamos encontrar algo. Talvez por identificação ou então para passar o tempo. Quem sabe seja amor, ódio ou tara. Mas de repente a gente pode criar o Dia do Orgulho Fofoqueiro e se encontrar, trocar umas ideias...

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

aloe blacc em paris

muito bonito e singelo o clipe de "green lights", uma das músicas mais bonitas do discaço good things (stones throw, 2010). a voz e o balanço de aloe blacc são de uma delicadeza que vou te contar e o clipe acabou de sair, tá quentinho...



e o video - como antecipa o título do post e você pode notar pelas imagens - foi filmado em paris pelo pessoal sangue bom do blogothèque, o site criado pelo vincent moon, que ano passado fez outros dois também pelas ruas da cidade. na primeira parte, blacc canta "hey brother" e "i need a dollar" e na segunda engata "you make me smile" (todas essas três também estão no disco good things) e um cover de "use me" (bill withers), uma das preferidas da casa.

Aloe Blacc | I Need A Dollar | A Take Away Show - Part 1 from La Blogotheque on Vimeo

Aloe Blacc | A Take Away Show - Part 2 from La Blogotheque on Vimeo

a história da gravação desses dois videos você pode ler aqui.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

mel tormé, algumas moças e um par de motocas



curioso. não tinha lembrança alguma da trilha do filme educação (2009), de lone scherfig, e ela é bem boa. dela saiu essa "comin' home baby!" (bob dorough e ben tucker), suingue blueseiro da pesada que foi sucesso na voz de mel tormé (1925-1999) em 1962. mas esse video sensacional, tirado do "the judy garland show", é de algum lugar entre setembro de 1963 e março de 1964. quem me mostrou essa música foi carolina, que ouviu no blog do estúdio glória, uma loja de móveis garimpados e restaurados aqui em são paulo.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

roberto leal tomou um chá e saiu por aí

pois então, o grande, o inesquecível, o bate-pé luso-brasileiro roberto leal participou recentemente de um reality show lá na terrinha. mas último a sair era um falso reality show, no qual a única parte verdadeira eram as identidades dos participantes (todos celebridades). lá pelas tantas um deles faz um chá de cogumelo e o resultado é absolutamente hilariante, principalmente por causa de roberto leal.



valeu demais @henriheu.

p.s.: roberto leal foi o vencedor de último a sair. só pelo surto ao som de prodigy já merecia.

jay-z e kanye se divertem



para além do poder de um e da megalomania do outro, para além do talento e da grana de ambos, o esperado encontro de jay-z e kanye west no disco watch the throne tem peso e diversão. é bom, viu? mas ainda estou só começando a ouvir. sei que esse primeiro clipe a sair do trabalho, "otis" deixa claro que esses caras estão realmente se divertindo, fazendo o que gostam e sabem, numa relax, numa tranquila, numa boa. e a música ainda tem esses samples inspiradões tirados da clássica "try a little tenderness" do mestre otis redding. depois falo mais.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

no mês do cachorro louco...

enquanto isso, no excelente baú de velhas novidades do canal viva, é dia de estreia da minissérie agosto, uma adaptação bem feita do livro homônimo de rubem fonseca. fiz um texto pra revista monet desse mês com direito a um papinho virtual com zé henrique fonseca, cineasta, filho de rubem e que estreou como diretor naquele distante início da década de 1990.

josé mayer e vera fischer, protagonistas da minissérie

CLÁSSICOS - AGOSTO

As primeiras noites de agosto de 1954 foram agitadas no Rio de Janeiro. Modo de falar, claro. Aquelas primeiras noites mudaram a história do país. Tudo começou com o assassinato do empresário Paulo Gomes de Aguiar no primeiro dia do mês em um prédio numa das ruas mais movimentadas de Copacabana. Apenas quatro dias depois, e distante cerca de seis quarteirões, o jornalista Carlos Lacerda sofreu um atentado e quem acabou morrendo foi Rubens Vaz, major da Aeronáutica que fazia sua segurança.

Nada menos que o presidente Getúlio Vargas, principal alvo das críticas e denúncias de Lacerda, tornou-se o principal suspeito de ser o mandante, deixando o país em pé de guerra. Mas o Comissário Mattos acreditava que os dois crimes tinham alguma conexão. Pelo menos no campo da ficção, já que estamos falando de
Agosto, minissérie baseada em livro homônimo de Rubem Fonseca lançado em 1990 e que agora ganha reexibição.

Mistura hábil de personagens ficcionais com figuras muito reais, e excelente reconstituição de época, os 16 capítulos de
Agosto foram ao ar entre os dias 24 de agosto e 17 de setembro de 1993 com produção e direção artística do veterano Carlos Manga. Já o roteiro adaptado ficou a cargo de Jorge Furtado e Giba Assis Brasil, enquanto a direção foi dividida entre Paulo José, Denise Saraceni e o jovem estreante José Henrique Fonseca. “Foi o Manga que me convidou e de certa forma me ‘indicou’ [risos] ao Paulo José, diretor-geral da série. Dirigia algumas cenas externas e no final acabei fazendo algumas bem legais, mas rodei poucas em estúdio. A maior parte eram externas noturnas e assassinatos. Devo dizer que gostava”, relembrou Fonseca, não por acaso filho de Rubem Fonseca, em entrevista para a MONET.

Foi sua primeira grande experiência como diretor e mais tarde assinaria inúmeros clipes, shows, filmes publicitários, um dos episódios de
Traição (1998), o longa O Homem do Ano (2003) e a série Mandrake (2005-07). Detalhe: tanto O Homem do Ano quanto Mandrake tiveram participação direta ou indireta de Rubem Fonseca. “Já disse e repito que poderia ser o cineasta oficial do meu pai se fosse preciso, ou se alguém quisesse fechar um acordo desse... toparia na hora!!! Faço cinema por causa dele, pelos filmes que vi com ele, pelos livros que li na minha juventude, inclusive e sobretudo os que ele escreveu.”

Escritor da rua (sobretudo carioca), seco e intenso, Rubem Fonseca criou em Agosto uma história policial trágica ao redor do dividido Comissário Mattos (José Mayer). Honesto em meio a uma corporação corrupta, Mattos também balançava entre um amor do presente, Salete (Letícia Sabatella), e outro do passado, Alice (Vera Fischer), enquanto vivia consumido por uma intensa gastrite. A frágil Alice, por sua vez, tinha casado com Pedro Lomagno (José Wilker), tipo ambicioso e amante de Luciana (Lúcia Veríssimo), mulher de Paulo Gomes de Aguiar. Pois então, para controlar a empresa de Aguiar, Lomagno e Chicão (Norton Nascimento) arquitetam sua morte, o que não chega a ser um mistério para o espectador da minissérie.

Porém, Mattos se confunde com algumas evidências que ligam Gregório Fortunato (Tony Tornado), chefe da guarda pessoal de Getúlio Vargas acusado do atentado a Carlos Lacerda, à empresa ambicionada por Lomagno e o tem como suspeito da morte de Aguiar. Fortunato é o principal personagem real a participar da trama de
Agosto e estes paralelos entre a ficção e a não-ficção – a saber, o esfacelamento do governo de Vargas culminando no suicídio em 24 de agosto de 1954 – só amplificavam a roda viva de sentimentos e impulsos dos personagens.

“Quando a gente faz personagens nascidos da boa literatura a gente se torna melhor. Nem é muito mérito nosso não. Mas a gente fica visivelmente melhor quando fala texto de bons autores. Pra mim, [o Comissário Mattos] foi um crescimento na carreira”, relembrou José Mayer dentro do projeto Memória Globo. Mayer, aliás, não foi a primeira opção para viver Mattos. Quando Carlos Manga o chamou seu papel deveria ser o do vilão Pedro Lomagno e Mattos ficaria com Cláudio Marzo. Mas problemas de saúde deste o afastaram da produção e a oportunidade caiu como uma luva no estilo calado de Mayer (que, anos mais tarde, interpretou outro personagem de Rubem Fonseca no longa
Buffo & Spallanzani). Lomagno ficou com José Wilker. 

CAIO O PANO - A história não acaba bem para grande parte dos envolvidos em
Agosto. No mundo real, Gregório Fortunato, o Anjo Negro, foi preso e assassinado no presídio em 1963. Os braços armados de Fortunato na ação contra Lacerda, Climério Euribes de Almeida e Alcino João do Nascimento (o confesso autor dos tiros que tentou impedir judicialmente a exibição da minissérie), também foram presos. Nascimento passou pouco mais de 21 anos entre as grades e foi liberto em 1975.

Getúlio Vargas cometeu suicídio, mas entrou para a história. A princípio vítima, Carlos Lacerda foi vilanizado pela opinião pública após a morte de Vargas e as coisas para o seu lado não melhoram quando mais tarde, e com apoio de militares, tentou dar um golpe em Juscelino Kubitschek. Acabou caindo no ostracismo pelas mãos das próprias Forças Armadas que apoiou em 1964.

Agora, José Henrique Fonseca está muito bem, obrigado. Irá lançar seu novo longa,
Heleno (sobre o intempestivo jogador de futebol Heleno de Freitas), em novembro e seu pai não tem nada a ver com isso. “Cinema é amadurecimento. Veja os filmes do Clint Eastwood, os últimos filmes do John Huston. Cineastas filmam bem em final de carreira. Não trocaria a forma mais objetiva como enxergo minha profissão hoje em dia, pela garra do início de carreira. Penso que vou fazer, ou pelo menos vou ter a chance de fazer filmes mais interessantes, a partir de um amadurecimento como homem, como cineasta.”

Já no campo ficcional, o Mattos... bem, após um surto memorável no qual prende todos os policiais e liberta os detentos de uma delegacia, o Mattos... olha, o melhor é rever a minissérie porque meses como esse agosto de 1954 são realmente inesquecíveis.


p.s.: segue abaixo uma das músicas da trilha de agosto, "segredo" (herivelto martins e marino pinto). na minissérie a versão é a clássica de dalva de oliveira lançada em 1947, mas aqui vou com uma recente de ney matogrosso, direto do show da turnê do disco beijo bandido (2009). ney já havia gravado "segredo" em outras duas ocasiões: pescador de pérolas (1987) e à flor da pele (1991).

terça-feira, 9 de agosto de 2011

yahoo #11

rolou um atrasinho na nova coluna do yahoo, coisas da vida, mas já está no ar uma das que mais gostei de escrever. chama-se "fofoca eu, fofoca tu", que trata sobre demagogias, voyeurismos e jornalismo de celebridades. aqui no esforçado segue a anterior, uma pensata sobre esse nosso novo modus operandi na internet, uma espécie de "do it yourself" 2.0. pra cima com a viga!!!


FAÇA VOCÊ MESMO

Uma das coisas mais fascinantes da internet é o modo como pessoas comuns deitam e rolam no uso de suas ferramentas de comunicação. Porque tudo está próximo, desde o YouTube para disponibilizar vídeos caseiros até uma infinidade de players e softwares para fazer e mixar músicas. E, claro, endereços gratuitos em blogs, tumblrs, fotologs, mídias sociais e por aí vai. Muita gente se descabelou: “O cinema vai acabar” ou “A música morreu” ou ainda “Qualquer um hoje em dia é fotógrafo”. É o fim da cultura e da amizade real, gritavam em um canto de sua biblioteca. Qual o quê!

Para o horror dos puristas, dos autoritários da “qualidade e do bom gosto”, a cultura passa muito bem, principalmente a popular. Pense comigo: em um tempo que qualquer um pode ser cineasta/músico/fotógrafo/jornalista/etc., os verdadeiros artistas acabam facilmente se sobressaindo (nenhuma pose dura muito). Mas o melhor de tudo é que todo mundo pode se divertir. A bola não fica com alguns poucos escolhidos.

Uma das razões disso acontecer é a própria essência descentralizadora da internet aliada a uma “limitação física”. Em uma entrevista dada a mim em 2008, o músico Jovino Santos Neto, pianista durante anos da banda de Hermeto Pascoal, declarou que “uma das coisas mais bacanas da internet é que meu outdoor é do mesmo tamanho que o de uma grande gravadora; é do tamanho da tela do computador.” Nada mais democrático que isso.



Tão revolucionária quanto essa afirmação é uma espécie de profecia-sonho de Francis Ford Coppola. Na década de 1970, o diretor de Apocalypse Now e da trilogia O Poderoso Chefão disse em uma entrevista que “um dia, uma gordinha em Ohio será o novo Mozart e fará um lindo filme com a câmera portátil de seu pai e quando isso acontecer todo esse profissionalismo em relação a filmes será destruído para sempre e o cinema se tornará uma arte.” Coppola falava então das acessíveis câmeras de super 8 e naquele momento ninguém poderia imaginar que o mundo viraria mesmo de cabeça para baixo (no bom sentido) com o digital. Exatamente como ele previu-sonhou.

Um surpreendente filme de terror pode nascer nos mangues de Guarapari (ES), como aconteceu com Mangue Negro de Rodrigo Aragão. Uma novela divertida e maluca pode vir do pobre bairro de Jurunas, em Belém (PA), e se você ainda não viu precisa urgentemente assistir A Saga de Leona, a Assassina Vingativa. Uma batida moderna, impactante e copiada/transformada mundo afora tem suas raízes na sensualidade, alegria e violência dos morros do Rio de Janeiro. Estou falando do tamborzão do funk carioca.

A cultura popular é construída e reconstruída todo dia em cada cantinho do Brasil e na última década muito mais pessoas puderam registrar suas invencionices amadoras. Ambição, brincadeira, oportunismo, paixão, não importa. Fazer é o que interessa. Porque o que vai ou não ficar para a eternidade não nos cabe decidir. Isso é com a história. A gente precisa é se divertir.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

tom zé e as calcinhas voadoras

o baiano estava com a macaca em show no rio de janeiro na semana passada e lá pelas tantas pediu para que as moças jogassem calcinhas no palco. enquanto ia recebendo calcinhas-exocets, tom zé fazia uma defesa apaixonada da buceta e de seus cheiros, reunindo napoleão e a própria mãe no raciocínio. o fotógrafo jorge bispo registrou esse momento épico para a sexualidade musical brasileira... performance é pouco. vi esse video no tumblr do @raulramone.



mas como se isso não fosse divertido o bastante, tom zé voltou a são paulo e na área de serviço de sua casa teceu alguns breves comentários sobre cada uma das calcinhas recebidas. e cheirou-as. e deu uma lavadinha. e disse coisas como "essa calcinha tinha uma presença olfativa muito marcante" ou "a pessoalidade do atolamento" ou ainda "as calcinhas estão derramando gotas que podiam servir de cura para grandes males da humanidade". fiquei sabendo desse segundo video pela paula scarpin, jornalista da revista piauí.



'bsolutamente genial.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

no tempo que michael jackson achou
que estava no comando

pesquisando sobre uma cantora sulafricana chamada letta mbulu descobri que, exilada nos estados unidos durante o apartheid, ela participou, entre outras coisas, da faixa "liberian girl", o nono e último single a sair do disco bad (epic, 1987), de michael jackson. mesmo que muito distante do sucesso avassalador dos anteriores off the wall e thriller, bad garantiu mais alguns milhões ao erário de jacko, tanto que conseguiu criar extravagâncias como o clipe de "liberian gil".



fora o fato de que é quase impossível ouvir a música - que nem é essas coisas - no meio dessa bagunça, o video é um carrossel de diversões para quem viveu nos anos 1980. durante o clipe um bando de amigos estelares espera jacko chegar para gravarem o que quer que seja, e assim aparecem brigitte nielsen (ex-stallone), paula abdul (coreógrafa de jackson na época), carl weathers, whoopi goldberg, quincy jones (produtor do disco), amy irving, rosanna arquette, billy dee williams, lou diamond phillips, olivia newton-john, john travolta, corey feldman, steven spielberg (que finge ser o diretor), debbie gibson, blair underwood, weird al yankovic, suzanne somers, lou ferrigno, don king, virginia madsen, david copperfield, richard dreyfuss, danny glover, dan aykroyd e steve guttenberg. ao fim, michael jackson surpreende a todos ao surgir atrás da câmera dizendo que a filmagem valeu. o clipe de "liberian girl" foi feito em 1989 e dirigido na verdade por james yukich.

mas um outro clipe retirado de bad igualmente me chamou atenção (para além da presença de bubbles, o chimpanzé de estimação, em ambos). "leave me alone" foi o oitavo single e é uma música bastante autobiográfica, no qual jackson reclama do assédio dos tablóides e das mentiras ditas sobre ele. o video dirigido por jim blashfield deixa ainda mais claro as reclamações do popstar ao elencar algumas manchetes sensacionalistas.



a música e o clipe são muito devedores do clássico "sledgehammer" de peter gabriel (lançado em 1986), o que é bom por um lado e frustrante de outro. mas o que é mais revelador é o fim do clipe com michael jackson se revoltando contra o parque de diversões (lilliputiano, vejam só) criado ao seu redor. mal sabia que o circo de horrores estava apenas começando naquele 1987 e só pioraria até seu fim em 25 de junho 2009. não, michael jackson nunca esteve no comando.