terça-feira, 9 de agosto de 2011

yahoo #11

rolou um atrasinho na nova coluna do yahoo, coisas da vida, mas já está no ar uma das que mais gostei de escrever. chama-se "fofoca eu, fofoca tu", que trata sobre demagogias, voyeurismos e jornalismo de celebridades. aqui no esforçado segue a anterior, uma pensata sobre esse nosso novo modus operandi na internet, uma espécie de "do it yourself" 2.0. pra cima com a viga!!!


FAÇA VOCÊ MESMO

Uma das coisas mais fascinantes da internet é o modo como pessoas comuns deitam e rolam no uso de suas ferramentas de comunicação. Porque tudo está próximo, desde o YouTube para disponibilizar vídeos caseiros até uma infinidade de players e softwares para fazer e mixar músicas. E, claro, endereços gratuitos em blogs, tumblrs, fotologs, mídias sociais e por aí vai. Muita gente se descabelou: “O cinema vai acabar” ou “A música morreu” ou ainda “Qualquer um hoje em dia é fotógrafo”. É o fim da cultura e da amizade real, gritavam em um canto de sua biblioteca. Qual o quê!

Para o horror dos puristas, dos autoritários da “qualidade e do bom gosto”, a cultura passa muito bem, principalmente a popular. Pense comigo: em um tempo que qualquer um pode ser cineasta/músico/fotógrafo/jornalista/etc., os verdadeiros artistas acabam facilmente se sobressaindo (nenhuma pose dura muito). Mas o melhor de tudo é que todo mundo pode se divertir. A bola não fica com alguns poucos escolhidos.

Uma das razões disso acontecer é a própria essência descentralizadora da internet aliada a uma “limitação física”. Em uma entrevista dada a mim em 2008, o músico Jovino Santos Neto, pianista durante anos da banda de Hermeto Pascoal, declarou que “uma das coisas mais bacanas da internet é que meu outdoor é do mesmo tamanho que o de uma grande gravadora; é do tamanho da tela do computador.” Nada mais democrático que isso.



Tão revolucionária quanto essa afirmação é uma espécie de profecia-sonho de Francis Ford Coppola. Na década de 1970, o diretor de Apocalypse Now e da trilogia O Poderoso Chefão disse em uma entrevista que “um dia, uma gordinha em Ohio será o novo Mozart e fará um lindo filme com a câmera portátil de seu pai e quando isso acontecer todo esse profissionalismo em relação a filmes será destruído para sempre e o cinema se tornará uma arte.” Coppola falava então das acessíveis câmeras de super 8 e naquele momento ninguém poderia imaginar que o mundo viraria mesmo de cabeça para baixo (no bom sentido) com o digital. Exatamente como ele previu-sonhou.

Um surpreendente filme de terror pode nascer nos mangues de Guarapari (ES), como aconteceu com Mangue Negro de Rodrigo Aragão. Uma novela divertida e maluca pode vir do pobre bairro de Jurunas, em Belém (PA), e se você ainda não viu precisa urgentemente assistir A Saga de Leona, a Assassina Vingativa. Uma batida moderna, impactante e copiada/transformada mundo afora tem suas raízes na sensualidade, alegria e violência dos morros do Rio de Janeiro. Estou falando do tamborzão do funk carioca.

A cultura popular é construída e reconstruída todo dia em cada cantinho do Brasil e na última década muito mais pessoas puderam registrar suas invencionices amadoras. Ambição, brincadeira, oportunismo, paixão, não importa. Fazer é o que interessa. Porque o que vai ou não ficar para a eternidade não nos cabe decidir. Isso é com a história. A gente precisa é se divertir.

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