quarta-feira, 30 de março de 2011

as duas cabeças do eletromelody

taí meu primeiro texto pra vice brasil que surgiu dessa minha paixão pelo pará e pelo som da gang do eletro, e quem já passou por aqui sabe disso. a entrevista foi feita pelo skype, primeira vez que fiz isso, e funcionou muito bem (talvez se tivesse uma webcam fosse um pouco melhor, afinal é sempre bom o olho no olho). agradecimentos a andré maleronka (@Andre_Maleronka), editor da vice brasil, e priscilla brasil (@prisbrasil), da produtora greenvision. ah, as imagens são capturas de tela feitas durante a entrevista.

@djwaldosquash & @marcosmaderito, a gang do eletro

DUAS CABEÇAS, UMA LEVADA

O Pará já é, e qualquer um que acompanhe a música popular brasileira dos últimos tempos sabe disso. O ousado comércio alternativo (sim, a pirataria), a autonomia cultural, a intensa produtividade, e a proliferação exponencial de aparelhagens, equipes e DJs, além de uma criatividade enérgica aliada a velocidade da internet, fizeram o Estado entrar no foco de quem faz e consome música no Brasil e no resto do mundo. Esse processo vem acontecendo e se amplificando na última década, mas 2011 poderá ser lembrado como o ano do surgimento do
Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band ou do Samba Esquema Novo da música paraense, e da consequente coroação de umas das ramificações mais promissoras (criativa e comercialmente) do tecnobrega: o eletromelody. Mas vamos com calma que tal divisor de águas parauaras se chama Gang do Eletro, bicho de duas cabeças (Maderito e DJ Waldo Squash) que precisa ser apresentado.

“E aí? Só na manha?”. Do outro lado da webcam quem fala é Marcos Maderito, o Alucinado do Brasil, cria do bairro belenense de Cremação. Aos 28 anos, Maderito já pode ser considerado um veterano, afinal é sobrinho de uma lenda viva da música paraense, Tonny Brasil, e começou, ainda adolescente, na função de roadie de uma de suas mais famosas aparelhagens, a Açaí Machine (Tonny também é compositor de muitos dos sucessos da Banda Calypso). Não demorou muito e o tio o promoveu a um dos vocalistas da Banda Bundas, uma espécie de cover do Mamonas Assassinas, e foi nessa época, início dos anos 2000, que surgiu o apelido Maderito. E porque? Ele era muito magro, simples assim.

Mas a Bundas passou e Maderito ficou, já compondo tecnobregas aos milhares e em parcerias com os DJs Miller, Alex, Betinho Izabelense e Rafael Teletubies. “Não tenho ideia de onde surgiu tanta coisa, tantas letras na minha cabeça. E nunca imaginei ser reconhecido em todo lugar como sou hoje. Sinceramente não sei, não sei de onde vem tanta imaginação, tanta coisa na minha vida.” Essa torrente de criatividade tem muitos escoadouros e até hoje Maderito faz muita música sob encomenda, principalmente para aparelhagens e equipes (que são os fã-clubes das aparelhagens), o que é muito frequente entre compositores e DJs paraenses. Músicas assim já possuem um canal de divulgação próprio, os shows e coletâneas de aparelhagens, e isso já é meio caminho para o intrincado sucesso pelos igarapés do Pará.

“Nós somos ricos em música. Temos artistas bons aqui e a nossa cultura é forte. Eu considero o Pará como um país, um país cheio de ritmos, entendeu?” E Maderito sabe o que está falando, pois faz e ouve de tudo (que é paraense), mas o coração tem seus mistérios e o dele já tem dono. “Curto muito Baile da Saudade. Minha onda é Flash Brega. Sou apaixonado por Borba de Paula, Magno, Roberto Villar, Wanderley Andrade, Nelsinho Rodrigues e Tonny Brasil, que é meu tio”. Resumindo: em casa, com sua mulher e sua filha de pouco mais de 1 ano, Maderito gosta mesmo é de ouvir os clássicos bregas das décadas de 1970 e 80, um cancioneiro que deve muito à guitarrada, ao merengue, a cumbia e a uma romântica Jovem Guarda.

Só que o tempo de hoje é outro e a hiperatividade de Maderito o levou a acelerar as batidas do tecnobrega, criando assim o eletromelody, uma mistura da música de festa paraense com o eletrodance europeu do início da década de 1990 (“as batidas são mais aceleradas porque a galera dá mais valor”, diz, na lata). As primeiras experiências aconteceram com os DJs David Sample e Joe Benassi e em 2008 veio seu primeiro sucesso, “Galera da Laje”, música que lhe deu o título de Rei do Eletromelody e que foi feita originalmente para uma equipe. Quem já viu ao vivo ou no documentário Brega S/A (2009), de Vladimir Cunha e Gustavo Godinho, sabe que “Galera da Laje” é pancadão eletrônico para qualquer pista de dança que se preze eclética e atual.

Quase ao mesmo tempo, um mecânico industrial nascido em Muaná, mas criado em Ananindeua, na Grande Belém, estourou ao produzir um outro eletromelody pioneiro, “Super Pop é Curtição”, composto para a célebre aparelhagem Super Pop. Seu nome, Josivaldo, ou melhor, Waldo Squash. Atualmente morando em Barcarena, o DJ é outra cria exemplar da terra. “Meu pai já era apaixonado por música e tinha uma aparelhagem, como todo mundo aqui tem. Quando era pequeno lembro dele me colocar na beira do toca-discos. Fui crescendo assim, no meio dos sons, conhecendo equipamentos. Acho que já nasci DJ”, disse após tomar o lugar de Maderito na entrevista por Skype.

Mais crescido, Waldo foi trabalhar com áudio em algumas rádios pelo interior do Estado, geralmente como produtor de comerciais e vinhetas, além de ocasionais locuções. “Fui aprendendo a mexer nos programas e comecei a desenvolver minhas idéias. Às vezes ouvia uma música e achava que dava pra fazer outra coisa que ficaria bem melhor”. Entre essas experiências surgiu “Super Pop é Curtição”, cujo sucesso chegou aos ouvidos de Maderito. Foi então que combinaram de se encontrar para uma carne assada em um restaurante próximo ao terminal de ônibus do São Braz. “No mesmo dia fizemos a base de duas músicas, uma de aparelhagem e outra de equipe”, confessou Waldo sobre aquele 21 de novembro de 2008.

Melhor combinação não podia acontecer. De um lado, o falante Maderito com seu talento para criar rimas freneticamente. Do outro, Waldo Squash e sua permanente curiosidade por sons de todos os cantos da internet. “A gente procura fazer o seguinte: uma mistura do ritmo daqui com o geral que a gente ouve, com um pouco do que os baianos fazem com percussão e um pouco da música pop internacional mesmo. Mas a levada é a mesma [do tecnobrega]. Só é mais eletrônico”, explica o DJ. Pois então, já em 2009 nasceu o primeiro hit da Gang, o “Eletromelody da Indiana”, com referências a novela
Caminho das Índias, Osama Bin Laden, Saddan Hussein e o diabo a quatro.

“Tento colocar nas minhas produções também coisas de fora do Pará. Já incluí samba no ‘Tributo a Carmen Miranda’, reggaeton e umas coisas da América do Sul como a cumbia villera [da Argentina]. E tô pensando em fazer umas coisas com pagode”. Waldo concretiza nas bases o que Maderito costuma chamar – e o termo é recorrente em várias letras - de “onda desguiada”. Uma onda diferente, desviada, que parte do Pará e vai engolindo (musicalmente) outras partes do mundo até voltar.

É isso, a Gang do Eletro é uma pororoca de duas cabeças que em um par de anos gerou uma infinidade de trabalhos encomendados e muitas músicas, algumas absurdamente originais como “Panamericano”, “Arrazadora (Sanfona Mix)”, “Friquitona”, “Tecno Cumbia Colombiana” e o tributo a Carmen, tudo devidamente disponível gratuitamente para download em uma conta 4shared. “Gosto de trabalhar com o Waldo porque ele estuda várias coisas, sabe? Coloca uns violinos, ou um cello, ou então um sax. É só o filé. A Gang do Eletro é muito diferente do que fazia antes. Totalmente diferente, e acho que está pronta pra competir com qualquer banda mundial de eletrodance, entendeu?”, é Maderito quem fala, sempre muito sincero.

E como tudo no Pará é muito urgente, pelos menos em termos de música, os dois decidiram voltar ao estúdio para registrar, com mais e melhores equipamentos, o disco de estreia. Em parceria com o GreenLab, um dos braços da produtora audiovisual Greenvision, Maderito e Waldo Squash vão, quase simultaneamente, gravar o álbum (que deve sair ainda neste semestre), preparar o show que farão em São Paulo em abril, idealizar o espetáculo que colocarão na estrada e gravar o clipe de “Galera da Laje” e um DVD. Tudo isso pouco depois do DJ acabar de produzir as bases para o disco de Gaby Amarantos, que participará do clipe e, atualmente, é considerada a embaixatriz da música paraense. Gaby, aliás, é também uma espécie madrinha da Gang e os convidou para participar de seu primeiro DVD solo, gravado no final de fevereiro no bairro belenense de Jurunas.

Só que existe mais uma ambição neste projeto da dupla: eternizar, sintetizar e divulgar a cultura eletromelody para fora do Estado. “Nada, nada mesmo, é mais a cara da periferia de Belém que o eletromelody. Tu chega lá e já está tudo pronto”, garante Priscilla Brasil, sócia-fundadora da Greenvision, diretora de documentários, clipes e institucionais e, no caso da Gang, produtora executiva. “As pessoas tem uma forma específica de se vestir, de se comportar, de se comunicar (sim, eles usam símbolos pra se comunicar nas festas), de dançar... é um mundo bem maluco”. Um mundo desguiado, tal como Maderito, Waldo Squash e a Gang do Eletro.



p.s. 1: colocarei logo mais os extras dessas duas entrevistas (ficou bastante coisa de fora, tais como o nome de dois cantores que entraram na trupe para shows e que aparecem aí no video, keyla gentil e william).
aliás, a gang do eletro vai estrear em são paulo agora no dia 2 de abril com apresentação no sesc pompéia.

p.s. 2: olha um videozin caseiro que fiz durante o show e do exato momento da participação de gaby amarantos.


terça-feira, 29 de março de 2011

dançando na rua, ora pois

tenho algumas ressalvas com o som do thiago pethit. apesar de algumas músicas bem bonitas, e quase sempre melancólicas (o que é sempre bom nesses tempos que exigem uma alegria maníaca de todos), acho que falta um trabalho maior nos arranjos e melodias. às vezes o tal pianinho soa repetitivo, monótono. mas esse não é o caso da bela "nightwalker", uma das últimas faixas de berlim, texas (ôloko records, 2010), o disco de estreia de pethit, e que acabou de ganhar esse clipe sensacional dirigido pela dupla vera egito e renata chebel. tudo em um mesmo plano-sequência e com participação intensa da atriz alice braga, além de um corpo de baile delicioso com figuras como @daniarrais e @lobniski.



p.s.: tinha algo de familiar nesse vestido que a alice usa e em uma notinha na coluna da mônica bergamo fiquei sabendo que é uma referência ao que a tia sônia braga usa no filme eu te amo (1981).

sobrinha de peixe...

atualização em 19 de abril: um breve making of do clipe.


segunda-feira, 28 de março de 2011

vanguart na cama eu fico pensando...

impagável. simplesmente.



é o na cama com almerinda.

big boi vs. the black keys

muito boa essa mistura feita pelo wick-it the instigator de dois dos melhores discos de 2010 - brothers do the black keys e sir lucious left foot: the son of chico dusty do big boi -, e o mais bacana é poder ouvir the brothers of chico dusty na íntegra...

The Brothers of Chico Dusty (Big Boi vs. The Black Keys) by wick-it

ou então poder baixá-lo de graça e legalmente no bandcamp.


fiquei sabendo via @forlani.

domingo, 27 de março de 2011

thomaz farkas aproveitou a vida

em uma semana de grandes perdas, de elizabeth taylor a lula cortês, a que me tocou mais foi a de thomaz farkas nessa última sexta, 25 de março, aos 86 anos. húngaro de nascimento e brasileiro de toda vida (veio com 6 anos pra são paulo) foi um dos pioneiros da fotografia moderna no país na década de 1940 e entre os anos 1960 e 70 dirigiu e produziu dezenas de documentários. a lendária caravana farkas ajudou a revelar o talento de jovens cineastas como eduardo escorel, maurice capovilla e geraldo sarno, enquanto o próprio farkas conhecia mais profundamente e registrava um brasil de muitas formas, cores e sons. um de seus curtas documentais é paraiso, juarez (1971) que acompanha o pintor juarez paraíso explicando muy barrocamente seu trabalho muralista pop hippie na entrada do cinema tupi, em salvador (trabalho esse de vida curta).



outro registro importante captado pela câmera de farkas foi o show de pixinguinha e da velha guarda no quarto centenário da cidade de são paulo (1954). só que essas imagens, filmadas originalmente sem áudio, ficaram esquecidas por décadas até serem redescobertas no início do anos 2000. essa deliciosa surpresa - imagens em movimento de figuras célebres como pixinguinha, donga, joão da baiana, benedito lacerda, almirante e bide - resultou no curta pixinguinha e a velha guarda do samba (2007), de ricardo dias e thomaz farkas, e que também serve como breve e boa introdução para a obra do sempre doce e acessível mestre.



e fotografias? nada de suas fotografias? o pessoal do instituto moreira salles, que desde 2007 guarda grande parte do acervo fotográfico de farkas, montou esse singelo slideshow, que pode ser melhor apreciado em tela inteira.


mas o melhor mesmo é o seguinte (para quem estiver ou passar por são paulo): em 28 de janeiro deste ano foi inaugurada, no instituto, a exposição "thomaz farkas: uma antologia pessoal". vai até 8 de abril e precisa ser vista.

p.s.: o título dessa postagem vem de uma frase de farkas numa entrevista dada a diógenes moura, curador da pinacoteca do estado de são paulo: "fotografia, para mim, é o melhor jeito de aproveitar a vida. vejam só: é ver, descobrir paisagens, pessoas, caras, grupos, ruas, fachadas, praças – todos trabalhando, brincando, folgando, comendo, dançando. tudo isso é nossa vida: experiências vividas, olhando – e vendo – sempre, e daí fotografando sem fim com qualquer máquina, técnica ou filme, ou sem. mas, olhando no visor ou no reflex, tudo é uma visão que não tem fim. todo dia é diferente: todo olhar é outro e a gente percebe finalmente que o mundo é imenso! é bom ser fotógrafo! ou como diz o colega português, fernando lemos, um mágico militante!" ah, e a caravana farkas foi restaurada e compilada numa caixa de 7 dvds intitulada projeto thomaz farkas. tem na 2001.

sexta-feira, 25 de março de 2011

quinta-feira, 24 de março de 2011

porra, sega! edição final

eu acho. vai saber do futuro. é que faz tempo que não coleciono imagens nonsense desses joguinhos do passado e queria dar um fim nas que ainda tenho coletadas. portanto, seguem.

do jogo a bug's life (1998)

do jogo aero the acrobat 2 (1994)


do jogo home alone (1991)

do jogo the flintstones (1993)

do jogo the incredible hulk (1994)

quarta-feira, 23 de março de 2011

uma breve história do cordel

ano passado, o pessoal da voetrip me pediu um texto sobre a história da literatura de cordel, mas acabou não sendo publicada (ainda, acho, me perdi dessa história) porque tiveram problemas para ilustrar a matéria. não acharam imagens legais o bastante ou coisa assim. paciência. na internet esse problema é facilmente contornável.

UMA PELEJA SEM FIM

A história da literatura de cordel é antiga, longa e cheia de personagens. Também é repleta de reviravoltas, duelos e lacunas. Sabe-se que o hábito de registrar histórias orais em folhetos, expostos em varais nas feiras populares, veio junto com os colonizadores portugueses por volta do século 17. Foi só chegar ao porto de Salvador para essa arte se espalhar rapidamente pelo Nordeste brasileiro, terreno fértil para contações de histórias. No entanto, por causa da falta de documentação e de reconhecimento dos eruditos de nossa língua, existe um vazio muito grande sobre essa alvorada da literatura de cordel no país, mas é certo que os primeiros nomes a ficarem conhecidos surgiram somente na segunda metade do século 19.

A razão está na chegada de máquinas de tipografia/impressão mais acessíveis, o que, consequentemente, fez com que os folhetos se espalhassem em maior quantidade e velocidade (bom lembrar que o Brasil foi o último país das Américas a ter uma imprensa própria). Como se vê, a democratização da tecnologia foi tão favorável ao surgimento da literatura de cordel como a conhecemos quanto ao seu renascimento no início do século 21 através da internet. Entre uma ponta e outra dessa saga, muitas brigas de faca, deboches, trava-línguas, mensagens educativas, Deus e o Diabo nas terras do Sol.
De Recife para o mundo

Justiça seja feita. Se, no final do século 19 e início do século 20, Recife foi a cidade responsável por milhares de folhetos soltos pelos ventos e veredas do semi-árido nordestino, foram dois paraibanos os responsáveis por sua produção. Primeiro, Leandro Gomes de Barros (1865-1918), que não só escreveu muitos cordéis como editou outros tantos e criou uma importante rede de agentes distribuidores de sua sofisticada poesia popular. Depois veio João Martins de Athayde (1880-1959) que comprou o projeto editorial de Leandro, à deriva após sua morte precoce, e o ampliou ainda mais, só que privilegiando folhetos de humor e pelejas. A partir do sucesso dessas duas empreitadas em Recife, outras pólos surgiram, tais como Juazeiro do Norte (CE), João Pessoa (PB), Caruaru (PE) e Belém (PA).

Foi nesse período que se consolidou a forma literária mais conhecida do cordel, a sextilha, modalidade com o segundo, o quarto e o sexto versos rimando entre si, deixando o primeiro, terceiro e quinto sem rimas. Um exemplo clássico da sextilha pode ser lido nessa estrofe: “Meu avô tinha um ditado / meu pai dizia também: / não tenho medo do homem / nem do ronco que ele tem / um besouro também ronca / vou olhar não é ninguém”. Um mundo novo se abre quando o cordelista descobre que a sextilha pode ser escrita de cinco modos diferentes, isso sem falar em variações na métrica e em outros estilos de cordel com cinco, sete ou dez versos por estrofe. Prova irrefutável de que é preciso saber muito, principalmente em termos de repertório e vocabulário, para entrar na brincadeira.

Falando em brincadeira, as xilogravuras só passaram a ilustrar as capas dos cordéis a partir da década de 1950 como uma alternativa ao poeta mais pobre, que não podia pagar um desenhista, para ilustrar seu folheto. Com desenhos rudimentares e sintéticos talhados em matrizes de madeira, as xilogravuras logo se tornaram item obrigatório e essa combinação caiu ainda mais no gosto popular. Já o termo “literatura de cordel”, fruto do reconhecimento dos folhetos pela academia, só veio surgir na década de 1960.

Nesse período, anos 1950 e 60, o cordel atingiu seu ápice de reconhecimento se espalhando para além no Nordeste de acordo com as ondas migratórias. Escritores chegavam a vender 10 mil exemplares de uma edição em um único ano, sendo que J. Borges chegou a surpreendentes 100 mil exemplares com seu “A chegada da prostituta no céu”. Durante toda essa longa e altamente produtiva primeira fase do cordel vieram ao mundo clássicos como “A chegada de Lampião no Inferno” (José Pacheco), “Peleja de Cego Aderaldo com Zé Pretinho do Tucum” (Firmino Teixeira do Amaral), “O homem da vaca e o poder da fortuna” (Francisco Sales Arêda), “Proezas de João Grilo” (João Ferreira de Lima), “Romance do Pavão Mysteriozo” (João Melchíades Ferreira) e “A greve dos bichos” (Zé Vicente). A boa onda acabou por arrebentar a partir da década de 1970 até virar uma marola preocupantemente inofensiva nos anos 90. Alguns mais afoitos chegaram a pedir pela extrema-unção do cordel, mas o futuro digital tinha uma ou duas surpresas guardadas na manga.


A chegada da prostituta no céu from Marcos Tenorio on Vimeo
Computadores fazem arte

“O cordel continua sobrevivendo. O auge foi no século passado, mas depois foi morrendo e na década de 1990 chegou à beira da cova. Agora começou a voltar. Hoje tá muito animado”, explicou o septuagenário J. Borges, um dos mais ativos cordelistas e xilogravuristas da atualidade, em entrevista a este repórter em 2006. A razão dessa volta animada ao cordel se deve, segundo ele, “ao movimento estudantil. Recebo muita visita de colégio e faculdade. As professoras compram também, além de turistas, pesquisadores e colecionadores. Hoje se vende no Brasil todo e antes era só no Nordeste.” Associações culturais, como a Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC), também foram abertas nos mais variados estados, desde o fundamental Pernambuco até os centrais São Paulo e Rio de Janeiro, passando por Piauí, Rio Grande do Norte e Ceará.

Essa nova geração, utilizando as ferramentas da rede mundial de computadores, passou a criar pelejas virtuais que tanto são deixadas disponíveis para os internautas, com direito a todo seu processo de criação em aberto, quanto ganham versão impressa. O projeto Corda Virtual, idealizado pelo site Interpoética, é um ótimo exemplo de como acontecem e se desenvolvem estas pelejas virtuais. Para jovens cordelistas com os cearenses Klévisson Viana e Moreira de Acopiara, o uso do computador não diminui em nada a qualidade da arte. É só mais um recurso. “O que descaracteriza o cordel é escrever errado e não obedecer às regras da métrica, rima e oração”, explicou Viana em entrevista ao site A Nova Democracia. Para provar que a literatura de cordel segue como uma eficaz e bem humorada crônica da atualidade esta nova geração cria, no calor da hora, folhetos como “A famigerada ‘dança’ do Créu” (Waldeck de Garanhuns) e “A chegada de Michael Jackson no Portão Celestial” (João Gomes de Sá e Klévisson Viana).

Para encerrar o assunto, pelo menos por hora, J. Borges fala desse ofício da seguinte forma: “Pra fazer um cordel bom é preciso ter um conhecimento da situação da área onde o cordelista vive. Tem que saber assuntos de amor, de religião, de política e de gracejo. Nas palestras que faço gosto de falar que sou o único que vive de mentira. Sou o maior mentiroso. Porque se falar a verdade morro de fome, e a mentira o povo compra a vida toda. Mas tem que ser uma mentira que se pode acreditar, não pode exagerar muito. Enfim, é um mistério.” E mistérios assim duram para a vida toda.

sexta-feira, 18 de março de 2011

hematomas na alma

bem, o emicida já é de casa. o jovem rapper paulistano aparece por aqui desde que vi um show seu no espaço + soma em julho de 2009. de lá pra cá ele já lançou três mixtapes, sendo que emicídio laboratório fantasma, 2010) foi a mais recente, apareceu em muitos programas de tv e conseguiu o feito extraordinário de ser escalado para um dos festivais mais disputados do mundo (coachella) e ainda se garantiu no rock in rio que acontecerá no segundo semestre. tudo na raça e no talento, trabalho duro dele e do pessoal do laboratório fantasma. agora na quarta ele lançou seu mais novo clipe, o da música "rua augusta", e em menos de 48 horas o video já foi visto quase 50 mil vezes (o anterior, "triunfo", lançado 1 ano e meio atrás tem mais de 1 milhão de visualizações!). números impressionantes. mas o melhor é qualidade de mais essa produção. se "rua augusta" já era uma das melhores faixas de emicídio (junto com "i love quebrada", "santo amaro da purificação", "eu gosto dela", "avua besouro" e "cê lá faz idéia"), o clipe a melhorou e muito.



a direção de "rua augusta" é da dupla felipe rodrigues e lucas gandini e o clipe foi quase todo filmado em estilo documental na vila mimosa, ponto histórico de prostituição no rio de janeiro.
pouco antes de sair o clipe, no carnaval, emicida lançou uma nova, a bela e melancólica "quero ver quarta-feira", com participação de mart'nália. enquanto baixa a música aqui assista um pouco dos bastidores da gravação...



o futuro sorri para o emicida. e ele merece.

atualização em 7 de abril: também foi um lançado um curta documental sobre as personagens do clipe "rua augusta".


quinta-feira, 17 de março de 2011

yahoo #01

foi no carnaval que estreei a minha coluna ultra pop no yahoo e a festividade foi o assunto do primeiro texto. a ideia da coluna é falar sobre grandes e pequenas manifestações culturais populares brasileiras, tanto na tv quanto na música, tanto no cinema quanto na internet. e ser provocante e bem humorado, claro. as atualizações serão quinzenais e quando uma nova estrear por lá, a anterior vem pra cá. agradecimentos a michel blanco, editor-geral de conteúdo do yahoo, e a walter hupsel, outro colunista da casa, amigo dos tempos da sociais e grande incentivador dessa nova empreitada do esforçado. chora cavaco, móderfocker!

em paraty, o carnaval de lama. foto de rodrigo abd/ap

TÔ ME GUARDANDO PRA QUANDO O CARNAVAL CHEGAR

Existem milhões de jeitos de curtir o Carnaval (e outros tantos de não curtir, mas aí é outra história). Pode ser na rua, no trio elétrico, no clube, no boteco, na piscina e até na TV. Mas poucos são tão surreais quanto o da TV. Não estou falando dos desfiles de escolas de samba não, nada dessas coisas cronometradas, com tais e tais alas, e jurados e notas, fantasia e harmonia, nada disso. Quente mesmo é pegar uma Rede TV da vida e acompanhar nas madrugadas o lado B do carnaval, que pode tanto acontecer do lado de fora dos sambódromos quanto na entrada de algum Gala Gay.

Nada é mais carnavalesco que uma ex-BBB metendo os pés pelas mãos em uma entrevista com travestis anônimos no “tapete vermelho” de algum baile mequetrefe. Ou então uma apresentadora e ex-modelo que ameaça tirar a roupa ao vivo para provar qualquer coisa. É caos puro. Alguns podem chamar de gafe ou vergonha alheia, outros de decadência da TV aberta, eu só acho divertido que só. É aquele espírito mambembe que une um monte de gente despreparada ao redor de outro tanto que não quer saber do amanhã. Motivo de sobra para risadas. Ou sustos, afinal, em um dado momento da cobertura de 2008 Monique Evans soltou ao mundo que “vocês sabiam que a Rede TV é 100% HD? Aqui você pode ver tudo como realmente é!”, o que soa ameaçador diante de uma múmia de chinelos segurando um frango de plástico e curtindo um pole dancing.




Pois é, não dá para esperar muita coerência no carnaval. Uma hora a câmera passeia ao redor de uma dançarina, coberta apenas com purpurina e um tapa-sexo, que aos gritos conta detalhes sobre a carreira e os mililitros de silicone colocados em cada seio. A repórter pede mais uma voltinha, close na bunda, outra volta, novo close, e daí que surge, ao vivo e a cores, um belo de um furúnculo. Caos, caos. Ninguém escuta ninguém. É que a bateria está comendo solta a poucos metros, o que deixou o câmera em transe, imagem focada e congelada na bunda e seu furúnculo. Lá no estúdio, o apresentador de peruca nova também grita: “Renata! Renataaa! Tá me escutando?”. Não, não está.

Em transmissões assim, sem acesso aos camarotes com celebridades tipo A, os que estão do lado de fora do cordão, o pessoal da pipoca, acaba tendo vez e voz. E basta um microfone aparecer para ser agarrado com voracidade. É a chance de cada um mostrar que existe e que sua alegria é a maior de todas. Enquanto uma foliã é entrevistada e tenta, aos tropeços, lembrar quantos já beijou na noite um gaiato levanta um cartaz feito em casa com os dizeres “Chiclete com Banana é melhor que U2” e ensaia encoxar uma desavisada hipnotizada pela luz da câmera. De volta ao estúdio, o homem da peruca nova e a apresentadora jovem de vestido curto se confundem com o link ao vivo, os papéis e as serpentinas cenográficas. O carnaval na rua da TV definitivamente não é para amadores.

quarta-feira, 16 de março de 2011

na tonalidade certa

muita produção dá nisso. só fui saber da existência da banda tono no final de 2010 quando o quinteto carioca lançou seu segundo disco: tono (oi música, 2010). não recebi o disco, não achei pra vender e, consequentemente, não consegui ouví-lo até duas semanas atrás. puxa, o disco entraria fácil entre os melhores do ano passado. cheio de camadas e sonoridades, um tanto rock, outro tanto psicodélico bolerístico & sambístico, doce e bem humorado, o disco é mais um excelente trabalho dessa vasta geração de jovem músicos cariocas que, desde a década de 1990 com acabou la tequila e mulheres q dizem sim, deixou entrar novos sons do brasil e do mundo dentro da bossa pop da cidade (e, o melhor, sem precisar cantar o rio de janeiro, rio de janeiro).

ah, o grupo é formado por ana cláudia lomelino (voz), bem gil (guitarra e vocais), leandro floresta (flauta, sintetizador e guitarra), bruno di lullo (baixista e vocais) e rafael rocha (bateria e voz), e o pessoal do blog discoteca nacional tem uma surpresa pra vocês. e aqui você pode baixar um podcast feito pelo pessoal oi música com ana cláudia e bem (filho de gilberto gil) fazendo um faixa-a-faixa. mas aqui você pode ouvir e ver todas as 12 faixas desse discaço em apresentações ao vivo muito bem filmadas (e, detalhe, com som bom e fiel a gravação original), além de um clipe oficial. divirta-se.

01. "não consigo"



02. "me sara" (que tem outro clipe aqui)



03. "sem falsas esperanças"



04. "corte no pé"



05. "so in"



06. "aquele cara"



07. "ele me lê"



08. "mariposa"



09. "da terra pro sol"



10. "distante demais"



11. "samba do blackberry"



12. "nega música" (itamar assumpção)



porra, o pessoal gravou itamar assumpção... só por isso já me ganharia, mas as composições próprias são muito bacanas, com destaque para "não consigo", "ele me lê", "corte no pé", "me sara" e a divertidíssima "samba do blackberry". e caetano veloso, que gosta de falar de tudo, disse o seguinte em sua coluna n'o globo: "o tono é uma banda interessantíssima. vi alguns shows seus e ouvi seus discos. rafael cantando e tocando bateria é música em estado elevado. ana cláudia é especialmente adorável por ser a única cantora realmente cool (nos dois ou três sentidos) da geração. há brilho de variada gama por todos os lados, mas o canto liso e econômico de ana cláudia está sozinho. e é muito bonito que ela não seja a frontwoman da banda. sem ser a “cantora” que puxa a turma, mas sem tampouco ser uma backing vocal, ela é parte da instrumentação (e do espírito) desse grupo talentoso e delicado." e agora, pra encerrar, um video-faixa-bônus com a regravação de uma música pouco conhecida do novos baianos...

13. "você me dá um disco?" (moraes moreira, pepeu gomes e galvão)

segunda-feira, 14 de março de 2011

tudo é tudo e nada é nada

video lançado pela rolling stone que serve como esquenta para o novo disco do lendário pianista/tecladista booker t. jones (the road from memphis) que tem o the roots como banda de apoio, e participações de lou reed, sharon jones, yim yames (my morning jacket) e matt berninger (the national). a música é a sensacional "everything is everything", lançada por lauryn hill em seu disco de estreia, the miseducation of lauryn hill (ruffhouse/columbia, 1998).



previsão de lançamento em 10 de maio.

domingo, 13 de março de 2011

domingueira extrema

o negócio é o seguinte: é uma combinação, um mashup caseiro. primeiro, o video de um maluco numa competição bicicleteira de downhill (é isso?) nas pirambeiras de valparaiso, chile. mas não aperte o play ainda. espera.


Untitled from changoman on Vimeo

então, o outro video é o clipe de "eu quero é ver o oco" (rodolfo, canisso e digão), a melhor música da vida dos raimundos e segunda faixa do disco lavô tá novo (warner, 1995). espera mais um pouco.



então... solte o primeiro video tirando o som e depois solte o do raimundos. para turbinar a experiência, coloque o da bicicleta em tela inteira. vai por mim. no mais...

downhill assim não dá!
foto de nacho doce/reuters tirada ontem durante
a "
pedalada pelada" em são paulo

laerte da semana #22

e enquanto laerte reformula o site suas tirinhas estão sendo publicadas numa versão blogspot do manual do minotauro.

sexta-feira, 11 de março de 2011

invocada

falando em mulher... dominique young unique, jovem de tampa, flórida, idade girando ali pelos 19, 20 anos. faz um rap eletrônico, rápido, pesadão (no bom sentido), um tanto irritado e pop, e ela bonita e menina com espinha na cara. gostei bastante dessa dobradinha "show my ass" (sensacional) e "war talk" e nem tanto de "the world is mine", meio esquizofrênica e sem rumo, apesar do sample de "part time lover" do stevie wonder. parece que a moça tem um ep (blaster) e um disco (domination). vou ali saber mais.





ah, antes de ir... quando ouvi "show my ass" pela primeira vez achei que dominique era inglesa (mas ela tem um sotaque diferente, isso ela tem) e me lembrei de cara da speech debelle, só que mais nervosa. é mesmo, dominique pareceu mais próxima a speech do que a m.i.a. e/ou santigold (comparações mais comuns pelo que deu pra ver em alguns blogs). no fundo, tanto faz. o que importa mesmo é que tem força aí.

atualização em 10 de setembro de 2011: dominique disponibilizou duas mixtapes gratuitas, the glamorous touch e the domination. ambas boazonas.

terça-feira, 8 de março de 2011

você, mulher você

dia das mulheres, terça de carnaval e ricardo magrão soltou em seu canal no soundcloud uma mixtape da pesada só com vozes femininas (internacionais e nacionais). é coisa muito fina que dá para ouvir em streaming ou então baixar para soltar em algum bailinho caseiro. sons que dedico a mulheres da minha vida: carolina (amore), celinha (mamma, que fez aniversário no sábado) e ariadne (mana e mãe pela segunda vez), além das amigas reais e virtuais.

PowerTuffGals by Ricardo Magrão

e aqui segue a lista das músicas/artistas presentes na mixtape.

"it's a pity (remix)", tanya stephens
"original", sister nancy & thievery corporation
"moonlight lover", rankin ann
"change your stylee", sister carol
"good daughter", lady g
"ready fi dem", june ranks
"u don't get it", tanya stephens
"raggamuffin style", soraia drummond
"nuff respect", lady g
"bed noise", lady saw
"party tonight", tanya stephens
"jardim de flores", soraia drummond
"master bait", sister carol
"uptown top rankin", estelle & joni rewind
"ready or not (remix)", fugees
"bailar", soraia drummond
"too experienced", ms dynamite & barrington levy
"things change", warrior queen & heatwave
"regular", miss thing
"vento sopra", shirley casaverde
"blud and mia", m.i.a.
"nya me down", junie ranks
"step back", sista widey


p.s.: o título desse post é o nome de uma música de ivan lins em parceria com ronaldo monteiro de souza que foi gravada originalmente em 1971 com o acompanhamento luxuoso e suingante do trio mocotó. aposto que você nunca imaginou que ivan lins já gravou um samba rock e com um refrão tão libertário e feminista: "não está longe a sua independência / vida crua pede providência / mas me lembra uma escravidão / peça abolição!".

domingo, 6 de março de 2011

domingueira nada carnavalesca

afinal, trabalharei segunda, terça, quarta, normalmente... nada de carnaval. por isso vou de polar bear, grupo inglês de jazz ora experimental ora pop e quase sempre muito bom. ano passado eles dançaram peepers (the leaf label, 2010), um disco cheio de sons interessantes como a faixa-título que nesse video feito para o jornal guardian é mostrada ao vivo no cafofo-estúdio dos cabras.



e aqui abaixo segue a versão original que tá no disco (que pode ser achado no sempre ótimo blog do nirso).

Peepers by polar bear music

quinta-feira, 3 de março de 2011

letra/música #22

roberto tadeu de sousa, mais conhecido como bebeto, suportou durante muito tempo o estigma de ser um imitador de jorge ben. claro que os frequentadores de bailes de samba rock, principalmente em são paulo na década de 1970, não concordavam nada com isso. e nova gerações que o tem descoberto nos últimos anos também não acreditam nessa história de "jorge ben genérico". bem, basta ouvir o primeiro disco do "rei dos bailes" para ver que de imitação ele não tem nada, mas que jorge é sim uma grande referência no balanço e nas letras surreais do paulistano. não tenho receio algum ao afirmar que bebeto (copacabana, 1975) é um dos grandes discos brasileiros de todos os tempos. onde mais é possível encontrar pedradas como "segura nega" (luis vagner e bebeto), "esse criolo por você se fez poeta" (wando) e "adão você pegou o barco furado" (bebeto)? mas separei outras duas maravilhas bebetísticas e suingantes desse disco para esse letra/música: "poderoso thor" e "morte da sandália de couro" (que tem citação direta ao jorge "charles anjo 45" ben).


poderoso thor
(bebeto)

foram 365 dias perdidos,
8760 horas sem valor
e depois de ter passado tanto tempo
acordei e vi o mundo de outra cor
e hoje eu lamento não ter quem me ensinou
levar a vida alegre a cantar e dar amor
pois quando eu errava ele vinha me falar
mostrar o que era certo, era assim meu velho avô

e lá se foi
como tudo que é bom passa depressa e ele passou também
deixando saudade
poderoso thor
filho de odin
com sua força encantada
me deu alegria demais
e sem querer feriu
o meu coração
pois você partiu
e eu me perdi
na evolução
desse mundo grande, mas me lembrarei do que você me ensinou

pense sempre no futuro
que a vida assim tem mais valor
pense sempre no futuro
que a vida assim tem mais valor

Bebeto - Poderoso Thor by dafnesampaio4

morte da sandália de couro
(bebeto)

sandália de couro morreu no samba
tamanco no samba não morre não
sandália de couro furou sambando
tamanco no samba não fura não

tamanco no samba nasceu malandro
sandália de couro não nasceu não!

no corpo a mente é mais forte
no jogo quem ganha é melhor
na luta quem perde é fraco
no samba tamanco é o bom

sandália de couro morreu no samba
(sandália de couro morreu no samba)
tamanco no samba não morre, não
(adeus, adeus sandália de couro)
sandália de couro furou sambando
(é... adeus sandália)
tamanco no samba não fura não
(tamanco no samba é madeira de lei!)
tamanco no samba nasceu malandro
(tamanco no samba veio do morro)
sandália de couro não nasceu não!

pois como já dizia nosso amigo charles
devagar também é pressa e o apressado come cru
anjo 45, protetor dos francos,
desceu o morro de tamanco e só volta amanhã.

sandália de couro morreu no samba
(adeus sandália de couro)
tamanco no samba não morre, não
(tamanco no samba é madeira de lei!)

Bebeto - Morte da Sandália de Couro by dafnesampaio4

p.s.: o disco de estreia de bebeto pode ser encontrado no blog arquivo do samba rock, mas o cara continua na ativa e ano passado, após seis anos afastado dos estúdios, lançou o bom prazer, eu sou bebeto (emi, 2010). mas relembrei do bebeto após ver ontem um video feito pelo alexandre matias na última terça com bruno morais cantando "morte da sandália de couro" e sendo acompanhado por bluebell, mauricio takara, guizado, maurício fleury e paulo beto.

terça-feira, 1 de março de 2011

na retina e nos ouvidos

foi no final de 2008 que escrevi um release pro disco de estreia do projeto manada, grupo do bróder oga mendonça. pouco mais de dois anos depois coloco aqui o texto na íntegra (já tinha publicado um trecho em outro post) para chamar pro show que o quarteto faz hoje no sesc pompéia, de graça, 21h. aumenta o som aí...



Cidade grande assim é dura. Bate mesmo e às vezes é abaixo da linha de cintura. O pessoal do Projeto Manada sabe disso. Já tomaram uma ou duas porradas, pode acreditar, mas agora decidiram que chegou a hora de revidar. As 14 faixas de Urbanidades, disco de estréia do quarteto paulistano, distribuem sopapos, reflexões, críticas, areia no olho e um tanto de carinho. É que eles também sabem que a cidade é cheia de gente e tem muita gente boa por aí. Cidade grande é assim, amor e ódio e não necessariamente nessa ordem.

Urbanidades é chumbo grosso, olho aberto e movimento: a vida pode ser boa em “O sol”, os beats ficam nervosos na relação periferia vs. religião em “Mentira salva”, a grana e os números soterram as pessoas em “Retina” e a amizade fala mais alto em “Verdadeira força” e “1 por todos” (com direito a Elis Regina cantando “Um por todos”, de João Bosco e Aldir Blanc, que curiosamente foi lançada na trilha da novela O Grito, de 1975).

As rimas se multiplicam sob bases cheias de sons, histórias e referências tanto para a cabeça (“Batalha”) quanto para o quadril (“Zueira” e “Estouro”). A última faixa “Ao avesso”, esclarece o jogo e derruba cenários em versos como “Manada se diverte nesse mundo ao avesso”. Desse jeito Leco, Macário, PriZma e Venom colocam novos tijolos na construção de um moderno rap brasileiro. Porque rap é vida real, pulsante, um rio caudaloso cheio de vozes. Aí chegam esses quatro paquidermes e colocam suas “patinhas” na água. Pense nas ondas bagunçando a superfície. Pense no barulho. Projeto Manada é mais, muito mais rimas, bumbo e caixa do que você imagina.


pelo poder de greyskull?!?!?