quinta-feira, 4 de junho de 2009

mestre da mentira

como disse no post logo abaixo sobre cafundó... voltando para recife, eu e o pio figueroa decidimos parar em bezerros pra dar um pulo no ateliê de j. borges. comprar uma gravura, talvez falar com o homem. rolou tudo e ainda um perfil ligeiro pra tam magazine de agosto de 2006. as duas fotos que ilustram o texto vieram do site oficial criado por seus representantes (qualquer coisa me corrijam), o lost art.
j. borges, nascido em 20 de dezembro de 1935, talhando a madeira

NA BOCA DO POVO

J. Borges? É logo ali perto da loja de material para construção de Biu Barbosa, o Biu da Areia. J. Borges? Fica ao lado da casa do Professor Assis, cartomante bom, adivinha até Mega Sena. Todos em Bezerros, cidade a 100 km de Recife, sabem muito bem onde fica o Memorial J. Borges, ateliê do cordelista e xilogravurista José Francisco Borges. Aos 71 anos, J. Borges, como é conhecido desde seus primeiros cordéis na década de 1960, está mais ativo que nunca. “O cordel continua sobrevivendo. O auge foi no século passado, mas depois foi morrendo e na década de 1990 chegou à beira da cova. Agora começou a voltar. Hoje tá muito animado”, explicou.

Se antigamente Borges e célebres companheiros de ofício como Patativa do Assaré, Manoel Caboclo e Zé Vicente chegavam a vender 10 mil exemplares de uma edição em um ano – e “A chegada da prostituta no céu” de Borges alcançou a surpreendente venda de 100 mil exemplares -, na década de 1990 o número não passou de 500. A razão dessa volta animada ao cordel se deve, segundo Borges, “ao movimento estudantil. Recebo muita visita de colégio e faculdade. As professoras compram também, além de turistas, pesquisadores e colecionadores. Hoje se vende no Brasil todo e antes era só no Nordeste”. Alegre e conversador, Borges teve apenas dez meses de educação formal na infância e logo depois precisou trabalhar na feira de Bezerros. Começou vendendo colheres de pau, cestos e balaios que ele mesmo fazia, e depois passou para os folhetos de cordel, paixão das mais antigas. Aprendeu, como muitos outros cordelistas, a ler e escrever no dia-a-dia. As gravuras vieram depois quando estava sem dinheiro para pagar um ilustrador e decidiu fazer ele próprio a fachada de uma igreja em um pedaço de Umburana. Sem imaginar que seu trabalho, principalmente as gravuras, ganharia o Brasil e o mundo.

Em seu ateliê, rodeado por folhetos, gravuras e matrizes de todos os tamanhos e cores, Borges colocou para trabalhar toda a família. Tradição que é tradição tem que ser perpetuada. “Pra fazer um cordel bom é preciso ter um conhecimento da situação da área onde o cordelista vive. Tem que saber assuntos de amor, de religião, de política e de gracejo. Nas palestras que faço gosto de falar que sou o único que vive de mentira. Sou o maior mentiroso. Porque se falar a verdade morro de fome, e a mentira o povo compra a vida toda. Mas tem que ser uma mentira que se pode acreditar, não pode exagerar muito. É um mistério”, e gargalha, apoiado na bengala, mais misteriosamente ainda.



uma matriz que comprei nessa passagem por bezerros

Um comentário:

nathalia.z disse...

era desse tipo de texto que eu falava aquele dia. um beijo procê, simpático.