domingo, 27 de março de 2011

thomaz farkas aproveitou a vida

em uma semana de grandes perdas, de elizabeth taylor a lula cortês, a que me tocou mais foi a de thomaz farkas nessa última sexta, 25 de março, aos 86 anos. húngaro de nascimento e brasileiro de toda vida (veio com 6 anos pra são paulo) foi um dos pioneiros da fotografia moderna no país na década de 1940 e entre os anos 1960 e 70 dirigiu e produziu dezenas de documentários. a lendária caravana farkas ajudou a revelar o talento de jovens cineastas como eduardo escorel, maurice capovilla e geraldo sarno, enquanto o próprio farkas conhecia mais profundamente e registrava um brasil de muitas formas, cores e sons. um de seus curtas documentais é paraiso, juarez (1971) que acompanha o pintor juarez paraíso explicando muy barrocamente seu trabalho muralista pop hippie na entrada do cinema tupi, em salvador (trabalho esse de vida curta).



outro registro importante captado pela câmera de farkas foi o show de pixinguinha e da velha guarda no quarto centenário da cidade de são paulo (1954). só que essas imagens, filmadas originalmente sem áudio, ficaram esquecidas por décadas até serem redescobertas no início do anos 2000. essa deliciosa surpresa - imagens em movimento de figuras célebres como pixinguinha, donga, joão da baiana, benedito lacerda, almirante e bide - resultou no curta pixinguinha e a velha guarda do samba (2007), de ricardo dias e thomaz farkas, e que também serve como breve e boa introdução para a obra do sempre doce e acessível mestre.



e fotografias? nada de suas fotografias? o pessoal do instituto moreira salles, que desde 2007 guarda grande parte do acervo fotográfico de farkas, montou esse singelo slideshow, que pode ser melhor apreciado em tela inteira.


mas o melhor mesmo é o seguinte (para quem estiver ou passar por são paulo): em 28 de janeiro deste ano foi inaugurada, no instituto, a exposição "thomaz farkas: uma antologia pessoal". vai até 8 de abril e precisa ser vista.

p.s.: o título dessa postagem vem de uma frase de farkas numa entrevista dada a diógenes moura, curador da pinacoteca do estado de são paulo: "fotografia, para mim, é o melhor jeito de aproveitar a vida. vejam só: é ver, descobrir paisagens, pessoas, caras, grupos, ruas, fachadas, praças – todos trabalhando, brincando, folgando, comendo, dançando. tudo isso é nossa vida: experiências vividas, olhando – e vendo – sempre, e daí fotografando sem fim com qualquer máquina, técnica ou filme, ou sem. mas, olhando no visor ou no reflex, tudo é uma visão que não tem fim. todo dia é diferente: todo olhar é outro e a gente percebe finalmente que o mundo é imenso! é bom ser fotógrafo! ou como diz o colega português, fernando lemos, um mágico militante!" ah, e a caravana farkas foi restaurada e compilada numa caixa de 7 dvds intitulada projeto thomaz farkas. tem na 2001.

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