terça-feira, 6 de outubro de 2009

john carpenter, esse cara

a chamada veio lá do trabalho sujo do matias. era um filme de john carpenter, cineasta casca grossa de alta patente. sempre achei o carpenter uma espécie de clint eastwood pop (e como clint também assina as trilhas de seus filmes). seco, silencioso, ocasionalmente melancólico, violento, mas também de bom humor, o cineasta é dono de uma série de filmes indispensáveis: fuga de nova york, enigma do outro mundo, halloween, starman, assalto à 13ª dp e christine - o carro assassino. mas o filme em questão é eles vivem (1988), ficção científica independente com pouca grana, apesar de ter sido feito dois anos depois da divertidíssima "superprodução" os aventureiros do bairro proibido. nunca tinha visto esse. nem lembrava, na verdade. mas fiquei intrigado pela genial cena que tava lá no matias. fui atrás e bingo! que filme! como não assisti isso antes?

bem, eles vivem é uma mistura de "aliens entre nós" (tipo invasores de corpos, versões de don siegel, philip kaufman e abel ferrara) com "a realidade que vivemos é uma ilusão" (pré-matrix, portanto). em um futuro qualquer, dois homens - o branco roddy piper e o negro keith david - descobrem que uma raça alienígena está na terra disfarçada de humanos. descobrem através de óculos escuros com lentes especiais que permitem ver a cara dos aliens e todas as mensagens subliminares colocadas por eles em peças de consumo. por exemplo, em um outdoor com uma propaganga de viagens pro caribe está escrito realmente o bom e velho "case e reproduza" (e dá-lhe mensagens como "obedeça", "compre" e "não pense"). e existe uma elite humana que sabe dos aliens e que lucra muito ao apoiá-los. sim, amiguinhos e amiguinhos, estamos aqui no terreno de combate armado ao capitalismo. esses aliens são especuladores intergalácticos, business men de outras constelações nebulosas e coisa e lousa. "a terra é o terceiro mundo deles", diz um dos personagens. "não existem mais países! eles são donos de tudo", revela outro. saca o trailer.



apesar de encontrarem rapidamente um grupo de resistência humana, os dois levam a batalha de forma pessoal e nada ideológica. não existe um chamado do herói. eles - principalmente o interpretado por roddy piper, um ex-lutador de luta livre que se tornou "ator" - saem por aí disparando nos ets por vingança e sobrevivência. e nada mais. carpenter os segue sem firulas, com aquela discreta genialidade que lhe é habitual, e seus personagens disparam cardumes de frases memoráveis neste filme que dá muito o que pensar. separei algumas linhas geniais (incluindo a do post do matias, a do chiclete).

keith david - não gosto que me sigam, ao menos que saiba o porquê.
roddy piper - e eu sou ando com alguém depois de ver pra onde ele vai.
(...)
keith david - olha, agora tenho um trabalho. e planejo mantê-lo. ando o tempo todo na linha (branca). não incomodo ninguém. ninguém me incomoda. é melhor você fazer o mesmo.
roddy piper - a linha (branca) fica no meio da pista. é o pior lugar pra dirigir.
(...)
roddy piper [ao ver que um político demagogo na tv é um alien] - já tinha imaginado alguma coisa assim! [ri]
(...)
roddy piper [surtando com um alien dentro um mercadinho sob o efeito dos reveladores óculos escuros] - você precisa é de um cirurgião plástico brasileiro! [aê pitanguy! e essa cena está aqui]
(...)
roddy piper [entrando em um banco e dando aquela geral pra localizar os aliens] - eu vim aqui pra mascar chicletes e chutar alguns traseiros. estou sem chicletes.
(..)
keith david - talvez eles sempre tenham estado entre nós, aquelas coisas lá fora. talvez eles adorem ver a gente se odiando. ver a gente se matando. e alimentando nossos corações frios de merda.

e pra finalizar, uma das muitas cenas memoráveis do filme. uma briga de rua entre os amigos george nada (roddy piper) e frank armitage (keith david). são seis minutos de pancadaria franca e tudo por causa dos tais óculos escuros.

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