pois então, minha gente. o décimo terceiro texto da ultra pop marcou uma volta da boa e velha polêmica ao meu cantinho no yahoo, mas jamais imaginaria que o seguinte, "drogas? tô dentro", causaria um rebuliço ainda maior. mas esse aqui trata de misturas nacionais, mashups e um tal de funknejo.
BASTARDO É A MÃE
Misturar ritmos diferentes em uma mesma música não é novidade nem aqui e nem na China. Não é coisa dos dias de hoje e exatamente por isso já foi chamado por vários nomes, de ‘mash mixed’ a ‘bastard pop’, de ‘crossover’ a ‘mashup’. Mas é deste último jeito, em inglês mesmo, que essa mistura ficou conhecida no mundo todo. E é um tanto diferente do bom e velho remix, seu meio-irmão. Enquanto no remix uma música ganha novas roupagens a partir de intervenções de batidas e efeitos criados por DJs e produtores, o mashup é o encontro-colisão de duas músicas já existentes, de preferência o vocal de uma com o instrumental de outra
Quando ainda não existia asfalto para chegar aos mashups, as misturas eram feitas ao vivo, com instrumentos, na raça mesmo. Mas a partir dos anos 1980, e mais radicalmente nos anos 2000, inúmeras ferramentas tecnológicas deixaram tudo mais acessível. E assim surgiram os primeiros fenômenos pop do gênero, com destaque para The Grey Album (2004), no qual o produtor Danger Mouse liquidificou Beatles (The White Album, 1968) e Jay-Z (The Black Album, 2003), e Collision Course (2004) com uma mescla de Linkin Park e Jay-Z feita pelos próprios. O poderoso rapper e maridão de Beyoncé, aliás, é figura fácil nos mashups e mais recentemente foi co-protagonista de Jaydiohead (2009), uma mistura feita pelo produtor Max Tannone de suas rimas com os instrumentais do Radiohead.
E o que isso tem a ver com o Brasil? É que fiquei sabendo que uma coisa chamada “Sou Foda 2” tinha sido feita e era nada menos que uma nova versão de “Sou Foda”, hit malicioso assinado pelos jovens funkeiros do Avassaladores que agora ganhou o apoio da dupla neosertaneja Cácio & Marcos. Nada disso havia me preparado para a música que saiu daquele vídeo e muito menos para o termo ‘funknejo’. Alguns podem achar que “Sou Foda 2” é um crossover, mas eu acho sinceramente que é um mashup “ao vivo”.
Ainda não sei muito bem o que pensar disso. É muito bizarro? É o futuro? Uma coisa não tem nada a ver com a outra? A verdade é que a nova geração que tem revitalizado comercialmente a música sertaneja é a mesma que, ao invés de criar novas canções, apenas recria hits de outros gêneros a seu modo (“Minha Mulher Não Deixa Não” é um das mais disseminadas). Resultado? O feitiço pode muito bem se virar contra os feiticeiros.
Porque essa coisa de misturar, como diria o sábio e saudoso Vicente Matheus, é “uma faca de dois legumes”. Às vezes funciona, noutras desanda. Por exemplo, o pioneiro da cena mashup nacional é o carioca João Brasil que em 2010 se meteu no ousadíssimo projeto “365 mashups” (Isso mesmo! Um por dia!). Ninguém no mundo tentou isso – e muito menos com tantas referências e artistas diferentes - e João Brasil saiu-se muito bem, mesmo com alguns escorregões aqui e acolá. Impossível, em um projeto desse tamanho, chegar ao 100% de aproveitamento. De qualquer forma, quinze dias atrás Brasil reuniu Guilherme de Arantes com Gaiola das Popozudas no divertido “Charme de Dar” e a alquimia funcionou.
Outro artista brasileiro dos mashups e remixes, o enigmático DJ Cremoso vem fazendo fama ao pegar sucessos internacionais dos anos 1980 para cá – de Nirvana a R.E.M., de Major Lazer a Joy Division, etc. - com o objetivo de mergulhá-los no caldeirão do tecnobrega. Já o pessoal da festa Criolina fez um bando de europeus sacolejarem ao som de mashups como “Mosca na Cerveja” (Raul Seixas vs. Chico Science & Nação Zumbi), “Nega do Bebo Sim” (Elizeth Cardoso vs. Marcelo D2) e “Manos e Molhados” (Racionais MCs vs. Secos & Molhados). Bastardos ou não, o que é brega hoje pode ser cult amanhã, e o que é cult hoje pode ser datado ou esquecido depois de amanhã. Só o tempo para julgar se experiências assim sobrevivem e se a posição da rã é um lance e não um romance.
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