sexta-feira, 16 de setembro de 2011

yahoo #14

até agora, "drogas? tô dentro" foi a coluna mais comentada, curtida, votada de todas que fiz até agora no ultra pop. números muito legais, fiquei bastante feliz e acho que o pessoal lá no yahoo curtiu também (um salve pros manos michel blanco e rafael alvez), mas é claro que uma grande porcentagem não entendeu patavinas do texto. a partir de um clipe-campanha constrangedor que o rock in rio fez ("eu vou sem drogas") apontei uma série de hipocrisias da campanha, de alguns artistas, enfim... mas é que como coloquei um título provocativo boa parte das pessoas acharam que eu estava fazendo uma apologia às drogas e aí rolaram uns xingamentos e coisa e tal. portanto, diversão garantida nos comentários. enquanto isso, tem texto novo por lá: "meu fraco é subcelebridade".

DROGAS? TÔ DENTRO

Poucas coisas nesse planeta são tão prejudiciais a saúde quanto a hipocrisia. Intolerância e ódio, com certeza, e ignorância estão em pé de igualdade. Mas a hipocrisia vai se espalhando silenciosamente pelas sinapses da sociedade fabricando falsas verdades, bagunçando o coreto, jogando para debaixo do tapete o que realmente precisa ser mudado e que tememos encarar (nós mesmos). Acho que provavelmente essa questão – autoreflexão, assumir responsabilidades e quetais – é uma das mais recorrentes aqui nos textos do Ultra Pop. Talvez por ser muito atual. Talvez seja uma encanação pessoal. Vai saber.

É que voltei a pensar nisso após assistir a um clipe feito pelo Rock in Rio para uma campanha chamada “Eu vou sem drogas” (ao evento, pelo menos). Em clima de “We are the world”, músicos, atores e atrizes nacionais cantam em um estúdio versos sem sentido como “Eu tenho escolhas / Só vou nas boas / Às vezes nem tanto assim” ou de contrapropaganda como “Também não aceito / Que as pessoas digam / O que é melhor pra mim”. A música, aliás, foi composta pelo veterano Eduardo Souto Neto, o mesmo do “Tema da vitória” (aquele do Senna), o tema do próprio Rock in Rio e de uma infinidade de jingles que grudaram na cabeça de gerações.

Como se não bastasse ser mais uma música ruim no mundo, “Eu vou sem drogas” ainda deu uma queimadinha no filme de alguns grandes artistas. Quer dizer, não ligo para o que fazem ou deixam de fazer Rogério Flausino, Toni Garrido, Di Ferrero, Claudia Leitte, Eduardo Falaschi (Angra), ou Rodrigo Santos (Barão Vermelho). Muito menos Marcos Frota, Paola Oliveira e Thiago Lacerda (queria muito saber como chegaram a esse elenco). Mas não foi legal ver Herbert Viana, Ivo Meirelles, Sandra de Sá e principalmente Milton Nascimento e Emicida nessa barca errada.

Cada um tem suas motivações para participar dessa paradinha (contrato, identificação, um chamado amigo) e quem sou eu para julgá-las, mas me incomoda a hipocrisia demagoga dos envolvidos numa campanha para proibir algo “que faz mal” sendo que o evento que começa em 23 de setembro é patrocinado pela cerveja Heineken - pense nas brigas e na quantidade de motoristas bêbados saindo lá dos cafundós da Cidade do Rock – e que em suas lanchonetes provavelmente estarão disponíveis aqueles saudáveis sanduíches de microondas da Sadia. Quer dizer, onde está a droga? Sem falar que algumas dessas pessoas conscientes e maravilhosas já deram, dão ou darão algum tapa na pantera. Tudo soa falso demais, da boca pra fora demais. E vazio, acima de tudo vazio.



Só que para minha felicidade, e como um sinal que a humanidade não está perdida, das poucos mais de 700 avaliações do vídeo na página do YouTube (até a manhã desta quarta, dia 31.08), 600 eram negativas. Podem ter achado a música apenas chata e nem atentado para a hipocrisia em cada nota, mas na página oficial do Rock in Rio alguns comentários chamam atenção: “Fácil, tira o NX Zero”, concordaram Yago e Luh; “Eu não uso drogas apenas tomo cerveja, mas cada um sabe o que quer para si e cada um é responsável pelos seus atos. Vocês não vão chegar a lugar nenhum com isso”, desabafou Adriano; “Drogas pra quê? Já nasci doidão”, disse Leo Simmons; já Eduardo e Chernob apontaram para o calcanhar de Aquiles do evento (“Porque estão vendendo bebidas alcoólicas então?”); Paulo Muchon e André enxergaram a hipocrisia; e Diego, na maior sinceridade, declarou que “Ah, na boa eu dou um tapinha no baseado, não mata ninguém... e é bom!!!”

Por essas e outras que concordo com Jeane do Brega, paraibana da cidade de Bananeiras, que no épico e rural vídeo de “É tão fácil chorar” faz uma defesa sacolejante de seus vícios e limites. Ela também não aceita que as pessoas digam o que é melhor pra ela.

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