em setembro de 2006 saiu, na revista continente multicultural, um texto em que tentei dar conta do artista, mesmo que dando altas palas de fã-orfão.
MALDITO, UMA VÍRGULA!
Foi difícil de acreditar. Surpreendente também. Mas no final de 2005 uma música do compositor paulista Itamar Assumpção, o “maldito”, entrou com destaque na trilha sonora da novela Belíssima de Sílvio de Abreu, um dos maiores sucessos do horário nobre da TV Globo. “Dor elegante”, parceria com o poeta curitibano Paulo Leminski, surgiu para o grande público através da voz de Zélia Duncan, uma das mais ardentes divulgadoras da obra de Itamar, e certamente a com maior entrada no mundo das TVs e rádios. Só que, ironia do destino, Itamar não estava aqui para ver. Morto por um câncer em 2003, aos 53 anos, Itamar fez de sua vida música e também fez música em vida, música popular brasileira, mas não foi reconhecido como deveria.
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Itamar Assumpção nasceu em 1949 na cidade paulista de Tietê e depois se mudou para as paranaenses Arapongas e Londrina, onde conheceu os irmãos Arrigo e Paulo Barnabé. A chegada em São Paulo, cidade que lhe deu régua e compasso, aconteceu em 1973, quando já tinha descartado as profissões de jogador de futebol e ator. A estréia em palcos paulistanos só foi acontecer em 1978 para, três anos depois, Itamar lançar seu primeiro disco, Beleléu, leléu, eu, onde despontaram as músicas “Fico louco” e “Nego Dito”. Neste seu primeiro trabalho Itamar já mostrou traços que carregaria e refinaria em todas suas composições posteriores: a expansão do “eu” dentro da canção, isto é, suas músicas comportam uma imensa variedade de falas, vozes e línguas, muitas vezes sobrepostas; uma inquietação constante com a música e a cultura brasileira; a ironia afiada como navalha; o lirismo pulsante e uma mistura pessoal do rock de Jimi Hendrix, do atonalismo de Arrigo Barnabé e da tradição musical popular negra de figuras como Ataulfo Alves (homenageado em Ataulfo Alves por Itamar Assumpção – Pra sempre agora, de 1995), Clementina de Jesus e Milton Nascimento.
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Itamar Assumpção foi ídolo de poucos. Um marginal sem opção de fuga. Quando aparecia em jornal tinha que carregar o fardo de ser “maldito”. O compositor de vez em quando tocava em rádios, invariavelmente por vozes femininas. Vozes de Ná Ozzetti, Ney Matogrosso, Cássia Eller, Mônica Salmaso, Ceumar, Rita Lee e Virginia Rosa, além de Zélia Duncan. Mas Itamar também foi cantado por Alzira Espíndola, Jards Macalé, Branca di Neve, Suzana Salles, a irmã Denise Assunção e muitos outros e outras. Seu legado musical também pode ser visto em ação no trabalho da banda paulistana DonaZica. Tendo como integrante sua filha mais nova, Anelis Assumpção, a banda jogou Itamar em mais um liquidificador de vozes, ritmos, poesias e referências das mais diversas. Estas e outras vozes continuarão perpetuando Itamar Assumpção rumo ao futuro. Talvez ele esteja lá esperando. Talvez já esteja noutra.
p.s.: a tv cultura exibiu um show do itamar lá pelos idos de 1983. já tinha visto umas três músicas soltas pelo youtube, mas não sabia que tinham colocado o especial inteiro (acho, tem pouco mais de 40 minutos). olha aí que eu vou ver também: parte 1, parte 2, parte 3, parte 4 e parte 5.
outro p.s.: depois de achar no youtube guigo & hani dublando "milágrimas" tive a certeza que itamar assumpção é sim popular (ou seria zélia duncan?).
3 comentários:
bonito, dafne! bjs
é pra isso que serve o Pretobras: conhecer mais de perto o itamar, sua obra, se encantar...bjs
Monica Tarantino
aê, monica, obrigado pela visita. e parabéns pelo livro. é uma das coisas mais bonitas da minha estante. e o itamar merecia algo assim. e sempre mais, claro.
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