de volta ao baú, dessa vez da monet. em abril deste ano saiu na revista uma entrevista que fiz com a atriz patrícia pillar por causa de sua estreia como diretora do documentário waldick soriano - sempre no meu coração. muito simpática, apesar de um gripe que a fazia tossir regularmente, pillar falou com carinho sobre waldick soriano (1933-2008) e a descoberta de um brasil que lhe diz muitas coisas.
como foi a decisão de assumir a direção de um filme?
comecei fazendo teatro de grupo. e ali a gente fazia um pouco de cada coisa. fui criada tendo essa noção do espetáculo como um todo. e quando fui fazer cinema continuei com essa mesma maneira de trabalhar. não colocando meu trabalho de atriz como mais importante, e sim inserindo no todo. então sempre me interessei por todos os aspectos de uma produção, até dos mais técnicos, e tudo que puder ajudar a contar a história. essa minha vontade de dirigir veio de uma maneira natural, depois de tantos anos trabalhando e tendo uma visão minha sobre as coisas. agora, o assunto waldick soriano veio movido pela minha própria curiosidade.
e a curiosidade pelo waldick soriano?
o waldick é um personagem... tem a questão do homem do interior que fala de um brasil que tenho a maior ternura. falar desse homem do interior que uma vez foi ao cinema e viu um episódio do durango kid e se identificou por esse personagem americano, vestido de preto, meio justiceiro. ao mesmo tempo ele era cantor e compositor e escreveu canções que são muito comoventes. são músicas de uma poesia muito simples, brasileira, e que me falam muitas coisas. e a história dele... de uma homem que foi lavrador, garimpeiro, sanfoneiro, depois foi para são paulo e trabalhou como faxineiro, engraxate e pedreiro. ele teve que sair de sua terra em busca de um reconhecimento, um espaço, para fazer sua arte.
e como foi pra você lidar com um personagem machista? ele era assim?
é engraçado porque quando se presta mais atenção nas letras dele dá para perceber que na maioria ele não é nada machista. pelo contrário, o waldick era quase servil, era um escravo da paixão e da mulher, um poeta mesmo. acho que ele criou essa persona machista como uma saída. esses aspectos dúbios da personalidade dele também me interessaram muito.
mas houve alguma dificuldade nesse encontro de mundos tão diferentes como o seu e o dele?
quando conheci o waldick ele era mais defendido. ele sofreu muito, até por fragilidades como a bebida, e teve relações complicadas com algumas pessoas, o que o fez optar pela solidão. mas posso dizer que aos poucos viramos grandes amigos. ele era um cavalheiro, gentil e muito inteligente. sempre tinha alguma coisa interessante para falar. muito diferente do estereótipo que passava. tentei no filme buscar o homem velho e foi esse homem velho que conheci [waldick morreu em setembro de 2008]. mas a despeito de falar da solidão e da velhice é um filme divertido. traz um pouco do humor do waldick que era um sujeito valente.
é interessante que sendo você uma atriz sua primeira experiência na direção foi com um documentário e não com ficção...
mas acho que é porque essa minha curiosidade é mais de uma pessoa que por acaso trabalha com cinema do que propriamente uma vontade de dirigir filmes. foi pessoal mesmo. e o meu material de trabalho, o que sei fazer, a minha experiência, passa pelo cinema. é a linguagem que conheço, que estou acostumada. talvez se tivesse outra formação essa minha curiosidade pudesse ter se transformado em um livro.
e a experiência de fazer um documentário?
foi minha primeira vez e busquei ter um compromisso com a verdade. a verdade dele, um tanto em respeito a ele, mas também aos espectadores e a mim mesmo. a verdade foi uma coisa que me norteou e, ao mesmo tempo, foi muito dura. porque, às vezes, não era bem aquilo que ele gostaria que fosse e em outras ocasiões eu mesma gostaria que fosse diferente do que estava registrando. é complicado falar da vida de uma pessoa e tentei tratar tudo com delicadeza, mas sem abrir mão do principal que é a verdade. tenho também vontade de dirigir uma ficção, mas não agora porque o filme também vai ser exibido nos cinemas, em circuito digital, e preciso descansar.
antes do documentário, pillar já tinha gravado um show de waldick em fortaleza e que resultou no cd/dvd waldick soriano ao vivo (som livre, 2007). foi gravado no lendário cine são luiz, escrevi uma resenha lá no gafieiras e peguei uma das faixas pra colocar aqui. a música é "carta de amor" que foi lançada em 1970 e foi um de seus maiores sucessos.
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