terça-feira, 31 de janeiro de 2012

humor experimental

uma das melhores coisas do facebook é acompanhar as postagens do cineasta carlos reichenbach. são links para filmes obscuros, esquecidos, terror, um pouco de sacanagem, comédias, dramas europeus, coisas brasileiras, de tudo um pouco. é uma festança de descobertas da pesada. hoje ele colocou um curta do ator peter sellers que eu nem fazia ideia da existência e escreveu isso aqui: "diz a lenda que peter sellers comprou uma cámara bolex 16mm e convidou seus amigos richard lester (que até aquele momento só havia trabalhado para a tv - depois viria a ficar famoso como "o diretor dos beatles") e spike mulligan para gravarem algumas gags visuais de humor surrealista. este é um filmeco feito por amigos e para amigos, filmado em dois domingos, ao custo de 70 libras (sellers tinha a fama de pão-duro). isso não impediu amos vogel de incluir o curta em seu livro film as subversive art".


o nome desse curta surreal de pouco mais de dez minutos é the running, jumping & standing still film (1960) e a direção ficou a cargo de richard lester, americano que foi viver na inglaterra em 1953 e que conheceu sellers em trabalhos na tv. o filme chegou a ser indicado ao oscar e fez algum sucesso cult na época, tanto que foi por causa dele que john lennon e paul mccartney convidaram lester para dirigir seus filmes os reis do iê iê iê (1964) e help! (1965). mas lester era mais um pau-pra-toda-obra que um "autor" e nas décadas que se seguiram dirigiu filmes ainda mais comerciais como os três mosqueteiros (1973), e sua sequência a vingança de milady (1974), superman 2 (1981) e superman 3 (1983). talvez seu melhor filme, além do primeiro que fez com os beatles, seja robin e marian (1976), com sean connery e audrey hepburn revisitando a lenda de robin hood.




não reconheceu peter sellers? é o fotógrafo (e também caçador). dois anos antes de atuar em lolita, de stanley kubrick, e três anos antes de se tornar conhecido globalmente como o inspetor clouseau da série pantera cor-de-rosa. ah, e se você quiser ter o curta em seu próprio disco rígido dá para baixar aqui.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

nada mais irritante

encontrei uma única vez com fernanda young para um perfil publicado na edição de dezembro de 2006 da tam magazine. foi em um complexo de estúdios, ali na rua turiassu, onde era gravado o programa irritando fernanda young (2006-10). para minha surpresa na época, a conversa não poderia ter sido melhor, mais franca e solta. e ainda acompanhei a gravação do programa com a deborah secco. o resultado foi um texto que gosto até hoje (nem sei porque demorei tanto para colocar aqui). ah, uma breve atualização daquele final de 2006 para esse começo de 2012. fernanda young escreveu mais dois livros, posou para a playboy em 2009 sob a mira de bob wolfenson, apresentou outro programa (duas histéricas), escreveu outras séries e especiais para tv (o sistema, nada fofa, separação?! e macho man) e um novo capítulo cinematográfico na saga de rui e vani (os normais 2 - a noite mais maluca de todas), e ainda adotou duas crianças (já tinha gêmeas do casamento com o roteirista e parceiro alexandre carvalho). detalhe: o título do texto veio da série de retratos que a cia. de foto tirou na época.



UMA FLOR FEITA DE MUITAS PALAVRAS

O complexo de estúdios onde é gravado Irritando Fernanda Young está em processo de ampliação e os entulhos se acumulam sob uma escada, mas no camarim refrigerado tudo parece tranquilo. Por uma janela é possível acompanhar o silencioso frenesi da equipe nos últimos retoques para mais um dia de trabalho na segunda temporada do programa que vai ao ar nas noites de domingo do GNT. Agitada como parece ser o seu costume, a escritora, roteirista e apresentadora recebe o repórter acompanhada de sua irmã e braço-direito, Renata, com uma preocupação martelando a cabeça. “Sempre fico na dúvida se não estou simplesmente ridícula”, diz sobre as camadas de maquiagem necessárias para as luzes da televisão. A irmã lhe tranquiliza e ela senta, ainda agitada, no sofá. Gravando.

“O Saia Justa era bem mais fácil pra mim. Ia totalmente despreparada e às vezes cometia erros medonhos, mas fazia parte porque dramaturgicamente imaginava que o programa devia ser uma conversa entre amigas. Era como sentia e vivia aquilo, falando coisas interessantes, comoventes, falando abobrinhas”, e dá uma pausa nas boas lembranças de seus três anos ao lado de Rita Lee, Marisa Orth e Mônica Waldvogel, a primeira geração do programa. Corta para a câmera 2. “Hoje recebo convidados e tenho que estar preparada. Sinto que estou melhor como entrevistadora. Na primeira temporada era tudo mais anárquico e eu interrompia mais, falava muito de mim... o que continuo fazendo porque sou uma pessoa muito empírica. Faço isso na minha literatura, na TV, como roteirista e apresentadora. Não eliminei essa minha verborragia, esse meu eu egocêntrico e opinativo”, segue em desabalada carreira. Pausa para os comerciais.

Na primeira temporada do programa, a niteroiense radicada em São Paulo por opção e identificação entrevistou figuras tão diversas quanto Fábio Assunção, John Casablancas, Selton Mello, Rita Lee e Daniel Filho (que dirigiu recentemente Muito Gelo e Dois Dedos d’Água, roteiro seu com o marido e parceiro Alexandre Machado). O ecletismo foi aprofundado na segunda temporada que contou com as presenças de Ney Latorraca, Amaury Jr., Eliana, Deborah Secco, Alexandre Herchcovitch e Supla. Volta para a câmera 1. “Seria incapaz de falar com gente que não me interessa, portanto o que todas essas pessoas têm em comum é o fato de me intrigarem de alguma forma. Adoro conversar, adoro escutar os outros e pago por uma boa conversa. É onde tiro os meus insights”, explica. Corta para um close na câmera 3.

“Acho o programa genial. Se é ou não é, não importa. Você não pode fazer nada sem achar genial. Se não acredito porque vou dar a cara a tapa? Mas depois desta temporada gostaria de fazer algo mais quente, algo nas férias sobre as férias. Carnaval na Bahia ou em Olinda, por exemplo”, e dá um sorriso enigmático. Zoom in. Mas Fernanda Young gosta de carnaval? “Não gosto porque não sou aceita, não sambo, sou cheia de manias e hipocondrias. Tudo que não gosto é simplesmente por causa de rancor. É apenas uma reação à rejeição, mas vou começar a ter umas aulas para sambar. Quem sabe descubro que o carnaval é genial”, revela carnavalizando o próprio mau-humor. Vai para a câmera 2.

O lado conhecido de Fernanda Young é este, o do riso a partir de uma afiada observação do cotidiano popularizado pelos seriados televisivos A Comédia da Vida Privada, Os Normais e Minha Nada Mole Vida. Mas seu combustível é mesmo a paixão. Pela comédia e pelo cotidiano, claro, e acima de tudo pela palavra, presença constante, direta e torrencial em seus roteiros e nos sete livros publicados. “O que faço com mais prazer é escrever romances, mas fazer TV não é um bico. Adoro, sou fascinada pela TV. Fico boba com gente que ainda tem preconceito, porque não só acredito na TV como faço com ideologia. Só que os burros, e eles são muitos, vêem isso como desqualificador para minha literatura. Não sou uma pessoa idônea intelectualmente porque trabalho na Rede Globo... pelo amor de Deus!”, e faz uma careta, língua de fora. Sobem os letreiros.


domingo, 29 de janeiro de 2012

animadões

gifs animados. provavelmente uma das coisas mais bacanas da internet, quiçá do mundo! esses aqui, feitos pelo ilustrador kerry callen sobre algumas capas clássicas de quadrinhos, são alguns dos melhores que já vi (e agora que, finalmente, aprendi a colocar gifs no blog, ninguém me segura). fora isso, callen tem um trabalho engraçado com super heróis da era de ouro. chama-se "super antics".


capa de frank miller



capa de steve ditko



capa de bob layton



capa de jim steranko



capa de curt swan e stan kaye



capa de mike sekowsky e murphy anderson



cheguei a kerry callen por dica de vini gorgulho (@garageira).


atualização em 7 de fevereiro de 2012: e não é que cullen já soltou uns gifs novos? olha só. 


batman #15 (1943)
capa de jack burnley

 
daredevil #7 (2011)
capa de paolo rivera


domingueira

com a busca de criolo pelo bloco ilê aiyê em nova versão de "que bloco é esse?" (paulinho camafeu), gravada originalmente em canto negro (independente, 1984). a direção do clipe é de ricardo spencer.





e esse clipe do "que bloco é esse?" foi o primeiro de quatro encontros de artistas variados com blocos tradicionais baianos em um projeto patrocinado pela petrobras. o segundo, "malê, a insurreição", marca a união de emicida com o bloco malê debalê. e ainda rolarão nação zumbi & muzenza e preta gil & cortejo afro (colocarei aqui conforme surgirem), além de mini-documentários sobre cada um desses blocos.




atualização: e olha aí nação zumbi e muzenza. da pesada.


sábado, 28 de janeiro de 2012

laerte da semana #33

fase maravilhosa a do laerte, que anda agora numa cruzada pessoal pelo direito de crossdressers e travestis poderem usar o banheiro feminino após incidente numa padaria/lanchonete em são paulo.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

marina, cuba e brasil

fazia tempo que não recuperava nada do baú, então segue aqui um perfil que fiz de marina de la riva para a edição de agosto de 2007 da saudosa tam magazine. era época de lançamento de seu ótimo disco de estreia e de lá pra cá a cantora participou de muitos shows do projeto 3namassa (o que acabou lhe garantindo uma participação no especial mtv apresenta: sintonizando recife (2008) e lançou um dvd próprio (ao vivo em são paulo, 2010), entre outras coisas que não faço ideia. mais novidades sobre ela no final do post.


ATENÇÃO! CANTORA EM MOVIMENTO

O tempo fechou. Assim de um dia para outro o sol desapareceu e uma garoa ameaçou cair. O resultado direto destes humores da natureza foi a transferência da entrevista e sessão de fotos, anteriormente marcada no Parque do Ibirapuera. Por sugestão da cantora Marina de la Riva mudamos de mala e cuia para um lugar totalmente diferente, uma loja de roupas femininas nos Jardins. “Tem um café lá dentro, é tranqüilo e bonito também”, explica via celular. Estreante em disco, mas de sólida carreira nas noites paulistanas, Marina chega toda sorrisos apesar do clima esquisito lá fora. Talvez esteja feliz pela ótima receptividade de seu trabalho solo. Talvez a moça seja assim naturalmente. Tudo é talvez até a conversa começar.

“Os senhores vêm sempre aqui?”, brinca ao oferecer um copo de água ao fotógrafo e ao repórter. É que a copeira não aparecia e Marina resolveu ir para trás do balcão e fazer algo. Sede é fogo. “A música sempre foi um negócio tão importante pra mim que não pensava em me profissionalizar. Era uma intimidade com a família, eram os discos da minha avó, uma música que meu pai cantava. A música era como uma placenta passando informações emocionais e intelectuais. Uma forma de viver a saudade deles”. Saudades de Cuba. O pai e uma parte da família paterna da cantora saíram da ilha em exílio e vieram dar com os costados em Baixa Grande da Leopoldina, município de Campos dos Goytacazes (RJ). A mãe mineira também estava pelas bandas e assim Marina de la Riva nasceu.

Mas antes da música sair de sua esfera íntima, Marina passou cinco anos fazendo faculdade de Direito. Estudava as leis à noite e durante o dia trabalhava com a família em uma criação de búfalos. Adorava os búfalos, mas não as leis. Após se formar, a vida de Marina sofreu a primeira virada: casou, mudou-se para São Paulo e teve um filho (que hoje tem 11 anos). “Aí, depois de um tempo, separei, mas continuei em São Paulo. Pensei, vou aproveitar essa cidade da melhor forma possível. Fiz aulas de canto lírico e comecei a cantar com algumas bandas para me encontrar musicalmente. Geralmente cantava jazz. A última em que cantei era muito interessante, chamava-se Alta Fidelidade e fazia um jazz eletrônico. Quero muito fazer um trabalho paralelo com eles porque o som é eletrônico, mas muito orgânico, com metais, bateria e um baixista incrível”.

Só que faltava algo. Não era isso ou não era bem isso. E em 2004, Marina teve a resposta em mais uma virada na sua vida. “Fui à premiação do Grammy e vi o show do [pianista cubano] Bebo Valdés com o [cantor espanhol] Diego Cigala. Nem consegui ver direito o show porque chorei o tempo todo. Ali, naquela hora, entendi o que estava doendo tanto em mim e o que tanto procurava fora, sendo que a história era dentro. No vôo de volta ao Brasil peguei um caderno e escrevi todo o projeto deste disco: onde ia gravar, como ia gravar, a qualidade dos músicos, a sonoridade, o tipo de microfone, o repertório, o que era cubano gravaria em Cuba, o que era brasileiro no Brasil”. A princípio, Marina não iria gravar nada brasileiro, mas quando pisou em solo cubano sentiu vontade de colocar seu lado materno para cantar. Viu que precisava unir musicalmente as duas pontas de sua vida e seguir em frente.

Peraí, mas não rolava nenhuma música cubana em seus tempos de cantora da noite? “Verdade verdadeira? Não. Quer dizer, de vez em quando alguém pedia porque sabia da minha família, mas essas músicas eram íntimas demais. Nunca neguei minha raízes cubanas, afinal sempre que me pediam eu cantava, mas não achava que tinha quer cantar aquilo. Era como uma carta da avó que você não deixa todo mundo ver. É uma coisa sua, e eu adoro a reserva, acho que fortalece o espírito”.

Esta reserva unida a um talento natural fez com que a cantora conseguisse reunir em seu disco de estréia figuras como Davi Moraes, Pepe Cisneros, Webster Santos, Toninho Ferragutti, Papi Olviedo, Ricardo Castellanos e o convidado especial Chico Buarque. E não é todo dia que se pode ouvir, em um mesmo disco, Ernesto Lecuona (“Mariposa”), Dona Ivone Lara (“Sonho meu”), Chano Pozo (“Tin tin deo”), Sivuca (“Adeus Maria Fulô”), Miguel Matamoros (“Juramento”), Silvio Rodríguez (“Te amaré y después”), Ernesto Grenet (“Drume negrita”) e Joubert de Carvalho (“Ta-hí! (Pra você gostar de mim)”). Marina de la Riva conseguiu costurar dentro de si e registrou harmoniosamente em disco duas das culturas musicais mais fortes do mundo. Tem motivos de sobra para distribuir sorrisos em dias nublados.

“A música é o que me interessa, por isso não sou restrita. Precisava escolher uma fotografia, uma identidade verdadeira, para me apresentar. Acho que o processo criativo é como um trem, uma Maria Fumaça... adoro Maria Fumaça... ela é muito pesada e difícil de colocar em andamento, mas depois existe tanta energia que basta mais carvão que ela vai. Com esse meu movimento musical outras coisas estão abrindo e te digo uma coisa, a sensação de sonhar, projetar e realizar é muito boa”. A locomotiva Marina de la Riva não pode (e nem quer) parar.

p.s. 1: recuperei esse texto porque lá no uol fiquei sabendo que a cantora está prestes a lançar disco novo (idílio), cinco longos anos após sua estreia. primeira música e clipe a sair deste trabalho, "voy a tatuar-me" é inédita do cubano amaury gutierrez.


p.s. 2: e aqui o registro da participação no projeto 3namassa. nessa música, especificamente, marina conseguiu a proeza de fazer uma versão a altura da original cantada por thalma de freitas.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

yahoo #25

bem, agora com a coluna no yahoo nas mãos era a deixa para finalmente falar do big brother brasil. pensei que fosse gerar mais celeuma nos comentários (afinal, gosto do programa de uma forma geral). mas o que faltou em quantidade sobrou na boa e velha agressão virtual de sempre (impressionante como tem gente que deseja que o outro seja demitido). a coluna mais recente, "são paulo, velha e louca", é uma singela pensata sobre a complexa relação entre a música popular de são paulo e o resto do brasil.

o júnior no fuck yeah dementia! 
segundo um comentário aqui, essa foto bizarra é de "um editorial
de uma revista teen, se não me engano foi em 2003. 
O titulo era
os 7 pecados de Júnior e esta foto em questão foi referente a gula."

BBB NO DOS OUTROS É REFRESCO

É isso aí. O assunto do verão está de volta e há pouco mais de uma década no ar, o Big Brother Brasil continua sendo o programa mais comentado, odiado e amado da TV aberta brasileira. Eu assisto desde o primeiro e vi todos, com mais ou menos interesse dependendo de cada edição. Por causa disso e em várias ocasiões cogitei escrever um texto para pelo menos colocar “no papel” algumas das coisas que já pensei sobre a atração – o porquê de gostar dela, o que diz sobre pessoas e entretenimento nos dias de hoje, etc. – e suas várias implicações reais ou virtuais. Chegou a hora.

Uma das coisas que sempre me fascinou no BBB é o trabalho que dá para fazê-lo. Criar e movimentar todo um aparato que tem como objetivo fazer uma dramaturgia ao vivo (e também editada) a partir de milhares de horas gravadas por dezenas de câmeras é um troço muito complexo. E uma dramaturgia que precisa, ainda por cima, gerar assunto, publicidade, dinheiro. Muita coisa ao mesmo tempo. E eu surpreso ao ver como, a cada edição, heróis, mocinhas, vilões, figurantes, loucos e bobos da corte eram construídos para o deleite do telespectador dessa nova espécie de novela. Mas sem jamais esquecer que cada participante também é tremendamente responsável pelo papel que lhe cabe, tanto por suas ações quanto pelos seus silêncios e/ou fingimentos. Ninguém é bobo, por mais que pareça.

Daí fui me surpreendendo ao simpatizar com pessoas que provavelmente não trocaria ideia aqui no mundo real (micareteiros, modelos, lutadores, cowboys e gente que grita “uhuuu”, por exemplo). Baita lição de humildade, pensei cá com meus botões. Mas como qualquer espectador seguia torcendo pra uns, secando outros, afinal aquilo é uma competição e, acima de tudo, um show, um reality show. Mas esse era o meu jeito de gostar do programa, ou pelo menos o jeito que eu explicava a mim mesmo. Sempre foi assim.

Depois de sei lá quantas edições, já em paz com o meu “mau gosto”, comecei a acompanhar na internet, principalmente no twitter e em blogs humorísticos como te dou um dado?, os muitos, grandes e diversos amores e ódios ao programa. O amor é fácil de entender. Uns gostam por ser exatamente o que é, um produto de entretenimento de massa atual, enquanto outros gostam porque também sonham pegar esse atalho para a fama, o dinheiro, qualquer coisa que não dê trabalho, tenha algo de mágico e possa preencher seus vazios.



Os ódios são mais complicados, tem muitas caras e elas vivem se cruzando. Em 2007, o roteirista e cineasta Eduardo Valente (No Meu Lugar) escreveu um texto fundamental sobre o programa. Li na época e bateu com tanta coisa que também pensava que acho que foi por causa dele que demorei tanto para escrever o meu. E aí, lá pelo final de “Por que eu assisto ao Big Brother Brasil?”, Valente diz que “as críticas aos personagens por serem ‘burros’ ou ‘pouco interessantes’ falam mais do preconceito, ou hipocrisia, de quem assiste, e da sua pouca capacidade de enxergar interesse em seres humanos/personagens para além de noções pré-concebidas do que seja a cultura.” Esse é um dos ódios que, em alguns casos, é repulsa pela própria imagem. Às vezes o espelho é difícil de encarar mesmo. Ocasionalmente acho que essa misantropia de alguns comentários é parecida com a do próprio Boninho que, em várias situações (entrevistas, twitter e na própria edição) deixa transparecer um certo desprezo pelos ‘brothers’ e ‘sisters’.

Existe ainda a raiva moralista/elitista dos discursos de direita e esquerda que adorariam que uma medida judicial, ou qualquer coisa parecida, acabasse de vez com o programa. É muita pouca vergonha, é muita falta do que fazer, é uma porcaria, é uma sub-raça (quem assiste e quem está no programa), não devia existir, deviam acabar com essa palhaçada, eu estudei e não preciso disso, e assim por diante. É praticamente o mesmo discurso, mais uma prova que existem mais semelhanças entre esses extremos políticos do que imaginamos. Não consigo entender como a existência de um programa de TV possa vir a ser uma ofensa pessoal a alguém. É impressionante como tem gente que mistura opinião com autoritarismo no liquidificador da sua cabeça e sai por aí dizendo o que as pessoas tem que assistir ou não. E isso porque nem falei o quanto de amor reprimido existe no ódio. 

Mas enfim, não estou aqui dizendo ou insinuando que o BBB é um programa para se gostar. Isso é de cada um, obviamente. É que minha experiência como jornalista me ensinou que gostar ou não gostar de algo não significa muita coisa (a não ser para si próprio) e que o bom mesmo para a profissão, assim como para vida, é ser curioso, interessado, não ter preconceitos (ou pelo menos guardá-los internamente), e muito menos julgar. Quem sabe a gente entendesse melhor o que tem de real nessa novela ambígua.

p.s.: o começo desse BBB 12 entrou para a história do programa com o caso do “estupro” e toda a bagunça gerada tanto pela própria produção, que agiu da pior forma fingindo que nada aconteceu até a polícia bater a sua porta, quanto pelos afobados de plantão que saíram prontos para o linchamento sem nem mesmo entender direito o que rolou por debaixo do edredom (o companheiro de Yahoo, Michel Blanco, escreveu sobre o caso aqui). Houve sim algo de errado, pelo menos um assédio, mas que isso servisse de lição para o programa e seus espectadores, e não para um surto de histeria coletiva com direito até os velhos comentários machistas como “cu de bêbado não tem dono”. Com tantas câmeras na casa, transparência era o mínimo que se exigia no caso. Não foi o que aconteceu.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

direito inalienável à moradia?

"eu quero minha casa... esses desgraçados, malditos... deixar nós nessa situação, na rua... podia tá na minha casa. eu sou uma trabalhadora, cara, não sou vagabunda não... eu trabalho. agora tira nós e bota na rua... aí fica o negócio jogado lá, mais 30 anos jogado lá... pra botar os bonitão lá... os bonitão lá... não é? tô mentindo? pra botar os bonitão lá, os grandão". o depoimento emocionado de uma moradoras expulsas do bairro de pinheirinho, em são josé dos campos, resume bem a violência, o vazio, o desrespeito e a dolorida consciência de que não existe justiça para os pobres. faz parte desse curta, um bom apanhado de toda situação.



achou o tom meio panfletário? apelativo? azar do seu cinismo. isso aqui não é reportagem de tv que desqualifica manifestações populares usando termos como "baderna", "na área existiam traficantes" ou "cumpriu-se a ordem judicial", e colocam seus profissionais com absurdos coletes a prova de bala (balas? só as da polícia). claro que é editorializado, mas pelo menos toma claramente o partido de alguém (das vítimas, no caso) e não fica por aí arrotando objetividade ao esconder interesses próprios. 

achou que forçaram a barra ao falar dessas conexões psdbísticas? nada é por acaso (alô cracolândia! alô favela do moinho!), ainda mais quando tem muita grana em jogo, alguns bons amigos em lugares-chave, desinteresse histórico por políticas sociais, muitos braços fardados/armados e falta de caráter. 

encerro aqui com uma charge forte, mas necessária, de carlos latuff (não costumo gostar de seus trabalhos, apesar de termos visões políticas bem parecidas; é porque me lembra demais aquele espírito de centro acadêmico/pstu/psol e aí sinto uma preguiça; tenho meus limites). detalhe: no próprio domingo compartilhei essa charge no facebook e hoje, ao correr pelo mural para recuperar links de textos, vi que ela tinha sumido. coisas de mark zuckerberg.


p.s.: muita coisa foi escrita desde domingo, dia da invasão policial-executiva-judiciária no bairro, mas gostaria de colocar aqui links para a reportagem de felipe milanez e maíra kubik (carta capital) e as análises feitas por walter hupsel, paula miraglia, paulo moreira leite, raquel rolnik e leonardo sakamoto.

domingo, 22 de janeiro de 2012

red hot + rio 2, a missão

lembro que quando foi lançado o primeiro disco-tributo produzido pela organização red hot (fighting aids through popular culture) tive o primeiro vislumbre do choque de gerações numa crítica musical. é que o paulo francis, acho que na época estava na folha, ficou puto das calças com o que artistas como jungle brothers e neneh cherry, entre outros, fizeram com clássicos de cole porter no ótimo (não pra ele) red hot + blue (1990, também estavam presentes gente como u2, tom waits, k.d. lang, fine young cannibals e jimmy sommerville). tinha 16 anos e pensei, “olha só, o tiozão não sabe o que tá acontecendo, não tá entendendo nada”. e o projeto ainda tinha uns clipes da pesada dirigidos por wim wenders, jim jarmusch, alex cox, jean-baptiste mondino, jonathan demme, percy adlon, neil jordan, etc.

vinte e um anos se passaram, a ong lançou outros discos – destaque para red hot + rio (1996, sobre bossa nova), onda sonora: red hot + lisbon (1998, sobre portugal, áfrica portuguesa e um pouco de brasil), red hot + riot (2002, sobre fela kuti) e dark was the night (2009) – e no ano passado veio red hot + rio 2 (2011), o décimo sétimo desse projeto surpreendentemente longevo e de alta qualidade. enfim, ouvi o disco duplo (34 músicas) ali por volta de setembro e gostei bastante de muita coisa, mas quando chegou a hora de fazer as listinhas com os melhores do ano não sabia se colocava nos gringos (a produção geral é de lá) ou nos nacionais (afinal a onda do trabalho é rever o tropicalismo e, não contei, mas acho que mais da metade dos artistas envolvidos ou músicas são brasileiros). travei nisso e o disco não entrou em nada, nem entre as músicas. puta sacanagem. então pensei em fazer uma postagem só pra ele como uma espécie de recompensa. ontem, numa passada rápida na fnac pinheiros, vi que tinham lançado aqui (som livre) e que o preço estava bem honesto (22,90). era a deixa e lá fui eu ouvir pela quinta ou sexta vez.

a produção musical de red hot + rio 2 é do brasileiro béco dranoff em parceria com paul heck e john carlin (mario caldato jr. e kassin foram consultores) e a proposta é rever o tropicalismo das mais diversas formas musicais, misturando artistas, brasileiros e gringos, remixes, gerações, clássicos da época e músicas novas, o nosso bom e velho samba do criolo doido. o disco 1 se chama red, enquanto o disco 2 é o hot. não existe nenhuma diferença conceitual perceptível a olhos nus entre um e outro.

alice smith + aloe blacc - "baby" (official music video) from red hot on vimeo

red

essa “baby”, com aloe blacc e alice smith, abre o disco, é uma delícia de ouvir (mesmo com alguns cacoetes eletrônicos lounge do que acabou virando a drum’n’bossa), e tem o plus a mais da presença de blacc, que puta voz, cantando versos caetânicos e com um pandeiro ao fundo. na sequência vem a sempre sensacional “tropicalia”, que o beck lançou no seu mutations (1998), e que aqui ganha o reforço suingado de seu jorge, inclusive cantando uma versão da letra em português. então, de repente, aparece o pessoal do clube da esquina com “um girassol da cor do seu cabelo”, só que cantada pela americana mia doi todd e o sueco-argentino josé gonzález. a linda música de lô e márcio borges é cantada em português (impossível traduzí-la) e sobrevive com dignidade. dá pra ver que eles provavelmente foram os que mais capricharam no “brasileiro” e fizeram um belo arranjo folk, só que com muito mais camadas e texturas. e a música seguiu doce como sempre.

rh loft party: mia doi todd + josé gonzález from red hot on vimeo

coco quadron, a vocalista do duo dinamarquês quadron, é muito simpática, mas acaba destruindo “samba de verão” (marcos valle, que é da segunda geração da bossa nova, pré-tropicalista portanto) com sua tentativa de português (e, com mil diabos, a letra em inglês é até boa e ela não arriscaria o pescoço). a parte musical é um tanto mais lenta, meio barzinho, mas se sustenta. daí vem “boa reza”, canção de vanessa da mata cantada em dueto com seu jorge e com a companhia luxuosa do grupo almaz. não dá pra entender porque, conceitualmente, a música estaria nesse disco “pós-tropicalista”, mas ela é boa demais para se perder por aí com sua pegada afro-brasileira, religião, guitarra massa de lúcio maia e batuque. bem, talvez seja isso.

o soulman john legend aparece com sua “love i’ve never know”e a coloca em ritmo de bossa leve com pandeiro. boa de ouvir, mas sem surpresas. já “nascimento (rebirth) – cena 2” eu não entendi muito bem a proposta, confesso, mas tem aloe blacc novamente, e de um jeito mais solto e moderno, e clara moreno (filha de joyce e nelson angelo) fazendo uns “eparará-pumdê-pumdêé”. é eletrônica em algumas partes e não sei bem o que isso quer dizer. então é a vez de curumin, certeza de som bacana, que faz uma ótima regravação de “ela” (gilberto gil), devidamente remixada pelo produtor americano ticklah (antibalas, easy stal all-stars e dap kings). e a “baby” de aloe blacc e alice smith volta reprocessada como “old dirty baby dub version” pelo produtor canadense doc mckinney. sei lá, não cola muito e nem dub é, na verdade.

uma das boas surpresas do disco é a versão de “um canto de afoxé para o bloco do ilê” feita pelo coletivo superhuman happiness (que tem gente do antibalas, fenomenal handclap band, passion pit, tv on the radio e the roots) com a banda cults, todos americanos. é bem próxima da original verdade seja dita, mas consegue ter uma diversão própria com direito a um delicioso sax safado oitentista que lembra o do mauricio pereira n’os mulheres negras. e do nada aparece um tal de om'mas keith (the sa-ra creative partners) que se derrama cafonamente em “mistérios”, mas como a música é de joyce, e eu tenho lá meus problemas de ouví-la, passei disperso, batido. tudo muda em “aquele abraço” com clima de festão multicultural unindo forró in the dark, brazilian girls e angélique kidjo, que faz um breque de gala rimando na língua que ela fala em benin e que não faço ideia qual seja.

mia doi todd volta com uma versão bem respeitosa de “canto de iemanjá”, quem é um dos clássicos afrosambas de baden e vinicius, o que significa que o tom fica mais solene e quebra o ritmo do disco. que não melhora com “terra”, com o próprio caetano cantando em 1978, e remixada muito discretamente, quase preguiçosamente, pelo prefuse 73 (maior frustração do disco, talvez). aí vem a linda “nu com a minha música”, que caetano lançou no outras palavras (1981), e aqui é cantada com muita delicadeza por marisa monte, devendra banhart e rodrigo amarante. desce que é uma boniteza. e bebel gilberto, muito espertamente (o que tem sido raro nos últimos tempos), faz um “acabou chorare”no estilo menos é mais, fechando um ciclo de quase 40 anos, já que foi ela falando ainda bebê que inspirou o nome da música (joão gilberto ia no sitio dos novos baianos em campo grande, rio de janeiro, e contava histórias de sua filha bebel). pra encerrar o disco vermelho, “dreamworld: marco de canavezes”, parceria de caetano veloso e david byrne, gravada originalmente em onda sonora: red hot + lisbon e uma ótima batucada eletrônica em homenagem a carmen miranda (que nasceu em marco de canaveses, portugal).

rh loft party: beirut from red hot on vimeo

hot

o disco quente começa com essa música aí logo acima. zach condon e seu pessoal do beirut já tocavam “o leãozinho” em shows, então a escolha veio naturalmente e o resultado é um belo caetano melancólico tendo como base um cavaquinho claramente não brasileiro (uma levada meio ukelele). já o pessoal do tha boogie pegou “panis et circensis” e a transformou em um rockinho com timbres parecidos com o strokes (ou seria coldplay?) e nada mais que isso. difícil errar “bat macumba”, principalmente se forem mantidos a psicodelia e o batuque, e os americanos do of montreal ainda por cima contam com a presença guitarrística de sérgio dias (mutantes). tudo em casa.

e olha o clube da esquina novamente! “tudo o que você podia ser”, de lô e márcio borges, surge com marcos valle e a phenomenal handclap band, cuja vocalista laura marin manda um bom português. arranjo acertado com teclados vintage e guitarra distorcida. daí que vem joyce, em carne, osso, voz e “banana”(gravada originalmente em feminina, 1980) e não tem madlib (e um tal de generation match) que salve essa bossa hippie de louvor às coisas naturais brasileiras.

agora, pós-tropicalismo mesmo é reunir marina gasolina (ex-bonde do rolê), o produtor francês secousse (etienne tron) e “freak le boom boom”, clássico pop trash de gretchen. o resultado é sensacional e certeza de sucesso em qualquer pista (e ainda rolou, fora do projeto, um remix mais pesado feito pelo pessoal do cansei de ser sexy). enquanto isso, o sambinha poliglota “tropical affair” me pareceu confuso, meio com cara de publicidade, apesar das fortes presenças de thalma de freitas, money mark (beastie boys) e joão parahyba (trio mocotó). fortemente latina desde seu surgimento em 1967, “soy loco por ti, américa” (gilberto gil e capinan) veio no disco em interpretação de carlinhos brown (ou seria carlito marrón?) com os cubanos dos los van van e órgão de money mark. tudo direitinho, no jeito.

já “roda”, música pré-tropicalista de gilberto gil gravada originalmente por elis regina em 1966, ganha uma nova cara com os ótimos arranjos de sopros da orquestra contemporânea de olinda (e os vocais de maciel salu e tiné) e um ótimo breque rimado sob responsabilidade de emicida. a qualidade continua lá no alto com “berimbau”, outro afrosamba de baden e vinicius só que menos solene, que no disco é cantada lindamente pela cabo-verdiana mayra andrade com acompanhamento suingadão do trio mocotó. outra voz feminina atual e das melhores, a de céu, protagoniza uma ótima “it´s a long way” (do espetacular transa, 1972) acompanhada do produtor apollo nove, joão parahyba, betão aguiar e os djs zegon e squeak e. clean (do projeto n.a.s.a.).

mais pós-tropicalismo no encontro dos pernambucanos dj dolores, otto, fred 04, isaar e chico science (in memoriam) com o cigano punk ucraniano global eugene hutz (gogol bordello). é “a cidade”, que continua muito atual em tempos de pinheirinho, favela do moinho e cracolândia, exemplos recentes de como o poder público (no caso, o governo de são paulo) se une a especulação imobiliária para bater e expulsar viciados e sem-teto, pobres todos, de áreas cobiçadas. a cidade não para, a cidade só cresce, o de cima sobe, o de baixo desce.

javelin + tom zé from javelin javelin on vimeo

taí um pouco do encontro de tom zé, os americanos do javelin e “ogodô, ano 2000”, uma das músicas mais profundamente tropicalistas do baiano e que aqui ficou em boas mãos. é outra canção difícil de ser estragada. como também é o caso da jobiniana “águas de março”, que no disco ganha versão inspirada com fernanda takai e moreno veloso nos vocais e o alemão atom™ (señor coconut) e o japonês toshiyuki yasuda nas programações. não entendi “show me love”, do grupo twin danger de vanessa bley, dentro do conceito do disco. quer dizer, é uma bossinha de tempos atuais, mas falta mistura, falta molejo. então vem rita lee com “pistis sophia”, um lamento sertanejo moderno (muito mutantes) com participação de joão parahyba. e aí o disco quente se encerra com uma faixa bônus, a linda “um dia desses” em dueto de kassin e cibelle (essa música foi gravada originalmente por adriana calcanhotto no disco maré, 2008, e é um poema de torquato neto musicado por kassin). uma música de amor interiorano bem brasileira toda riscada por intervenções eletrônicas. coisa mais linda. diga se não?


discos-tributo são sempre irregulares, impossível ser diferente, mas red hot + rio 2 é repleto de grandes achados e encontros, e faz um bom apanhado do que foi e por onde se encontra o nosso tropicalismo em tempos globais.

sábado, 21 de janeiro de 2012

yahoo #24

olhaí a primeira coluna do yahoo no novo esquema semanal ultrapop. sobre esse sentimento que a gente vê por aí no brasil desde tempos imemoriais e que agora, nas janelas de comentários, ganhou ares de arte-bruta. o pessoal pegou mal, claro (aqui). esta semana já rolou o "bbb no dos outros é refresco" e vai saber o que mais pode aparecer por aí.




VIRA-LATA, UM COMPLEXO


Foi na década de 1950, e por causa do futebol, que Nelson Rodrigues falou que o brasileiro sentia um tremendo complexo de vira-lata. A causa era a derrota da seleção para o Uruguai na final da Copa do Mundo de 1950. A volta por cima veio com a vitória bela e histórica em 1958 (e em 1962 e 1970). Entre uma Copa e outra, o brasileiro se escondia pelos cantos, envergonhado da própria existência, “um Narciso às avessas, que cospe na própria imagem”. Mas é claro que essas taças, e as outras duas que vieram depois, não curaram um complexo anterior e tão arraigado nas elites e classe média, e o ufanismo vazio e truculento dos militares também não ajudou muito. E assim muitas pessoas continuaram se lamentando aos berros que viviam num “país subdesenvolvido de merda” com um “povinho de merda”. Bom mesmo é lá fora, povo educado, transporte público de qualidade, mil anos de história e os parques, que parques.


O crescimento econômico dos últimos dez anos criou uma nova classe média, mais dinheiro começou a entrar para mais gente que não os de sempre, e o Brasil passou a ser reconhecido internacionalmente para além de Carmen Miranda, Pelé e carnaval. Sem falar que receberemos uma nova Copa e a primeira edição das Olimpíadas na América do Sul, isto é, muito trabalho pela frente. Enfim, outros orgulhos foram tomando corpo a partir dessa, digamos assim, nova condição, essa nova ordem mundial. Mas não tem jeito, a manada dos descontentes segue na mesma toada de rejeição a tudo que for nosso, mestiço, fora do eixo.


Claro que não estou falando aqui de uma “obrigação de orgulho” ou um “agora, vai!”, muito pelo contrário, afinal o país continua radicalmente desigual e nossas políticas federais, estaduais, municipais e pessoais seguem viciadas em falsa cordialidade e toma lá, dá cá dos tempos da vovozinha. Ou como escreveu Caetano Veloso para Gal Costa cantar: “Neguinho quer justiça e harmonia para se possível todo mundo / Mas a neurose de neguinho vem e estraga tudo”. Estou falando aqui, e cito palavras do colega James Cimino, de que é preciso “construir um orgulho que não precise de slogan”. Um orgulho que seja realista e construído diariamente, sem bandeiras, só vivência.





Lembrei novamente dessas vira-latices nacionais porque recentemente o cantor Michel Teló virou motivo de guerra virtual após o fenômeno de seu sucesso nacional e internacional virar capa da revista Época. Não vou tratar desse assunto aqui – colegas jornalistas como Alex Antunes, Luis Antônio Giron e o companheiro de Yahoo, Pedro Alexandre Sanches, já o fizeram com maestria – porque o que me deixou mais uma vez intrigado foi a repulsa sobre uma das teses da reportagem: Teló reflete os valores da cultura popular brasileira. “Não, não e não, que absurdo”, diziam batendo pé no chão e prendendo respiração. Era o bom e velho complexo de vira-lata em mais uma manifestação 2.0 (no ano passado, A Banda Mais Bonita da Cidade sentiu esse gostinho com as reações ao clipe de “Oração” e escrevi sobre isso na coluna “A banda mais coisinha-bebê do Brasil”).


É como se o Brasil fosse um quintal a ser explorado para conseguir uma graninha e se mudar para algum lugar da Europa, aquilo sim que é terra de gente, pensam os vira-latas. É como se orgulho – que é muito diferente de patriotismo - fosse falta de visão crítica. Muito diferente disso pensa Timpin Pinto, um cara que só não é do Nordeste ou do Norte porque nasceu no Rio Grande do Sul e mora em Curitiba. Dia desses ele soltou, no seu jeito apaixonado e hiperbólico de sempre, que “seremos o novo Império Cultural e que nosso Império será hedonista, lúdico, matriarcal e dionisíaco”. Não iria tão longe nessa animação toda, principalmente sobre a parte do Império, mas tenho certeza que enquanto ainda aprendemos como ser Nação e sociedade, e isso é aprendizado sem fim, podemos ensinar muito mais do que julga nossa vã vira-latice.


quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

na cena do crime (brazilian style)

muito boa essa série csi: nova iguaçu produzida pelo pessoal do anões em chamas em parceria com o kibe louco. rápida, muito bem filmada (e fotografada e editada), profundamente carioca e com alguns finais sensacionais ('oxossi' e 'suicídio doloso' são as melhores tiradas, você verão), essa csi da baixada fluminense acompanha uma dupla de policiais em seu cotidiano de investigações (sempre com o mesmo morto). curioso ver que o primeiro episódio (28.07.11) é um pouco diferente, tem outro ator e é bem menos bom (para não dizer fraco mesmo, ooops, disse). com a entrada de antônio "kibe louco" tabet como um dos policiais no segundo episódio (22.09.11), a série rapidamente tomou uma forma mais interessante. colocarei aqui tudo que saiu, o sétimo acabou de ser lançado, e atualizarei conforme novidades aparecerem.















gemendo em dois tempos

foi no primeiro dia desse ano que gaby amarantos soltou na internet três músicas de seu aguardado disco de estreia solo (treme). "xirley" (zé cafofinho) já estava rodando em forma de clipe sensacional desde o início de outubro (e já com mais de 180 mil visualizações), portanto as novidades foram a sacudida "merengue latino" (ronaldo silva) e a pop tecnobrega "gemendo" (gaby amarantos), que a paraense canta desde os tempos da banda tecno show. é bem interessante ver e ouvir o quanto a música e gaby mudaram nos últimos cinco anos. começando com "gemendo" em uma versão bem mais rápida nos tempos da tecno show.


é essa versão, aliás, que aparece em o céu de suely (2006), numa cena com a atriz hermila guedes depilando as pernas e ouvindo radinho de pilha. mas voltando a "gemendo", escuta só como ficou a música em sua versão 2012. menos rápida e com gaby cantando bem melhor, com mais segurança, e sem firulas vocais.


p.s. 1: como gaby é moça moderna em seu site estão disponibilizadas, para download gratuito, as bases de "xirley". e que cada um(a) faça sua própria "xirley".

p.s. 2: muito boa a entrevista que ela deu a marília gabriela no programa de frente com gabi (sbt). seguem aqui as quatros partes. 




terça-feira, 17 de janeiro de 2012

yahoo #23

pois então, agora minha coluna no yahoo é semanal e estou aqui pensando em como vou atualizar aqui no blog para que não fique um post yahoo atrás do outro. hay que pensar un poquito, enfim. essa aqui foi sobre o programa mulheres ricas, cujo terceiro dos dez episódios foi exibido ontem (escrevi esse texto no retiro de fim de ano no noroeste paulista, palmital para ser mais preciso, após a estreia). lá no ultrapop, a coluna mais recente é "vira-lata, um complexo".


PRA QUE DISCUTIR COM A MADAME?


Tem um pessoal aí que diz que o mundo vai acabar em 2012 e que um dos sinais foi a estreia, nessa última segunda na TV Bandeirantes, do programa Mulheres Ricas. Inspirada em um reality show americano (The Real Housewives) e outro inglês (Made in Chelsea), a atração tem 10 episódios e entrou na grade para cobrir as férias do CQC. Se você não assistiu a estreia saiba que as câmeras acompanham o cotidiano de cinco mulheres mais ou menos ricas (não dá para saber se são mesmo, o quanto são e o que pode ser apenas fachada): Lydia Leão Sayeg, Brunete Fraccaroli, Narciza Tamborindeguy, Val Marchiori e Débora Rodrigues. Quatro delas moram em São Paulo e apenas Narcisa está no Rio.


Bem, se você não é uma perua ou um playboy, a primeira impressão que você pode ter sobre essas mulheres que gastam como se não houvesse amanhã é que elas são umas idiotas fúteis. E são mesmo, pode acreditar.  


A joalheira Lydia Sayeg gosta de armas, de seguranças, de comprar roupas feias (que ela acha bonitas), de fazer surpresas para o seu atual marido (tipo alugar uma Ferrari), de mentir a idade (44 só se for em cada olho, mas se for verdade as cirurgias plásticas não deram certo) e de lançar frases de efeito (“se o rico não gastar, o dinheiro não gira”, “eu sou uma mulher blindada” e “meu closet é um labirinto” são apenas algumas). Arquiteta e decoradora dos ricos emergentes de São Paulo, Brunete Fraccaroli dá agua mineral francesa para seu cachorro maltês, tem uma Barbie com a sua cara e super se indentifica com a boneca porque, entre outras coisas, ela é separada do Ken (Brunete está solteira).


Jornalista e advogada, não sei como nem uma coisa e nem outra, a carioca Narciza Tamborideguy é a mais conhecida de todas, afinal já vimos a sua loucura bêbada e sua sinceridade esquizolunática em outros programas. A socialite falida gosta, por exemplo, de jogar ovos nas pessoas da sacada de seu apartamento na Avenida Atlântica, e sorri maniacamente repetindo seus bordões “ai que loucura” e “ai que absurdo”, enquanto seu namorado, o jornalista Guilherme Fiúza lhe descreve como uma “embaixadora da alegria” (uma análise assim explica porque fala tanta bobagem paranóica em sua coluna no site da revista Época). Já a apresentadora paranaense Val(direne) Marchiori parece ser a mais rica de todas e a fonte desse dinheiro todo não é muito clara (o pai de seus gêmeos, que nunca aparecem, negou recentemente ter sido casado com ela e soltou cobras e lagartos em entrevista). Ela tem um cabeleireiro próprio e disponível 24h, compra aviões particulares como se fossem bolsas, toma champanhe a qualquer hora e em qualquer loja que vá, e vive falando “hellooo” para qualquer coisa na vida, boa ou ruim.





A mais diferente de todas é a ex-sem terra, ex-capa da Playboy em 1997 e atual piloto de Fórmula Truck Débora Rodrigues. Não dá moleza para os filhos, tem certa repulsa por essa história de champanhe e aparenta ter uma vida normal (apesar do marido confessar orgulhosão em rede nacional que conheceu a mulher nas páginas da Playboy). No primeiro programa já foi criticada por Brunete por sua casa em Alphaville ser azul turquesa (logo Brunete que combina roupa com sua Barbie). Certeza que outros atritos virão.


Microcosmo do que existe de pior na elite brasileira, Mulheres Ricas serve para muitas coisas. Antes de tudo, constatar que preconceito, ignorância, desrespeito e ostentação são ingredientes essenciais de seu DNA. Nenhuma delas faz nada digno de nota com seus milhões de reais e nem parecem ser pessoas de coração bom (talvez Débora) ou com alguma inteligência. Mas ficar irritado com isso não adianta nada e o melhor mesmo, inclusive para a sanidade mental, é rir do ridículo que é a vida dessas pessoas (o pessoal que apareceu numa matéria do site inglês The Guardian levou tudo muito a sério). Não é o caso de fazer voto de pobreza ou de cair no clichê cristão de que dinheiro não traz felicidade (traz sim), mas certamente o riso faca nos dentes é o melhor jeito de lidar com esse tipo de pessoa. É rir pra sacanear, se é que vocês me entendem.





p.s. 1: Agora, o programa em si é mal editado, tem péssima trilha sonora, momentos extremamente forçados e perde diversas oportunidades de ser ainda mais engraçado. Pelo menos deu pra sentir que nos próximos episódios, quando rolarem mais encontros entre elas, a tensão, o ridículo e o humor vão aumentar.


p.s. 2: Gostaria de aproveitar para agradecer publicamente a pessoas que acompanharam o primeiro episódio do programa comigo online e me ajudaram a rir muito de tudo isso. Em ordem alfabética, Bianca Sterzi, Cleiton Castello Branco, Daniela Sequeira, Luís Roberto de Toledo, Mariana Varella, Raquel Temistocles e Stefanie Gaspar (nos episódios posteriores apareceram Flávia Toledo e Igor Fediczko). E ao vivo, e do meu lado, minha mulher Carolina Toledo (ela foi a responsável por me apresentar ao fascinante mundo do concurso de miss brasil).

hellooo

ou hollywood canta lionel richie.


via bruno porto e maurício bussab no facebook.



terça-feira, 10 de janeiro de 2012

yahoo #22

carambolas, teve coluna nova no yahoo na semana passada ("pra que discutir com a madame?", sobre o programa mulheres ricas) e acabei esquecendo de subir a anterior, que foi uma espécie de mini-retrospectiva de 2011. entre os malucos de plantão nos comentários, uma minoria ficou indignada com os elogios ao deputado e ex-bbb jean wyllys, mas a maioria caiu em cima de mim babando de raiva por causa das críticas aos internautas linchadores no caso do cãozinho yorkshire (todo mundo achando que eu estava defendendo a enfermeira que matou o cachorro). não entenderam o texto, claro.

ah, uma novidade (e boa notícia pra mim): a partir dessa semana minha coluna no ultrapop passa de quinzenal para semanal. oh yeah.



O DE CIMA SOBE, O DE BAIXO DESCE

Muitas emoções em 2011, não? Então nessa coluna, que é a última do ano, resolvi fazer algo diferente. Decidi, assim da minha cabeça mesmo, fazer uma mini-retrospectiva com algunas pessoas ou acontecimentos que marcaram positiva ou negativamente esse ano que passou por cima da gente. O título veio naturalmente, afinal “Xibom bombom”, hit de 1999 lançado pelo grupo As Meninas, é o único axé de denúncia (marxista?) que se tem notícia e seu refrão continua atual, infelizmente, como uma daquelas verdades incontornáveis em nosso mundo cheio de desigualdades. Mas comecemos pra cima.

SOBEM

Protestos: Ainda não inventaram um jeito melhor de lutar pelos direitos ou demonstrar insatisfação com os governantes do que ir pra rua e ocupá-la. E 2011 foi um ano especialmente pródigo em manifestações, algumas revolucionárias, em todo o mundo. A Primavera Árabe se espalhou pelo Norte da África e Oriente Médio derrubando ditadores civis e militares. O Churrascão da Gente Diferenciada bagunçou Higienópolis, um dos bairros mais nobres de São Paulo, cidade que também abrigou a Marcha da Maconha, violentamente reprimida pela PM (em outras cidades brasileiras isso não aconteceu), e a consequente Marcha da Liberdade (pela liberdade de expressão). O Movimento Occupy Wall Street se multiplicou pelos Estados Unidos a partir do grito de raiva e frustração de quem só viu a vida piorar após a crise de 2008, enquanto os responsáveis por ela, os bandidos de colarinho branco, se safaram com a rapidez de sempre. Grécia, Espanha, Chile e Rússia em chamas. Com tanta coisa acontecendo cada vez se faz mais necessário a participação de cada um na melhora da vida de todos. E, de preferência, na rua.

Jean Wyllys: Ninguém deu a menor importância quando o ex-BBB anunciou em 2010 que concorreria ao Congresso Nacional. Apesar da votação expressiva para um estreante (13 mil), Jean só se mudou para Brasília por causa do quociente eleitoral de seu companheiro de partido (PSOL), Chicão Alencar. Mas chegando lá, o agora deputado federal se mostrou um dos políticos mais sérios e atuantes da casa. E comprou brigas da pesada, principalmente com a bancada evangélica e alucinados perigosos como Jair Bolsonaro, Marco Feliciano e Silas Malafaia, porque, homosexual assumido, defende coisas óbvias (e que ainda não existem) como a criminalização da homofobia e a expansão dos direitos civis para homosexuais (isso foi assunto de uma das colunas que fiz aquí pro Yahoo, “Jesus não tem dentes no país dos banguelas”). O baiano foi um dos homenageados da edição 2011 do premio Trip Transformadores.

Gaby Amarantos: Quem acompanha cena musical paraense, uma das mais efervescentes do país na atualidade, já conhece “a diva do tecnobrega” de outras aparelhagens. Mas foi só em 2011 que Gaby começou a colher os primeiros louros de sua carreira solo (ela ficou famosa no Pará como vocalista da banda TecnoShow, no qual ficou de 2002 a 2010). Após ser chamada de “Beyoncé do Pará”, a cantora deu a volta em todos e no início do ano quando foi uma das convidadas para o show de posse da presidenta Dilma e gravou uma versão acelerada de “Águas de março” (Tom Jobim) em parceria com João Brasil. Depois alternou muitas horas de estúdio para gravar seu disco de estreia solo com uma grande quantidade de shows, cada vez mais no eixo Rio-São Paulo. Então protagonizou o apoteótico encerramento do VMB da MTV em outubro, lançou o espetacular clipe de  “Xirley” (composição do pernambucano Zé Cafofinho e primeira música de trabalho), participou do programa Som Brasil em homenagem a Zezé di Camargo & Luciano, foi eleita como uma das personalidades brasileiras mais influentes do ano pela revista Época, deu ótima entrevista à revista TPM e ontem apareceu no programa Video Game, da apresentadora Angélica. Mas a saga de Gaby Amarantos está apenas começando, pois 2012 também será um outro ano dela. Já no primeiro domingo do ano, a elétrica paraense terá espaço de destaque no Domingão do Faustão. Logo depois devem sair as primeiras músicas de seu disco de estreia. Produzido por Carlos Eduardo Miranda, Treme trará participações de Fernanda Takai e DJ Waldo Squash (Gang do Eletro), além de composições de Thalma de Freitas, Iara Rennó e Dona Onete. Ainda sem data definida, mas provavelmente no primeiro semestre, será lançado o DVD de um show que a cantora fez em frente a sua casa, no bairro de Jurunas, e filmado com muita classe por Priscilla Brasil e pelo francês Vincent Moon. Sem falar numa grande e inédita entrevista que concedeu ao site Gafieiras e que está para sair. O furacão Gaby – artista orgulhosa de suas raízes periféricas, curiosa pelas misturas e sem medo de circular – ainda tem muito estrago para fazer. Sorte a nossa.

p.s. do ‘SOBEM’: falando em música... quem gosta de conhecer coisas novas sugiro dar um pulo no meu blog pessoal, o Esforçado, para dar uma olhada na retrospectiva musical de 2011 que fiz com os melhores discos gringos, as melhores canções gringas, os melhores discos nacionais e as melhores canções nacionais.


DESCEM

Defensores nazifacistas de animais: Na semana passada caiu na rede um vídeo flagrando a violência de uma mulher contra um cachorrinho da raça yorkshire em Formosa (GO). As barbaridades foram feitas na frente de sua filha de dois anos e o animal acabou morrendo em decorrência dos maus tratos.  Um horror, uma tristeza, um crime que tem de ser punido. Mas, pelo menos pra mim, o pior foi a reação de alguns defensores de animais que começaram pedindo justamente a punição da enfermeira (essa é a profissão da pessoa) para logo na sequência partirem para o linchamento jogando seus dados pessoais na internet (nome, documentos, endereço, etc), querendo lhe tirar a guarda da filha, desejando e clamando pela morte da “vagabunda”, da “maldita”. Quem faz isso não é melhor que ela. Quem faz isso, provavelmente, faz de tudo para seu cãozinho e fecha o vidro do carro para não ser importunado por crianças de rua. Quem faz isso não percebe que, por mais estranho que possa parecer, ela é normal (olha só como se define no twitter, “sou uma pessoa tranquila, amo meu maridão, meus filhos e meus cachorrinhos. Enfermeira por amor”, o que lendo hoje acaba sendo um tanto irônico). Mas o inferno são os outros, né? Nada disso. O inferno está em cada um de nós, não adianta fugir ou jogar a culpa no próximo.

CQC: No texto de semanas atrás (“Custe o que custar, uma ova!”) descrevi minha experiência pessoal de desapontamento com o programa comandado por Marcelo Tas. Mas pense bem: 2011 foi realmente um ano desastroso para a atração da TV Bandeirantes com a saída de duas de suas maiores forças humorísticas, para o bem e para o mal: Danilo Gentili e Rafinha Bastos. Danilo conseguiu driblar o mal estar público que causou com algumas piadas infelizes no twitter e emplacou um talk show no canal. Já o sempre muito ácido Rafinha, que foi irresponsável em apresentações ao vivo ao dizer que mulheres feias deveriam agradecer serem estupradas, acabou sendo expulso do programa ao mexer com gente famosa (a cantora e grávida Wanessa, mulher do empresário Marcus Buaiz). Ficou feio para o CQC se livrar de um integrante de modo tão abrupto e comercial, e ainda por cima sob fogo amigo (Marco Luque, no melhor estilo pelego, criticou abertamente o ex-colega de bancada e depois se retratou). É a decadência chegando antes do tempo.

José Serra e a “grande imprensa”: O político paulistano não é dos mais simpáticos e ainda por cima possui a estranha mania de abandonar cargos no meio do caminho (Governardor e Prefeito de São Paulo, lembram?). Isso sem falar que dizem que costuma pegar para si ideias de outros e que possui muitos desafetos dentro de seu próprio partido. No ano de 2011, Serra só viu seu prestígio diminuir e sua rejeição aumentar. Mas recentemente a barra pesou de verdade para o duas vezes derrotado candidato a presidência, afinal ele é o principal alvo das acusações de corrupção e enriquecimento ilícito, durante a privatização das telefônicas no governo de Fernando Henrique Cardoso, estampadas no livro-investigação A Privataria Tucana (Geração Editorial), do jornalista Amaury Ribeiro Jr. Mas onde entra a “grande imprensa” nessa história? Revistas como a Veja, jornais como a Folha, Estadão e O Globo, e TVs como a Globo deixaram cair a máscara da imparcialidade ao ignorarem uma pauta quente como essa, mesmo que fosse para esvaziá-la. Sempre a primeira a correr atrás de qualquer indício, por mais furado ou, no caso da Veja, inventado que seja, de desmandos dos governos Lula e Dilma (e eles existem e precisam ser investigados), a chamada “grande imprensa” finge que essa história não existe no PSDB ou em São Paulo ou em Minas Gerais, etc. Assim deixa claro, para quem ainda não sabia, que seu compromisso é mais político que com o leitor. Já é bom encomendar um epitáfio caprichado para toda essa turma de altas plumagens (acho que o Arnaldo Jabor ou o Ferreira Gullar devem topar).

E assim podemos nos despedir de 2011 na torcida de que o ano novo seja o melhor possível para todo mundo. Tipo paz mundial, saca? Então, aquele abraço e até 2012! Ah, e pra você que gosta de tocar o terror nos comentários... ai, seu eu te pego...