sexta-feira, 8 de julho de 2011

yahoo #09

te falar que o corpus christi me fodeu. fiz um texto todo pensado nesse momento em que certas instituições religiosas querem impor uma verdade absoluta, mas o feriado acabou esvaziando o potencial polêmico do meu nono texto para a coluna ultra pop. poucos comentários, quase nenhum xingamento. confesso que senti uma frustração, escrevi querendo sangue... mas bola pra frente e o ultra pop #10 já está no ar ("cê tá rindo do quê?").

JESUS NÃO TEM DENTES NO PAÍS DOS BANGUELAS

Na coluna que escrevi sobre A Banda Mais Bonita da Cidade coloquei um vídeo-paródia que misturava as imagens do clipe da “Oração” com a música “Bonde da Orgia de Travecos”, dos mineiros da UDR, provavelmente um dos trabalhos musicais mais dementes e escrachados da história mundial. Em seus poucos anos de vida durante os anos 2000 – a dupla encerrou atividades em 2008 -, a UDR queria mesmo era incomodar. Muito. Tanto que em “Bonde de Jesus” misturava o Redentor com orgias, drogas, satanismo, violência e o que mais viesse pela frente ou por trás.

Mas ao contrário dos Rafinhas Bastos e Danilos Gentilis da vida, que usam o politicamente incorreto como desculpa para serem preconceituosos, a UDR incomodava até os preconceituosos com seu underground exageradão, hiperbólico até a medula.

Nos dias de hoje, quando grupos religiosos (evangélicos e católicos) se multiplicam no Congresso Nacional com a intenção de ditar o que os outros devem pensar ou fazer, artistas como a UDR são cada vez mais necessários. Respeito muito todas as religiões. Algumas das mais belas obras do mundo foram criadas por causa de Deus. Mas também é verdade que coisas terríveis, mortes e guerras, foram feitas em Seu nome. Por essas e outras não é mais possível aceitar que em pleno século 21, em um Estado laico como o Brasil, grupos religiosos se comportem dessa maneira.

Imaginem vocês ateus organizados e com muita raiva no coração exigindo a demolição de igrejas e a obrigatoriedade das pessoas exercitarem sua fé apenas dentro de casa. Tão violento e sem sentido quanto isso são figuras como o Pastor Silas Malafaia e os deputados Marcos Feliciano (PSC-SP) e João Campos (PSDB-GO), além de uma instituição como a CNBB, virem a público contra direitos civis básicos como a união homoafetiva (entre outros muitos assuntos que não lhes dizem respeito como aborto e drogas porque, repetindo, o Brasil é laico). Se por seus dogmas uma igreja não quer aceitar casais homossexuais, tudo bem, estão no seu direito, mas não venham querer obrigar que toda uma sociedade faça o mesmo (afinal, existem pessoas que acreditam em outras coisas).



Porém, vamos ilustrar essa monstruosidade com uma comparação bastante simples, bem pragmática. Por um lado, os impostos retirados de cidadãos e cidadãs homossexuais ajudam a pagar o salário de congressistas, entre outras coisas. Por outro, igrejas que pregam o preconceito e a intolerância contra eles não pagam impostos. Como pode uma coisa dessas? Isso é um mundo justo?

Então, amiguinhos e amiguinhas, é chegada a hora de dar o troco. Se pessoas religiosas como os citados – e não estou colocando todo mundo no mesmo balaio, até porque Jesus é um ótimo exemplo de compreensão e humanismo – não aceitam a democracia por bem terá que ser, ironia das ironias, por mal! Em um texto sobre a violenta repressão a marcha da maconha em São Paulo escrevi que “viver numa sociedade democrática requer eterno diálogo, é casamento de todos com todos pra vida toda”. E agora acrescento um “aceitando as diferenças”.

Não estou falando aqui de queimar igrejas, censurar pastores, nada disso. Não se paga intolerância com intolerância. Mas o humor, a crítica debochada, podem nos salvar desse absurdo (sem esquecer o ativismo político, claro). Um exemplo recente foi a criação do tumblr Fiscais do Fiofó que disponibiliza e comenta projetos de lei assustadores propostos pela Frente Parlamentar Evangélica. Outro exemplo na internet é o já clássico e divertidíssimo Jesus Manero. Porque, diferentemente desses fiscais da felicidade alheia, Jesus tem mais com o que se preocupar.

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