sábado, 2 de julho de 2011

transversão #39

fazia tempo que não rolava um transversão nos conformes, então retorno com uma edição particularmente recheada e não poderia ser por menos. é que o caso agora é "ain't no sunshine", canção que o mestre bill withers lançou no disco just as i am (sussex, 1971) e virou sucesso mundial instantâneo. sempre tive a impressão que "ain't no sunshine" existe desde que o mundo é mundo. é daquelas músicas completas, totais, na sua mistura de lamento e balanço. é profundamente soul e ao mesmo tempo aberta para possibilidades em outros gêneros como reggae, funk, samba, eletrônica e rock. mas comecemos pela original na voz suada de seu autor (que começou a escrevê-la inspirada no filme vício maldito, drama etílico de blake edwards lançado em 1962).



sucesso! e vocês sabem como sucessos são... todo mundo quer tirar uma lasquinha. só que não falaremos aqui dos oportunistas e sim de gente da pesada como o saxofonista/flautista/etc rahsaan roland kirk (1935-1977) que, em blacknuss (atlantic, 1971), fez essa linda versão instrumental cheia de novas camadas.



e a jamaica, sempre atenta ao soul americano, não podia ficar de fora. ken boothe, por exemplo, gravou sua versão, mas ficaremos aqui com a de boris gardiner lançada no disco a soulful experience is happening (vampisoul, 1971). bela e sentida que só.



provavelmente no mesmo ano, no panamá, o pessoal do the soul fantastics escapou da influência do vizinho caribe e fez de "ain't no sunshine" um funk pesadão (no bom sentido). tá na excelente coletânea panama! vol.2 - latin, funk and calypso on the isthmus 1967-77 (soundway, 2008), que o original pinheiros style disponibilizou para a turma.



outra banda pouco falada. outra data desconhecida. outra coletânea. os moleques da kashmere stage band, regidos pelo prof. conrad o. johnson (1915-2008), quebraram tudo nessa interpretação moderna, e igualmente funk e instrumental, que foi registrada no disco texas thunder soul 1968-1974 (stones throw, 2006).



e então veio o sempre muito inspirado guitarrista josé feliciano (cego como rahsaan roland kirk) que em 1972 mostrou a sua ótima gravação e a registraram em video.



no mesmo 1972, um garoto de 13/14 anos lançou seu disco de estreia solo, got to be there (motown, 1972), e lá estava "ain't no sunshine". o nome dele era michael jackson (1958-2009) e mesmo que já fosse o menino prodígio conhecido e admirado no jackson 5 ninguém estava preparado para tamanho poder interpretativo sobre uma música tão adulta.



brasil não podia faltar. foi o grande sivuca (1930-2006) que, no auge de sua carreira internacional (quando morou em nova york de 1964 a 1976, tocava com miriam makeba), colocou a música de bill withers para abrir o disco sivuca (vanguard, 1972). acompanhado por muitos músicos americanos, o paraibano torceu o soul e acelerou sambisticamente.



agora, se em bill withers o drama é próximo, real, sussurrado, em tom jones a coisa muda um pouco de figura e seu drama é de fera ferida, afetado e poderoso. e os arranjos dessa versão, que saiu no disco the body and soul of tom jones (decca/parrot, 1973), são matadores.



e para encerrar, mais uma instrumental. dessa vez assinada pelo gigante vibrafonista roy ayers na sua fase ubiquity. e a canção pop(ular) transforma-se numa suite épica e suingante. é do disco red, black and green (polydor, 1976).

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