sou muito fã de zé miguel wisnik, de sua voz pequena, de suas melodias rebuscadas, de sua poesia lírica e próxima. nem lembro direito como o conheci, mas provavelmente foi via o pessoal do rumo (ná ozzetti, luiz tatit, etc) no final dos anos 1990. sei que quando ouvi seu primeiro disco, josé miguel wisnik (camerati, 1992), fiquei encantado por várias músicas: "se meu mundo cair", "laser", "mundo cruel" e "a primeira vez, mamãe, que eu fui ao cinema", por exemplo. depois conheci seu lado ensaísta e vieram outros discos, os igualmente belos são paulo rio (maianga discos, 2000) e pérolas aos poucos (maianga discos, 2003), e a direção musical de do cóccix até o pescoço (maianga disco, 2003) da elza soares. só depois de tudo isso conheci suas trilhas para os espetáculos de dança do grupo corpo (nazareth, parabelo e onqotô). e é deste último, uma parceria de wisnik com caetano veloso lançada em 2005, que saiu a "mortal loucura", música feita em cima de um soneto de gregório de matos (1636-1695). detalhe: a versão que segue logo abaixo está no recém lançado indivisível (circus produções, 2011), lindo disco duplo que reúne inéditas, regravações, composições não registradas por ele, em arranjos enganosamente simples com pouca instrumentação. ao lado de wisnik em quase todas as músicas, os instrumentistas-amigos arthur nestrovski (violão), marcelo jeneci (piano e acordeon), márcio arantes (baixo) e sergio reze (bateria).
mortal loucura
(zé miguel wisnik sobre o poema de gregório de matos também conhecido como "no sermão que pregou na madre de deus dom joão franco de oliveira, pondera o poeta a fragilidade humana")
na oração que desaterra... a terra,
quer deus que a quem está o cuidado... dado,
pregue que a vida é emprestado... estado,
mstérios mil que desenterra... enterra.
quem não cuida de si que é terra... erra,
que o alto Rei por afamado... amado,
e quem lhe assiste ao desvelado... lado,
da morte ao ar não desaferra... aferra.
quem do mundo a mortal loucura... cura,
à vontade de deus sagrada... agrada,
firmar-lhe a vida em atadura... dura.
ó voz zelosa que dobrada... brada,
já sei que a flor da formosura... usura,
será no fim desta jornada... nada.
p.s.: e olha aqui o lindo trecho do espetáculo onqotô (2005) no qual aparece a versão original de "mortal loucura" com wisnik e caetano alternando vocais entre efeitos, ecos e silêncios.
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Um comentário:
que legal, Dafne!
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