cartum de bruno maron, do dinâmica de bruto,
publicado na folha de são paulo
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CÊ TÁ RINDO DO QUÊ?
Isso mesmo. Que tipo de humor você gosta? Pergunto isso porque parece que estamos vivendo um momento no qual comediantes e uma parcela do público entraram em declarado pé de guerra - ao mesmo tempo que uma nova geração de humoristas foi alçada ao posto de celebridade, são “influentes” no twitter e o diabo a quatro. Piadas viram motivo de polêmica, processo, perda de emprego/patrocínio, debate e, mais recentemente, agressão física.
Na verdade gostaria de entender o que passou pela cabeça do sujeito que na semana passada foi a um show de “comédia em pé” em São Paulo, não gostou de uma piada sobre gordos, levantou-se da sua poltrona, foi até o palco onde estava o humorista e o esbofeteou. Duas informações irrelevantes para o caso: o agressor era gordo e o agredido se chamava Ben Ludmer.
Mas, veja bem, o sujeito pagou 30 ou 40 reais (sem contar estacionamento, refrigerante e quetais), sentou na primeira fileira de um show de humor (que significa que será chamado a participar em algum momento) e, de uma hora para outra, decidiu que estava indignado ou insultado e que o autor daquelas piadas merecia um soco ao invés de uma vaia ou o silêncio. Não dá para entender. Afinal, ninguém vai a um show de humor sem saber o que vai acontecer. É como ir no Teatro Oficina e ficar chocado por ver gente pelada, né não João do Morro?
Não acredito em assuntos tabu para comédias (ou dramas). Tudo pode virar piada. Tudo mesmo. Se boa ou ruim é outra história. E se alguém se sente insultado que faça algo a respeito: processe, boicote produtos relacionados, promova manifestações, xingue muito no twitter, sei lá.
Apesar do nobre trabalho de fazer rir, os humoristas não possuem um salvo-conduto divino para falar o que bem entenderem. Piadas são ações que, como tudo na vida, geram reações e não adianta chorar e clamar pela Santa Liberdade de Expressão (essa liberdade é para todos, lembrem-se).
Por exemplo, não deu para passar batido pela tal piada do Rafinha Bastos que dizia que as mulheres feias deveriam agradecer seus estupradores, registrada em reportagem da Rolling Stone Brasil. Além de ser fraca, a piada foi irresponsável em um tempo com tantos casos impunes de violência contra mulheres. Taí uma que daria muito bem para ser perdida em nome do respeito a próxima.
Não foi o que aconteceu e o “humor transgressor” mostrou sua cara mais atrasada, rindo com o preconceito e não do preconceito, do absurdo. Foram totalmente justificáveis as manifestações contrárias a tal piada, nada de censura ou de patrulha do politicamente correto. Muito diferente da reação do maluco do teatro na semana passada.
Acho até que ele não se insultou com a piada sobre gordos, mas é que seu vazio é tão imperativo que só lhe resta acreditar que sua opinião é a verdade absoluta e que sua forma mais bem acabada é a agressão. É uma dureza saber rir de si próprio.
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