quarta-feira, 25 de abril de 2012

yahoo #38

o programa larica total é um velho e querido conhecido da casa e não poderia deixar de falar da estreia da terceira temporada lá no yahoo, mas o mais recente texto se chama "banditismo por necessidade" e é um novo capítulo da novela ministério-da-cultura-da-ana-de-hollanda & ecad.


A GENTE NÃO QUER SÓ COMIDA

Você conhece Paulo de Oliveira? Não? Deveria e para o seu próprio bem. Protagonista da série Larica Total, Paulo é boêmio, falido, peludo, solteirão, pegador e um entusiasta da “cozinha de guerrilha”. Também é interpretado pelo ator Paulo Tiefenthaler e está no ar desde outubro de 2008, sempre no Canal Brasil (semana passada estreou a terceira temporada que trará 26 episódios). Mas a troco de quê assistir um sujeito criando pratos bizarros como o Frango Total Flex, Moqueca de Ovo, Yakisobra ou Sushi de Feijoada, e ainda mais numa cozinha feia com utensílios caindo pelas tabelas? Porque o ficcional Paulo de Oliveira é muito de verdade e poucas coisas são tão surpreendentes, e potencialmente divertidas, quanto a realidade.

Diversão e anarquia como poucas vezes aconteceu na TV, Larica Total é retrato fiel tanto de novas produções independentes feitas na raça e viralizadas pela internet quanto por um jeito colaborativo de se relacionar com seu público (a receita do primeiro episódio da terceira temporada, por exemplo, veio de um internauta de Belém). Porém, a “sujeira” da realidade é uma das mais interessantes características do programa. Não existe a bancada limpinha e as ajudantes servis de Ana Maria Braga, muito menos os ingredientes especiais e a técnica apurada de Jamie Oliver. Paulo faz comida com o que tem na geladeira, como todos nós.


“O Larica Total não é culinária de qualquer jeito, é culinária a qualquer custo”, explicou um de seus diretores, Caíto Mainier, em ótimo making of da primeira temporada. Taí a mais pura verdade. Em um mundo no qual todos são descolados, cínicos e espertos, Paulo de Oliveira e seu programa são doses cavalares de galhofa e paixão.

E digo isso com a experiência de acompanhar Larica Total desde sua estreia e de já ter entrevistado Tiefenthaler duas vezes (“Comida kung fu” e “Xablablau no tucupi” foram escritas quando fui editor da Revista Monet). Sobre a segunda temporada, o carioca e flamenguista afirmou que “o personagem já não é mais tão inocente, ele tá mais rodado. Mas sempre vai existir o afeto, no sentido de estar afetado mesmo [risos]. Continuo equilibrando o tiozão, o amigão, o brother e, ao mesmo tempo, sendo charmoso pras moças [risos]. (...) Mas ainda quero fazer muita coisa com o Paulo de Oliveira, chamar amigos dele pra cozinhar, sair mais pra rua, e sempre dizendo por aí que o Larica é um programa libertário em nome do amor e da alegria.” E essa terceira temporada – cujos dias e horários de exibição são terças (21h30), quartas (16h) e domingos (13h30) – segue na mesma toada. Sorte de quem é de verdade.

p.s.: e antes que me esqueça... acho que o Canal Brasil deveria ser obrigatório nos pacotes mais baratos de todas as operadoras. E não por reserva de mercado ou nada parecido. Simplesmente porque é um canal com uma programação ótima, divertida e variada (e brasileira também, claro). No mais, segue abaixo um dos mais divertidos e didáticos episódios dessa nova temporada.

Larica Total - Self-Ceviche Milenar 3ª TEMPORADA--EPISÓDIO 10 from Evaldo Filho on Vimeo

segunda-feira, 23 de abril de 2012

ensino 2.0

na minha busca por veículos para escrever cruzei caminho com a revista continuum, do itaú cultural, e depois de uma rápida troca de emails ganhei minha primeira pauta. aceitei sem pestanejar, claro (baita revista bacana), mesmo não tendo a mais pálida ideia do assunto: mobile learning (educação pelo celular). mas como bem disse o colega sávio vilela no facebook, "isso é uma coisa legal no jornalismo: de repente você se dá conta de um negócio novo do qual nunca tinha ouvido falar e, num estalo, está aprendendo ao mesmo tempo que escreve sobre isso". foi exatamente isso que aconteceu e acho que consegui fazer um texto didático e com ideias sobre uma tecnologia que ainda está engatinhando (mas promete grandes surpresas). ah, "ensino 2.0" é o título da matéria na revista. o que dei é o que segue abaixo junto com a edição do autor-eu-mesmo. agradecimentos aos muy gentis marco aurélio fiochi, que me passou a pauta, e roberta dezan, que editou o texto.




APRENDIZADO SEM FRONTEIRAS


Novas tecnologias aliadas a proliferação dos mais variados dispositivos móveis em todas as camadas sociais no Brasil estão abrindo caminho para uma forma revolucionária de aprendizagem: o mobile learning


Durante séculos e em tudo que é canto do planeta, a estrutura hierárquica entre professores (donos da verdade) e alunos (passivos anotadores) se manteve inalterada, rígida, e isso acabou entranhando no próprio processo educativo, com raríssimas exceções. Mas nesse início de século 21, o que era sólido vem tomando outras formas e não deve demorar muito para a ideia que temos de sala de aula passar por mudanças radicais e a própria aprendizagem se tornar uma intensa via de mão dupla. Curiosamente, os dispositivos móveis (tablets, iPads, smartphones e celulares), grandes inimigos dos professores por seu poder dispersivo, estão entre as ferramentas que terão papel fundamental nesse novo estado das coisas.


“Não é justo que em um mundo em rede tenhamos que aprender com as metodologias de sempre. O mLearning [Mobile Learning] oferece a possibilidade de gerar conhecimento coletivo, de transformar educadores e alunos em verdadeiros produtores de conteúdo, apoiados em tecnologias de criação e publicação”, explica Martín Restrepo, colombiano radicado no Brasil que em 2008 fundou, em sociedade com Érica Casado, a Editacuja, uma editora transmídia que trabalha com projetos educacionais e de produção cultural. “Mas desde então nos aprofundamos no mundo do Mobile Learning e nas possibilidades de, com apoio de dispositivos móveis, fazer de qualquer lugar uma sala de aula”.


O campo para tal empreitada é gigantesco. Atualmente, no Brasil, são 242,2 milhões de dispositivos móveis, o que faz do país o 5º maior mercado de mobilidade do mundo, e Restrepo tem esses números na ponta da língua. Todo esse potencial fez com que este ex-engenheiro eletrônico lançasse no final de fevereiro a MEL (Mobile Education Lab), primeira comunidade colaborativa de projetos educacionais com dispositivos móveis da América Latina, durante o Mobile World Congress (GSMA), em Barcelona.


“Cada dispositivo móvel tem suas oportunidades e limitações. Se pensamos em um celular básico ele possui SMS, voz e recursos multimídia. Só com estes elementos posso desenhar atividades educacionais. Se pensamos em smartphones, temos a possibilidade de trabalhar com aplicativos, internet, mas neles não posso colocar um conteúdo muito extenso, a linguagem tem que ser outra. Com tablets, pelo tamanho das telas, consigo desenvolver livros interativos, com objetos em 3D, animações, infográficos e recursos que posso inserir nas minhas publicações, motivando sempre ao estudante a produzir conteúdo”, diz Restrepo. E essa é a parte mais complexa da história, explicar como se pode aplicar essa tecnologia no dia a dia de novas práticas de ensino enquanto se qualifica professores para utilizá-las.


“Mas o grande desafio não está nos aparelhos e sim no DNA da escola, e por isso que ela deve se preparar para mudar junto com as inovações que nos acompanham hoje”, segue explicando e cita algumas instituições espalhadas pelo país que estão começando a inserir tablets no seu material escolar, entre elas o Colégio Bandeirantes (São Paulo), o Centro Educacional Sigma (Brasília) e Colégio Ari de Sá (Fortaleza). Mas é o Lourenço Castanho, em São Paulo, o pioneiro na utilização do mLearning. 


Alexandre Abattepaulo, diretor geral, afirmou que o colégio paulistano se interessou pela “possibilidade de usar as novas tecnologias móveis como recurso didático diferenciado e não como simples substituto de livros. Outra questão fundamental foi a ideia da mobilidade, por meio da qual se pode ensinar e aprender em qualquer local. Sempre acreditamos que a aprendizagem se dá também fora dos muros da escola, levando os alunos para exposições, museus e organizando viagens de estudo do meio. Será mais uma opção de recurso didático que, se bem utilizada, contribuirá para aproximar o ensino da realidade dos jovens”. 


Fábia Antunes, professora do Lourenço Castanho, fez o curso de capacitação em mLearning e foi surpreendida para além de suas expectativas. “As aulas serão mais interessantes e significativas para os alunos, além do quê o trabalho interdisciplinar será mais viável. Especificamente para a minha disciplina [Educação Física], acredito que essa variedade de recursos multimídia trará mais reflexão sobre as práticas corporais na vida cotidiana”, declara.


A ideia não é substituir os livros e o ensino tradicional por uma infinidade labiríntica de aplicativos. É material complementar, um reforço necessário para um mundo de infinitas possibilidades. Restrepo, por exemplo, tem um sonho: “Imagino uma escola aberta que vai além dos seus próprios muros, se tornando o centro da comunidade e se abrindo ao público. (...) Onde a produção de conhecimento, de conteúdos e atividades faz parte de um imenso repositório coletivo, baseado na co-criação, na colaboração e na aprendizagem em rede. Temos hoje a grande oportunidade de reinventar a educação e a mobilidade está se tornando estratégica para que todo isso aconteça”.


e aqui abaixo segue a versão digital da revista que também pode ser baixada gratuitamente.




domingo, 22 de abril de 2012

tom zé convida...

um dos projetos contemplados no último edital do natura musical, o novo disco de tom zé, tropicália lixo lógico, está sendo gravado e alguns convidados especiais já deram o ar da graça no estúdio do artista baiano: emicida, mallu magalhães, pélico e rodrigo amarante. confira abaixo os encontros em fotos que tirei do instagram do jornalista marcus preto que está acompanhando a gravação.





e tem também uns videos com trechos desses encontros de tom zé com mallu e amarante. olha só.


esforçando o instagram #02

olhaí a segunda edição dessa nova série fotográfica aqui do esforçado e dessa vez com duas fotos que não publiquei em nenhum outro lugar. cortei, fiz o efeitinho e por um motivo ou outro acabei não subindo. a das torres de transmissão foi porque já tinha subido uma parecida, só que p & b e em um ângulo diferente. a das flores... na hora achei que ficou boba, mas depois comecei a gostar. estão aqui...

"o tempo ruge"

"sem essa aranha"

"força, é preciso força"

"cinema brasileiro"

"antônio nóbrega"

"praça do pôr do sol, um casal"

"bananeira não sei"

"flores, sem título"

"amaury jr. pelo fundo da garrafa"

"mirando la lumiere, ora pois"

sexta-feira, 20 de abril de 2012

uma eurotrip no papel

venho escrevendo sobre assuntos diversos nessa nova fase de frilas e uma das pautas que mais me exigiu foi a estreia na audi magazine, outra publicação da área de customizadas da editora trip (como a revista da gol). décio galina, o diretor de redação, me passou essa pauta sobre estradas bacanas na europa, tanto pelas paisagens quanto pelas estradas. fiz uma pesquisa e mandei umas dez possibilidades e eles também tinham algumas sugestões. fechamos em cinco estradas, no qual duas vieram das minhas pesquisas (escócia e noruega). a ideia original era conseguir aspas de pessoas que tivessem viajado nas estradas escolhidas, mas logo as minhas deram um trabalho danado por serem fora de rota e quem fiz contato acabou não respondendo a tempo de fechar a matéria. uma pena, teria ficado completo, e mesmo assim gostei do resultado final. no mais, não conheço nenhum dessas estradas, o que pode dar uma cara ficcional para essa reportagem. mas te digo uma coisa: minha paixão por mapas e rotas, a internet e a combinação de google maps com google street view são muito reais. ah, e antes de começar a viagem segue a matéria nas seis páginas da revista.






O CAMINHO É UMA VIAGEM


1. DE MÔNACO A PORTOFINO, ENTRE FRANÇA E ITÁLIA



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São pouco mais de 200 km de uma estrada quase sempre estreita e cheia de curvas, mas o trajeto que vai do Principado de Mônaco até o luxuoso balneário italiano de Portofino é, provavelmente, uma das mais indispensáveis viagens na costa mediterrânea europeia. Em condições normais de temperatura e pressão, a viagem pode ser feita em tranquilas 3 horas, mesmo com os pedágios. Mas não é preciso se apressar quanto o assunto é a região da Ligúria.


“A estrada vai margeando a costa, no alto das montanhas, e o mais impressionante são as surpresas que aparecem a cada curva - de repente um vilarejo fofo em tons pastéis, uma prainha azul de doer lá embaixo, cantinhos completamente desconhecidos do Mediterrâneo. E sim, isso ainda é possível”, relembrou a jornalista Rachel Verano, que morou durante sete anos na Europa.


Saindo de Mônaco, rumo leste, a França não demora muito para acabar e apenas uma cidade, Menton, separa a terra que coroou Grace Kelly da Itália. “Depois da fronteira a estrada vira uma sucessão de viadutos e pistas suspensas que desafiam a gravidade: a sensação é a de voar sobre as cidadezinhas”.


Boa parte da viagem é feita em duas pistas pela Autoestrada dei Fiori, muito bem sinalizada, mas até chegar a Gênova, a maior cidade da Ligúria, passa-se por localidades interessantes como San Remo (sede do festival de música que, realizado desde 1951, premiou Roberto Carlos em 1968) e Vado Ligure. Esta, na verdade, não vale pela beleza natural ou por ser antiga, mas sim porque é um importante entroncamento de possibilidades. Pode-se entrar pelo país, rumo noroeste, e ir até Turim e os Alpes ou então pegar um barco com destino a Bastia, o principal porto da ilha francesa de Córsega. Ou então seguir em frente, Ligúria afora.


“Portofino fica logo depois de Gênova e a estradinha estreita de curvas que lhe dá acesso é só um aperitivo do que a vilinha, dona da marina mais charmosa da Itália, reserva”, explica Rachel. É hora então de colocar os pés de molho no Mediterrâneo e curtir os pequenos prédios coloridos e espremidos entre o morro e o mar.


2. DE KYLE OF LOCHALSH A ULLAPOOL, ESCÓCIA



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No canto noroeste das highlands escocesas, recebendo rajadas velozes vindas do Atlântico Norte, uma estrada limpa, pista única, com pouco tráfego e de mão inglesa, serpenteia entre campos, montanhas e uma infinitude de lagos, com direito a alguns vislumbres assombrosos do oceano.


A maior e mais próxima cidade desse trajeto é Inverness, mas o passeio começa de verdade em Kyle of Lochalsh, cidade portuária que ficou conhecida na Grã-Bretanha por ter sido cenário da série televisiva Hamish Macbeth (1995-97). Cerca de 200 km a separam de Ullapool e existe uma opção mais curta entre elas, mas o melhor é tentar ficar o mais próximo possível da costa. Com as rodas na estrada e um tanque de combustível cheio, a civilização vai sendo rapidamente deixada para trás. A paisagem parece desolada, e ocasionalmente é mesmo, mas traços de humanidade vão surgindo aqui e ali em placas e vilarejos como Ardnaff, Coulags e Kinlochewe, cidadezinha que fica próxima à majestosa montanha Beinn Eighe. 


A partir de Gairloch, mais ou menos na metade do passeio, já é possível começar a ver, do lado esquerdo, o mar e algumas praias, algumas de areia branca, outras de pedras, todas desertas. Londubh, Poolewe, Aultbea, Laide e outros vilarejos surgem à margem da estrada livre e todos com suas típicas casinhas pintadas de um branco muito vivo.  


Deste trecho até Ullapool, nos cerca de 65 km finais, a solitude volta a dominar e dirigir em estradas assim é quase como uma meditação. Por essas e outras, a chegada em Ullapool é quase um choque de realidade (e olha que segundo o censo de 2001, a cidadezinha possui 1300 habitantes). Por outro lado é sede de muitos eventos culturais durante o ano, tais como Ullapool Book Festival (maio), Loopallu Music Festival (setembro) e Ullapool Guitar Festival (outubro). Portanto é bom checar antes o calendário de eventos para curtir um pouco da cidade e comemorar uma viagem inesquecível. No mais, atenção redobrada durante a viagem, pois ovelhas hão sempre de pintar pelas estradas.


3. VALE DO LOIRE, FRANÇA



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Cravado no centro e no coração da França, o Vale do Rio Loire se espalha por 800 km2, portanto existem muitas maneiras de se conhecê-lo e várias cidades históricas (Tours, Orléans, Amboise e Nantes) a se escolher como quartel-general para a viagem. “As estradas são bonitas, muito bem pavimentadas e sinalizadas, e têm limites de velocidade. Há radares escondidos, por isso não se pode bobear. Por ser à margem de um grande rio, o caminho é quase todo bem plano, exigindo pouco do motor do carro, o que economiza gasolina”, explica o jornalista Glauco Lucena que optou por se hospedar na cidade de Amboise, cujo belíssimo castelo guarda os restos mortais de Leonardo da Vinci.


Entre castelos, vinícolas e restaurantes em cavernas, Lucena fez um percurso de quase mil quilômetros durante uma semana de suas férias no ano passado. “Há uma autoestrada que passa pela região, mas a dica é usar as duas estradas menores que beiram a margem do Loire. Pode-se optar por uma das margens. Uma é mais movimentada e dá acesso às vinícolas e cavernas, enquanto a outra tem mais vegetação, trânsito livre, oferecendo um passeio muito mais bucólico”, relembra. 


História e natureza são os pontos altos dessa viagem e é possível tanto se perder entre as pedras seculares de castelos como Chambord, Villandry, Chinon, Rivau e Chenonceau quanto nas florestas do Parque Nacional Loire-Anjou-Touraine e na Reserva Chasse de Chambord. 


O Vale do Loire também é conhecido como o Berço da Língua Francesa, título que não nasceu à toa. Até meados do século 16 era o centro do poder do império e os mais de 300 castelos que sobreviveram à Revolução de 1789 e as Primeira e Segunda Guerras Mundiais só confirmam uma importância histórica que segue atravessando séculos. Tanto é verdade que desde 2000 a parte central do Vale foi incluída pela UNESCO como Patrimônio Mundial da Humanidade. Portanto, não custa imaginar que pelas estradas de asfalto macias dos dias de hoje passaram nobres e plebeus aos trancos e barrancos.


4. DE WÜRZBURG A FÜSSEN, ALEMANHA



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Estradas longas, planas, bem sinalizadas e com muitas pistas. Perfeitas, enfim. É assim que se imagina uma autoestrada alemã (Autobahn). E é justamente assim que elas são, sem tirar nem por. Davi Tangerino, advogado paulista, morou um ano em Berlim e constatou isso de perto em algumas viagens pelo país. “Ao contrário das caóticas estradas brasileiras, as alemãs são planejadas e seguem a mesma lógica das artérias humanas. Grandes Autobahnen, sem limite de velocidade, interligam os principais eixos do país, mas, em regra, sem passar por centros urbanos, e das Autobahnen saem estradas menores e são essas que se dirigem a cidades”.


E justamente pelas menores que se escondem as maiores surpresas. Uma delas, por exemplo, é conhecida desde o início da década de 1950, principalmente por turistas americanos e japoneses, como a Estrada Romântica. A única diferença entre ela e uma Autobahn, na verdade, é o número de pistas (a Romântica tem uma pista para ir, outra para voltar). De resto, é perfeita igual. É também uma das primeiras rotas turísticas criadas no país no pós-guerra.


São 420 km que vão de Würzburg até Füssen, já quase na fronteira com a Áustria, atravessando assim boa parte da região da Bavaria. Entre uma ponta e outra, grandes campos, planícies verdejantes, cervejarias e vinícolas, tráfego suave e as pequenas e adoráveis cidades de Rothenburg ob der Tauber, Dinkelsbühl e Nördlingen, as únicas na Alemanha que ainda possuem vestígios de seu passado medieval.


Existem duas interessantes portas de entrada para se começar essa viagem: Frankfurt ao Norte ou Munique ao Sul. Mas o ideal é fazer o trajeto Norte-Sul tendo a bela cidade de Füssen como destino final. Nela, aos pés dos Alpes austríacos e às margens do Rio Lech, despontam alguns dos mais belos castelos germânicos. A saber, Schwangau, Hohenschwangau e o célebre Neuschwanstein, extravagante e rebuscada encomenda do Rei Ludwig II (1864-1886) em homenagem ao compositor Richard Wagner.


“Saindo da Estrada Romântica e pegando a Colomanstrasse, um dos caminhos para Munique, é que se vai ao Neuschwanstein. À esquerda de quem dirige nessa excelente estrada acompanha-se uma formação montanhosa. Não custa muito para que se aviste, lá em cima, o castelo que serviu de inspiração - dizem - para o castelo da Cinderela de Walt Disney”, diz Tangerino. Um final e tanto para uma viagem de sonhos. 


5. DE OSLO A BERGEN E DE VOLTA A OSLO, NORUEGA



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O mais longo dos trajetos dessa seleção também cobre, circularmente, todo o sul da Noruega, o que não é pouca coisa. São 1300 km de ótimas estradas, mesmo quando estreitas, repletas de verde por todos os lados, montanhas, florestas, lagos e os imponentes fiordes. Terra e água, muita água. O objetivo é, no primeiro trecho, sair da capital Oslo e atravessar o país até Bergen, rumo Oeste. 


Em um país repleto de estradas fascinantes - Trollstigen e Atlantic Road só para citar dois exemplos mais ao Norte -, a que liga Oslo a Bergen surpreende pela variedade de paisagens com poucas distrações humanas. As maiores cidades, Eidfjord e Alvik, só aparecem perto de Bergen, e é exatamente entre elas que se pega o primeiro ferry boat da viagem. Durante todo o percurso é bom ficar de olho nos alces que atravessam a estrada e que podem causar sérios estragos no carro.


O segundo trecho, entre Bergen e Stavanger, já margeando a costa atlântica, é muito mais movimentado de carros e, consequentemente, possui estradas melhores. E muitas pontes e túneis submarinos ligando as centenas de ilhas e penínsulas de um dos litorais mais recortados da Europa. Antes de chegar a Stavanger é hora de treinar um pouco de paciência, afinal dependendo da época do ano é possível encarar filas para pegar os dois ferry boats. Ou também se pode matar um tempinho entre um e outro na pequena Haugesund, considerada uma das vilas mais bonitas da Noruega.


Se o tempo estiver bom não custa desviar um pouco para conhecer a tortuosa estrada de Lysebotn, um teste para os bons pilotos e distante apenas 85 km de Stavanger. Mas se não for o caso, o próximo destino é Kristiansand numa estrada sinuosa e com vistas para o Mar do Norte e suas muitas ilhas rochosas. Nesse terceiro trecho vale parar em uma das cidades costeiras. A bucólica Mandal, por exemplo.


O quarto trecho desta viagem, que vai de Kristiansand até Oslo, tem pouco mais de 300 km e garante novas surpresas cênicas, estradas mais largas e, novamente, um tanto mais de trânsito. Nada que um viajante viking não tire de letra.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

guilherme arantes afrobeat?

pois é assim que um dos maiores hitmakers do pop nacional aparecerá no disco dos baianos da banda oquadro. é que o grupo de ilhéus gravou sua estreia no coaxo do sapo, misto de estúdio e selo musical criado pelo próprio guilherme arantes próximo a praia de jacuípe. olha um trechinho aí... ou será que foi apenas uma jam?





produzido por buguinha dub, taí outro disco que promete grandes surpresas nesse ano... se depender do rap suingadíssimo "balançuquadro" que segue abaixo (e que vi lá no urbe)... porra... 


quarta-feira, 18 de abril de 2012

era uma agência muito engraçada...

junto com o sinal verde para antônio fagundes, fernanda cirenza me passou uma pauta para a segunda edição da revista inovação! brasileiros, um desdobramento da brasileiros: traçar um perfil da cubocc, uma agência de propaganda que não só dá ênfase para o ambiente digital como também arrumou um jeito diferente de seus funcionários se relacionarem. fui acompanhado da jovem fotógrafa aline lata, autora das imagens abaixo. no mais, o texto abaixo é a minha versão final (pré-edição da revista), como de praxe aqui no esforçado.



TRABALHO ENQUANTO PRAZER

Agência de publicidade fora dos padrões, a CUBOCC investe em autoria compartilhada e pensamento livre numa busca por novos jeitos de decifrar um mundo que não vai parar de mudar

O elevador chega ao 16º. andar e uma grande porta prateada, no melhor estilo caixa-forte de banco, separa as realidades de um prédio de negócios, moderno e comum, de uma agência de publicidade pouco convencional. Quer dizer, o pessoal da CUBOCC (assim mesmo, em caixa alta) não gosta nem de se considerar uma “agência”, porque acredita que apesar de trabalharem com publicidade em todo o resto são diferentes de seus pares. Principalmente em como pensam e fazem seu negócio girar. 

“É que trabalhar aqui é uma experiência diferente, e isso acaba gerando novas propostas de negócios”, diz Gustavo Bonfiglioli, que recebe a reportagem logo após a recepção com seu painel eletrônico em permanente frenesi de pixels. Um dos responsáveis pela comunicação da empresa, ele será nosso guia por um pouquinho dessa experiência e o dia, fim de tarde aliás, promete, afinal estamos numa sexta, o esperado momento semanal da confraternização. Mas ainda não é hora.

Fundada em 2004, a CUBOCC nasceu da mente agitada do gaúcho Roberto Martini. Nascido em Pelotas - “a terceira cidade a ter internet no país, sabia?”, diria mais tarde entre um chope e outro -, Martini foi atendente de suporte, estudou Análise de Sistemas e Publicidade, mas se formou mesmo em Administração. Sempre correu atrás de criar seus próprios negócios, tanto em Pelotas quanto em Porto Alegre e, finalmente, em São Paulo, onde pôs em pé a empresa que mudaria sua vida e a de muitos que passaram e passam por lá. O objetivo inicial era ser uma produtora especializada em mídias digitais, mas o futuro (digital) lhes reservaria algumas surpresas.

“A idade média aqui é de 24 anos... e as pessoas podem vir trabalhar de chinelo se quiserem... porque tem toda essa bullshit corporativa com que a gente não concorda, não precisa estar de terno para ser sério...”, fala Bonfiglioli enquanto percorremos os 1400 m2 do endereço que a agência ocupa desde outubro do ano passado. Projetada pelo escritório Athié em parceria com o estúdio 1-18 Project, a decoração branca e minimalista que rodeia os 140 funcionários da empresa é aberta nas áreas de trabalho e tudo é visível para todos em longas mesas conjuntas.

Já os corredores internos, que levam a uma copa e aos banheiros, e as salas de reunião possuem um estilo mais rebuscado e pop: enquanto nos corredores luzes nas paredes acendem conforme as pessoas passam, as salas se diferenciam umas das outras numa alternância de cadeiras de acrílico, candelabros, sofás e cortinas pretas. Mas o xodó da agência é a sala de reunião toda espelhada, do teto ao chão, que ainda traz uma mesa de vidro e cadeiras transparentes de acrílico. É nesse disputado cômodo que processos são desenvolvidos e campanhas são finalizadas, tudo devidamente escrito nas paredes-espelho.

“Geralmente, as agências e clientes pensam em termos quantitativos, números. A gente pensa de outra forma, usando outras variáveis como transformação social, engajamento e inovação. São os valores agregados de uma campanha que mais nos interessam”, diz Bonfiglioli ao fim do tour pela agência. E cá estamos de volta onde tudo começou: na recepção.  



Faltam pouco mais de vinte minutos para o começo do happy hour da CUBOCC e novas informações não param de surgir. O faturamento da empresa ultrapassou os R$ 100 milhões em 2011, o que gerou um crescimento de 15% no ano. A atual cartela de clientes conta com a Unilever (11 marcas), Google (4 marcas), Kraft Foods (3 marcas) e, recentemente, a Liberty Seguros, uma nova responsabilidade e tanto, pois a seguradora é um dos patrocinadores da Copa do Mundo de 2014.

Mas, afinal de contas, o que a CUBOCC tem que as outras não têm? Eles canalizaram a energia de profissionais de diferentes áreas (Mídia, Criação e Planejamento) para o digital, pois pretendem ajudar, segundo suas próprias palavras, “a dar forma ao futuro da propaganda por meio da combinação de diferentes disciplinas”. Produzem assim jogos online, comunidades virtuais, virais na internet, ações no mundo real, enfim, novos jeitos interconectados de fazer publicidade para um consumidor mais jovem que deseja participar e ser ouvido. E essas criações são sempre coletivas, mesmo quando lideradas por um “conceptor”, nome que dão ao profissional que coordena essa criação-brincadeira, essa “busca pela grande ideia”.

juliano, cristina, juliana e rodrigo, quatro integrantes da cubocc

Enquanto isso, atrás da recepção, numa espécie de grande sala de espera dividida em três partes, uma delas com mesa de pebolim e fliperama, algumas pessoas começam a chegar para o happy hour. “Esse chope de sexta é muito bom porque conseguimos conversar com gente de outras áreas”, explica Juliano Shimizu (Criação) sobre uma das mais arraigadas tradições da agência. “Agora, mais que o ambiente físico legal, o que motiva a trabalhar aqui é um sentimento de fazer junto, porque a gente sempre é incentivada a dividir tudo com todo mundo”, diz Cristina Aguiar (Atendimento).

A máquina de chope já está pronta e não muito distante um baú é aberto e se revela, mais uma vez, lotado de salgadinhos (industrializados) de todos os tipos. “A gente aqui é estimulado e incentivado a ser o que é, a expressar nossa opinião, a discordar das coisas, a questionar, independente de crença, do jeito de vestir”, afirma Juliana Fernandes (Mídia). E assim voltamos ao assunto informalidade. “Eu trabalhava de terno em consultoria e aqui fui me transformando ao longo de um ano. O ambiente fica mais leve, faz uma diferença. Até a pressão é mais light que em outros lugares. E acho que comunicação tem que ser assim, leve”, explica Rodrigo Abdalla (Atendimento).


roberto, fundador e ceo da cubocc

O fundador e CEO da CUBOCC, Roberto Martini, também virá para o happy hour, quase sempre comparece ao sagrado chopinho, mas antes, por e-mail, disse que “misturar a vida profissional com a pessoal é um privilégio para poucos e creio que estamos conseguindo fazer isso de uma forma bastante inspiradora. A ideia de trabalhar com o novo e com pessoas que podem constantemente te surpreender com novos conhecimentos me fascina e é isso que entregamos para os nossos colaboradores”. Tudo pronto. Já estamos, oficialmente, fora do horário comercial.

As luzes do ambiente são diminuídas, um telão desce e é hora do Follow Friday, o começo do happy hour, no qual dois funcionários sorteados aleatoriamente se apresentam para os colegas. Dizem também o que curtiram e o que não curtiram fazer na CUBOCC, falam sobre a família, viagens, o que lhes der na telha, desde que em sete minutos e com o auxílio de um power point. Denise e Sarah foram as escolhidas da vez. A primeira revela que foi patinadora profissional, gosta de sapateado e mostra uma foto de quando foi pedida em casamento aos pés da Torre Eiffel. Já Sarah, nascida em Volta Redonda (RJ) e há dois anos em São Paulo, diverte a todos com suas tiradas nerds do tipo “adoro Miojo, por mim comeria todo dia, mas como sei que mata alterno com McDonald’s” ou então “adoro girafas e o Darth Vader, tenho medo de palhaço e já fui agarrada pelo Latino, que me deu um chupão no pescoço... achei legal contar isso para os coleguinhas da firma”. Palmas e gargalhadas. Bonfiglioli, nosso guia, coloca um som e canecas de chope são novamente enchidas.



Então, discreta e timidamente, chega Roberto Martini. “Podemos negociar só uma opção de foto? Sou muito ruim nisso, não consigo olhar pra câmera”, revela. Careca, tatuado e de camiseta preta, em nada lembra um pomposo CEO e muito menos um sujeito que, no final de 2010, vendeu 70% das ações da CUBOCC ao Grupo Interpublic, uma das principais holdings de agência de publicidade do mundo. Os termos e valores da negociação nunca foram divulgados, mas Martini fez questão que sua agência se mantivesse com a mesma essência de sempre, mesmo com a chegada do experiente, e igualmente jovem, Rodrigo Toledo como diretor geral. “Já desenvolvíamos projetos para mercados globais, mas com a chegada da Interpublic essa oportunidade se intensificou. Temos agora um plano mais agressivo de expansão e tudo isso dentro de uma cultura que estimula a inovação, o risco, bastante criativa e focada em empreender novas ideias”, explicou.

Martini não sabe direito qual o futuro da publicidade nesses tempos de virais e compartilhamentos, mas tem certeza de duas coisas: que tudo vai continuar mudando e que a CUBOCC pensa nisso o tempo todo. “O sucesso será daqueles que anteciparem ou mais rápido se adaptarem a essas mudanças, portanto estruturas flexíveis e modelos de negócio em alteração constante agora fazem parte do dia a dia do negócio”, profetiza. O happy hour está apenas começando.


e abaixo, a versão editada nas quatro páginas da revista. 



yahoo #37

inhotim, o museu-parque próximo a belo horizonte, é uma coisa impressionante de se ver e dá muito o que pensar. escrevi "arte é público" para o yahoo como uma espécie de ensaio sobre uma pauta que ainda quero desenvolver: as reações do espectadores a arte contemporânea. enquanto isso já tem texto novo lá, "a gente não quer só comida", sobre o programa larica total e a estreia de sua terceira temporada.




ARTE É PÚBLICO


Museus são coisas especiais. Arte, ciência, técnica, arqueologia, zoologia, geologia, culturas e conhecimentos dos mais diversos, muita produção humana coletada e organizada. Vou a museus desde que me entendo por gente e já visitei estabelecimentos de todos os tipos, desde alguns mequetrefes até outros gigantes. No último feriado fui conhecer Inhotim, museu-parque distante 50 km de Belo Horizonte que foi aberto ao público em 2006 e que ano passado vendeu 700 mil ingressos, tornando-se o quarto museu em visitação no país

A experiência de caminhar por parte de seus 100 hectares (1 milhão de m²) é impressionante. Tem o paisagismo de encher os olhos (projeto original de Burle Marx), os prédios modernos em harmonia com a natureza, o cuidado, a estrutura profissional e alguns dos maiores artistas plásticos contemporâneos, brasileiros e estrangeiros. Mas tão interessante quanto isso é o conceito – tão caro a própria arte contemporânea – de interação do público com a obra. Uma nova, acessível e divertida arte nasce desse encontro.


Entre as muitas galerias e obras ao ar livre, o carioca Hélio Oiticica (1937-1980) se destaca pela atualidade do seu jeito de dialogar com o público. Na Galeria Cosmococa, onde residem as cinco instalações “Blocos-Experiências em Cosmococa”, os visitantes chutam balões, deitam em redes, pulam e se jogam em colchões e puffs e podem até mergulhar numa piscina de água amarela. Enquanto brincam são estimulados por sons fotos de artistas como Jimi Hendrix e Marilyn Monroe cobertos com cocaína.

Ao ar livre, a instalação “Invenção da cor, Penetrável Magic Square #5, De Luxe” é um labirinto de cores, formas e grandes paredes. Cada pessoa que entra em uma dessas instalações dá um novo significado para a obra. Falam qualquer coisa, não entendem, pensam que não entendem, tiram fotos, fazem piadas, não importa. Tudo está aberto e de certo mesmo só temos isso.

Na sexta-feira santa, Inhotim estava bem cheio e com um público surpreendentemente diverso para o valor do ingresso (R$ 28, a inteira), muitas crianças e famílias. E lá, no labirinto penetrável de Oiticica, todos se esbaldavam em mil e uma poses. Algum pedante de plantão poderia reclamar que não estão respeitando o grande artista com essas fotos que vão parar nos Orkuts e Facebooks da vida. Bobagem. Tenho certeza que Oiticica se divertiria muito ao saber que um pedaço de sua obra virou cenário para o book de uma aspirante a modelo de alguma cidadezinha de Minas Gerais. Arte também serve para sensualizar.

terça-feira, 17 de abril de 2012

arrocha curumin!

não tenho dúvidas que arrocha, o aguardado terceiro disco de curumin, será um dos melhores do ano. sou muito fã de achados & perdidos e japan pop show e também acompanho a carreira do paulistano como instrumentista de músicos como arnaldo antunes, alzira e, anelis assumpção, tommy guerrero, shawn lee e céu. arrocha promete ser mais eletrônico, cheio de programações, e já tem uma música (ótima) rodando por aí: "selvage".





e olha a capa estilosa do disco desenhada por rodrigo bueno (peixe peludo).


por último, dois teasers de arrocha que deixam bastante claro como o disco estará mais eletrônico.








atualização em 3 de maio... ouve aí o disco inteiro que realmente e absolutamente sensacional. arrocha é mesmo um discaço.


vermelho, o pintor e pai

gosto quando consigo multiplicar uma pauta. em cartaz até julho, a peça vermelho me deu oportunidade de estrear na revista da gol com um perfil do ator bruno fagundes, filho de antônio fagundes. aí, como já iria mergulhar na história desse trabalho sugeri o fagundes pai pra brasileiros (os dois são os únicos atores em cena). fernanda cirenza, redatora-chefe da revista, deu o sinal verde (e ainda me passou outra pauta que já subo aqui) e lá fui eu lutar por alguns poucos minutos exclusivos com fagundes. foi rápido, pouco mais de 6 minutos, mas rendeu o bastante para esse perfil ligeiro. e fagundes foi simpático.

foto daniel klajmic

ETERNO APRENDIZADO

Ele chega todo sorriso à coletiva de imprensa para divulgar sua mais nova peça e vai disparando um “oi” atrás do outro. Antônio Fagundes parece bastante feliz e não é para menos, afinal chega acompanhado de pessoas muito próximas. A seu lado direito, um amigo de mais de 30 anos (“Já deixamos de contar pra não dar bandeira”, brinca), o diretor teatral Jorge Takla. A seu lado esquerdo, o filho mais novo, o ator Bruno Fagundes, 22 anos, com quem divide o palco pela primeira vez em Vermelho, peça que segue em cartaz até julho, em São Paulo.

Ambientada em um estúdio na cidade de Nova York no final da década de 1950, a peça escrita pelo norte-americano John Logan trata da relação de poder, amor à arte, amizade e competição entre Mark Rothko (1903-1970) e seu assistente em um momento particularmente crítico na vida (real) do pintor. Rothko é interpretado por Antônio Fagundes. Ken, o assistente fictício, é vivido pelo filho Bruno. E são apenas os dois em cena, o tempo todo.

“Claro que a gente se identificou com muitas colocações do texto, com algumas crises e problemas que ele [John Logan] levanta, mas acredito que tanto nós quanto a torcida do Flamengo. Qualquer pessoa que tenha um contato mínimo que seja com arte e cultura vai se identificar com esse texto porque ele levanta questões primordiais e de uma forma apaixonada, emocionada, inteira e cheia de humanidade”, disse Fagundes em conversa exclusiva após a coletiva.

Ator com mais de 40 anos de tablado, Fagundes já encarou William Shakespeare, Bertolt Brecht, Dario Fo, David Mamet, Chico de Assis, Edmond Rostand, Roland Barthes e Gianfrancesco Guarnieri. Também já foi dirigido por figuras importantes do teatro brasileiro, tais como Bibi Ferreira, Gerald Thomas, Ulysses Cruz, Augusto Boal e Flávio Rangel. Mas para ele toda peça é um recomeço e Vermelho tem lhe dado um aprendizado particularmente intenso, o que foi confirmado por Jorge Takla (“É muito estimulante trabalhar com atores que pesquisam tanto”).

antônio fagundes, jorge takla e bruno fagundes

Livros, exposições, vídeos, filmes, internet, todo um arsenal de conhecimento foi acionado por Fagundes e seu filho para entender a linha evolutiva da arte moderna no século 20 e o contexto histórico do trabalho de Rothko. Tanto para envolver ainda mais o público, visual e dramaturgicamente, nas discussões da peça, quanto para entender melhor a personalidade forte e atormentada do pintor (que o levaria ao suicídio em 1970, aos 66 anos). “É um personagem magistral porque é completo. Ele permite uma composição [Fagundes está com o cabelo bem curto, quase careca, e sem barba para o personagem], tem um sarcasmo extraordinário e é muito engraçado.”

Mas é no conflito geracional entre Rothko e seu assistente, o incansável duelo entre o velho e o novo, que reside um dos pontos altos de Vermelho, segundo Fagundes. Porém, faz uma importante ressalva. “Tem uma frase que adoro e que ouvi de um livreiro: ‘Você já leu Dostoievski? Não? Então é novo!’ Novo é tudo aquilo que você não sabe, tudo aquilo que você não aprendeu. Tudo é novo desde que você não conheça e tudo é fácil desde que você saiba a resposta”. Antônio Fagundes continua procurando respostas.

p.s.: e aqui um flagra do texto na brasileiros de abril.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

vermelho, o assistente e filho

o pessoal da revista da gol já tinha me chamado para fazer a junket de homens de preto 3 lá no rio de janeiro, mas por causa da estreia do filme, esse perfil do ator bruno fagundes acabou sendo publicado antes. a deixa foi a estreia em são paulo de vermelho, sua primeira experiência teatral contracenando com o pai antônio fagundes. muito pé no chão, o jovem bruno foi entrevista surpreendentemente boa e ainda consegui emplacar fagundes pai em outra pauta que subirá logo mais.


foto joão caldas

SEM PRESSA

Filho de Antônio Fagundes e Mara Carvalho, Bruno Fagundes divide o palco com o pai pela primeira vez com a responsabilidade de ser única e exclusivamente ele mesmo

O ditado é velho, mas continua assombrando intermináveis gerações. “Filho de peixe, peixinho é”, sussurram à boca pequena. Bruno Fagundes não quer saber de peixe, peixinho, nada disso. Ele quer mesmo é trabalhar com o que mais ama: atuar. Mas tudo a seu tempo e de seu jeito. “Meus pais sempre me avisaram que não adiantar ter ansiedade porque na nossa profissão a gente precisa ter vida”, diz entre goles de água.

Bruno é jovem, porém a naturalidade com que encarou o trabalho dos pais atores lhe deu certeza, desde os 13 anos, que era por esse caminho que queria seguir. Nos dez anos seguintes já mostrou sua cara na TV (Negócio da China), no cinema (Bellini e os Demônios) e no teatro (interpretando de Shakespeare a Nelson Rodrigues). E é agora, mais uma vez no palco, que prepara o que considera um marco pessoal de virada na carreira e o primeiro encontro dramatúrgico com o pai.

Escrita pelo norte-americano John Logan e sucesso na Broadway, a peça Vermelho trata da relação de trabalho, amizade, competição e amor à arte entre o pintor Mark Rothko (1903-1970) e seu assistente. Rothko é interpretado por Antônio Fagundes. Ken, o assistente fictício, é vivido por Bruno. “Estou muito animado com o que está por vir, e muito seguro também”, responde, olhos brilhando, sobre a peça que segue em cartaz até julho em São Paulo.


Vermelho não é a primeira vez que você e seu pai trabalham juntos...
A gente fez um Carga Pesada juntos [em 2006], mas foi uma participação pequena e eu ainda estava um pouco perdido. Foi a primeira vez que a gente trabalhou juntos de verdade, mas essa peça tem proporções completamente diferentes, não só de personagem, como também de visibilidade e maturidade. Então considero essa nossa primeira vez.

E como essa peça surgiu na vida de vocês?
Há muito tempo estava procurando um texto e tenho uma amiga, Raquel Ripani, que foi para Nova York anos atrás e viu Vermelho na Broadway. Ficou enlouquecida com a peça, comprou o livrinho e me ligou, ‘Bruno, achei uma peça pra você fazer com o seu pai’. Aliás, ela acabou traduzindo para o português. Ao mesmo tempo meu pai estava em cartaz com Restos e a agente literária que representa o [dramaturgo] John Logan mandou o texto para ele. Aí ele me ligou pra contar a peça, e fui falando da que a Raquel tinha me dado, e quando a gente viu era a mesma. Então, a peça é que achou a gente e não o contrário.

O que mais te interessou em Vermelho?
O que achei incrível é como o texto é bem amarrado, tem uma estrutura simples e muitos níveis de leitura. Tem a discussão sobre arte e apreciação da arte. Tem a relação entre Mark Rothko e seu assistente, que é uma coisa mestre e pupilo, pai e filho, de amizade, mas também de embate ideológico. Quando acabei de ler estava sem ar. Acho que todo mundo que trabalha com arte ou é apaixonado por arte vai se identificar com a peça.

Comparações com o seu pai. Isso ainda te dá alguma ansiedade ou já está resolvido?
Convivo com isso desde que nasci. As pessoas sempre esperaram de mim o melhor dele, mas não tenho de vida o que ele tem de profissão, então quem pensa assim está se enganando. E tem outra, se eu não conquistar meu espaço pelas minhas próprias pernas não vai adiantar ser filho de ninguém. Posso fazer uma novela aqui, uma peça ali e depois sumir. Não é isso que quero. Quero construir uma carreira sólida. Quero viver disso, entende? Então estou indo aos poucos.

Qual é o barato de atuar?
Quando comecei não saberia dizer, mas hoje eu sei. Acho que a nossa profissão é mágica mesmo. Pegar um texto e tirar uma vida disso. Fazer do seu jeito e dar um entendimento que pode vir a emocionar uma pessoa. Ter essa disponibilidade de esquecer a sua vida e viver a vida de outra pessoa, isso eu acho mágico. É isso que me fascina.



Antônio e Bruno Fagundes: Vermelho from Monstro Filmes 

e segue abaixo uma faixa bônus dessa entrevista que acabou não entrando na edição final.


Seus pais te incentivaram a atuar? Ou a princípio...
Bem, eles deixaram que eu tomasse minhas decisões sozinho. Se eu quisesse ser dentista teriam me dado apoio. Tenho três irmãos do primeiro casamento do meu pai e nenhum é ator. Acho que foi até uma surpresa o último ser ator. “Você tem certeza? Seus irmãos foram mais espertos!” [risos] E eu fui desenvolvendo essa paixão, ainda sem saber onde encaixar. Com uns 13 anos fiz um curso livre, daqueles que tem uma montagem no final, e me apaixonei. Decidi então fazer um curso profissionalizante, um curso técnico de teatro, lá no Incena. E fui me apaixonando cada vez mais. Mesmo assim fiz uma faculdade que não tinha nada a ver com isso... Relações Públicas [risos].


Você tem mais experiência em teatro, mas já atuou em cinema e TV. Para um ator, o que tem mais de interessante a se aprender em cada uma dessas mídias?
O teatro te dá uma base que é a do exercício. A gente está ensaiando há dois meses e nos últimos 15 dias estamos fazendo corrido, a peça inteira. Então em um dia posso trabalhar uma mão numa determinada cena, em outro dia trabalho outra coisa, e vou juntando as peças. Você vira um especialista nas suas dificuldades. Esse tempo pra desenvolver, esse exercício, só o teatro dá. E isso continua quando a peça entra em cartaz. Dá pra arriscar assim. Já na televisão o negócio é ter velocidade, rapidez de raciocínio. É já chegar meio pronto. Televisão não tem ensaio e isso também é um desafio. O cinema é um pouco dos dois. Tem ensaio, mas não tanto quanto o teatro. É uma coisa mais artesanal, mais meticulosa, sutil. São diferenças que se complementam. Se você conseguir resultados rápidos no teatro você consegue na televisão e isso pode te fazer se dar bem no cinema. Os três juntos são uma força grande.


Imagino que você agora esteja bastante focado na peça, mas tem algo mais caminhando, algum outro interesse mais pra frente?
No final do ano passado fiz um show e esse lado de cantor é uma coisa que venho desenvolvendo. Já tinha rolado um convite no passado, mas não me sentia pronto e essa vida louca me trouxe de volta essa oportunidade. Quando eu vi já estava com data marcada, 15 músicas no repertório, de Elvis Presley a Lenine, passando por Michael Jackson e Lady Gaga, mas com estilo big band de jazz, sabe? Foi muito bom. E ninguém sabia, muita gente ficou surpresa porque só o meu professor de canto sabia que eu cantava. E de repente eu estava lá com um show, uma banda excelente, com músicos maravilhosos que me ajudaram muito. Esse é um projeto que nunca quero abandonar, porque além de me dar um prazer absurdo também me acrescenta como ator, porque ou um apaixonado por musicais, gosto muito desse mercado e quero manter paralelo. Então, quem sabe depois da estreia faço outro show.