MIMADOS E SEM FILTRO
As redes sociais (a humanidade?) se alimentam de grandes e
pequenas polêmicas diárias. Algumas reais, a maioria fictícia. Um tanto porque
estão sempre acontecendo muitas coisas ao mesmo tempo e outro tanto porque
vivemos numa corrida neurótica por assuntos, informações e opiniões sobre tudo.
Só nos resta filtrar esse maremoto de muitas marolas do jeito que acharmos
melhor.
A “polêmica” mais recente foi a chegada ontem
do Instagram ao sistema operacional Android.
Antes exclusivo para usuários de iPhone, o aplicativo é um jeito fácil e rápido
de dar uma cara bacana, por meio de efeitos, a imagens comuns. Sabe aquela foto
que você tirou nas últimas férias de uma prima enterrada na areia? Então, com o
Instagram fica parecendo uma polaroide dos anos 1970.
Lançado em outubro de 2010, o aplicativo rapidamente se
tornou cool, depois virou febre e agora, já com uma base de 30 milhões de
usuários, tende a se tornar ainda mais popular. Daí que surgiu a palavra
“popular” e o mundo (virtual) tremeu. “É a orkutização do Instagram!” foi a
gritaria geral, principalmente no twitter. Bem, só de ler “orkutização” já
sinto calafrios, mas felizmente esse termo já foi usado tantas vezes e de
tantas formas (todas bestas) nos últimos anos que caiu no ridículo.
O curioso, nesse caso específico, é que muitas pessoas
usaram esse termo especificamente para fazer alguma piada (já perceberam ou
sempre perceberam o ridículo da coisa), mas a grande maioria foi mesmo para
fazer troça ou simplesmente reclamar de quem a usava. Em alguns casos, a reação
foi até desproporcional (e muito maior que) a ação como, por exemplo, em “Agora
‘guenta os macfags falando de ‘orkutização’ do instagram” (de @babalin).
Mais irônicas, consequentemente mais incisivas, foram frases
como “Pessoa humana reclamando da orkutização do instagram, mal sabe que semana
passada vi um iphone pré-pago” (de @srtabia) ou “Agora entendi pq estão falando
da orkutização do Instagram. O povo se acha rico por ter iPhone, mas posso
comprar em 25x nas Casas Bahia” (de @Karinalv).
E elas pegaram bem no nervo. A questão não passa por ser ou
não ser um “macfags”.
É mais uma briga de antigas percepções de classe, principalmente em um Brasil
que, de uns poucos tempos pra cá, viu democratizações de certas posses e
acessos. Resultado? Classes começam a se confundir, tudo se mistura com mais
ânsia e velocidade, nada é o que parece.
Quem reclama disso bate em velhas teclas como nesses três
exemplos: “Orkutização do Instagram não! Já tô vendo geral postando foto do sol
na laje!! #MedoDoInstagramAndroid” (de @calterojr), “Tenho certeza q vou ver
fotos de gente dentro de caixa dágua, ou seja, será a orkutização do instagram.
vão matar o app” (de @amaralamaral) e “Liberaram o instagram pra android!
Puuutz vai virar orkut! Fotos de biquinhos e V com mão! Perdemos um app legal!
Droga!!” (de @babi_cocolichio). E daí? Como diria a colega Nina
Lemos, “quantos anos essas pessoas têm para achar que um brinquedo vai
perder a graça só porque mais gente vai poder brincar?”
É isso: brincar, verbo intransitivo. Ou então, como na
“tuitada” de @Leuzito, “na moral, bem mais L0k0 um instagram com foto de
favela/baile funk do que com parede ~tijolinho a vista/por do sol. viva a
orkutização”.
p.s.: na esteira da “polêmica”, e como não poderia deixar de
ser, apareceram alguns tumblrs para debochar da tal “orkutização do Instagram”.
Tem o Orkutgram, o Hipsters Orkutizados e o Android no Instagram, por
exemplo, além do precursor de todos, o sensacional Pobregr.am (um dos tumblrs citados na
coluna “O
país da internet moleque”).
p.s.: depois, o matias escreveu para o caderno link (estadão) o bonzão "a 'orkutização' do instagram e a natureza gregária da internet".
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