quarta-feira, 18 de abril de 2012

yahoo #37

inhotim, o museu-parque próximo a belo horizonte, é uma coisa impressionante de se ver e dá muito o que pensar. escrevi "arte é público" para o yahoo como uma espécie de ensaio sobre uma pauta que ainda quero desenvolver: as reações do espectadores a arte contemporânea. enquanto isso já tem texto novo lá, "a gente não quer só comida", sobre o programa larica total e a estreia de sua terceira temporada.




ARTE É PÚBLICO


Museus são coisas especiais. Arte, ciência, técnica, arqueologia, zoologia, geologia, culturas e conhecimentos dos mais diversos, muita produção humana coletada e organizada. Vou a museus desde que me entendo por gente e já visitei estabelecimentos de todos os tipos, desde alguns mequetrefes até outros gigantes. No último feriado fui conhecer Inhotim, museu-parque distante 50 km de Belo Horizonte que foi aberto ao público em 2006 e que ano passado vendeu 700 mil ingressos, tornando-se o quarto museu em visitação no país

A experiência de caminhar por parte de seus 100 hectares (1 milhão de m²) é impressionante. Tem o paisagismo de encher os olhos (projeto original de Burle Marx), os prédios modernos em harmonia com a natureza, o cuidado, a estrutura profissional e alguns dos maiores artistas plásticos contemporâneos, brasileiros e estrangeiros. Mas tão interessante quanto isso é o conceito – tão caro a própria arte contemporânea – de interação do público com a obra. Uma nova, acessível e divertida arte nasce desse encontro.


Entre as muitas galerias e obras ao ar livre, o carioca Hélio Oiticica (1937-1980) se destaca pela atualidade do seu jeito de dialogar com o público. Na Galeria Cosmococa, onde residem as cinco instalações “Blocos-Experiências em Cosmococa”, os visitantes chutam balões, deitam em redes, pulam e se jogam em colchões e puffs e podem até mergulhar numa piscina de água amarela. Enquanto brincam são estimulados por sons fotos de artistas como Jimi Hendrix e Marilyn Monroe cobertos com cocaína.

Ao ar livre, a instalação “Invenção da cor, Penetrável Magic Square #5, De Luxe” é um labirinto de cores, formas e grandes paredes. Cada pessoa que entra em uma dessas instalações dá um novo significado para a obra. Falam qualquer coisa, não entendem, pensam que não entendem, tiram fotos, fazem piadas, não importa. Tudo está aberto e de certo mesmo só temos isso.

Na sexta-feira santa, Inhotim estava bem cheio e com um público surpreendentemente diverso para o valor do ingresso (R$ 28, a inteira), muitas crianças e famílias. E lá, no labirinto penetrável de Oiticica, todos se esbaldavam em mil e uma poses. Algum pedante de plantão poderia reclamar que não estão respeitando o grande artista com essas fotos que vão parar nos Orkuts e Facebooks da vida. Bobagem. Tenho certeza que Oiticica se divertiria muito ao saber que um pedaço de sua obra virou cenário para o book de uma aspirante a modelo de alguma cidadezinha de Minas Gerais. Arte também serve para sensualizar.

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