ARTE É PÚBLICO
Museus
são coisas especiais. Arte, ciência, técnica, arqueologia, zoologia, geologia,
culturas e conhecimentos dos mais diversos, muita produção humana coletada e
organizada. Vou a museus desde que me entendo por gente e já visitei estabelecimentos
de todos os tipos, desde alguns mequetrefes até outros gigantes. No último
feriado fui conhecer Inhotim,
museu-parque distante 50 km
de Belo Horizonte que foi aberto ao público em 2006 e que ano passado vendeu
700 mil ingressos, tornando-se o quarto museu em visitação no país
A
experiência de caminhar por parte de seus 100 hectares (1 milhão
de m²) é impressionante. Tem o paisagismo de encher os olhos (projeto original
de Burle Marx), os prédios modernos em harmonia com a natureza, o cuidado, a
estrutura profissional e alguns dos maiores artistas plásticos contemporâneos,
brasileiros e estrangeiros. Mas tão interessante quanto isso é o conceito – tão
caro a própria arte contemporânea – de interação do público com a obra. Uma
nova, acessível e divertida arte nasce desse encontro.
Entre
as muitas galerias e obras ao ar livre, o carioca Hélio Oiticica
(1937-1980) se destaca pela atualidade do seu jeito de dialogar com o público. Na
Galeria Cosmococa, onde residem as cinco instalações “Blocos-Experiências em
Cosmococa”, os visitantes chutam balões, deitam em redes, pulam e se jogam em
colchões e puffs e podem até mergulhar numa piscina de água amarela. Enquanto
brincam são estimulados por sons fotos de artistas como Jimi Hendrix e Marilyn
Monroe cobertos com cocaína.
Ao
ar livre, a instalação “Invenção da cor, Penetrável Magic Square #5, De Luxe” é
um labirinto de cores, formas e grandes paredes. Cada pessoa que entra em uma
dessas instalações dá um novo significado para a obra. Falam qualquer coisa,
não entendem, pensam que não entendem, tiram fotos, fazem piadas, não importa.
Tudo está aberto e de certo mesmo só temos isso.
Na
sexta-feira santa, Inhotim estava bem cheio e com um público surpreendentemente
diverso para o valor do ingresso (R$ 28, a inteira), muitas crianças e famílias. E
lá, no labirinto penetrável de Oiticica, todos se esbaldavam em mil e uma poses.
Algum pedante de plantão poderia reclamar que não estão respeitando o grande
artista com essas fotos que vão parar nos Orkuts e Facebooks da vida. Bobagem.
Tenho certeza que Oiticica se divertiria muito ao saber que um pedaço de sua
obra virou cenário para o book de uma aspirante a modelo de alguma cidadezinha
de Minas Gerais. Arte também serve para sensualizar.
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