sexta-feira, 20 de abril de 2012

uma eurotrip no papel

venho escrevendo sobre assuntos diversos nessa nova fase de frilas e uma das pautas que mais me exigiu foi a estreia na audi magazine, outra publicação da área de customizadas da editora trip (como a revista da gol). décio galina, o diretor de redação, me passou essa pauta sobre estradas bacanas na europa, tanto pelas paisagens quanto pelas estradas. fiz uma pesquisa e mandei umas dez possibilidades e eles também tinham algumas sugestões. fechamos em cinco estradas, no qual duas vieram das minhas pesquisas (escócia e noruega). a ideia original era conseguir aspas de pessoas que tivessem viajado nas estradas escolhidas, mas logo as minhas deram um trabalho danado por serem fora de rota e quem fiz contato acabou não respondendo a tempo de fechar a matéria. uma pena, teria ficado completo, e mesmo assim gostei do resultado final. no mais, não conheço nenhum dessas estradas, o que pode dar uma cara ficcional para essa reportagem. mas te digo uma coisa: minha paixão por mapas e rotas, a internet e a combinação de google maps com google street view são muito reais. ah, e antes de começar a viagem segue a matéria nas seis páginas da revista.






O CAMINHO É UMA VIAGEM


1. DE MÔNACO A PORTOFINO, ENTRE FRANÇA E ITÁLIA



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São pouco mais de 200 km de uma estrada quase sempre estreita e cheia de curvas, mas o trajeto que vai do Principado de Mônaco até o luxuoso balneário italiano de Portofino é, provavelmente, uma das mais indispensáveis viagens na costa mediterrânea europeia. Em condições normais de temperatura e pressão, a viagem pode ser feita em tranquilas 3 horas, mesmo com os pedágios. Mas não é preciso se apressar quanto o assunto é a região da Ligúria.


“A estrada vai margeando a costa, no alto das montanhas, e o mais impressionante são as surpresas que aparecem a cada curva - de repente um vilarejo fofo em tons pastéis, uma prainha azul de doer lá embaixo, cantinhos completamente desconhecidos do Mediterrâneo. E sim, isso ainda é possível”, relembrou a jornalista Rachel Verano, que morou durante sete anos na Europa.


Saindo de Mônaco, rumo leste, a França não demora muito para acabar e apenas uma cidade, Menton, separa a terra que coroou Grace Kelly da Itália. “Depois da fronteira a estrada vira uma sucessão de viadutos e pistas suspensas que desafiam a gravidade: a sensação é a de voar sobre as cidadezinhas”.


Boa parte da viagem é feita em duas pistas pela Autoestrada dei Fiori, muito bem sinalizada, mas até chegar a Gênova, a maior cidade da Ligúria, passa-se por localidades interessantes como San Remo (sede do festival de música que, realizado desde 1951, premiou Roberto Carlos em 1968) e Vado Ligure. Esta, na verdade, não vale pela beleza natural ou por ser antiga, mas sim porque é um importante entroncamento de possibilidades. Pode-se entrar pelo país, rumo noroeste, e ir até Turim e os Alpes ou então pegar um barco com destino a Bastia, o principal porto da ilha francesa de Córsega. Ou então seguir em frente, Ligúria afora.


“Portofino fica logo depois de Gênova e a estradinha estreita de curvas que lhe dá acesso é só um aperitivo do que a vilinha, dona da marina mais charmosa da Itália, reserva”, explica Rachel. É hora então de colocar os pés de molho no Mediterrâneo e curtir os pequenos prédios coloridos e espremidos entre o morro e o mar.


2. DE KYLE OF LOCHALSH A ULLAPOOL, ESCÓCIA



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No canto noroeste das highlands escocesas, recebendo rajadas velozes vindas do Atlântico Norte, uma estrada limpa, pista única, com pouco tráfego e de mão inglesa, serpenteia entre campos, montanhas e uma infinitude de lagos, com direito a alguns vislumbres assombrosos do oceano.


A maior e mais próxima cidade desse trajeto é Inverness, mas o passeio começa de verdade em Kyle of Lochalsh, cidade portuária que ficou conhecida na Grã-Bretanha por ter sido cenário da série televisiva Hamish Macbeth (1995-97). Cerca de 200 km a separam de Ullapool e existe uma opção mais curta entre elas, mas o melhor é tentar ficar o mais próximo possível da costa. Com as rodas na estrada e um tanque de combustível cheio, a civilização vai sendo rapidamente deixada para trás. A paisagem parece desolada, e ocasionalmente é mesmo, mas traços de humanidade vão surgindo aqui e ali em placas e vilarejos como Ardnaff, Coulags e Kinlochewe, cidadezinha que fica próxima à majestosa montanha Beinn Eighe. 


A partir de Gairloch, mais ou menos na metade do passeio, já é possível começar a ver, do lado esquerdo, o mar e algumas praias, algumas de areia branca, outras de pedras, todas desertas. Londubh, Poolewe, Aultbea, Laide e outros vilarejos surgem à margem da estrada livre e todos com suas típicas casinhas pintadas de um branco muito vivo.  


Deste trecho até Ullapool, nos cerca de 65 km finais, a solitude volta a dominar e dirigir em estradas assim é quase como uma meditação. Por essas e outras, a chegada em Ullapool é quase um choque de realidade (e olha que segundo o censo de 2001, a cidadezinha possui 1300 habitantes). Por outro lado é sede de muitos eventos culturais durante o ano, tais como Ullapool Book Festival (maio), Loopallu Music Festival (setembro) e Ullapool Guitar Festival (outubro). Portanto é bom checar antes o calendário de eventos para curtir um pouco da cidade e comemorar uma viagem inesquecível. No mais, atenção redobrada durante a viagem, pois ovelhas hão sempre de pintar pelas estradas.


3. VALE DO LOIRE, FRANÇA



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Cravado no centro e no coração da França, o Vale do Rio Loire se espalha por 800 km2, portanto existem muitas maneiras de se conhecê-lo e várias cidades históricas (Tours, Orléans, Amboise e Nantes) a se escolher como quartel-general para a viagem. “As estradas são bonitas, muito bem pavimentadas e sinalizadas, e têm limites de velocidade. Há radares escondidos, por isso não se pode bobear. Por ser à margem de um grande rio, o caminho é quase todo bem plano, exigindo pouco do motor do carro, o que economiza gasolina”, explica o jornalista Glauco Lucena que optou por se hospedar na cidade de Amboise, cujo belíssimo castelo guarda os restos mortais de Leonardo da Vinci.


Entre castelos, vinícolas e restaurantes em cavernas, Lucena fez um percurso de quase mil quilômetros durante uma semana de suas férias no ano passado. “Há uma autoestrada que passa pela região, mas a dica é usar as duas estradas menores que beiram a margem do Loire. Pode-se optar por uma das margens. Uma é mais movimentada e dá acesso às vinícolas e cavernas, enquanto a outra tem mais vegetação, trânsito livre, oferecendo um passeio muito mais bucólico”, relembra. 


História e natureza são os pontos altos dessa viagem e é possível tanto se perder entre as pedras seculares de castelos como Chambord, Villandry, Chinon, Rivau e Chenonceau quanto nas florestas do Parque Nacional Loire-Anjou-Touraine e na Reserva Chasse de Chambord. 


O Vale do Loire também é conhecido como o Berço da Língua Francesa, título que não nasceu à toa. Até meados do século 16 era o centro do poder do império e os mais de 300 castelos que sobreviveram à Revolução de 1789 e as Primeira e Segunda Guerras Mundiais só confirmam uma importância histórica que segue atravessando séculos. Tanto é verdade que desde 2000 a parte central do Vale foi incluída pela UNESCO como Patrimônio Mundial da Humanidade. Portanto, não custa imaginar que pelas estradas de asfalto macias dos dias de hoje passaram nobres e plebeus aos trancos e barrancos.


4. DE WÜRZBURG A FÜSSEN, ALEMANHA



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Estradas longas, planas, bem sinalizadas e com muitas pistas. Perfeitas, enfim. É assim que se imagina uma autoestrada alemã (Autobahn). E é justamente assim que elas são, sem tirar nem por. Davi Tangerino, advogado paulista, morou um ano em Berlim e constatou isso de perto em algumas viagens pelo país. “Ao contrário das caóticas estradas brasileiras, as alemãs são planejadas e seguem a mesma lógica das artérias humanas. Grandes Autobahnen, sem limite de velocidade, interligam os principais eixos do país, mas, em regra, sem passar por centros urbanos, e das Autobahnen saem estradas menores e são essas que se dirigem a cidades”.


E justamente pelas menores que se escondem as maiores surpresas. Uma delas, por exemplo, é conhecida desde o início da década de 1950, principalmente por turistas americanos e japoneses, como a Estrada Romântica. A única diferença entre ela e uma Autobahn, na verdade, é o número de pistas (a Romântica tem uma pista para ir, outra para voltar). De resto, é perfeita igual. É também uma das primeiras rotas turísticas criadas no país no pós-guerra.


São 420 km que vão de Würzburg até Füssen, já quase na fronteira com a Áustria, atravessando assim boa parte da região da Bavaria. Entre uma ponta e outra, grandes campos, planícies verdejantes, cervejarias e vinícolas, tráfego suave e as pequenas e adoráveis cidades de Rothenburg ob der Tauber, Dinkelsbühl e Nördlingen, as únicas na Alemanha que ainda possuem vestígios de seu passado medieval.


Existem duas interessantes portas de entrada para se começar essa viagem: Frankfurt ao Norte ou Munique ao Sul. Mas o ideal é fazer o trajeto Norte-Sul tendo a bela cidade de Füssen como destino final. Nela, aos pés dos Alpes austríacos e às margens do Rio Lech, despontam alguns dos mais belos castelos germânicos. A saber, Schwangau, Hohenschwangau e o célebre Neuschwanstein, extravagante e rebuscada encomenda do Rei Ludwig II (1864-1886) em homenagem ao compositor Richard Wagner.


“Saindo da Estrada Romântica e pegando a Colomanstrasse, um dos caminhos para Munique, é que se vai ao Neuschwanstein. À esquerda de quem dirige nessa excelente estrada acompanha-se uma formação montanhosa. Não custa muito para que se aviste, lá em cima, o castelo que serviu de inspiração - dizem - para o castelo da Cinderela de Walt Disney”, diz Tangerino. Um final e tanto para uma viagem de sonhos. 


5. DE OSLO A BERGEN E DE VOLTA A OSLO, NORUEGA



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O mais longo dos trajetos dessa seleção também cobre, circularmente, todo o sul da Noruega, o que não é pouca coisa. São 1300 km de ótimas estradas, mesmo quando estreitas, repletas de verde por todos os lados, montanhas, florestas, lagos e os imponentes fiordes. Terra e água, muita água. O objetivo é, no primeiro trecho, sair da capital Oslo e atravessar o país até Bergen, rumo Oeste. 


Em um país repleto de estradas fascinantes - Trollstigen e Atlantic Road só para citar dois exemplos mais ao Norte -, a que liga Oslo a Bergen surpreende pela variedade de paisagens com poucas distrações humanas. As maiores cidades, Eidfjord e Alvik, só aparecem perto de Bergen, e é exatamente entre elas que se pega o primeiro ferry boat da viagem. Durante todo o percurso é bom ficar de olho nos alces que atravessam a estrada e que podem causar sérios estragos no carro.


O segundo trecho, entre Bergen e Stavanger, já margeando a costa atlântica, é muito mais movimentado de carros e, consequentemente, possui estradas melhores. E muitas pontes e túneis submarinos ligando as centenas de ilhas e penínsulas de um dos litorais mais recortados da Europa. Antes de chegar a Stavanger é hora de treinar um pouco de paciência, afinal dependendo da época do ano é possível encarar filas para pegar os dois ferry boats. Ou também se pode matar um tempinho entre um e outro na pequena Haugesund, considerada uma das vilas mais bonitas da Noruega.


Se o tempo estiver bom não custa desviar um pouco para conhecer a tortuosa estrada de Lysebotn, um teste para os bons pilotos e distante apenas 85 km de Stavanger. Mas se não for o caso, o próximo destino é Kristiansand numa estrada sinuosa e com vistas para o Mar do Norte e suas muitas ilhas rochosas. Nesse terceiro trecho vale parar em uma das cidades costeiras. A bucólica Mandal, por exemplo.


O quarto trecho desta viagem, que vai de Kristiansand até Oslo, tem pouco mais de 300 km e garante novas surpresas cênicas, estradas mais largas e, novamente, um tanto mais de trânsito. Nada que um viajante viking não tire de letra.

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