foto joão caldas
SEM
PRESSA
Filho de Antônio
Fagundes e Mara Carvalho, Bruno Fagundes divide o palco com o pai pela primeira
vez com a responsabilidade de ser única e exclusivamente ele mesmo
O
ditado é velho, mas continua assombrando intermináveis gerações. “Filho de
peixe, peixinho é”, sussurram à boca pequena. Bruno Fagundes não quer saber de
peixe, peixinho, nada disso. Ele quer mesmo é trabalhar com o que mais ama:
atuar. Mas tudo a seu tempo e de seu jeito. “Meus pais sempre me avisaram que
não adiantar ter ansiedade porque na nossa profissão a gente precisa ter vida”,
diz entre goles de água.
Bruno
é jovem, porém a naturalidade com que encarou o trabalho dos pais atores lhe
deu certeza, desde os 13 anos, que era por esse caminho que queria seguir. Nos
dez anos seguintes já mostrou sua cara na TV (Negócio da China), no cinema (Bellini
e os Demônios) e no teatro (interpretando de Shakespeare a Nelson Rodrigues). E
é agora, mais uma vez no palco, que prepara o que considera um marco pessoal de
virada na carreira e o primeiro encontro dramatúrgico com o pai.
Escrita
pelo norte-americano John Logan e sucesso na Broadway, a peça Vermelho trata
da relação de trabalho, amizade, competição e amor à arte entre o pintor Mark
Rothko (1903-1970) e seu assistente. Rothko é interpretado por Antônio
Fagundes. Ken, o assistente fictício, é vivido por Bruno. “Estou muito animado
com o que está por vir, e muito seguro também”, responde, olhos brilhando, sobre
a peça que segue em cartaz até julho em São Paulo.
Vermelho não é a
primeira vez que você e seu pai trabalham juntos...
A
gente fez um Carga Pesada juntos [em 2006], mas foi uma participação pequena
e eu ainda estava um pouco perdido. Foi a primeira vez que a gente trabalhou
juntos de verdade, mas essa peça tem proporções completamente diferentes, não
só de personagem, como também de visibilidade e maturidade. Então considero
essa nossa primeira vez.
E como essa peça surgiu
na vida de vocês?
Há
muito tempo estava procurando um texto e tenho uma amiga, Raquel Ripani, que
foi para Nova York anos atrás e viu Vermelho na Broadway. Ficou enlouquecida
com a peça, comprou o livrinho e me ligou, ‘Bruno, achei uma peça pra você
fazer com o seu pai’. Aliás, ela acabou traduzindo para o português. Ao mesmo
tempo meu pai estava em cartaz com Restos e a agente literária que representa
o [dramaturgo] John Logan mandou o texto para ele. Aí ele me ligou pra contar a
peça, e fui falando da que a Raquel tinha me dado, e quando a gente viu era a
mesma. Então, a peça é que achou a gente e não o contrário.
O que mais te
interessou em Vermelho?
O
que achei incrível é como o texto é bem amarrado, tem uma estrutura simples e muitos
níveis de leitura. Tem a discussão sobre arte e apreciação da arte. Tem a
relação entre Mark Rothko e seu assistente, que é uma coisa mestre e pupilo,
pai e filho, de amizade, mas também de embate ideológico. Quando acabei de ler
estava sem ar. Acho que todo mundo que trabalha com arte ou é apaixonado por
arte vai se identificar com a peça.
Comparações com o
seu pai. Isso ainda te dá alguma ansiedade ou já está resolvido?
Convivo
com isso desde que nasci. As pessoas sempre esperaram de mim o melhor dele, mas
não tenho de vida o que ele tem de profissão, então quem pensa assim está se
enganando. E tem outra, se eu não conquistar meu espaço pelas minhas próprias
pernas não vai adiantar ser filho de ninguém. Posso fazer uma novela aqui, uma
peça ali e depois sumir. Não é isso que quero. Quero construir uma carreira
sólida. Quero viver disso, entende? Então estou indo aos poucos.
Qual é o barato de
atuar?
Quando
comecei não saberia dizer, mas hoje eu sei. Acho que a nossa profissão é mágica
mesmo. Pegar um texto e tirar uma vida disso. Fazer do seu jeito e dar um
entendimento que pode vir a emocionar uma pessoa. Ter essa disponibilidade de
esquecer a sua vida e viver a vida de outra pessoa, isso eu acho mágico. É isso
que me fascina.
Antônio e Bruno Fagundes: Vermelho from Monstro Filmes
Antônio e Bruno Fagundes: Vermelho from Monstro Filmes
e segue abaixo uma faixa bônus dessa entrevista que acabou não entrando na edição final.
Seus pais te incentivaram a atuar? Ou a princípio...
Bem, eles deixaram que eu tomasse minhas decisões sozinho. Se eu quisesse ser dentista teriam me dado apoio. Tenho três irmãos do primeiro casamento do meu pai e nenhum é ator. Acho que foi até uma surpresa o último ser ator. “Você tem certeza? Seus irmãos foram mais espertos!” [risos] E eu fui desenvolvendo essa paixão, ainda sem saber onde encaixar. Com uns 13 anos fiz um curso livre, daqueles que tem uma montagem no final, e me apaixonei. Decidi então fazer um curso profissionalizante, um curso técnico de teatro, lá no Incena. E fui me apaixonando cada vez mais. Mesmo assim fiz uma faculdade que não tinha nada a ver com isso... Relações Públicas [risos].
Você tem mais experiência em teatro, mas já atuou em cinema e TV. Para um ator, o que tem mais de interessante a se aprender em cada uma dessas mídias?
O teatro te dá uma base que é a do exercício. A gente está ensaiando há dois meses e nos últimos 15 dias estamos fazendo corrido, a peça inteira. Então em um dia posso trabalhar uma mão numa determinada cena, em outro dia trabalho outra coisa, e vou juntando as peças. Você vira um especialista nas suas dificuldades. Esse tempo pra desenvolver, esse exercício, só o teatro dá. E isso continua quando a peça entra em cartaz. Dá pra arriscar assim. Já na televisão o negócio é ter velocidade, rapidez de raciocínio. É já chegar meio pronto. Televisão não tem ensaio e isso também é um desafio. O cinema é um pouco dos dois. Tem ensaio, mas não tanto quanto o teatro. É uma coisa mais artesanal, mais meticulosa, sutil. São diferenças que se complementam. Se você conseguir resultados rápidos no teatro você consegue na televisão e isso pode te fazer se dar bem no cinema. Os três juntos são uma força grande.
Imagino que você agora esteja bastante focado na peça, mas tem algo mais caminhando, algum outro interesse mais pra frente?
No final do ano passado fiz um show e esse lado de cantor é uma coisa que venho desenvolvendo. Já tinha rolado um convite no passado, mas não me sentia pronto e essa vida louca me trouxe de volta essa oportunidade. Quando eu vi já estava com data marcada, 15 músicas no repertório, de Elvis Presley a Lenine, passando por Michael Jackson e Lady Gaga, mas com estilo big band de jazz, sabe? Foi muito bom. E ninguém sabia, muita gente ficou surpresa porque só o meu professor de canto sabia que eu cantava. E de repente eu estava lá com um show, uma banda excelente, com músicos maravilhosos que me ajudaram muito. Esse é um projeto que nunca quero abandonar, porque além de me dar um prazer absurdo também me acrescenta como ator, porque ou um apaixonado por musicais, gosto muito desse mercado e quero manter paralelo. Então, quem sabe depois da estreia faço outro show.
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