foto daniel klajmic
ETERNO APRENDIZADO
Ele chega todo sorriso à coletiva de imprensa para divulgar sua
mais nova peça e vai disparando um “oi” atrás do outro. Antônio Fagundes parece
bastante feliz e não é para menos, afinal chega acompanhado de pessoas muito
próximas. A seu lado direito, um amigo de mais de 30 anos (“Já deixamos de
contar pra não dar bandeira”, brinca), o diretor teatral Jorge Takla. A seu
lado esquerdo, o filho mais novo, o ator Bruno Fagundes, 22 anos, com quem
divide o palco pela primeira vez em Vermelho,
peça que segue em cartaz até julho, em São Paulo.
Ambientada em um estúdio na cidade de Nova York no final da década
de 1950, a peça escrita pelo norte-americano John Logan trata da relação de
poder, amor à arte, amizade e competição entre Mark Rothko (1903-1970) e seu
assistente em um momento particularmente crítico na vida (real) do pintor.
Rothko é interpretado por Antônio Fagundes. Ken, o assistente fictício, é
vivido pelo filho Bruno. E são apenas os dois em cena, o tempo todo.
“Claro que a gente se identificou com muitas colocações do texto,
com algumas crises e problemas que ele [John Logan] levanta, mas acredito que
tanto nós quanto a torcida do Flamengo. Qualquer pessoa que tenha um contato
mínimo que seja com arte e cultura vai se identificar com esse texto porque ele
levanta questões primordiais e de uma forma apaixonada, emocionada, inteira e
cheia de humanidade”, disse Fagundes em conversa exclusiva após a coletiva.
Ator com mais de 40 anos de tablado, Fagundes já encarou William
Shakespeare, Bertolt Brecht, Dario Fo, David Mamet, Chico de Assis, Edmond
Rostand, Roland Barthes e Gianfrancesco Guarnieri. Também já foi dirigido por
figuras importantes do teatro brasileiro, tais como Bibi Ferreira, Gerald
Thomas, Ulysses Cruz, Augusto Boal e Flávio Rangel. Mas para ele toda peça é um
recomeço e Vermelho tem lhe dado um
aprendizado particularmente intenso, o que foi confirmado por Jorge Takla (“É
muito estimulante trabalhar com atores que pesquisam tanto”).
Livros, exposições, vídeos, filmes, internet, todo um arsenal de
conhecimento foi acionado por Fagundes e seu filho para entender a linha
evolutiva da arte moderna no século 20 e o contexto histórico do trabalho de
Rothko. Tanto para envolver ainda mais o público, visual e dramaturgicamente,
nas discussões da peça, quanto para entender melhor a personalidade forte e
atormentada do pintor (que o levaria ao suicídio em 1970, aos 66 anos). “É um
personagem magistral porque é completo. Ele permite uma composição [Fagundes
está com o cabelo bem curto, quase careca, e sem barba para o personagem], tem
um sarcasmo extraordinário e é muito engraçado.”
Mas é no conflito geracional entre Rothko e seu assistente, o
incansável duelo entre o velho e o novo, que reside um dos pontos altos de Vermelho, segundo Fagundes. Porém, faz
uma importante ressalva. “Tem uma frase que adoro e que ouvi de um livreiro:
‘Você já leu Dostoievski? Não? Então é novo!’ Novo é tudo aquilo que você não
sabe, tudo aquilo que você não aprendeu. Tudo é novo desde que você não conheça
e tudo é fácil desde que você saiba a resposta”. Antônio Fagundes continua
procurando respostas.
p.s.: e aqui um flagra do texto na brasileiros de abril.
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