segunda-feira, 9 de abril de 2012

yahoo# 35

novela interessantíssima essa avenida brasil. bem dirigida, bom elenco e um texto cheio de camadas, dramas, humores e surpresas. mais uma bola dentro de joão emanuel carneiro. acabei escrevendo no yahoo sobre a vilã dessa novela, interpretada muito bem por adriana esteves, versus a vilã de fina estampa, de aguinaldo silva, que ficou à cargo de christiane torloni. o texto "o mal e as más" tratou da construção dessas personagens e o que isso podia revelar sobre seus autores. enquanto isso, a coluna mais recente foi a "mimados e sem filtro", sobre a chegada do aplicativo instagram, que ganhou fama com os usuários cool de iphones, aos celulares de "pobres".



O MAL E AS MÁS

É possível entender como funciona a cabeça de um autor de novelas pelas vilãs que cria. Mocinhas não interessam, são todas iguais mesmo. Também não importam muito os vilãos e mocinhos, afinal são as mulheres que fazem as tramas girarem (igual na vida, ora pois). Andei pensando nisso após assistir aos primeiros capítulos do novo folhetim global das 9, Avenida Brasil. O que Carminha (Adriana Esteves) pode dizer sobre seu criador João Emanuel Carneiro? E o que Tereza Cristina (Christiane Torloni), da recém-acabada Fina Estampa, pode revelar sobre Aguinaldo Silva? Fico apenas com esses exemplos mais recentes – tirando assim Gilberto Braga e Manoel Carlos da jogada – para que a prosa não se estenda por demais.

Tal como Flora (Patrícia Pillar), de A Favorita (2008), Carminha é um poço de sentimentos conflitantes. É capaz de amar uma pessoa aqui e outra ali, porém, e ao mesmo tempo, se sente mais à vontade ao explodir em violência física e/ou psicológica rumo aos seus objetivos de vilã (vingança, ascensão social, etc). Tem ainda um passado dolorido, um presente esquizofrênico (boazinha em público, má em todo resto) e um futuro incerto. Tudo temperado com um humor muito afiado. Cortante mesmo.

João Emanuel Carneiro sabe que o folhetim televisivo é uma arte popular muito sofisticada no Brasil e, exatamente por isso, não subestima o espectador. Tanto em A Favorita como no início dessa Avenida Brasil, os personagens são sombrios, o clima é tenso e até as mocinhas nem são tão mocinhas assim. Nada é de mão beijada, muito menos os clichês. E isso não é à toa, pois Carneiro foi um dos roteiristas de Central do Brasil (1998), longa protagonizado por Dora (Fernanda Montenegro), uma mulher dura, cruel e amorosa (de formas meio tortas).


Já Tereza Cristina foi uma versão ainda mais histriônica e cartunesca de sua progenitora direta, Nazaré Tedesco (Renata Sorrah) de Senhora do Destino (2004). Não havia uma explicação para sua maldade, ela simplesmente existia assim. Também não era uma vilã do tipo adulta, maltratada pela vida, e mais parecia uma adolescente birrenta totalmente obcecada pela mocinha. Em uma novela (Fina Estampa) que mais se assemelhava com um cruzamento de Zorra Total com Malhação, no qual todos os personagens eram tremendamente imaturos e forçadamente cômicos, Tereza Cristina era o retrato estampado de seu autor.

Uma pena que o veterano Aguinaldo Silva, co-autor de clássicos noveleiros como Roque Santeiro (1985) e Vale Tudo (1988), tenha virado esse xerox borrado de si mesmo e justamente no terreno onde era especialista: a comédia. Quer dizer, suas novelas continuam fazendo sucesso com um público que gosta de bordões para soltar no dia seguinte na padaria, mas quem acompanha a história da teledramaturgia brasileira sabe que hoje em dia a verve de Aguinaldo Silva está toda nas “polêmicas” (virtuais) com jornalistas e outros autores. Tereza Cristina pode fugir para onde quiser, driblando assim a morte, prisão e/ou loucura destinada aos maus (ai, que revolucionário, Seu Aguinaldo), mas ninguém ligará mais. Inevitável esquecer uma vilã tão vazia e interpretada de modo cafajeste por Christiane Torloni (e a Renata Sorrah, a eterna Nazaré, desperdiçada ali de canto). Já Carminha, em composição cheia de nuances e agressividade a cargo de Adriana Esteves, veio para ficar e aterrorizar suas noites. E ela está só começando...

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