já o texto dessa semana, "o mal e as más", teve um tema mais, digamos assim, ameno: a maldade de duas vilãs recentes de novelas e como elas podem explicar os seus autores (no caso, joão emanuel carneiro e aguinaldo silva).
ESTAMOS PERDIDOS?
O bicho tá pegando. O couro tá comendo. A estrovenga tá
girando. Quem acompanha notícias relacionadas à cultura musical brasileira sabe
que vivemos um momento curiosamente ambivalente. Tipo euforia e depressão.
Bipolar, apontariam os estudos. Na
internet, ou através dela, vivemos num frenesi inesgotável de eventos,
discussões, lançamentos gratuitos, transmissões e compartilhamentos, isto é,
variedade e disponibilidade. Enquanto isso, no mundo real, a Ministra da
Cultura Ana de Amsterdã afirma,
em sabatina no Congresso, que “hoje em dia a pirataria é feita assim. É copiado
através da internet, e isso se multiplica, está sendo distribuído e vendido
pela internet. (...) Isso vai matar a produção cultural brasileira se não
tomarmos cuidado”.
Não parecem ser o mesmo mundo, confere? Aí fiquei dando
tratos a bola... mas que mundo é esse da Ministra de Hollanda, seus assessores
e secretários, que considera compartilhamento o mesmo que pirataria? E que
acredita, consequentemente, que a internet é O MAL disseminador dessa praga que
pode matar a produção cultural brasileira? Peraí, que cultura brasileira é essa
que pode ser feita em pedacinhos pelos www da vida?
Todas essas perguntas vinham sendo respondidas nas próprias
ações do MinC desde seus primeiros passos no início do ano passado. Em poucas
semanas, Ana, a ministra, deu um catiripapo nos progressistas oito anos da
gestão Gilberto Gil/Juca Ferreira e transformou a internet em inimiga da coisa
toda. Começaram uns papinhos aqui e ali com as poderosas (e míopes)
organizações norte-americanas de defesa dos direitos autorais e com o ECAD (Escritório
Central de Arrecadação e Distribuição), o enigmático & muito nosso órgão
privado que não pode ser investigado, que nunca explica direito como arrecada e
distribui e que, recentemente, meteu os pés pelas mãos ao tentar cobrar blogs
que incorporassem vídeos do You Tube.
O tal artista que o Ministério diz
estar defendendo não é o artista que compõe, grava e faz ao vivo e sim o
“artista” que lucra com suas retransmissões, isto é, a iniciativa privada. E
que hoje não passa de um pequeno grupo de carpideiras de discos de ouro
passados, invariavelmente multinacionais. Não estou falando da boca pra fora.
Recentemente, o colega aqui de Yahoo!
Brasil, Pedro
Alexandre Sanches, vem assinando no Farofafá, em parceria com Jotabê
Medeiros e Eduardo Nunomura, uma série de reportagens sobre a estranha
promiscuidade entre o MinC e o ECAD, com direito a favorecer de um (público) em
prol do outro (privado) em um processo contra formação de cartel. Mas,
infelizmente, nada disso deve ir muito longe, afinal ninguém liga para a
cultura mesmo, não é mesmo Governo e Oposição?
Muito bem. Pouco antes, em fevereiro, durante um evento em
Porto Alegre, o ex-ministro Gilberto Gil
disse que “a internet chegou para bagunçar o coreto. E tem aqueles que acham
que por ordem no coreto é reivindicar a restauração, a ordem tal como ela foi
até agora. Para outros não, é preciso criar novas ordens, novas formas de
regulação, novas formas de atendimento a questão dos direitos. (...) Essas são
as novas disputas e que estão em todas as áreas, no econômico, no político, no
cultural, etc.” Para Gil, como para muitos outros (e outras), não estamos nada
perdidos. Vivemos é um novo estado das coisas em constante transformação. Nada
é sólido e tudo tem que ser para todos, fato que deve causar arrepios nessa
gestão vazia, isolada e equivocada do Ministério da Cultura.
Agora, para finalizar, que cultura (musical) brasileira é
essa que está sendo ameaçada pela malvada internet? Com certeza não é a de
artistas que se viralizaram pela rede, disponibilizando seus trabalhos para
download gratuito, e que estão curtindo a dor e a delícia de serem donos de
suas próprias carreiras, tais como Criolo,
Emicida,
Karina Buhr, Wado e Romulo Fróes. Já neste ano três outros artistas (Lucas
Santtana, Letuce e Siba) também lançaram e distribuíram seus novos
trabalhos no mesmo esquema. Para nenhum deles, a internet é vilã. Talvez esse
MinC esteja defendendo a turma de padres-pastores(as) que cantam e que
ultimamente tem sido a tábua
de salvação (opa!) do mercado fonográfico. Mas como acredito (e não só eu)
que santo de casa não faz milagre...
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