seu zé tá sentado no canto esquerdo com essa camisa style, já eu estou na parte de cima agarrado num caminhão, no colo de meu pai
PARA JOSÉ JÚLIO SAMPAIO
Já se passaram sete dias. Uma semana. Queria estar aí e abraçar todo mundo mais uma vez, falar qualquer bobagem. Lembrar do Zé Júlio, enfim. Pensei então em fazer uma homenagem usando as ferramentas do meu trabalho e me propus a escrever um obituário como aqueles de jornais: objetivo, data de nascimento, localidade, educação, empregos, objetivo, casamento, filhos, grandes e pequenos feitos, objetivo, ética, espiritualidade e assim por diante. Mas não saía palavra. Não conseguia ser objetivo. Não com Zé Júlio, meu avô. Figuraça de coração tão grande quanto ele próprio.
Sei que ele é de 9 de março de 1928, cearense da ponta da serra, município de Tamboril, mas registrado na cidade de Crateús. Primogênito entre os dez filhos de Maria Leitão e Júlio Mariano, Zé Júlio foi “sequestrado” aos 15 anos pela mãe para conseguir ter uma educação formal e fugir do trabalho na roça. Sei que teve essa primeira formação no seminário e que depois, aos 21, entrou nas Casas Pernambucanas com um diploma de Ciências Contábeis. Foi no trabalho que conheceu o amor na forma pequena de Dona Maria. Não demoraram muito para se casar. Nos tempos em que foi gerente das Pernambucanas de Coroatá, no Maranhão, mostrou seu lado empreendedor e fundou a companhia telefônica e o Rotary Club da cidade. Depois foi transferido para Floriano, no Piauí, e seguiu agitando das suas, trabalhando sempre. Sei de suas passagens por São Luís e Macapá. Sei que a aposentadoria o levou para Fortaleza e para a Feira do Livro. Sei de sua paixão pela maçonaria. Sei do filho e das filhas. Sei de tudo isso.
Vou falando e falando, mas lembro mesmo é da risada alta acompanhada de palmas ligeiramente atravessadas. Da presença carinhosa na poltrona reclinável. Do jogo de buraco na praia. Das enciclopédias e do latim. Do escritório de janelas grandes da Feira do Livro do Centro de Fortaleza. Da calculadora. Do refrigerante com pastel na lanchonete em frente à livraria. De perguntar por anos e entre risos se os netos já tinham pentelhos: já tem terra no pé de milho? Genial.
E, acima de tudo, tudo mesmo, ele e Dedé. Dona Maria de Dedé. Coisa mais linda ver os dois juntos pra cima e pra baixo. Ele alto e desajeitado. Ela miúda e precisa. Muito amor e bom humor em um casamento de 58 anos. Tanta lembrança boa.
São coisas assim que vou contar para meus filhos e filhas, sobrinhos e sobrinhas. E assim Zé Júlio se espalhará por aí. Nada objetivo. Ele que já começou a se espalhar ao colocar no mundo Jackson, Gracinha, Mileide e Ana Maria, e toda uma família linda e bagunçada, como as boas famílias são. Nós somos ele. Ele somos nós. E a vida continua.
p.s.: Ah, e agora Seu Zé está do lado do querido genro Flores, o negão beleza, e eles estão se divertindo muito. Certeza.
São Paulo, 26 de março de 2008
p.s. do p.s.: esse flores aí é carlos alberto flores, marido de minha tia paterna mileide (maria do socorro) e pai de marcelo e andré. outro cara importante na minha vida, figuraça de marca maior, gente boa como poucos e que se foi cedo demais em 1997 (coração, ah, coração). ele é o negão sorriso aí da foto abaixo bem no dia de seu casamento com mileidinha (1981?). seu zé júlio ali do lado, todo gabola. e depois me dei conta que as duas fotos desse post foram tiradas na mesma sala (paredes diferentes) da casa dos meus avós, no bairro do montese, em fortaleza.
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